Tânia estava abraçada a cintura de Cleyton e se debatia, enquanto ele, alto que era, erguia sua mão o mais alto que podia para tirar o remote do alcance dela. Ambos trocavam insultos e ameaças, enquanto eu apenas ria da situação sentada e de braços cruzados.
- Melhor você me deixar, senão isso não vai terminar bem! - meu amigo disse ofegante, pois era chacoalhado que nem árvore por Tânia.
- Você não pode chegar me encontrar a assistir e querer trocar! Me dá o remote! -respondeu sentindo uma certa excassez de ar também.
- Eu não quero assistir, só quero ver oque estão a dar lá.
- Não foi isso que você disse primeiro. - ficou na ponta dos pés e tentou alcançar o remote, mas não teve sucesso.
- Se continuarmos assim, nenhum de nós sairá a ganhar, porque nenhum dos dois está a assistir oque quer. - com a outra mão, Cleyton fez cocegas nela, que pulou para longe de si no mesmo instante.
Ainda com o olhar preso naquele teste, senti meu coração rasgar seu caminho até minha boca. Um frio anormal se apossou de meu corpo enquanto eu pensava apenas numa coisa: destruí minha vida.Abracei minhas pernas, escondi minha cabeça e comecei a chorar. Chorei muito, chorei até sentir sufoco e a dor do meu coração se expandir pelo corpo todo, chorei e desejei que o tempo voltasse e que nunca o tivesse conhecido.— Evie? — a voz abafada de Tânia soou do lado de fora.Respirei fundo e soltei um gemido que partiu do fundo de mim, para que percebesse que não estava em condições de proferir nenhuma palavra naquele momento. Me sentia desnorteada, junto com a ficha, meu humor caía lentamente quando ensopava o tecido das minhas calças de lágrimas.— Evie, posso entrar? — insistiu e eu ergui minha cabeça, mas não conseguia falar.Drenava lágrimas enquanto mordia meu joelho para abafar o barulho de choro, só
Eu devia ter percebido através das mudanças pelas quais meu corpo passava e alguns sintómas primários: sentia tonturas e me irritava constantemente; cuspia e meu olfato se tinha aflorado mais ainda; meus mamilos estavam mais escuros e patenteavam um ligeiro inchaço; seios estavam cada vez mais fartos e as curvas descomunais. Então percebi que o resultado do teste lavou meus olhos para que eu visse sinais que meu corpo me dava pouco à pouco. Mas, mesmo assim, eu me negava a crer que era tudo verdade, motivo pelo qual decidi colocar minhas fichas num segundo teste por fazer.Durante a longa noite em que destilava de mim toda minha sofrência, me agarrei a ideia daquele teste ter se ocupado das poucas chances de cometer falhas como um bote salva-vidas e me dei uma segunda chance. Me agarrei a aquilo de forma obssessiva, incapacitando minha mente de cogitar um segundo "positivo". Embora tivesse certeza que Cleyton conseguiria outro teste para mim assim que e
Olá, Evie. Eu não tenho muito oque dizer, mas vou conseguir um teste urgentemente. Bjs.Sua mensagem estava mais oca do que eu esperava. Sem explicações, sem pedido de desculpa, sem pelo menos procurar saber sobre meu estado. Mensagem que me fez perceber o quão raso e indiferente ele parecia estar perante aquilo. Me sentei na cama e lí sua mensagem novamente, pensando que talvez tivesse lido rápido demais. Mas era somente aquilo. Então senti uma pontada no coração e a desilusão marejar meus olhos enquanto pensava no que responder. "Só isso?" digitei e apaguei."Não vai escrever mais nada?" digitei e apaguei novamente.Fiz uma pausa para pensar e enxugar meus olhos. Respirei fundo, trazendo um pequeno alívio para meu peito e voltei a digita
Com o olhar completamente envergonhado, sustentei o de Agnes, através do qual me fazia perguntas. Implorei internamente para que ela não estragasse tudo. Não tinha certeza de como agiria perante aquilo, porque nunca fui muito próxima deles ao ponto de esperar cumplicidade, por isso seu silêncio me aniquilava de preocupação.— Soube que você lê de vez em quando. Tem algum livro de Mia Couto? — Allen perguntou e ganhou minha atenção no mesmo instante.— Eu não, mas meu pai tem.Devolvi minha atenção para Agnes e movi lentamente minha cabeça em negação para que não falasse nada sobre aquilo, porque oque eu menos precisava era de mais pessoas sabendo.— Só não sei onde deve estar. Quer que eu vá perguntar a minha mãe? — desencostei da porta e meti minhas mãos suadas nos bolsos do meu vestido.Quando percebeu que seu irmão se aproximava, minha prima escondeu o teste por baixo do cobertor e s
Meus pensamentos rondavam em torno de tudo que me tinha acontecido nas passadas 3 semanas. Rastejava meus pés pela terra abatida quando fazia uma análise dos pontos positivos e negativos daquela situação, chegando a conclusão que havia somente um ponto positivo: minha família ainda não tinha descoberto.Meu uniforme preto e branco enxugava o suor que saía de mim por conta de desconforto e das náuseas que sentia. Um nó na garganta me fazia engolir constantemente saliva para aliviar o sufoco e para piorar, a colisão das coisas em minha volta me deixava tonta e necessitada de uma pausa e apoio. Naquele momento eu mataria por alguns litros de água, uma boleia e um abraço bem apertado. Sentir coisas e não ter ninguém para ajudar a lidar com elas, não me parecia uma situação muito agradável de se passar. Mas continuei engolindo e respirando fundo, sem tirar a mão do peito, aumentando a velocidade dos meus passos até chegar à escola.Estava tudo uma confus
Desci do carro e uma brisa salgada e fria excitou meus poros, me fazendo levar as mãos aos ombros. Sua casa era perto da Praia da Costa de sol, oque dava uma clara percepção do porquê era tão fresco ali. Pelo som próximo das ondas se desfazendo na areia, era perceptível que a praia ficava à pouca distância de sua casa. - Vamos entrar? - me despertou de meus pensamentos e estendeu sua mão para mim.Olhei para sua mão com receio enquanto questionava se queria ou não pegá-la, mas antes que tomasse uma decisão, ele a alcançou e me obrigou a caminhar.- Bem vinda a minha casa. - se pronunciou ao abrir a enorme porta de sua casa de rés-do-chão e primeiro andar.Boquiaberta, me livrei de sua mão, retardei meus passos e analisei rapidamente a casa assim que entrei. Era de tons de marom que transbordavam luxo, havia várias decorações e plantas no interior que refrescavam e dav
Meus dedos estrangulavam as caixinhas ao passo que observava cada movimento de Weben, aguardando por algo que me fizesse ficar mais calma, pois, à essa altura, eu me perdia novamente em medo e nervosismo.— Weben? — chamei por ele e baixei meu olhar até seus pés.Eu realmente esperava que ele me transmitisse calma, mas ele estava 2 vezes pior que eu e batia freneticamente com o pé no chão, enquanto mordiscava os nós de seus dedos.— Oi. — Você não quer conversar primeiro? — falei com a voz mais suave que o normal e seu olhar veio até meu, acompanhado de dúvida.— Sobre oque exactamente você quer conversar? — Não sei. Alguma ideia? — me sentei do seu lado na cama, fazendo com que se virasse em minha direcção.— Nenhuma.— É a primeira vez que passa por isto, também?— Quase isso. Mas em quê exactamente isso vai resulta
— Eu sempre digo para você avisar sempre que for chegar tarde! Depois vai dizer que eu falo muito, mas você não ouve, Vivi. Você não estava a sentir-se bem, que tivesse dito que foi para casa de Tânia descansar. Quando é que vão aprender a ouvir quando falo? — minha mãe falava e fazia pausas para formular melhor seu sermão.Enquanto isso, eu ouvia com a atenção presa no seu traseiro e lembrava de tudo que me tinha acontecido naquele dia. Apoiava meu rosto nas mãos e sentia alguns dos meus sentidos ativos: audição quase esgotada pelas palavras que invadiam meus tímpanos de forma excessiva; o paladar necessitado que era obrigado a satisfazer-se com a saliva que saía tão insípida quanto o beijo de Weben; e o funcionamento excessivo da mente que chegava até a dar uma dorzona de cabeça. Não sabia nem se aquilo era um sentido, para mim tanto fazia.— Me senti mal, mãe, e eu não tinha levado o telefone por isso não liguei e nem mandei mensagem