Com o olhar completamente envergonhado, sustentei o de Agnes, através do qual me fazia perguntas. Implorei internamente para que ela não estragasse tudo. Não tinha certeza de como agiria perante aquilo, porque nunca fui muito próxima deles ao ponto de esperar cumplicidade, por isso seu silêncio me aniquilava de preocupação.
— Soube que você lê de vez em quando. Tem algum livro de Mia Couto? — Allen perguntou e ganhou minha atenção no mesmo instante.
— Eu não, mas meu pai tem.
Devolvi minha atenção para Agnes e movi lentamente minha cabeça em negação para que não falasse nada sobre aquilo, porque oque eu menos precisava era de mais pessoas sabendo.
— Só não sei onde deve estar. Quer que eu vá perguntar a minha mãe? — desencostei da porta e meti minhas mãos suadas nos bolsos do meu vestido.
Quando percebeu que seu irmão se aproximava, minha prima escondeu o teste por baixo do cobertor e s
Meus pensamentos rondavam em torno de tudo que me tinha acontecido nas passadas 3 semanas. Rastejava meus pés pela terra abatida quando fazia uma análise dos pontos positivos e negativos daquela situação, chegando a conclusão que havia somente um ponto positivo: minha família ainda não tinha descoberto.Meu uniforme preto e branco enxugava o suor que saía de mim por conta de desconforto e das náuseas que sentia. Um nó na garganta me fazia engolir constantemente saliva para aliviar o sufoco e para piorar, a colisão das coisas em minha volta me deixava tonta e necessitada de uma pausa e apoio. Naquele momento eu mataria por alguns litros de água, uma boleia e um abraço bem apertado. Sentir coisas e não ter ninguém para ajudar a lidar com elas, não me parecia uma situação muito agradável de se passar. Mas continuei engolindo e respirando fundo, sem tirar a mão do peito, aumentando a velocidade dos meus passos até chegar à escola.Estava tudo uma confus
Desci do carro e uma brisa salgada e fria excitou meus poros, me fazendo levar as mãos aos ombros. Sua casa era perto da Praia da Costa de sol, oque dava uma clara percepção do porquê era tão fresco ali. Pelo som próximo das ondas se desfazendo na areia, era perceptível que a praia ficava à pouca distância de sua casa. - Vamos entrar? - me despertou de meus pensamentos e estendeu sua mão para mim.Olhei para sua mão com receio enquanto questionava se queria ou não pegá-la, mas antes que tomasse uma decisão, ele a alcançou e me obrigou a caminhar.- Bem vinda a minha casa. - se pronunciou ao abrir a enorme porta de sua casa de rés-do-chão e primeiro andar.Boquiaberta, me livrei de sua mão, retardei meus passos e analisei rapidamente a casa assim que entrei. Era de tons de marom que transbordavam luxo, havia várias decorações e plantas no interior que refrescavam e dav
Meus dedos estrangulavam as caixinhas ao passo que observava cada movimento de Weben, aguardando por algo que me fizesse ficar mais calma, pois, à essa altura, eu me perdia novamente em medo e nervosismo.— Weben? — chamei por ele e baixei meu olhar até seus pés.Eu realmente esperava que ele me transmitisse calma, mas ele estava 2 vezes pior que eu e batia freneticamente com o pé no chão, enquanto mordiscava os nós de seus dedos.— Oi. — Você não quer conversar primeiro? — falei com a voz mais suave que o normal e seu olhar veio até meu, acompanhado de dúvida.— Sobre oque exactamente você quer conversar? — Não sei. Alguma ideia? — me sentei do seu lado na cama, fazendo com que se virasse em minha direcção.— Nenhuma.— É a primeira vez que passa por isto, também?— Quase isso. Mas em quê exactamente isso vai resulta
— Eu sempre digo para você avisar sempre que for chegar tarde! Depois vai dizer que eu falo muito, mas você não ouve, Vivi. Você não estava a sentir-se bem, que tivesse dito que foi para casa de Tânia descansar. Quando é que vão aprender a ouvir quando falo? — minha mãe falava e fazia pausas para formular melhor seu sermão.Enquanto isso, eu ouvia com a atenção presa no seu traseiro e lembrava de tudo que me tinha acontecido naquele dia. Apoiava meu rosto nas mãos e sentia alguns dos meus sentidos ativos: audição quase esgotada pelas palavras que invadiam meus tímpanos de forma excessiva; o paladar necessitado que era obrigado a satisfazer-se com a saliva que saía tão insípida quanto o beijo de Weben; e o funcionamento excessivo da mente que chegava até a dar uma dorzona de cabeça. Não sabia nem se aquilo era um sentido, para mim tanto fazia.— Me senti mal, mãe, e eu não tinha levado o telefone por isso não liguei e nem mandei mensagem
Chamada on— Pode falar, estou a ouvir. — falei de olhos fechados e com a mão acariciando a têmpora, como resultado da impaciência.— Primeiramente, quero pedir desculpas por aquilo que eu fiz e disse ontem...— Teve teus motivos. Não entendo, mas deixemos. Pode prosseguir. — fiz uma pausa e voltei a falar — Mas antes tenho uma pergunta:... — movimentei o indicador no ar enquanto olhava para cima —...tudo bem?— Por favor Evie. Eu estou a tentar falar de algo sério. — falou e suspirou impaciente, pelo que parecia.— Oky. — revirei os olhos, os sentindo rolarem secos — segundamente?— Deram positivo...os testes. E você vai ter que tirar.Engoli o gole de saliva e me endireitei na cama.— Eu não vou fazer isso! —respondi olhando para meus pés com o cenho franzido.— Evie
— Oque você vai fazer agora? — se direcionou a mim, plantando as mãos na cintura.— Eu não sei. — passei as mãos pelas laterais do meu rosto, buscando por uma noção do que devia fazer, mas fracassando.— Perceba...— se agachou na minha frente e suspirou antes de continuar —...quando for hora de contar para seus pais,você não pod... — cortei assim que percebi que ela insistia no mesmo assunto de Weben.— Eu não vou contar nada! — rebati.— Você vai esconder a barriga durante nove meses e vai esconder o bebé também quando for a nascer? — perguntou pela primeira vez, meu amigo, todo calmo e esbanjando de uma seriedade incomum enquanto limpava seus sapatos.
Ficamos numa conversa por mais de 40 minutos, sobre coisas que variavam e me fizeram esquecer totalmente dos estudos. Eu estava sentada no chão, encostada na base da cama e Agnes parecia estar a comer. Era perceptível pela forma como sua voz saía enquanto me contava como foi sua primeira vez.— No final ele nem era tudo oque eu esperava. Tipo, toda menina virgem já tem um tamanho pré-definido na sua cabeça sempre que imagina o momento em que deixará se ser. Mas eu me decepcionei muito? Era exactamente o oposto do que eu esperava. — disse e pôs-se a rir — Mano, eu praticamente fiz tudo sozinha e como bónus, tive que dizer o quão feliz eu estava e que seria algo inesquecível e que ele era incrível e blá blá blá... — espalmei minha barriga enquanto ria calmamente, sendo acompanhada por ela do outro lado da lin
Oito dias depoisMeus pés não paravam um momento sequer de bater freneticamente no chão, enquanto meus dedos tremiam e meu olhar estava fixo em duas pessoas que decidiam oque aconteceria comigo nas horas seguintes.Cleyton, como sempre, prometeu que me ajudaria a achar alguém que me ajudasse com o processo de aborto. Se não fosse por um amigo crescido dele, que tinha uma irmã que passou pela mesma experiência que eu, ficariamos mais alguns dias numa busca desgastante.Minha mãe era parteira do Hospital Central de Maputo, oque facilitaria muito a minha situação. Porém, estava fora de questão pedir a sua ajuda por motivos bem óbvios. Numa das poucas vezes em que pude estar com ela no seu local de trabalho, ela estava naquele mesmo hospital no qual me escontrava. Tirava um tempo de seu expediente par