Oito dias depois
Cleyton, como sempre, prometeu que me ajudaria a achar alguém que me ajudasse com o processo de aborto. Se não fosse por um amigo crescido dele, que tinha uma irmã que passou pela mesma experiência que eu, ficariamos mais alguns dias numa busca desgastante.
De frente para minha prima e através de seu olhar, incentivou-me a iniciar com as apresentações.— Dispenso o olá, porque já disse. Esse aqui é o Cleyton meu único amigo...— do meu lado esquerdo estava meu amigo, forçando lisonjas que pouco possuía — e essa é Tânia...— Já nos conhecemos. — falou minha amiga olhando para o chão com o cenho franzido.— Como assim? — cruzei os braços no peito e a encarei aguardando por uma resposta. Agnes ainda mantinha seu sorriso como se debochasse de algo.— Sim, é verdade, Vivi. — confirmou ela e riu logo depois pela frustração de Tânia.— Vocês vão explicar ou...? — me virei para Tânia ainda com os braços cruzados no peito, deixando Cleyton para trás enquanto ouvia seus chiados de impaciência.— É que o mundo é pequeno o suficiente para permitir que eu reencontrasse a pessoa com a qual Dilan me traiu. — o sorriso de
— E como foi que ela soube que você está grávida?— Ela e o irmão dela vieram para cá num final de semana. Não me lembro muito bem, mas acho que havia guardado o teste por baixo das minhas roupas e minha mãe acabava de engomar, então queria guardar minha roupa lá. Então eu tirei o teste de lá e coloquei por baixo da almofada logo que eles chegaram, comprimentos e blá blá blá, aí eu decidi ficar com eles no quarto e quando eles entraram ela foi se sentar na cama e o teste estava por baixo na almofada que ela levou para colocar no colo dela e ela viu. Fim. — contei com o desinteresse evidente e com a atenção no laptop do meu pai, pois ele tinha me mandado digitar algo.— Então ela tem um irmão, sim? — Sim, gêmeo del...Espera aí, você ouviu oque eu disse? — parei por um momento para prestar atenção na sua resposta.— Sim, idiota.— Oque foi que eu
Com desentendimento no olhar, minha mãe se virou e arqueou as sobrancelhas como se expressasse oque evitava questionar. Só que ela acabou por conciliar a fala e a expressão ao perguntar.— Oque disse?— Mãe? — vasculhei o chão com o olhar em busca de algo que não fosse oque eu havia de facto dito — Perguntei se não tem uma tesoura.Meu nervosismo foi se manifestando em atos como esfregar as mãos e sorrir de forma exagerada até demais. Minha mãe encostou seu corpo no batente e coçou sua testa, me permitindo perceber que tentava lembrar onde tinha uma.— Não sei, talvez na minha bolsa. — ergueu seu olhar até sustentar o meu — Foi isso que disse? — cerrou seus olhos e meu estômago mudava de temperatura por segundo.— Sim. Porquê a pergunt
Lá estava eu, totalmente perdida nos detalhes das minhas sandálias com missangas coloridas. Faltavam alguns dias para as férias iniciarem e eu não estava entusiasmada como costumava estar, por motivos óbvios.A única coisa que me deixava satisfeita, era que tinha me saído bem na escola. Meus resultados eram mais satisfatórios do que eu esperava e como resultado disso, fui até elogiada por alguns professores e colegas, por ter feito parte dos alunos mais esforçados da turma. Um mérito que me manteve feliz durante um bom tempo, até que meu pensamento me levou de volta a relva verdinha e molhada da casa que ficava afrente da escola.Minha boca se inundou de saliva e fechei levemente os olhos.Desejava, temperada que nem salada com atum, com uma persistência estranha que levou meu estômago a atar-se e a quase sair pela boca, para unir-se ao paladar em busca do que tanto desejavam.— Mh, meu Deus. — espalmei a testa, ainda de olhos f
Estranhamente, me concentrava num volume que eu mesma formava na minha barriga, para tentar imaginar como ficaria. Meu coração estava à mil e eu simplesmente queria chorar e rir da minha situação, ao mesmo tempo. Um sentimento estranho que me fazia sentir minúscula e como num filme de terror.Debruçada na cama e ao som de James Arthur, pensava no quão azarada eu era para ter que terminar naquela situação. Era tempo para começar a agir e cuidar da minha gravidez de forma certa e sensata, mas, para tal, eu precisava que minha mãe me ajudasse. De longe eu ouvia sua voz abafada em palavras difíceis de entender. Uma vida evoluía dentro de mim e até então eu não tinha levado quase nada pelos trilhos certeiros. Parecia um sonho do qual eu não podia acordar assim que as coisas se tornassem bizarras.Então, tentando embarcar na ilusão, abri meus olhos de forma excessiva, oque resultou na queda de lágrimas que eu me esforçava para não tirar. Um dia talvez eu me le
Na manhã de sexta-feira, eu observava, através de meus olhos inchados e ardentes, minha mãe tomar seu chá, como se não houvesse nenhuma outra presença ali. Seu olhar vadio e seu silêncio me fizeram perceber que estava tal e qual no dia anterior. Passei a noite toda aos prantos. Algumas vezes me arrependi por não ter tirado, outras desejei estrangular Weben, mas tudo terminava com meus dedos secando meu rosto e um conformismo que me acalmava. Assim foi durante a noite toda. Não dormi um minuto que fosse, a fome me levou para a cozinha, onde ela me encontrou logo depois, bem no início da manhã. De si recebi apenas um "Bom dia" num sopro frio e seco.Foi então que tive certeza que algo tinha mudado entre nós duas, sabia que a imagem que ela tinha de sua filha tinha sido borrada pelo meu delito e aquilo só me matava mais por dentro. Me preocupava também a dúvida de não saber se ela contaria para meu pai ou não, porque eu não queria que ele
Na manhã de sexta-feira, eu observava, através de meus olhos inchados e ardentes, minha mãe tomar seu chá, como se não houvesse nenhuma outra presença ali. Seu olhar vadio e seu silêncio me fizeram perceber que estava tal e qual no dia anterior. Passei a noite toda aos prantos. Algumas vezes me arrependi por não ter tirado, outras desejei estrangular Weben, mas tudo terminava com meus dedos secando meu rosto e um conformismo que me acalmava. Assim foi durante a noite toda. Não dormi um minuto que fosse, a fome me levou para a cozinha, onde ela me encontrou logo depois, bem no início da manhã. De si recebi apenas um "Bom dia" num sopro frio e seco.Foi então que tive certeza que algo tinha mudado entre nós duas, sabia que a imagem que ela tinha de sua filha tinha sido borrada pelo meu delito e aquilo só me matava mais por dentro. Me preocupava também a dúvida de não saber se ela contaria para meu pai ou não, porque eu não queria que ele
O cheiro de soro parece ser a principal característica dos hospitais. Era oque eu sentia enquanto caminhava lado à lado com minha mãe, por um corredor branco e pouco movimentado.Nossos passos ecoavam pelo lugar e a cada um que eu dava, meu coração acelerava mais. Minha mãe olhava para frente, com os lábios aprumados, e apertava a alça de sua bolsa. Depois de mais de 1 minuto andando, estavamos de frente para uma porta de alumínio, na qual tinha uma pequena placa com letras bem legíveis.— Vamos entrar. — disse, abriu a porta, entrou e me deixou passar depois.Assim que entramos, encolhi os ombros enquanto analisava o lugar de ponta à ponta. Era uma espécie de consultório. Com objectos e móveis brancos e azul-claro, do chão ao teto. Uma mesa repleta de documentos, alguns estojos, computador, etc. Num canto tinha uma maca e alguns aparelhos que eu nunca tinha visto. Do outro lado da mesa estava uma senhora com pouco mais de 40 anos,