Ficamos numa conversa por mais de 40 minutos, sobre coisas que variavam e me fizeram esquecer totalmente dos estudos. Eu estava sentada no chão, encostada na base da cama e Agnes parecia estar a comer. Era perceptível pela forma como sua voz saía enquanto me contava como foi sua primeira vez.
— No final ele nem era tudo oque eu esperava. Tipo, toda menina virgem já tem um tamanho pré-definido na sua cabeça sempre que imagina o momento em que deixará se ser. Mas eu me decepcionei muito? Era exactamente o oposto do que eu esperava. — disse e pôs-se a rir — Mano, eu praticamente fiz tudo sozinha e como bónus, tive que dizer o quão feliz eu estava e que seria algo inesquecível e que ele era incrível e blá blá blá... — espalmei minha barriga enquanto ria calmamente, sendo acompanhada por ela do outro lado da lin
Oito dias depoisMeus pés não paravam um momento sequer de bater freneticamente no chão, enquanto meus dedos tremiam e meu olhar estava fixo em duas pessoas que decidiam oque aconteceria comigo nas horas seguintes.Cleyton, como sempre, prometeu que me ajudaria a achar alguém que me ajudasse com o processo de aborto. Se não fosse por um amigo crescido dele, que tinha uma irmã que passou pela mesma experiência que eu, ficariamos mais alguns dias numa busca desgastante.Minha mãe era parteira do Hospital Central de Maputo, oque facilitaria muito a minha situação. Porém, estava fora de questão pedir a sua ajuda por motivos bem óbvios. Numa das poucas vezes em que pude estar com ela no seu local de trabalho, ela estava naquele mesmo hospital no qual me escontrava. Tirava um tempo de seu expediente par
De frente para minha prima e através de seu olhar, incentivou-me a iniciar com as apresentações.— Dispenso o olá, porque já disse. Esse aqui é o Cleyton meu único amigo...— do meu lado esquerdo estava meu amigo, forçando lisonjas que pouco possuía — e essa é Tânia...— Já nos conhecemos. — falou minha amiga olhando para o chão com o cenho franzido.— Como assim? — cruzei os braços no peito e a encarei aguardando por uma resposta. Agnes ainda mantinha seu sorriso como se debochasse de algo.— Sim, é verdade, Vivi. — confirmou ela e riu logo depois pela frustração de Tânia.— Vocês vão explicar ou...? — me virei para Tânia ainda com os braços cruzados no peito, deixando Cleyton para trás enquanto ouvia seus chiados de impaciência.— É que o mundo é pequeno o suficiente para permitir que eu reencontrasse a pessoa com a qual Dilan me traiu. — o sorriso de
— E como foi que ela soube que você está grávida?— Ela e o irmão dela vieram para cá num final de semana. Não me lembro muito bem, mas acho que havia guardado o teste por baixo das minhas roupas e minha mãe acabava de engomar, então queria guardar minha roupa lá. Então eu tirei o teste de lá e coloquei por baixo da almofada logo que eles chegaram, comprimentos e blá blá blá, aí eu decidi ficar com eles no quarto e quando eles entraram ela foi se sentar na cama e o teste estava por baixo na almofada que ela levou para colocar no colo dela e ela viu. Fim. — contei com o desinteresse evidente e com a atenção no laptop do meu pai, pois ele tinha me mandado digitar algo.— Então ela tem um irmão, sim? — Sim, gêmeo del...Espera aí, você ouviu oque eu disse? — parei por um momento para prestar atenção na sua resposta.— Sim, idiota.— Oque foi que eu
Com desentendimento no olhar, minha mãe se virou e arqueou as sobrancelhas como se expressasse oque evitava questionar. Só que ela acabou por conciliar a fala e a expressão ao perguntar.— Oque disse?— Mãe? — vasculhei o chão com o olhar em busca de algo que não fosse oque eu havia de facto dito — Perguntei se não tem uma tesoura.Meu nervosismo foi se manifestando em atos como esfregar as mãos e sorrir de forma exagerada até demais. Minha mãe encostou seu corpo no batente e coçou sua testa, me permitindo perceber que tentava lembrar onde tinha uma.— Não sei, talvez na minha bolsa. — ergueu seu olhar até sustentar o meu — Foi isso que disse? — cerrou seus olhos e meu estômago mudava de temperatura por segundo.— Sim. Porquê a pergunt
Lá estava eu, totalmente perdida nos detalhes das minhas sandálias com missangas coloridas. Faltavam alguns dias para as férias iniciarem e eu não estava entusiasmada como costumava estar, por motivos óbvios.A única coisa que me deixava satisfeita, era que tinha me saído bem na escola. Meus resultados eram mais satisfatórios do que eu esperava e como resultado disso, fui até elogiada por alguns professores e colegas, por ter feito parte dos alunos mais esforçados da turma. Um mérito que me manteve feliz durante um bom tempo, até que meu pensamento me levou de volta a relva verdinha e molhada da casa que ficava afrente da escola.Minha boca se inundou de saliva e fechei levemente os olhos.Desejava, temperada que nem salada com atum, com uma persistência estranha que levou meu estômago a atar-se e a quase sair pela boca, para unir-se ao paladar em busca do que tanto desejavam.— Mh, meu Deus. — espalmei a testa, ainda de olhos f
Estranhamente, me concentrava num volume que eu mesma formava na minha barriga, para tentar imaginar como ficaria. Meu coração estava à mil e eu simplesmente queria chorar e rir da minha situação, ao mesmo tempo. Um sentimento estranho que me fazia sentir minúscula e como num filme de terror.Debruçada na cama e ao som de James Arthur, pensava no quão azarada eu era para ter que terminar naquela situação. Era tempo para começar a agir e cuidar da minha gravidez de forma certa e sensata, mas, para tal, eu precisava que minha mãe me ajudasse. De longe eu ouvia sua voz abafada em palavras difíceis de entender. Uma vida evoluía dentro de mim e até então eu não tinha levado quase nada pelos trilhos certeiros. Parecia um sonho do qual eu não podia acordar assim que as coisas se tornassem bizarras.Então, tentando embarcar na ilusão, abri meus olhos de forma excessiva, oque resultou na queda de lágrimas que eu me esforçava para não tirar. Um dia talvez eu me le
Na manhã de sexta-feira, eu observava, através de meus olhos inchados e ardentes, minha mãe tomar seu chá, como se não houvesse nenhuma outra presença ali. Seu olhar vadio e seu silêncio me fizeram perceber que estava tal e qual no dia anterior. Passei a noite toda aos prantos. Algumas vezes me arrependi por não ter tirado, outras desejei estrangular Weben, mas tudo terminava com meus dedos secando meu rosto e um conformismo que me acalmava. Assim foi durante a noite toda. Não dormi um minuto que fosse, a fome me levou para a cozinha, onde ela me encontrou logo depois, bem no início da manhã. De si recebi apenas um "Bom dia" num sopro frio e seco.Foi então que tive certeza que algo tinha mudado entre nós duas, sabia que a imagem que ela tinha de sua filha tinha sido borrada pelo meu delito e aquilo só me matava mais por dentro. Me preocupava também a dúvida de não saber se ela contaria para meu pai ou não, porque eu não queria que ele
Na manhã de sexta-feira, eu observava, através de meus olhos inchados e ardentes, minha mãe tomar seu chá, como se não houvesse nenhuma outra presença ali. Seu olhar vadio e seu silêncio me fizeram perceber que estava tal e qual no dia anterior. Passei a noite toda aos prantos. Algumas vezes me arrependi por não ter tirado, outras desejei estrangular Weben, mas tudo terminava com meus dedos secando meu rosto e um conformismo que me acalmava. Assim foi durante a noite toda. Não dormi um minuto que fosse, a fome me levou para a cozinha, onde ela me encontrou logo depois, bem no início da manhã. De si recebi apenas um "Bom dia" num sopro frio e seco.Foi então que tive certeza que algo tinha mudado entre nós duas, sabia que a imagem que ela tinha de sua filha tinha sido borrada pelo meu delito e aquilo só me matava mais por dentro. Me preocupava também a dúvida de não saber se ela contaria para meu pai ou não, porque eu não queria que ele