Meu olhar vagava pela escuridão densa que dominava cada canto do meu quarto. No silêncio da madrugada, derramava litros de lágrimas, ao mesmo tempo que segurava meu relógio menstrual, como se meu viver dependesse daquilo.
Estava irritada comigo mesma, por não estar em condições de fazer a contagem direito. Me desleixei com o relógio e estava baralhada. Talvez estivesse em dia férteis, talvez não. Mas a única coisa que fazia, era passar o relógio esférico por entre meus dedos, também tentando digerir oque aconteceu havia menos de uma hora.
"Weben! Como assim estourou?"
Com as mãos na cabeça erguida, Weben estava tão preocupado quanto eu. Lembrava de tê-lo ouvido sussurar palavrões de olhos fechados, enquanto eu estava perplexa sem saber por onde começar a me preocupar. Fiquei por um bom tempo encarando seus movimentos até que, assim como o medo, a vontade de voltar para casa me fez sair do carro desesperada, logo depois de um respirar fundo, para fazer valer minha decisão.
Cheguei à casa e fui directo para o quarto, onde passei mais de meia hora deambulando e libertando longos suspiros de preocupação e lágrimas de angústia. Com fortes e trêmulas mordidas, tornava escassa a existência de minhas unhas e, na mesmíssima proporção, minhas paredes estomacais congelavam cada segundo mais.Os minutos passavam e eu, que tinha sido tramoiada pelo destino, não achava sossego em nada!
— Mas como? — perguntei para mim mesma, já com a garganta e olhos doloridos de tanto chorar.
Me levantei, me sentei na cama desarrumada, enxuguei minhas lágrimas gordas e respirei fundo para aliviar o peito. A discussão entre mim e minha mente era de condoer e latejar minha cabeça.
Atirei o relógio menstrual para qualquer sítio e em meio a soluços, procurei pelo meu telefone.Não consigo dormir, estou preocupada.
Não paro também de chorar. Se estiveres na mesma situação, retorna, por favor. Estou em pânico!
Digitei novamente e mandei a segunda mensagem normal. Olhei para a tela por alguns minutos, mas não recebi nenhuma resposta sua. Isso me fez cair num choro desesperado novamente, ao passo que sentia a fome se tornar um incômodo.
Me deitei e levei meu telefone para bem perto do peito._______________|♪|_______________
Segunda-feira
O dia nublado trouxe consigo ventos frios que batiam contra meu rosto ressecado. Não falava com Weben havia mais de 24h e isso, assim como meus pensamentos, me deixavam avoada o tempo todo.
Assim que atravessei o portão da escola, o mar de pessoas uniformizadas era quase indestinguíveis perante meu estado, até Cleyton ganhar destaque. Estava com uma expressão neutra enquanto segurava num pedaço de cartolina e parecia falar consigo mesmo, direcionando seu olhar para o chão como se buscasse decorar algo. Ergueu sua cabeça de forma distraída, assenou e sorriu assim que me viu, seguindo o caminho até a sala de desenho. Aprumei os lábios, sorri de leve e sua espressão, que ficava cada vez mais nítida a medida que me aproximada, me fez perceber que tinha notado meu mau-estar.
Meu amigo retardou seus passos e franziu o cenho, colocou sua gravata no lugar e voltou a dar passos apressados, até que perdi de vista.Continuei com meus passos morosos até chegar na minha sala, na qual entrei e recebi, por longos segundos, olhares de alguns dos meus colegas. Meu desânimo estava acima da educação, por este motivo evitei olhares e nem sequer sussurei qualquer comprimento para eles. Fui até meu lugar, me sentei e descansei meu corpo com um longo suspiro que se perdeu no ar que parecia existir em pouca quantidade para mim. Fechei os olhos e minha consciência parecia se distanciar à cada exalar de meu sistema respiratório. Sem me importar com absolutamente nada ao meu redor, fechei os olhos e deitei minha cabeça na madeira fria da minha mesa, porém, Tânia entrou com gritaria na minha sala:
Enquanto andava até meu lugar, percebia meu mau-estar também, ao qual desdenhou sem perder tempo.
— Oque se passa? — se sentou na mesa do professor, na minha frente, e olhou para mim com preocupação.
— Nada!
— Sério que vamos ter que ir por aí?
— Não aconteceu nada, juro. — levantei meu rosto e me endireitei na cadeira.
— Cleyton! — fingi ânimo que não possuía.
— Começa a falar. — notei que estava de um corte novo, estava muito bonito.
Meu olhar foi imediatamente para o quadro por trás de Tânia, como forma de tentar formular as palavras certas para dizer que deu merda.
— Vocês não deviam estar na aula? — tentei mudar de assunto, sem êxito.
— Me tiraram da sala. — Tânia disse.
— E meu professor de desenho está atrasado. Agora fala! Oque aconteceu? — Parou ao lado de Tânia e plantou as mãos na cintura.
— Ficou bonito do corte novo. — sorri fraco e passei a mão pelos lábios assim que senti um azedo na garganta.
Soltou um de seus suspiros de impaciência enquanto o olhar de Tânia denunciava sua irritação e vontade de me insultar.
— Oque houve, Evie?—perguntou ela, com uma calma que estava à km de existir.
Respirei fundo, olhei para cima e comecei a falar:
— Eu me encontrei com Weben, no sábado anoite, e rolou minha segunda vez. — desci o olhar até eles e depois até o chão — Estava tudo bem até ele me dar a excelente notícia de que o preservativo tinha estourado.
Espalmei a testa e dei o bilionésimo suspiro longo do dia, recebendo seu silêncio como reação. Era perceptível que ambos tentavam achar palavras que me confortassem, mas como o silêncio é inóspito, Tânia falou a primeira merda que achou:
— Olha, não me interpreta mal, mas usando a frase de "The Nun", "Deus acaba aqui".
Tânia soltou um grunhido assim que Cleyton bateu em sua nuca, fazendo corrigir suas palavras logo depois:- Desculpa, mas a falta de palavras faz isso comigo e vocês sabem. - limpou seu queixo com o tecido de sua camisola que cobria um dos ombros.- E oque você vai fazer? - perguntou Cleyton com a voz suave e menos grave que o normal.- Vocês acham mesmo que eu estou em condições de tomar alguma decisão agora? - olhei para meu amigo e cravei meus dentes no lábio.- Oky, vamos em fases. Primeiro: você está em dias férteis?- Não sei. - respondi imediatamente a minha amiga.- Como assim não sabe?- Me atrapalhei na contagem, Tânia!- Está bem, fazemos juntas. Quando iniciou teu período menstrual?- Não lembro. - suspirei - Há duas ou três semanas.Tânia tirou seu telefone do bolso e digitou rapidament
Tânia soltou um grunhido assim que Cleyton bateu em sua nuca, fazendo corrigir suas palavras logo depois:- Desculpa, mas a falta de palavras faz isso comigo e vocês sabem. - limpou seu queixo com o tecido de sua camisola que cobria um dos ombros.- E oque você vai fazer? - perguntou Cleyton com a voz suave e menos grave que o normal.- Vocês acham mesmo que eu estou em condições de tomar alguma decisão agora? - olhei para meu amigo e cravei meus dentes no lábio.- Oky, vamos em fases. Primeiro: você está em dias férteis?- Não sei. - respondi imediatamente a minha amiga.- Como assim não sabe?- Me atrapalhei na contagem, Tânia!- Está bem, fazemos juntas. Quando iniciou teu período menstrual?- Não lembro. - suspirei - Há duas ou três semanas.Tânia tirou seu telefone do bolso e digitou rapidament
Alguns dias depoisOs dias passaram com tanto vagar, que levou uma eternidade até que estivessemos no início de novembro e os testes finais estivessem à uma semana do nosso alcance.Na sala de aulas, várias vozes colidiam em conversas completamente diferentes, me fazendo perder interesse e atenção no que acontecia ao meu redor. Eu rabiscava meu nome com caligrafias variadas na capa do meu caderno, buscando tirar minha cara de preocupação do alcance dos olhos dos meus colegas.Minha vida girava em torno de preocupação e aflicção, encenava uma normalidade que não mais existia para minha família e enfrentava um dilema relacionado ao Weben. Não sabia qual passo dar e para piorar às coisas, o atraso do meu período menstrual começou
Acordei das poucas horas de sono que tive, para o feriado tenso que eu teria. Depois de tanto me revirar na cama, dormi decidida a fazer o teste e me livrar de tanta dúvida, rezando para que desse negativo.Estava despida de ânimo e o cansaço das noites mal dormidas pendia sobre meus ombros, mas lutava contra tudo aquilo para parecer o mais normal que conseguisse.Na noite de quinta-feira, Cleyton avisou que tinha conseguido comprar o teste e com tom de irritação, contou cada detalhe do momento constrangedor pelo qual passou. Segundo ele, o olhar da atendente caiu sobre si com pesar, surpresa e a dúvida de poder ou não confiar no que teria concluido à respeito dele. Enquanto isso, eu soltava lufas de ar para segurar meus risos e falar todas as palavras de conforto que poderia.Sorri e balancei a cabeça com a lembrança, ao passo que tamborilava meus dedos no sofá. Sozinha em casa e com os fones bombando alto em meus ouvidos, naquele momento, eu e
Tânia estava abraçada a cintura de Cleyton e se debatia, enquanto ele, alto que era, erguia sua mão o mais alto que podia para tirar o remote do alcance dela. Ambos trocavam insultos e ameaças, enquanto eu apenas ria da situação sentada e de braços cruzados.- Melhor você me deixar, senão isso não vai terminar bem! - meu amigo disse ofegante, pois era chacoalhado que nem árvore por Tânia.- Você não pode chegar me encontrar a assistir e querer trocar! Me dá o remote! -respondeu sentindo uma certa excassez de ar também.- Eu não quero assistir, só quero ver oque estão a dar lá.- Não foi isso que você disse primeiro. - ficou na ponta dos pés e tentou alcançar o remote, mas não teve sucesso.- Se continuarmos assim, nenhum de nós sairá a ganhar, porque nenhum dos dois está a assistir oque quer. - com a outra mão, Cleyton fez cocegas nela, que pulou para longe de si no mesmo instante.
Ainda com o olhar preso naquele teste, senti meu coração rasgar seu caminho até minha boca. Um frio anormal se apossou de meu corpo enquanto eu pensava apenas numa coisa: destruí minha vida.Abracei minhas pernas, escondi minha cabeça e comecei a chorar. Chorei muito, chorei até sentir sufoco e a dor do meu coração se expandir pelo corpo todo, chorei e desejei que o tempo voltasse e que nunca o tivesse conhecido.— Evie? — a voz abafada de Tânia soou do lado de fora.Respirei fundo e soltei um gemido que partiu do fundo de mim, para que percebesse que não estava em condições de proferir nenhuma palavra naquele momento. Me sentia desnorteada, junto com a ficha, meu humor caía lentamente quando ensopava o tecido das minhas calças de lágrimas.— Evie, posso entrar? — insistiu e eu ergui minha cabeça, mas não conseguia falar.Drenava lágrimas enquanto mordia meu joelho para abafar o barulho de choro, só
Eu devia ter percebido através das mudanças pelas quais meu corpo passava e alguns sintómas primários: sentia tonturas e me irritava constantemente; cuspia e meu olfato se tinha aflorado mais ainda; meus mamilos estavam mais escuros e patenteavam um ligeiro inchaço; seios estavam cada vez mais fartos e as curvas descomunais. Então percebi que o resultado do teste lavou meus olhos para que eu visse sinais que meu corpo me dava pouco à pouco. Mas, mesmo assim, eu me negava a crer que era tudo verdade, motivo pelo qual decidi colocar minhas fichas num segundo teste por fazer.Durante a longa noite em que destilava de mim toda minha sofrência, me agarrei a ideia daquele teste ter se ocupado das poucas chances de cometer falhas como um bote salva-vidas e me dei uma segunda chance. Me agarrei a aquilo de forma obssessiva, incapacitando minha mente de cogitar um segundo "positivo". Embora tivesse certeza que Cleyton conseguiria outro teste para mim assim que e
Olá, Evie. Eu não tenho muito oque dizer, mas vou conseguir um teste urgentemente. Bjs.Sua mensagem estava mais oca do que eu esperava. Sem explicações, sem pedido de desculpa, sem pelo menos procurar saber sobre meu estado. Mensagem que me fez perceber o quão raso e indiferente ele parecia estar perante aquilo. Me sentei na cama e lí sua mensagem novamente, pensando que talvez tivesse lido rápido demais. Mas era somente aquilo. Então senti uma pontada no coração e a desilusão marejar meus olhos enquanto pensava no que responder. "Só isso?" digitei e apaguei."Não vai escrever mais nada?" digitei e apaguei novamente.Fiz uma pausa para pensar e enxugar meus olhos. Respirei fundo, trazendo um pequeno alívio para meu peito e voltei a digita