Jéssica — Valentina, guarda esse celular que chegamos — chamei atenção da menina, que desde o momento em que saímos de casa, não tirava os olhos da tela do aparelho. Lidar com uma pré-adolescente é complicado às vezes. Mesmo Valentina sendo uma menina estudiosa e obediente, ainda assim era como qualquer garota da sua idade, viciada em redes sociais e internet. — A mana, deve estar conversando com o Francisco — Sofia diz, com um sorrisinho, fazendo com que a irmã brigue com ela. — Francisco é meu melhor amigo, sua tonta — Valentina reclama, guardando o celular dentro da bolsa. — Amigo ou não amigo, quando entrarmos na casa dos seus avós, não quero você mexendo no celular e dê atenção ao seu avô Ricardo. Respondi, fazendo sinal para os três. Leandro era mais calmo e não dava tanto trabalho assim. — Fábio, você pode descansar um pouco e daqui a pouco vá jantar. Leonardo deve estar chegando em breve e voltamos com você no carro. — Certo, dona Jéssica. Vou esperar na cozinha, assim
LeonardoHoje era o dia em que assumiria o comando do maior Estado do País. Minha posse como governador de São Paulo aconteceria daqui alguns minutos. Pedi que meus pais me deixassem sozinho por um instante. Minha vida mudou tanto desde o momento que assumi o cargo como diretor até ser eleito no primeiro turno. Durante os quatro anos que passei como secretário de saúde, dei o meu melhor. Trabalhei com afinco, me dediquei de coração a tudo que fazia e segui sendo o mesmo homem que meus pais criaram. Mesmo que no caminho algumas coisas tenham acontecido e por pouco não me desviei do que era certo, no final tudo acabou bem e agora eu começaria a lidar com uma nova fase na minha vida. Minha campanha foi limpa, sem atacar o adversário e justa com tudo que me propus a fazer. Marcelo foi condenado pelos crimes que cometeu e agora cumpria pena em Brasília. Pelo que ouvi de alguns conhecidos ele lutava para sair da prisão antes do tempo. Eu tinha uma boa relação com praticamente todos os membr
2 anos depoisLeonardo—Senhor Governador, a inauguração da primeira escola integral em favelas, já está confirmada para daqui um mês.Participava da minha quarta reunião naquele dia. Foram duas pela manhã, seguida de um almoço e agora finalizava meu último encontro com alguns secretários que terminaria com um jantar no hotel que acontecia o encontro. Dois anos do meu primeiro mandato, onde consegui lidar bem com os problemas que surgiram. Me desviando de pessoas que a todo custo tentavam me corromper e do Marcelo. O desgraçado mesmo preso, seguia infernizando a minha vida. Sempre jogando que eu cheguei ao poder graças a ele. Do contrário permaneceria como um diretor de uma comunidade como Estrela Guia.—Lorenzo, acredito que Estrela Guia está, mas do que pronta para esse momento. Estive conversando com Pedro em nosso último encontro ele me contou, que a secretária de educação vem fazendo tudo que foi prometido. É de extrema importância para seguirmos com o nosso trabalho de campanha.
Jessica—Mamãe, a tia Nanda chega de viagem quando?Valentina me ajudava a guardar a louça. Minha filha estava agora com 6 anos. Esperta, inteligente e atenta a tudo ao seu redor. Continuava morando no mesmo bairro de quando fiquei grávida, depois de anos vivendo no Rio de Janeiro eu já havia me acostumado a cidade Maravilhosa. Nanda me deixou responsável pela casa, me cobrando apenas as despesas de água e luz. Minha amiga trilhava o caminho que eu não pude, por conta da minha gravidez inesperada. E agora dois anos depois, penso que Valentina foi o milagre em minha vida. Que o destino a colocou, para que eu mudasse de verdade. Vivendo uma vida normal, criando minha filha sozinha, longe de tudo que lembrava o meu passado sujo. Ainda trabalhava na mesma clínica de estética, porém eu era formada, depois de ter concluído o curso através da bolsa de estudos em uma faculdade particular. Fernanda foi quem me incentivou a seguir com essa profissão, mesmo me dizendo que eu ganharia muito mais
Jéssica—Jess, não acredito que você esperou eu voltar pro Brasil pra me contar essa bomba.Fernanda havia chegado de viagem na noite passada. Minha amiga retornou dois dias antes da formatura da Valentina. Com presentes para minha filha e as novidades da sua última loucura na Inglaterra. Valentina brincava no quintal de casa, enquanto nós duas conversávamos bebendo o chocolate que minha amiga trouxe da França. Era sábado e a formatura aconteceria na segunda-feira na parte da tarde na escolinha. Eu havia reservado minha passagem e da minha filha para o próximo final de semana. Duas semanas se passaram desde a ligação do Pedro. Dias depois foi Sofia que me ligou, implorando que eu voltasse. Que minha tia havia melhorado depois que Pedro contou que eu decidi retornar.—Nanda, sabe que voltar inclui lembrar de tudo, encontrar pessoas que não desejo. Preciso fingir que não ligo, quando chegar naquela comunidade com uma menina na barra do vestido.—Hey garota! Nada de falar assim da minha
JéssicaSentada na sala de casa, esperava Fernanda sair do quarto. Nossas coisas estavam prontas em uma única mala de viagem. Decidi levar pouquíssimas coisas já que eu tinha certeza que ficaria ali no máximo uma semana. Fernanda acabou decidindo ir comigo, depois de ter me encontrado chorando na varanda na noite da formatura da minha filha. Enquanto a maioria das meninas dançaram com os pais, Valentina foi a única da sala que não e mesmo demonstrando tá tudo bem com isso, não consegui esconder por muito tempo a tristeza depois que minha filha dormiu. Chorei de raiva e ódio por ter que esconder a verdade dela. Fernanda me disse que eu precisava ter a coragem de procurar Leonardo e contar sobre a filha. Porém eu nunca faria algo assim. Ser tratada com desprezo por ele, como na noite em que Valentina foi concebida era algo que não desejava outra vez.—Jess, demorei porque aproveitei para lavar o cabelo, já que nosso voo é depois do almoço — Fernanda se senta ao meu lado. Minha amiga era
JessicaEu deveria ter confiado na minha intuição, que me dizia para não trazer Valentina comigo. Mal desembarquei nesta cidade m*****a e coloquei os pés novamente nesta comunidade, minha filha some da minha vista por causa de uma brincadeira. Pensei que ela estava falando por falar quando viu toda aquela agitação de pessoas e a entrada de Estrela Guia decorada com balões e outros enfeites. Não tinha ideia de que estava acontecendo um evento nesta tarde, e agora, ao lado da Nanda, procurávamos minha filha como duas loucas. Saí perguntando a alguns moradores desconhecidos, vi os conhecidos me olhando surpresos ao me verem ali novamente, já que eu estava mais velha e muito mudada. — Amiga, fica calma, tudo bem? Vamos encontrar aquela mocinha. Eu vou por esta rua, e você segue na frente, onde tem aqueles carros parados. Viu como tem um monte de gente ao redor? Nanda me diz e, carregando a mala de viagem numa mão, ando apressada, me aproximando daquela multidão que se encontrava perto de
LeonardoEla teve uma filha! A surpresa que tive ao encontrar Jéssica depois de anos foi justamente no dia da inauguração da nova escola em Estrela Guia. O nosso rápido reencontro apenas de olhares mostrou que ela, de certa forma, ainda mexia comigo. A garotinha encantadora era filha dela? E me perguntava, curioso, quem seria o pai?Enquanto as pessoas ali conversavam sobre política e os moradores da comunidade, entre outras coisas, meu pensamento se encontrava nela e em como mudou em anos. Mais velha, porém, o olhar de desprezo por mim permanecia o mesmo. Jéssica realmente me odiava por tudo que fiz no passado. Fui um canalha ao ter acreditado no que mamãe me disse e descobrir pela Sofia que a tia foi quem fez toda a negociação para conseguir dinheiro usando o que eu e a sobrinha tínhamos me pegou de surpresa. Em um dos encontros com Sofia, minha amiga contou que Maria confessou no hospital que Deus a castigava por ter se aproveitado da sobrinha por anos. Sofia não conseguia entender