Capítulo 7

Leonardo

Ela teve uma filha! A surpresa que tive ao encontrar Jéssica depois de anos foi justamente no dia da inauguração da nova escola em Estrela Guia. O nosso rápido reencontro apenas de olhares mostrou que ela, de certa forma, ainda mexia comigo. A garotinha encantadora era filha dela? E me perguntava, curioso, quem seria o pai?

Enquanto as pessoas ali conversavam sobre política e os moradores da comunidade, entre outras coisas, meu pensamento se encontrava nela e em como mudou em anos. Mais velha, porém, o olhar de desprezo por mim permanecia o mesmo. Jéssica realmente me odiava por tudo que fiz no passado. Fui um canalha ao ter acreditado no que mamãe me disse e descobrir pela Sofia que a tia foi quem fez toda a negociação para conseguir dinheiro usando o que eu e a sobrinha tínhamos me pegou de surpresa. Em um dos encontros com Sofia, minha amiga contou que Maria confessou no hospital que Deus a castigava por ter se aproveitado da sobrinha por anos. Sofia não conseguia entender do que a mulher falava, até que Maria explicou que o dinheiro que ganhou foi por ter procurado minha mãe e contado que diria tudo para a imprensa se minha família não pagasse pelo seu silêncio. Quando descobri, não fui atrás de pedir explicações para minha mãe, já que nada faria com que o tempo voltasse e eu pudesse pedir desculpas pelo que fiz a Jéssica. Talvez até mesmo a minha relação com ela teria sido diferente, e eu nunca teria me casado com Viviane.

Pedro conversava com o secretário de saúde, e Viviane estava ao seu lado com Ester. Francisco brincava com outras crianças, e o garoto com o tempo acabou se afastando de mim. Não quis forçar nenhuma aproximação por entender que a mãe dele tinha muitos motivos para me querer longe dela e dos filhos.

— Leonardo, você está de parabéns pela estrutura da escola e de como as salas foram bem projetadas — voltei minha atenção para um dos homens que se encontravam ali como convidados. Sorri ao receber o elogio, e fomos interrompidos pela aproximação de Pedro junto da esposa e da filha.

— Doutor, a festa foi perfeita e seu discurso bem falado. Agora preciso ir com minha família — Pedro não perdia o costume de chamar de doutor. Só que agora ele não pronunciava a palavra com deboche.

— Leonardo, tudo foi muito bem-feito e espero que as crianças que venham estudar aqui possam aprender e ter um bom futuro — Viviane disse com um sorriso sincero para mim. Ester estava em seu colo, e toquei o rosto da menina com carinho sendo observado por Pedro. Com o passar dos anos, passamos a nos tratar com educação e respeito. O que houve ficou no passado e não misturamos as coisas que aconteceram anos atrás.

— Eu preciso ir. Tenho algum trabalho para finalizar em casa — digo me despedindo de todos. Pedro junto com Viviane saem primeiro, vejo quando Larissa vem para perto de mim e teria que cancelar o nosso encontro daquela noite.

— Vou dispensar todos aqui e sigo com você para mansão — ela diz bem próximo de mim. Eu disfarço já que os olhos de muitos ali estão em direção a nós dois. Larissa andava forçando uma aproximação que me incomodava. Era como se ela quisesse que todos soubessem do nosso caso e me obrigasse a assumir o que tínhamos de certa forma.

— Hoje não vai ser possível — aviso e vejo o rosto dela ficar vermelho de raiva ao ouvir isso.

— Por qual motivo? Será que é só você aparecer e encontrar com sua ex-mulher que tudo muda de uma hora para outra — Larissa diminui o tom de voz quando vê que meu olhar para ela não é dos melhores.

— Eu tenho que resolver um assunto pessoal agora. Você pode ir com o vice-governador que agora preciso ir.

Antes de sair ela me impediu segurando meu braço e me soltei discretamente para que ninguém perceba a nossa discussão.

— Assunto pessoal ou você não consegue ficar bem depois que reencontrar sua Ex-mulher feliz com o marido e filhos?

— Preciso ir agora. Você sabe como voltar para casa.

Digo chamando Diego para explicar o que ele deveria fazer assim que eu fosse embora. Depois de passar as instruções ao chefe da segurança, chamo pelo Fábio e passo um endereço a ele.

Sei que é errado o que pretendo fazer. Na verdade, é loucura dada a posição que tenho e o lugar em que estou. Porém, a curiosidade em saber como ela estava, quem era o pai daquela menina, e se ela havia retornado de vez para São Paulo falava muito, mas alto do que as notícias que provavelmente sairiam na imprensa em poucas horas.

**

Jéssica

Sozinha em casa, arrumava algumas coisas no quarto da minha tia, que agora seria ocupado por mim e pela Valentina. Fernanda e minha filha saíram para fazer compras assim que chegamos. Muita coisa mudou aqui, e meu quarto seguia como deixei. Sofia havia me enviado mensagem avisando que titia me esperava no dia seguinte no hospital que ficava perto daqui. Pedro ligou perguntando se a viagem foi boa, tranquila e se eu precisava de algo. Recusei qualquer ajuda vinda dele. Para Sofia, respondi que iria para a visita no horário marcado e desliguei para não dar muita conversa para nenhum dos dois. Minha mente ainda martelava o reencontro com Leonardo e o medo de que ele pudesse descobrir meu segredo. Fernanda me acalmou, e eu tive que conversar com Valentina outra vez sobre não contar que eu era sua mãe. Antes das duas irem até o mercado, repassamos o roteiro e, para os conhecidos e desconhecidos, ela era filha da Fernanda. Tirava algumas coisas da dispensa, conferindo produtos já vencidos, e pelo que percebi, titia seguia descuidada como sempre. Ela se encontrava internada há 3 meses, assim Sofia me contou, que o tratamento era muito mais agressivo do que antes. Ironicamente, uma mulher como ela não se cuidou e muito menos teve acompanhamento ginecológico. Já que ela sempre me ensinava desde criança que eu precisava me prevenir contra uma gravidez indesejada e DSTs. Pelo jeito, os conselhos não serviram para ela mesma. Depois de jogar tantos pacotes no lixo, peguei as panelas para lavar quando ouço uma batida na porta.

— Será que o Pedro acabou vindo aqui comigo dizendo que não era preciso?

Falo, enquanto largo a panela do arroz em cima da mesa. Passo a mão na minha calça e blusa para tirar a poeira que caiu e amarro meu cabelo num rabo de cavalo. Vou até a porta e ao abrir encontro a pessoa que nunca mais desejava rever na vida. Ao dar de cara com aquele homem acompanhado dos seguranças, eu senti o chão se abrindo e me engolindo. Minha primeira reação foi fechar a porta, contudo ele foi mais rápido e segurou me impedindo de fechar na cara dele.

— Sei que você me odeia, só que precisamos conversar e você precisa me explicar o motivo de ter sumido por tantos anos.

Assim que ele se cala, ouço barulho vindo do portão, e Valentina vem correndo com um saco de doces na mão e Fernanda gritando para que ela parasse atrás.

Se minha filha abrisse a boca na frente dele, eu não estaria apenas ferrada, como perderia minha filha de vez para ele.

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