Capítulo 6

Jessica

Eu deveria ter confiado na minha intuição, que me dizia para não trazer Valentina comigo. Mal desembarquei nesta cidade m*****a e coloquei os pés novamente nesta comunidade, minha filha some da minha vista por causa de uma brincadeira. Pensei que ela estava falando por falar quando viu toda aquela agitação de pessoas e a entrada de Estrela Guia decorada com balões e outros enfeites. Não tinha ideia de que estava acontecendo um evento nesta tarde, e agora, ao lado da Nanda, procurávamos minha filha como duas loucas. Saí perguntando a alguns moradores desconhecidos, vi os conhecidos me olhando surpresos ao me verem ali novamente, já que eu estava mais velha e muito mudada.

— Amiga, fica calma, tudo bem? Vamos encontrar aquela mocinha. Eu vou por esta rua, e você segue na frente, onde tem aqueles carros parados. Viu como tem um monte de gente ao redor?

Nanda me diz e, carregando a mala de viagem numa mão, ando apressada, me aproximando daquela multidão que se encontrava perto de vários carros. Será que Pedro estava comemorando algo novo no dia de hoje? Tanta movimentação assim, com garotos fazendo a segurança, só acontecia em eventos importantes. De longe avisto um homem bem-vestido de costas para mim, conversando com uma menina que, ao olhar melhor, vi que era Valentina.

— Aquela mocinha vai ficar de castigo sem assistir novela por um mês — falo sozinha ao me aproximar dela, tentando me equilibrar naquele salto plataforma. Me arrependi de calçar, depois de perceber a confusão que minha filha me colocou com menos de 15 minutos de volta àquele lugar.

— Valentina!

Grito o nome bem alto, sem me importar com as pessoas me olhando. Com certeza achavam que eu era uma louca, andando com aquela mala na mão e a bolsa no ombro. Gritei por ela novamente, e ela ouviu, acenando para mim e sorrindo como se não tivesse aprontado. O homem que conversava com minha filha se vira, e paro ao reconhecê-lo. Era um pesadelo, ou uma brincadeira de mal gosto do destino. Não era possível encontrar aquele maldito homem justo no primeiro dia em São Paulo.

Valentina fala algo para o desconhecido, que tenta chamá-la, e ela vem até mim correndo como sempre. Vejo quando ele é cercado pelos seguranças, que o levam para outro lugar. Valentina me abraça, assim que chega perto, e queria brigar com minha menina, mas me controlo ao sair com ela de mãos dadas para longe dali.

Leonardo me reconheceu, tinha certeza disso, e ainda por cima viu que uma criança se aproximou de mim. Burro ele não era, agora eu não sabia como continuar com a mentira que inventei.

— Mamãe, desculpinha. Tinha tanta gente que acabei me perdendo da senhora e da tia. Aquele senhor falou que ia me ajudar quando a senhora me encontrou.

Já estávamos afastadas e parei um minuto para perguntar o que Valentina havia dito para ele.

— O que falou com aquele homem que conversou com você?

— Que me perdi da senhora e da tia. Só isso, mamãe — Valentina me olha com os olhos já enchendo de água.

— Mamãe não vai brigar com você agora. Mas saiba que precisamos conversar sobre o que aconteceu aqui.

Me virei encontrando Fernanda retornando, aliviada por me encontrar com a sobrinha.

— Encontrou essa pestinha onde?

— Depois eu te conto! O importante é que a encontrei e agora vamos, que a casa da tia Maria está ali na frente.

Nós três seguimos até a rua que vivi uma grande parte da minha vida. Estava tudo tão diferente de quando fui embora. Não apenas as casas, como as ruas asfaltadas, lojas e um movimento que há 10 anos não existia.

— Eu descobri o que está acontecendo aqui e o motivo de tanta movimentação. Pela sua cara assustada, já imagino o que houve — Fernanda fala o finalzinho bem baixo para não chamar atenção da sobrinha.

— Você tá certinha no que descobriu, e depois a gente conversa, tudo bem?

— Tia, o que a senhora descobriu? Valentina era esperta e ouvia tudo muito bem.

— A tia descobriu que a minha sobrinha é muito sapeca e espertinha.

Fernanda e eu nos olhamos e logo à frente vejo a casa da titia. Uma reforma foi feita no imóvel, e com toda certeza tinha dedo do Pedro no meio. Ele me avisou que a chave ficaria escondida debaixo de um vaso de rosa do deserto. Levantei o vaso pegando a chave. Valentina observava tudo com curiosidade, perguntando da Fernanda o nome do bairro em que estávamos.

Abri a porta, nós três entramos, e vi como a sala e a cozinha estavam diferentes. Um outro cômodo foi construído, o corredor que dava para os dois quartos.

— Amiga, que casa organizada é essa da sua tia. Você disse que deveria ser tudo uma zona, mas encontramos algo totalmente diferente do que me contou.

Larguei minha mala no chão da sala e joguei a bolsa em cima do sofá. Fernanda fez o mesmo, e Valentina já se sentia em casa, indo se sentar numa cadeira que ficava na sala.

— Mamãe, a gente vai morar aqui agora? É por isso que eu tenho que falar que a tia Nanda é a minha mãe?

Valentina me chama, me tirando do transe e das memórias que tive ao entrar nessa casa outra vez. Fernanda olhava a sala e a cozinha sem disfarçar o interesse.

— Agora você vai trocar essa roupa e voltar aqui para conversarmos, tudo bem?

Dou um sorriso ao ver minha amiga e minha filha, jurando de dedinho para sustentar a nossa mentira. Em partes, Fernanda tinha razão, e eu não passei de uma das que foi para a cama com ele. Leonardo, com certeza, nem lembrava da minha existência, e eu era apenas uma idiota que transava com ele, enquanto a mulher que ele amava de verdade, agora se encontrava casada com o homem que ele detestava.

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