2 anos depois
Leonardo
—Senhor Governador, a inauguração da primeira escola integral em favelas, já está confirmada para daqui um mês.
Participava da minha quarta reunião naquele dia. Foram duas pela manhã, seguida de um almoço e agora finalizava meu último encontro com alguns secretários que terminaria com um jantar no hotel que acontecia o encontro. Dois anos do meu primeiro mandato, onde consegui lidar bem com os problemas que surgiram. Me desviando de pessoas que a todo custo tentavam me corromper e do Marcelo. O desgraçado mesmo preso, seguia infernizando a minha vida. Sempre jogando que eu cheguei ao poder graças a ele. Do contrário permaneceria como um diretor de uma comunidade como Estrela Guia.—Lorenzo, acredito que Estrela Guia está, mas do que pronta para esse momento. Estive conversando com Pedro em nosso último encontro ele me contou, que a secretária de educação vem fazendo tudo que foi prometido. É de extrema importância para seguirmos com o nosso trabalho de campanha. Todos aqui sabemos bem que os moradores daquele lugar, foram votos decisivos para que eu fosse eleito.Nunca deixo de dizer isso. Sem aquelas pessoas eu talvez nunca teria chegado ao cargo que exercia agora.—Leonardo, você sempre tão preocupado com aquelas pessoas — João o vice do Marcelo que assumiu seu lugar na época da prisão, agora era Secretário-chefe da Casa Civil. Sempre jogava nas entrelinhas o carinho que tinha pela comunidade. Por questões políticas fui obrigado a aceitar ele como parte do meu governo. Porém era algo que engolia calado, por ter a consciência que se ele pudesse ocupava o meu lugar como Governador. Em dois anos, conquistei vitórias, contudo existiam as intrigas e problemas que resolvia sem alarde. Para toda a mídia e população eu precisava manter minha postura de homem justo, correto e que não aceitaria propina ou agiria fora da lei. Muitos se surpreendiam com a forma que lidava com Pedro. Acabamos nos entendendo, mesmo com Viviane a minha ex-mulher se mantendo sempre distante de mim, quando estávamos no mesmo ambiente.Confiro o horário no meu relógio. Logo o jantar seria servido e queria descansar por alguns minutos antes de continuar a reunião.—Senhores, finalizamos essa etapa por agora. Temos um intervalo de uma meia hora, até o jantar ser servido e assim encerrarmos o dia de hoje.Assim que termino de falar, todos os homens reunidos, começam a sair. Me deixando sozinho dentro daquela sala. Peguei meu celular para verificar as ligações ou mensagens. Minha mãe querendo saber como eu estava. Depois que fui eleito e por ser solteiro, ela fazia as vezes de primeira-dama. Me acompanhando em alguns eventos ao lado do meu pai e trabalhando junto com a esposa do Vice- Governador.Respondia a mensagem para ela, quando a porta abriu e não precisei virar o rosto para saber quem era. O perfume doce preenchendo o ambiente já denunciava sua chegada.—Pensei que você ficaria trancado com todos aqueles homens até sabe Deus que hora — Larissa para atrás de mim, massageando meus ombros tensos devido ao cansaço do dia. Ela era minha assessora e secretária pessoal e parceira de cama nas horas em que eu precisava relaxar. Sara acabou decidindo viver de vez nos Estados Unidos, vindo ao Brasil poucas vezes. Larissa era antiga secretária do Marcelo, competente e acabei aceitando-a como minha assessora. Trabalhava muito bem, era 5 anos mais nova que eu e uma boa companhia. Minha mãe implicava com ela, por achá-la interesseira assim como todas as outras mulheres que se aproximavam de mim.—Amanhã, pretendo visitar aquele novo hospital para saber como anda a nova direção — seguro a sua mão a trazendo para o meu colo. —Sua mãe me ligou querendo saber se você jantaria aqui mesmo — Larissa me avisa, e digo que respondia a minha mãe antes dela entrar.—Hoje não posso ficar com você — aviso, enquanto ela me beija se mexendo em meu colo.Nossa relação se baseava apenas no sexo e nada além disso. Eu não a amava e sabia que ela também não sentia o mesmo por mim. Porém acabamos nos envolvendo, por passarmos tempo demais juntos e assim eu poderia esquecer o meu passado. Viviane e Jéssica as duas mulheres que passaram pela minha vida. Cada uma seguiu seu rumo. Enquanto Viviane minha ex- esposa se casou com Pedro o chefe de Estrela Guia e ambos viviam felizes, Jéssica eu não sabia nem mesmo se ainda estava viva ou não. Ela sumiu, deixando apenas as lembranças que surgiam na minha mente quando algo me fazia lembrar do que vivi com ela. Maria a tia e única parente que aquela garota tinha, descobri um tempo depois que voltou a morar no mesmo lugar, doente e sozinha. Pelo jeito o dinheiro que ganhou as minhas custas não foi bem aproveitado.—Já que não pode ficar comigo, então podemos aproveitar uns minutos antes de você voltar para aquela chatice que será o jantar.Larissa diz, acariciando meu cabelo, enquanto beijava meus lábios me atiçando. Passo a mão pela perna dela, subindo para a coxa. Ela abre as pernas para que eu a toque. Nosso beijo fica, mas intenso e eu toco com um dedo sua boceta por cima do tecido da calcinha.—Por, mas que eu queira continuar, agora não podemos e nossa diversão será apenas essa por hoje.Tiro meu dedo dela, recebendo um suspiro irritado por ter feito isso.—Você disse 30 minutos de pausa. Tempo suficiente para te distrair enquanto isso.—Eu sei, mas preciso resolver um assunto primeiro— ela saiu do meu colo, arrumando sua saia e me levanto fazendo o mesmo com a minha calça e o terno.—Tudo pronto mesmo para a inauguração? Eu pergunto e Larissa faz uma careta.—Como você é obcecado por aquela favela, Leonardo. Acho que deve ter alguém que mora ali que você não consegue esquecer.Larissa não deixava de afirmar que eu ainda amava Viviane e por isso que não conseguia assumir nada sério com ninguém. Contudo não era assim, minha preocupação era exclusivamente por ter muita consideração por todos ali. A mulher que rondava meus pensamentos não era Viviane e sim outra ex-moradora daquele lugar que eu nem mesmo sabia seu paradeiro. Se estava bem, se vivia bem ou se ainda estava viva.Jessica—Mamãe, a tia Nanda chega de viagem quando?Valentina me ajudava a guardar a louça. Minha filha estava agora com 6 anos. Esperta, inteligente e atenta a tudo ao seu redor. Continuava morando no mesmo bairro de quando fiquei grávida, depois de anos vivendo no Rio de Janeiro eu já havia me acostumado a cidade Maravilhosa. Nanda me deixou responsável pela casa, me cobrando apenas as despesas de água e luz. Minha amiga trilhava o caminho que eu não pude, por conta da minha gravidez inesperada. E agora dois anos depois, penso que Valentina foi o milagre em minha vida. Que o destino a colocou, para que eu mudasse de verdade. Vivendo uma vida normal, criando minha filha sozinha, longe de tudo que lembrava o meu passado sujo. Ainda trabalhava na mesma clínica de estética, porém eu era formada, depois de ter concluído o curso através da bolsa de estudos em uma faculdade particular. Fernanda foi quem me incentivou a seguir com essa profissão, mesmo me dizendo que eu ganharia muito mais
Jéssica—Jess, não acredito que você esperou eu voltar pro Brasil pra me contar essa bomba.Fernanda havia chegado de viagem na noite passada. Minha amiga retornou dois dias antes da formatura da Valentina. Com presentes para minha filha e as novidades da sua última loucura na Inglaterra. Valentina brincava no quintal de casa, enquanto nós duas conversávamos bebendo o chocolate que minha amiga trouxe da França. Era sábado e a formatura aconteceria na segunda-feira na parte da tarde na escolinha. Eu havia reservado minha passagem e da minha filha para o próximo final de semana. Duas semanas se passaram desde a ligação do Pedro. Dias depois foi Sofia que me ligou, implorando que eu voltasse. Que minha tia havia melhorado depois que Pedro contou que eu decidi retornar.—Nanda, sabe que voltar inclui lembrar de tudo, encontrar pessoas que não desejo. Preciso fingir que não ligo, quando chegar naquela comunidade com uma menina na barra do vestido.—Hey garota! Nada de falar assim da minha
JéssicaSentada na sala de casa, esperava Fernanda sair do quarto. Nossas coisas estavam prontas em uma única mala de viagem. Decidi levar pouquíssimas coisas já que eu tinha certeza que ficaria ali no máximo uma semana. Fernanda acabou decidindo ir comigo, depois de ter me encontrado chorando na varanda na noite da formatura da minha filha. Enquanto a maioria das meninas dançaram com os pais, Valentina foi a única da sala que não e mesmo demonstrando tá tudo bem com isso, não consegui esconder por muito tempo a tristeza depois que minha filha dormiu. Chorei de raiva e ódio por ter que esconder a verdade dela. Fernanda me disse que eu precisava ter a coragem de procurar Leonardo e contar sobre a filha. Porém eu nunca faria algo assim. Ser tratada com desprezo por ele, como na noite em que Valentina foi concebida era algo que não desejava outra vez.—Jess, demorei porque aproveitei para lavar o cabelo, já que nosso voo é depois do almoço — Fernanda se senta ao meu lado. Minha amiga era
JessicaEu deveria ter confiado na minha intuição, que me dizia para não trazer Valentina comigo. Mal desembarquei nesta cidade m*****a e coloquei os pés novamente nesta comunidade, minha filha some da minha vista por causa de uma brincadeira. Pensei que ela estava falando por falar quando viu toda aquela agitação de pessoas e a entrada de Estrela Guia decorada com balões e outros enfeites. Não tinha ideia de que estava acontecendo um evento nesta tarde, e agora, ao lado da Nanda, procurávamos minha filha como duas loucas. Saí perguntando a alguns moradores desconhecidos, vi os conhecidos me olhando surpresos ao me verem ali novamente, já que eu estava mais velha e muito mudada. — Amiga, fica calma, tudo bem? Vamos encontrar aquela mocinha. Eu vou por esta rua, e você segue na frente, onde tem aqueles carros parados. Viu como tem um monte de gente ao redor? Nanda me diz e, carregando a mala de viagem numa mão, ando apressada, me aproximando daquela multidão que se encontrava perto de
LeonardoEla teve uma filha! A surpresa que tive ao encontrar Jéssica depois de anos foi justamente no dia da inauguração da nova escola em Estrela Guia. O nosso rápido reencontro apenas de olhares mostrou que ela, de certa forma, ainda mexia comigo. A garotinha encantadora era filha dela? E me perguntava, curioso, quem seria o pai?Enquanto as pessoas ali conversavam sobre política e os moradores da comunidade, entre outras coisas, meu pensamento se encontrava nela e em como mudou em anos. Mais velha, porém, o olhar de desprezo por mim permanecia o mesmo. Jéssica realmente me odiava por tudo que fiz no passado. Fui um canalha ao ter acreditado no que mamãe me disse e descobrir pela Sofia que a tia foi quem fez toda a negociação para conseguir dinheiro usando o que eu e a sobrinha tínhamos me pegou de surpresa. Em um dos encontros com Sofia, minha amiga contou que Maria confessou no hospital que Deus a castigava por ter se aproveitado da sobrinha por anos. Sofia não conseguia entender
Jessica—Tia Jess a mamãe comprou esse doce para mim!Ao ouvir Valentina me chamando de tia Jess, solto um suspiro de alívio. Minha filha era esperta e inteligente demais. Leonardo olhou confuso para mim, depois para Fernanda que se encontrava parada ao meu lado e por último para minha filha.— Como assim tia? Ela não é sua filha?Leonardo pergunta e antes que eu possa responder, Fernanda saí na frente e se apresenta para ele.—O governador aqui na porta da casa da tia da minha amiga. Nossa me sinto honrada com isso, o senhor é muito mais bonito pessoalmente que na televisão.Fernanda diz sem pudor algum, sorrindo para Leonardo e para um homem alto, barbudo e de óculos escuros que estava parado como uma estátua ao lado dele.—Me chamo Fernanda e essa mocinha aqui é a Valentina a minha filha.Minha amiga, estende a mão para ele, deixando- o confuso com essa informação.—É... o prazer é meu! Senhora!—Senhora não, por favor. Assim o senhor me faz parecer uma velha.Assisto a cena sem ac
LeonardoPedi para Fábio dirigir pelas ruas de São Paulo, antes de chegar até a mansão. Eu precisava organizar as ideias depois de descobrir que a menina não era sua filha e sim da amiga dela. A mulher que se apresentou como Fernanda lembrava muito uma das garotas que participavam das festas que o Marcelo organizava. Será que Jéssica não omitia que a menina era sua filha, com medo de que eu pensasse o pior dela? A garotinha chamada Valentina lembrava muito Jéssica. O mesmo sorriso e postura. As vezes era a convivência que faziam com que semelhanças aparecessem.—Senhor eu posso seguir para a mansão agora?Fábio pergunta me tirando do transe e respondo que sim. Assim que chegasse em casa, ligaria para um amigo pedindo que procurasse qualquer informação sobre Jéssica a amiga e a criança que acompanhava as duas.Como aquela garota se encontrava tão diferente. Mas bonita, que meu corpo não pôde deixar de reagir a presença dela. Eu desejava conversar a sós com ela. Porém Jéssica foi irred
JéssicaAcordei cedo, deixei o café da manhã pronto. Fernanda e Valentina ainda dormiam e na noite anterior avisei minha filha que precisaria sair bem cedinho. Mesmo sendo domingo, me encontraria com Pedro no escritório dele. Era melhor resolver o que era preciso. Pediria para que ele vendesse a casa da titia. Pretendia voltar apenas para o velório. Quando contei isso para Fernanda minha amiga disse que eu estava certa. Não poderia ser hipócrita ao ponto de chorar pela tia Maria. Só eu sei o que passei desde criança. Os homens que ela levava para casa, a exploração que vivi desde quando me entendi por gente e passei a ter corpo de mulher. Enquanto eu andava até o escritório dei de cara com alguns conhecidos. Descobri que Dona Noca faleceu 4 anos atrás. Encontrei Livia que agora era uma moça ao lado da mãe dona Carmem, que estava aposentada depois de sofrer um acidente de trabalho e ficar impossibilitada de trabalhar. Livia era mais nova que eu uns seis anos e fiquei feliz por saber qu