Leonardo
Hoje era o dia em que assumiria o comando do maior Estado do País. Minha posse como governador de São Paulo aconteceria daqui alguns minutos. Pedi que meus pais me deixassem sozinho por um instante. Minha vida mudou tanto desde o momento que assumi o cargo como diretor até ser eleito no primeiro turno. Durante os quatro anos que passei como secretário de saúde, dei o meu melhor. Trabalhei com afinco, me dediquei de coração a tudo que fazia e segui sendo o mesmo homem que meus pais criaram. Mesmo que no caminho algumas coisas tenham acontecido e por pouco não me desviei do que era certo, no final tudo acabou bem e agora eu começaria a lidar com uma nova fase na minha vida. Minha campanha foi limpa, sem atacar o adversário e justa com tudo que me propus a fazer. Marcelo foi condenado pelos crimes que cometeu e agora cumpria pena em Brasília. Pelo que ouvi de alguns conhecidos ele lutava para sair da prisão antes do tempo. Eu tinha uma boa relação com praticamente todos os membros do partido, consegui até mesmo manter uma relação de forma civilizada com Pedro e jamais deixei de ajudar Estrela Guia. As poucas vezes que estive lá, quando encontrei Viviane ela me tratou bem, e percebi que o sentimento que tinha por ela um dia já não existia. Eu vivia bem solteiro, sem ninguém em minha vida. Sara e eu voltamos a nossa relação depois que ela voltou ao Brasil, descobri muito depois o motivo dela ter ido embora para o exterior e que ela precisava passar mais um ano fora agora para controlar a doença e assim não precisar passar novamente por tratamento agressivo outra vez.Pela janela do meu gabinete eu vi a movimentação de pessoas e a imprensa lá fora. Meu nome se tornou importante no cenário político pelo jeito limpo de fazer política. Eu tinha plena consciência de que muitos me odiavam, porém nada me faria mudar quem eu era de verdade.A porta se abriu e minha assessora entrou me avisando que era a hora de descer. Arrumei meu terno, conferi minha gravata no espelho que tinha ali e peguei meu celular e a pasta com o discurso que faria pela primeira vez como governador eleito.Saímos juntos do gabinete rumo ao meio daquelas pessoas, que confiavam em mim, no meu trabalho. Eu jamais sujaria meu nome, seguiria fazendo um mandato de forma honesta, limpa e sem mentiras ou enganação.Jéssica
Rio de JaneiroCuidar de uma garotinha de quatro anos, esperta, que não parava um minuto sequer era bastante cansativo. Valentina era uma menina inteligente demais para a idade, curiosa e que amava brincar de médica com suas bonecas. Minha filha era a cópia exata daquele homem. Os olhos, o sorriso e tudo lembrava aquela pessoa que eu odiava. Morava em uma casa num bairro distante do centro com minha amiga Fernanda. Ela foi quem me acolheu quando decidi largar tudo em São Paulo e recomeçar em outro lugar.—Mamãe olha o que tá passando na TV — distraída não vi que minha filha havia colocado no jornal da tarde e ao ver a imagem que passava na televisão, larguei a verdura que estava cortando na pia para mudar de canal.Ao ouvir o que aquele homem dizia, a raiva dentro de mim foi tanta, quando ele disse que cumpriria a promessa de criar escolas de ensino fundamental integral a partir da primeira série e que se comprometia a trabalhar em parceria com a prefeitura com a construção de creches para as comunidades e assim ajudar mães solos.Era piada ouvir o que aquele desgraçado dizia. Conquistou tudo, com aquela conversa dele, com seu jeito de bom homem que no fim não passava de um personagem mascarado que ele fazia. Boba era a mulher que se deixava enganar pelo maldito.Mudo de canal, colocando em um aleatório e ouço Valentina brigando comigo por isso.—Mamãe eu quero continuar vendo o moço na televisão.Minha filha tenta pegar o controle da minha mão, porém sou mais rápida e coloco em cima da estante bem no alto para que assim ela não consiga alcançar.—A senhorita não tem idade para ficar assistindo essas coisas e vamos para o quarto que daqui a pouco sua tia Nanda chega.Aponto para a porta do nosso quarto. Vendo Valentina fazer seu bico quando ficava emburrada tentando me convencer a mudar de ideia. Aponto para o quarto, ela faz carinha triste, mesmo assim acata o que mando indo trocar de roupa para tomar o banho antes do jantar.Assim que minha filha entra, pego o controle e coloco outra vez no jornal. A reportagem sobre a posse do novo governador de São Paulo continuava e rever aquele homem outra vez apenas trazia lembranças que eu queria esquecer. Já era difícil demais ter minha filha me relembrando todos os dias quem era o pai dela. Eu o odiava tanto, porém amava demais minha filha e por ela faria qualquer coisa para manter sua identidade escondida do mundo. Nanda conseguiu me livrar de muitas coisas, só que um dia eu acabaria sendo descoberta. Fugir do meu passado era o melhor a se fazer.Vi seu rosto pela última vez, antes de desligar a televisão e ir até o quarto ver o que minha filha fazia. Era melhor esquecer Leonardo, o que ele representou e tudo que passei depois que ele me expulsou da sua vida.2 anos depoisLeonardo—Senhor Governador, a inauguração da primeira escola integral em favelas, já está confirmada para daqui um mês.Participava da minha quarta reunião naquele dia. Foram duas pela manhã, seguida de um almoço e agora finalizava meu último encontro com alguns secretários que terminaria com um jantar no hotel que acontecia o encontro. Dois anos do meu primeiro mandato, onde consegui lidar bem com os problemas que surgiram. Me desviando de pessoas que a todo custo tentavam me corromper e do Marcelo. O desgraçado mesmo preso, seguia infernizando a minha vida. Sempre jogando que eu cheguei ao poder graças a ele. Do contrário permaneceria como um diretor de uma comunidade como Estrela Guia.—Lorenzo, acredito que Estrela Guia está, mas do que pronta para esse momento. Estive conversando com Pedro em nosso último encontro ele me contou, que a secretária de educação vem fazendo tudo que foi prometido. É de extrema importância para seguirmos com o nosso trabalho de campanha.
Jessica—Mamãe, a tia Nanda chega de viagem quando?Valentina me ajudava a guardar a louça. Minha filha estava agora com 6 anos. Esperta, inteligente e atenta a tudo ao seu redor. Continuava morando no mesmo bairro de quando fiquei grávida, depois de anos vivendo no Rio de Janeiro eu já havia me acostumado a cidade Maravilhosa. Nanda me deixou responsável pela casa, me cobrando apenas as despesas de água e luz. Minha amiga trilhava o caminho que eu não pude, por conta da minha gravidez inesperada. E agora dois anos depois, penso que Valentina foi o milagre em minha vida. Que o destino a colocou, para que eu mudasse de verdade. Vivendo uma vida normal, criando minha filha sozinha, longe de tudo que lembrava o meu passado sujo. Ainda trabalhava na mesma clínica de estética, porém eu era formada, depois de ter concluído o curso através da bolsa de estudos em uma faculdade particular. Fernanda foi quem me incentivou a seguir com essa profissão, mesmo me dizendo que eu ganharia muito mais
Jéssica—Jess, não acredito que você esperou eu voltar pro Brasil pra me contar essa bomba.Fernanda havia chegado de viagem na noite passada. Minha amiga retornou dois dias antes da formatura da Valentina. Com presentes para minha filha e as novidades da sua última loucura na Inglaterra. Valentina brincava no quintal de casa, enquanto nós duas conversávamos bebendo o chocolate que minha amiga trouxe da França. Era sábado e a formatura aconteceria na segunda-feira na parte da tarde na escolinha. Eu havia reservado minha passagem e da minha filha para o próximo final de semana. Duas semanas se passaram desde a ligação do Pedro. Dias depois foi Sofia que me ligou, implorando que eu voltasse. Que minha tia havia melhorado depois que Pedro contou que eu decidi retornar.—Nanda, sabe que voltar inclui lembrar de tudo, encontrar pessoas que não desejo. Preciso fingir que não ligo, quando chegar naquela comunidade com uma menina na barra do vestido.—Hey garota! Nada de falar assim da minha
JéssicaSentada na sala de casa, esperava Fernanda sair do quarto. Nossas coisas estavam prontas em uma única mala de viagem. Decidi levar pouquíssimas coisas já que eu tinha certeza que ficaria ali no máximo uma semana. Fernanda acabou decidindo ir comigo, depois de ter me encontrado chorando na varanda na noite da formatura da minha filha. Enquanto a maioria das meninas dançaram com os pais, Valentina foi a única da sala que não e mesmo demonstrando tá tudo bem com isso, não consegui esconder por muito tempo a tristeza depois que minha filha dormiu. Chorei de raiva e ódio por ter que esconder a verdade dela. Fernanda me disse que eu precisava ter a coragem de procurar Leonardo e contar sobre a filha. Porém eu nunca faria algo assim. Ser tratada com desprezo por ele, como na noite em que Valentina foi concebida era algo que não desejava outra vez.—Jess, demorei porque aproveitei para lavar o cabelo, já que nosso voo é depois do almoço — Fernanda se senta ao meu lado. Minha amiga era
JessicaEu deveria ter confiado na minha intuição, que me dizia para não trazer Valentina comigo. Mal desembarquei nesta cidade m*****a e coloquei os pés novamente nesta comunidade, minha filha some da minha vista por causa de uma brincadeira. Pensei que ela estava falando por falar quando viu toda aquela agitação de pessoas e a entrada de Estrela Guia decorada com balões e outros enfeites. Não tinha ideia de que estava acontecendo um evento nesta tarde, e agora, ao lado da Nanda, procurávamos minha filha como duas loucas. Saí perguntando a alguns moradores desconhecidos, vi os conhecidos me olhando surpresos ao me verem ali novamente, já que eu estava mais velha e muito mudada. — Amiga, fica calma, tudo bem? Vamos encontrar aquela mocinha. Eu vou por esta rua, e você segue na frente, onde tem aqueles carros parados. Viu como tem um monte de gente ao redor? Nanda me diz e, carregando a mala de viagem numa mão, ando apressada, me aproximando daquela multidão que se encontrava perto de
LeonardoEla teve uma filha! A surpresa que tive ao encontrar Jéssica depois de anos foi justamente no dia da inauguração da nova escola em Estrela Guia. O nosso rápido reencontro apenas de olhares mostrou que ela, de certa forma, ainda mexia comigo. A garotinha encantadora era filha dela? E me perguntava, curioso, quem seria o pai?Enquanto as pessoas ali conversavam sobre política e os moradores da comunidade, entre outras coisas, meu pensamento se encontrava nela e em como mudou em anos. Mais velha, porém, o olhar de desprezo por mim permanecia o mesmo. Jéssica realmente me odiava por tudo que fiz no passado. Fui um canalha ao ter acreditado no que mamãe me disse e descobrir pela Sofia que a tia foi quem fez toda a negociação para conseguir dinheiro usando o que eu e a sobrinha tínhamos me pegou de surpresa. Em um dos encontros com Sofia, minha amiga contou que Maria confessou no hospital que Deus a castigava por ter se aproveitado da sobrinha por anos. Sofia não conseguia entender
Jessica—Tia Jess a mamãe comprou esse doce para mim!Ao ouvir Valentina me chamando de tia Jess, solto um suspiro de alívio. Minha filha era esperta e inteligente demais. Leonardo olhou confuso para mim, depois para Fernanda que se encontrava parada ao meu lado e por último para minha filha.— Como assim tia? Ela não é sua filha?Leonardo pergunta e antes que eu possa responder, Fernanda saí na frente e se apresenta para ele.—O governador aqui na porta da casa da tia da minha amiga. Nossa me sinto honrada com isso, o senhor é muito mais bonito pessoalmente que na televisão.Fernanda diz sem pudor algum, sorrindo para Leonardo e para um homem alto, barbudo e de óculos escuros que estava parado como uma estátua ao lado dele.—Me chamo Fernanda e essa mocinha aqui é a Valentina a minha filha.Minha amiga, estende a mão para ele, deixando- o confuso com essa informação.—É... o prazer é meu! Senhora!—Senhora não, por favor. Assim o senhor me faz parecer uma velha.Assisto a cena sem ac
LeonardoPedi para Fábio dirigir pelas ruas de São Paulo, antes de chegar até a mansão. Eu precisava organizar as ideias depois de descobrir que a menina não era sua filha e sim da amiga dela. A mulher que se apresentou como Fernanda lembrava muito uma das garotas que participavam das festas que o Marcelo organizava. Será que Jéssica não omitia que a menina era sua filha, com medo de que eu pensasse o pior dela? A garotinha chamada Valentina lembrava muito Jéssica. O mesmo sorriso e postura. As vezes era a convivência que faziam com que semelhanças aparecessem.—Senhor eu posso seguir para a mansão agora?Fábio pergunta me tirando do transe e respondo que sim. Assim que chegasse em casa, ligaria para um amigo pedindo que procurasse qualquer informação sobre Jéssica a amiga e a criança que acompanhava as duas.Como aquela garota se encontrava tão diferente. Mas bonita, que meu corpo não pôde deixar de reagir a presença dela. Eu desejava conversar a sós com ela. Porém Jéssica foi irred