02. O estranho do jardim

O calor da tarde pairava sobre a Fazenda Boa Esperança, denso e preguiçoso. Mesmo com as amplas janelas abertas, o ar morno se espalhava pelos corredores de mármore polido. Do lado de fora, os campos de café ondulavam sob o sol dourado, estendendo-se até onde os olhos alcançavam — um lembrete constante da riqueza dos Monteiro de Alcântara.

No entanto, dentro da casa grande, nem mesmo a grandiosidade das tapeçarias importava para Cecília naquele momento.

Sentada à penteadeira do quarto, ela encarava seu próprio reflexo, o coração batendo mais rápido do que deveria. As criadas trabalhavam a seu redor, ajeitando os últimos detalhes do penteado e do vestido de linho em um delicado tom de lavanda. Por fora, tudo parecia perfeito — mas dentro dela, uma inquietação crescia.

Hoje, ela conheceria o homem que, segundo a vontade do pai, seria seu marido.

"Eduardo Vieira de Sá." O nome ecoava em sua mente como um destino já traçado.

— Está linda, senhorita Cecília — elogiou uma das criadas, prendendo um cacho teimoso atrás da orelha dela.

Linda. Gentil. Perfeita. Era assim que todos a descreviam. A filha exemplar, aquela que nunca levantava a voz, que nunca questionava o lugar ao qual pertencia. Ao contrário de Amélia, que desafiava as regras, ou de Álvaro, cujas aventuras imprudentes causavam constantes dores de cabeça ao pai, Cecília fazia exatamente o que se esperava dela.

E ainda assim, o coração dela apertava com a ideia de ser prometida a um homem que nunca vira.

— Está na hora, menina — anunciou a voz firme de Dona Constança, parada à porta do quarto.

A matriarca exalava elegância, com o vestido de seda creme e o cabelo impecavelmente preso em um coque. Mas seus olhos, sempre observadores, pareciam mais afiados do que nunca. Cecília sabia o que aquele olhar significava: não decepcione seu pai.

Respirando fundo, ela se levantou e seguiu a mãe pelos corredores silenciosos.

***

A carruagem já havia cruzado os portões quando Cecília decidiu que precisava de um momento a sós antes de conhecer seu futuro.

Desviando-se discretamente do caminho principal, ela atravessou os jardins floridos que rodeavam a casa. O aroma doce das magnólias pairava no ar, acalmando-a por um instante.

Foi então que virou uma curva do jardim — e bateu em algo sólido.

— Perdão! — exclamou, instintivamente, enquanto cambaleava para trás.

Uma mão forte a segurou pela cintura antes que ela pudesse tropeçar.

— Cuidado, florzinha, pode se machucar desse jeito.

A voz masculina tinha um tom rouco, carregado de um charme perigoso. Quando Cecília ergueu os olhos, deu de cara com o homem mais intrigante que já vira.

Alto, com os ombros largos sob o terno de linho escuro, ele parecia deslocado naquele cenário bucólico. O cabelo castanho-escuro caía em ondas ligeiramente desarrumadas sobre a testa, e havia algo em seu sorriso — um toque de escárnio, como se o mundo fosse um jogo que ele já estava cansado de vencer.

— Eu… Eu não o vi — balbuciou ela, tentando recuperar a compostura.

— É uma pena. Eu, por outro lado, não consegui deixar de notar você — respondeu ele, os olhos vagando lentamente pelo rosto corado dela. — Está fugindo de alguém?

— Claro que não! — Cecília ergueu o queixo, ofendida e, ao mesmo tempo, estranhamente fascinada por aquele tom atrevido. — Eu só precisava… respirar um pouco.

— Uma boa ideia. Aqui está abafado demais para uma flor delicada como você.

Ela piscou, surpresa pela ousadia dele. Ninguém jamais falava com ela daquele jeito.

— Não sou uma flor delicada — retrucou, firme.

— Não? — Ele se inclinou ligeiramente, como se estudasse cada detalhe dela. — Então, o que é?

Por um instante, Cecília não soube o que responder. Havia algo na presença dele que desestabilizava seu controle habitual.

— Eu sou… Cecília.

— Cecília — repetiu ele lentamente, como se provasse o nome na boca. — Um nome bonito para uma moça ainda mais bonita.

Ela deveria se afastar. Era o que qualquer jovem decente faria. Mas, em vez disso, perguntou:

— E quem é você, afinal?

O sorriso dele se alargou, cheio de mistério.

— Apenas um visitante, florzinha. Um visitante muito sortudo hoje.

Antes que ela pudesse responder, uma voz firme ecoou pelo jardim:

— Cecília!

Ela se virou, reconhecendo o tom autoritário do pai. O estranho, no entanto, permaneceu onde estava, a expressão divertida como se nada pudesse perturbá-lo.

— Parece que sua fuga acabou — disse ele, baixinho. — Até logo, florzinha.

E, com isso, ele se afastou com a confiança de um homem que sabia exatamente o efeito que tinha sobre as pessoas.

Cecília ainda estava tentando acalmar o coração acelerado quando retornou para o salão, onde seu pai aguardava. Ao lado dele, de pé com a postura rígida de um verdadeiro cavalheiro, estava o homem que ela reconheceu como Eduardo Vieira de Sá.

Alto, elegante e com traços perfeitamente polidos, ele sorriu com cortesia ao vê-la se aproximar.

— Senhorita Cecília, é um prazer finalmente conhecê-la.

Ela abriu um sorriso educado, tentando ignorar o fato de que ainda sentia o toque de outro homem em sua cintura.

E então, ao lado de Eduardo, ela viu algo que fez seu sangue gelar.

O estranho do jardim.

O homem que a chamara de "florzinha".

Ele estava ali, recostado com um ar insolente, observando-a como se soubesse exatamente o que tinha acabado de acontecer.

— Ah, sim — disse Eduardo, inocente ao choque de Cecília. — Este é meu irmão mais velho, Maximiliano.

Ela sentiu o mundo girar por um momento.

O homem com quem ela conversara instantes atrás.

Era o irmão do seu futuro marido.

E, pelo brilho divertido nos olhos dele, Maximiliano Vieira de Sá sabia exatamente o tamanho do problema que isso poderia causar.

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