04. Um bom partido

O sol quente e intenso espalhava em tons dourados sobre a Fazenda Boa Esperança, iluminando os vastos cafezais que se estendiam até onde a vista alcançava. Cecília caminhava lentamente pelo jardim, com o braço delicadamente entrelaçado ao de Eduardo Vieira de Sá. Era um momento cuidadosamente arquitetado por sua mãe, Constança, que acreditava que a proximidade traria um laço mais firme entre eles. E Cecília, como a boa filha que sempre fora, estava disposta a tentar.

— A fazenda de sua família é realmente impressionante — comentou Eduardo, sua voz firme e controlada. — Meu pai sempre falava com admiração do seu patriarca.

Cecília sorriu de maneira polida. Eduardo era um homem atraente, com traços bem definidos e modos irrepreensíveis. Havia algo reconfortante em sua presença, uma estabilidade que qualquer jovem em idade de casamento deveria desejar.

— Meu pai é um homem de princípios — disse ela, ajustando a saia do vestido azul-claro, cujos detalhes delicados ressaltavam sua feminilidade. — Tenho certeza de que ele aprecia o respeito de sua família.

Eles pararam próximo a um caramanchão coberto de trepadeiras floridas, e Eduardo, sempre atento, afastou um galho que ameaçava tocar o rosto dela. Um gesto simples, mas educado. Impecável. Perfeito demais, pensou Cecília, sem entender por que algo dentro dela desejava um pouco mais de imperfeição.

— E você, Cecília? — perguntou ele, voltando a fitá-la com um olhar tranquilo. — O que espera do futuro?

A pergunta a surpreendeu. Homens como Eduardo raramente se preocupavam com os sonhos femininos além do casamento e da família.

— Espero… ser uma boa esposa e honrar minha família — respondeu ela, quase automaticamente, mas o modo como Eduardo a olhou a fez hesitar. — E talvez… viajar. Sempre quis conhecer Paris.

O canto da boca dele se curvou em um sorriso leve.

— Paris, hein? Minha mãe vivia dizendo que as vitrines de lá são um espetáculo à parte. Tenho certeza de que, um dia, você as verá com seus próprios olhos.

O tom gentil dele a confortava. Cecília tentou imaginar uma vida ao lado de Eduardo: tranquila, respeitável, sem sobressaltos. Era tudo o que se esperava dela.

— E você? — arriscou, buscando conhecê-lo melhor. — É um homem tão correto… nunca se permitiu um deslize?

Ele soltou uma risada discreta.

— Ah, Cecília… cada família tem sua ovelha negra. Eu, definitivamente, não sou a nossa.

A menção não intencional fez o pensamento dela voar, sem permissão, para o outro irmão Vieira de Sá. Aquele cujos olhos a despiram em um breve instante no salão de visitas.

Eduardo continuou a falar sobre suas ambições — expandir os negócios da família, consolidar alianças políticas —, mas Cecília se pegou distraída, seu coração batendo em um ritmo irregular enquanto tentava afastar o pensamento dele.

***

A mesa de jantar da Fazenda Boa Esperança era um espetáculo à parte. A prataria brilhava, refletindo a luz que atravessava as janelas amplas, enquanto os criados circulavam silenciosamente, servindo pratos generosos.

Constança presidia o almoço com uma graça calculada, enquanto Álvaro, o patriarca, discutia acaloradamente com Eduardo sobre a situação do Brasil após a Proclamação da República.

— Esse governo provisório não passa de um caos organizado — Joaquim o patriarca bradou, batendo o punho na mesa. — Um bando de militares pensando que podem governar como se estivessem em campo de batalha.

— Ainda assim, o Império estava fadado ao colapso, senhor Monteiro de Alcântara — rebateu Eduardo com diplomacia. — O progresso exige mudanças, mesmo que causem desconforto.

Max, reclinado de forma displicente na cadeira, revirou os olhos de maneira quase imperceptível.

— Fascinante — murmurou, sua voz carregada de tédio. — Nada mais estimulante para um almoço do que debater o destino da pátria.

Cecília sentiu o olhar dele pousar nela. Seu coração tropeçou em um batimento. Ele estava do outro lado da mesa, mas ainda assim parecia próximo demais.

— Há algo mais interessante em que prefere pensar, senhor Vieira de Sá? — perguntou Amélia, sempre afiada, notando o tom debochado dele.

Max sorriu, um sorriso preguiçoso e desafiador.

— Certamente.

O olhar dele pousou de novo em Cecília, dessa vez demorando um pouco mais em sua clavícula exposta pelo decote delicado do vestido. Ela baixou os olhos para o prato, as bochechas ardendo.

— Ora, senhor Vieira de Sá — interveio o senhor Joaquim com irritação. — Tente ao menos disfarçar seu desinteresse por questões que afetam a todos nós.

— Eu prefiro assuntos mais… pessoais — respondeu Max, com um tom que só Cecília pareceu captar em toda sua intenção velada.

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