04. Um bom partido

Após o longo e cerimonioso almoço, a família Monteiro de Alcântara se reuniu no pátio coberto para a despedida dos irmãos Vieira de Sá. Sorrisos cordiais e despedidas educadas mascaravam a tensão no ar — ao menos para Cecília. Ela apertava as mãos uma contra a outra, tentando manter a compostura diante da presença dos dois irmãos, mas seu olhar insistia em recair sobre o mais novo.

— Foi um prazer recebê-los — disse Constança, com elegância e aquele olhar clínico que analisava cada detalhe. Seus olhos pousaram demoradamente em Eduardo, aprovando sua postura irrepreensível. — Esperamos vê-los novamente em breve.

— O prazer foi nosso, senhora Monteiro de Alcântara — respondeu Eduardo, com uma leve curvatura de cabeça, a voz firme, respeitosa.

Ao lado dele, Maximiliano permaneceu em silêncio, o corpo relaxado e a expressão divertida. Seus olhos, no entanto, procuravam discretamente por Cecília. Era quase imperceptível, não fosse o fato de ela sentir cada olhar como um toque não autorizado — inquietante e, para seu desconforto, excitante.

Ela se obrigou a manter o foco em Eduardo. Ele era o pretendente ideal. Polido, culto, filho de uma família respeitada. Tudo que ela deveria querer. Tudo que sua mãe esperava que ela desejasse.

— Espero que tenha encontrado nossa propriedade satisfatória, senhor Vieira de Sá — disse Vicente, cordial, embora pouco à vontade com qualquer um dos visitantes.

— Sem dúvida. Foi uma honra conhecer sua família — respondeu Eduardo com serenidade.

Enquanto os mais velhos trocavam palavras diplomáticas, Álvaro observava com um meio sorriso entediado. Max, por sua vez, estava quieto, mas atento, as mãos cruzadas atrás das costas, o corpo levemente inclinado na direção de Cecília. Como se algo estivesse por vir.

Quando Eduardo se despediu, curvou-se levemente diante de Cecília.

— Foi um grande prazer conhecê-la, senhorita Cecília.

— O prazer foi meu. Desejo uma viagem tranquila — respondeu ela, com a voz firme apesar do turbilhão interno.

Era sua obrigação ser gentil. Era o que se esperava dela. Mas seu coração, inquieto, parecia querer fugir pelas costuras do vestido.

Então, foi a vez de Max.

Ele se aproximou devagar, como quem não tem pressa de ir embora. Os olhos pousados nela com um brilho perigoso — um misto de provocação e interesse genuíno.

— Até breve, senhorita Monteiro de Alcântara — disse ele, com um sorriso ladeado de ironia e... algo mais. — Tenho a estranha sensação de que ainda nos veremos muitas vezes.

Cecília manteve o queixo erguido, determinada a não ceder, a não demonstrar o leve tremor em suas mãos. Mas não respondeu. Apenas desviou o olhar, como se a altivez pudesse protegê-la de si mesma.

Foi então que aconteceu.

Quando Max se inclinou para cumprimentá-la, com a distância exata que a etiqueta permitia, ele roçou levemente a mão no lenço que repousava sobre o braço dela. Um gesto tão sutil que ninguém ao redor percebeu — mas ela sentiu. E quando ele se afastou, algo novo havia sido deixado ali. Um pequeno volume leve, entre os delicados fios do tecido.

Ele saiu logo depois, montando o cavalo com destreza e partindo ao lado do irmão. Mas Cecília ficou ali, imóvel por alguns segundos, como se precisasse decifrar o que havia acontecido. Esperou até que estivesse sozinha para puxar o lenço discretamente.

Entre as dobras brancas e bordadas, havia uma pequena flor silvestre.

Era uma flor simples. Pequena, branca, de pétalas delicadas e ligeiramente perfumadas. Não era do tipo cultivado nos jardins impecáveis da fazenda, mas dessas que nascem à beira dos caminhos, entre pedras e folhas secas. Resistentes. Vivas.

Ela prendeu a respiração.

Seu coração acelerou sem permissão, um tambor inquieto dentro do peito. Aquilo não era uma brincadeira qualquer. Era uma mensagem silenciosa. Uma ousadia. Uma lembrança. Um segredo.

E, acima de tudo, uma provocação.

Max não precisava dizer nada. Não precisava palavras doces, promessas ou gestos públicos. Uma simples flor bastava para deixá-la em descompasso. Porque, com aquele gesto escondido, ele dizia o que nenhum homem jamais tivera coragem de lhe dizer.

Ele via algo nela.

Não a filha perfeita. Não a esposa ideal. Não a menina bem-educada.

Mas a mulher escondida por trás da compostura. A mulher que sentia. Que sonhava. Que queria mais.

Ela fechou o lenço com a flor escondida dentro, como se quisesse proteger o segredo do mundo — e de si mesma.

***

Na estrada de volta à Fazenda dos Vieira de Sá, Max guiava o cavalo com naturalidade, o corpo relaxado sob o calor abafado. Mas sua mente permanecia fixada em Cecília Monteiro de Alcântara.

— Não vai dizer nada? — Eduardo perguntou, rompendo o silêncio.

— Sobre o quê?

— Sobre Cecília.

Max soltou um riso curto, sarcástico.

— Espera que eu diga o quê? Que ela é encantadora, refinada e perfeita para um homem como você?

— Não estou brincando, Max. Estou falando sério.

— Tudo bem — suspirou Max. — Ela é bonita. Tem aquela delicadeza que atrai homens que gostam de donzelas virtuosas.

— E você não gosta?

— Gosto de mulheres que sabem o que querem. Cecília... ainda está descobrindo isso.

Eduardo ficou em silêncio por um momento, antes de dizer:

— Eu gosto dela. A considero adequada. Seria um bom casamento para nossas famílias.

Max parou o cavalo e virou-se para o irmão, surpreso.

— Já está apaixonado?

— Claro que não. Mas reconheço seu valor. É sensata, de boa família. Representa estabilidade.

Max o observou por um instante, o sorriso sumindo.

— Cecília merece mais do que um casamento conveniente. E sinceramente... não acho que você possa dar a ela o que realmente precisa.

— E o que você acha que ela precisa?

Max sorriu lentamente.

— Alguém que a faça perder o fôlego. — E por Deus... Max sabia que poderia ser esse homem.

— Eu acho que posso ser esse alguém — disse Eduardo, confiante.

Max ergueu uma sobrancelha.

— Ah, irmão... talvez ela tenha ficado encantada com seu discurso sobre café e política.

— Não subestime minha capacidade de impressionar uma mulher — retrucou Eduardo, irritado. — Nem todas se encantam por fanfarrões sem rumo.

— Touché — disse Max, com falsa reverência. — Mas se quer conquistar Cecília, vai precisar de mais que boas maneiras. Ela quer algo além disso. Mesmo que ainda não saiba.

— Você está enganado. Ela quer um bom casamento, estabilidade. E eu posso oferecer isso.

— Pode ser. Mas cuidado. Algumas mulheres pedem estabilidade durante o dia... e algo bem diferente quando as luzes se apagam.

Eduardo lançou-lhe um olhar severo.

— Eu não tenho interesse nas suas filosofias libertinas. Esse casamento beneficiará ambas as famílias. É o que importa.

— Sempre o homem dos deveres — murmurou Max. — Que vida enfadonha.

— Prefiro propósito a vagar por aí entre festas e camas alheias.

Max deu de ombros.

— Cada um com suas prioridades. Eu prefiro viver de verdade a ficar contando sacas de café.

— Um dia, isso vai te cobrar um preço — alertou Eduardo.

Max sorriu de lado, mas seu tom escureceu.

— Alguns de nós já pagamos. Só escolhemos formas diferentes de seguir em frente.

Silenciaram, cada um mergulhado em pensamentos.

Enquanto Eduardo pensava em estabilidade e reputação, Max recordava o sorriso tímido de Cecília, a leveza com que segurara o lenço, a surpresa ao encontrar a flor. Queria mais que provocá-la. Queria vê-la ruborizar novamente. Queria saber até onde ia aquela doçura escondida.

Apertou as rédeas, afastando a imagem dela de seus pensamentos. Mas sabia, no fundo, que já era tarde demais. Ele a queria. E ela, ainda que não admitisse, já começava a notar isso.

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