09. Homens como ele são como fogo

A copa estava mais fresca do que o salão principal, com o aroma doce de canela e baunilha pairando no ar. A luz das lamparinas era mais suave ali, lançando sombras quentes nas prateleiras repletas de louças e potes de compotas caseiras. Cecília inspirou fundo, tentando acalmar os nervos enquanto Dona Ivone organizava pratos para a sobremesa.

A cozinheira-chefe, uma mulher robusta e de feições gentis, observou-a de soslaio antes de se aproximar.

— Menina, você está mais pálida do que um fantasma — murmurou em tom baixo, pegando a sua mão com delicadeza. — O que foi?

Cecília hesitou. Não sabia como colocar em palavras aquele tumulto de emoções. A presença de Max a desestabilizava de um jeito que ela não queria — não podia — admitir.

— Estou bem — mentiu, desviando o olhar para o avental imaculado de Dona Ivone. — Apenas cansada.

— Ah, não me engana, Cecília. Conheço você desde que usava laços no cabelo. Tem algo lhe incomodando, e não é só cansaço.

O calor subiu ao seu rosto. Cecília mordeu o lábio inferior, em um gesto que traía seu nervosismo.

— É o senhor Max, não é? — Dona Ivone arqueou uma sobrancelha, astuta como sempre. — Vi como ele te olha.

O coração de Cecília bateu forte.

— Ele… Ele é provocador demais.

— E você, impressionável demais — retrucou a cozinheira, balançando a cabeça. — Homens como ele são fogo, menina. Bonito, sim, mas queimam quem chega muito perto.

Cecília apertou as mãos em punhos, sentindo uma mistura de frustração e desejo.

— Eu sei — admitiu em um sussurro.

Dona Ivone suspirou, seu olhar suavizando-se.

— Sei que sua cabeça está cheia de responsabilidades. Mas cuidado para não se perder, Cecília. Certos caminhos não têm volta.

Antes que Cecília pudesse responder, a porta da copa rangeu. Por um instante, seu coração congelou, temendo que fosse Max. Mas era Eduardo.

— Aqui está você — disse ele, com um sorriso leve ao vê-la.

Cecília forçou um sorriso, tentando varrer as emoções conflitantes do rosto.

— Dona Ivone pediu ajuda com a sobremesa.

Eduardo se aproximou, pousando uma mão gentil em sua cintura.

— Sempre atenciosa. — Ele inclinou-se para beijar sua têmpora. — Venha, todos estão ansiosos para o brinde.

Ela assentiu, permitindo que ele a conduzisse de volta ao salão. Tentava se concentrar no toque seguro de Eduardo, no futuro que haviam traçado juntos — mas, em algum lugar sombrio de sua mente, ainda sentia o peso do olhar de Max queimando em sua pele.

Ao retornarem, o ambiente parecia ainda mais animado. O vinho fluía livremente, as conversas se entrelaçavam em risadas baixas e comentários elegantes. Cecília ocupou seu lugar ao lado de Eduardo, mas seus olhos, traidores, procuraram Max no outro extremo da mesa.

Ele conversava com Álvaro, mas o canto de seus lábios trazia aquele sorriso malicioso — como se soubesse exatamente em que parte da mesa os pensamentos dela estavam ancorados.

— Está feliz? — Eduardo perguntou, sua voz baixa e terna ao inclinar-se para ela.

Cecília virou o rosto para encará-lo. Havia algo reconfortante na gentileza dele, no modo como parecia se preocupar genuinamente com seu bem-estar.

— Claro que sim — respondeu, forçando um sorriso. — Por que não estaria?

Os olhos de Eduardo brilharam.

— Porque quero que você saiba que farei tudo para torná-la feliz. — A sinceridade em suas palavras pesou no coração de Cecília, trazendo uma culpa silenciosa que a sufocava.

— Eu sei — murmurou, repousando a mão sobre a dele.

Joaquim ergueu-se em seu lugar, silenciando a mesa com um único gesto.

— Esta noite — começou ele, sua voz firme e solene —, não celebramos apenas a união de duas grandes famílias, mas também o compromisso entre dois jovens que, tenho certeza, honrarão nosso nome com dignidade e respeito.

Um murmúrio de aprovação percorreu a mesa, e Eduardo sorriu, apertando a mão de Cecília com mais força.

— Ao casal! — Vicente ergueu sua taça, e os demais seguiram o gesto.

— Ao casal! — ecoou a mesa, em um brinde caloroso.

Cecília ergueu a taça com um sorriso cuidadosamente controlado, mas quando seus olhos pousaram em Max, encontrou-o observando-a de um jeito que fez sua garganta secar. O olhar dele não era de um homem que brindava um compromisso — era o olhar de alguém que desafiava cada regra silenciosa em torno deles.

Ela tentou desviar o olhar, mas Max inclinou ligeiramente a cabeça, como se pudesse ouvir cada batida frenética de seu coração.

E, naquele instante, Cecília soube: aquilo não acabaria ali. Por mais que tentasse lutar, o desejo que Max despertava nela já a puxava para um abismo do qual talvez nunca conseguisse escapar.

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