A boca de Max continuava explorando a dela com um desespero contido, como se ele estivesse tentando provar um ponto – ou talvez apenas se perder nela. As mãos dele deslizavam por suas costas, pressionando-a ainda mais contra seu corpo quente e sólido, e Cecília sentiu o mundo girar ao redor deles. — Você não deveria… — Ela tentou protestar entre os beijos, mas sua própria voz soava fraca, quase um gemido. — Eu nunca faço o que deveria, bela Cecília — Max respondeu contra seus lábios, o tom rouco e carregado de desejo. Os dedos dele subiram lentamente pelo corpete delicado de seu vestido, traçando um caminho torturante pela curva de sua cintura até a linha de suas costelas. O toque era firme, possessivo – e, ainda assim, parecia que ele estava se segurando para não ir além. Cecília estava em chamas. Cada parte de seu corpo parecia viva sob o toque dele, e a forma como Max a beijava – profunda, intensa, como se não houvesse mais nada no mundo – a fazia esquecer do noivado, das o
E ela ficou ali, imóvel, com os lábios ainda latejando pelo beijo roubado e as pernas fracas como se não suportassem seu próprio peso. O ar ao seu redor parecia denso, carregado da presença de Max, mesmo que ele já tivesse se afastado. Ela tentou respirar fundo, mas seu peito subia e descia de forma irregular, traindo o tumulto que sentia por dentro. “Mentirosa.” A palavra dele ecoava em sua mente como uma maldição. Porque ele tinha razão – e isso a apavorava mais do que qualquer coisa. Com as mãos trêmulas, ela ajeitou as alças do vestido, tentando recuperar a compostura. O que acabara de acontecer… aquilo era inaceitável. Imoral. Um pecado grave demais para ser ignorado. “Você é a mulher do meu irmão.” A lembrança dessas palavras queimou como fogo em sua consciência. Ela precisava se afastar dele. Precisava enterrá-lo em algum canto obscuro da memória e jamais permitir que aquele desejo proibido voltasse a vir à tona. Mas como esquecer? Como apagar o calor do toque dele em
Max encostou-se preguiçosamente ao arco da porta, a taça de vinho pendendo entre os dedos longos. Para qualquer observador desatento, ele parecia relaxado – quase entediado com a comoção ao redor. Mas, por dentro, cada músculo do seu corpo estava tenso, como uma corda prestes a se partir. Seus olhos não deixavam Cecília. Não conseguiam. Ele ainda sentia o gosto dela nos lábios – doce, quente, proibido. Sentia a pressão delicada do corpo dela contra o seu, o tremor leve de seus dedos quando, por um instante, ela correspondeu ao beijo. E, mesmo agora, enquanto Eduardo se ajoelhava diante dela com aquele maldito anel, Max podia jurar que o desejo ainda queimava em sua pele como um pecado que não podia – não queria – esquecer. A plateia suspirava em uníssono, alguns convidados murmuravam entre si sobre como eles formavam um casal perfeito. Um casal perfeito. Max quase riu – um riso amargo que ficou preso em sua garganta. Porque ele sabia a verdade. Sabia que, minutos antes, Cecília e
Max se afastou do salão assim que os aplausos diminuíram, o som abafado da festa ficando para trás enquanto ele cruzava os corredores luxuosos da casa dos Vieira de Sá. O gosto amargo da frustração ainda queimava em sua garganta, mais forte que o vinho que esvaziara em um único gole. A imagem de Cecília em um vestido claro, os olhos brilhando — não pelo noivado, mas pelo desejo que tentava sufocar — o perseguia como um fantasma. Maldição. Ele precisava sair dali antes que fizesse algo que não poderia desfazer. — Parece que alguém não está no clima de celebrar. A voz arrastada e divertida o fez parar. Max se virou e encontrou Álvaro Monteiro de Alcântara encostado preguiçosamente no batente da porta de um dos salões menores. Com o copo de uísque em mãos, os cabelos castanhos impecavelmente penteados e o sorriso insolente de quem já viu (e fez) coisas que os outros nem ousavam imaginar, Álvaro exalava uma despreocupação irritante. — Nunca fui de grandes celebrações, — Max respondeu,
Álvaro girava o copo de uísque entre os dedos, a mente vagando enquanto o som abafado da música e das risadas ecoava pelos corredores. Ele não gostava de festas como essa – formais demais, previsíveis demais – mas, em uma família como a sua, recusar um evento social era um luxo que nem mesmo ele podia se permitir. Mas ele felizmente já estava de saída. Afinal, Cecília tinha pedido. Não com palavras diretas, é claro. Sua irmã era boa demais para pedir algo tão… mesquinho. Mas Álvaro a conhecia melhor do que ninguém. Percebera a tensão em seu sorriso quando lhe perguntou, mais cedo, se poderia “manter Max muito bem entretido e longe de problemas”. Problemas. Ele quase riu. Cecília nunca usava palavras casuais por acaso. E a julgar pelo modo como Max saíra do salão – rígido, sombrio e com a expressão de um homem à beira do limite – Álvaro tinha uma boa ideia de que tipo de problema sua irmã queria evitar. Foi fácil encontrá-lo. Homens como Max não se afastavam muito quando estavam
A música suave dos violinos ecoava pelo salão iluminado, enquanto casais rodopiavam em vestidos de seda e casacas bem cortadas. Cecília sorria, mantendo a postura impecável que a mãe tanto cobrava, mas, por dentro, sentia o coração inquieto – uma agitação que nada tinha a ver com o pedido de casamento que havia acabado de aceitar. Desde que Eduardo colocara o anel em seu dedo, o peso daquela joia parecia maior do que deveria. Um lembrete cintilante de tudo que estava em jogo — e de quem ela deveria esquecer. Mas Max… Ele estava ali. Ela podia senti-lo. Por um instante, cedeu ao impulso de procurá-lo no salão. Seus olhos se moveram com cautela até encontrá-lo perto da varanda. A luz dourada do lustre acariciava os traços afiados de seu rosto. Ele estava inclinado para mais perto de Álvaro, que ria de algo que apenas os dois partilhavam. Mas, ao contrário do irmão de Eduardo, que parecia se divertir, Max mantinha aquele sorriso preguiçoso que, de tão insolente, fazia algo perigoso e
Na manhã seguinte, o sol filtrava-se suavemente pelas cortinas brancas da casa dos Vieira de Sá, iluminando a elegante sala de desjejum. A mesa estava impecável como sempre, repleta de frutas frescas, pães delicadamente arranjados e a louça de porcelana fina. Cecília já estava ali, com uma xícara de chá entre os dedos, mas a mente distante. Eduardo, sentado à sua frente, lia um jornal com atenção. Vestia um colete bem ajustado e a gravata perfeitamente alinhada. Tinha a postura de um homem que carregava a responsabilidade com naturalidade – e, talvez, uma leve satisfação em cumprir seus deveres. — Dormiu bem, meu amor? — Ele perguntou, levantando os olhos do jornal para encará-la com um sorriso discreto. — Sim… — Cecília mentiu, desviando o olhar para a janela. A verdade era que não pregara os olhos. Os ecos da noite anterior ainda pulsavam em sua mente – o toque ousado de Max, a sensação de estar à beira do precipício, e o pedido de casamento, grandioso e inevitável. — Sua mã
Cecília deixou a sala de desjejum com passos controlados, mas assim que virou o corredor e se afastou dos olhares vigilantes, seu corpo relaxou ligeiramente. Ainda assim, sua mente não encontrava repouso. Cada vez que fechava os olhos, a lembrança do toque de Max voltava com força devastadora – e agora ele estava longe, na companhia do homem mais libertino que ela conhecia. Ao chegar à sala de costura, encontrou sua mãe supervisionando as criadas que organizavam rolos de tecidos e amostras de renda. Dona Constança Monteiro de Alcântara era a personificação do controle e da elegância. Seus cabelos, sempre bem arranjados em um coque elaborado, e o vestido de seda lilás reforçavam a imagem de uma mulher que sabia seu lugar – e o da filha também. — Cecília, querida, finalmente. — A voz dela tinha um tom apressado, mas carregado de expectativa. — Precisamos decidir os detalhes do vestido de noiva. Afinal, seu casamento com Eduardo será o evento do ano. Cecília se aproximou, forçando