08. O tempo não espera

Os dias que se seguiram à visita dos Vieira de Sá trouxeram consigo uma mistura inquietante de expectativa e reflexão para Cecília Monteiro de Alcântara. Embora tentasse concentrar-se em suas obrigações domésticas e nos preparativos para o futuro, sua mente frequentemente vagava para aquele encontro marcante — e, em especial, para os dois irmãos que, de maneiras tão distintas, haviam atravessado seu caminho.

Eduardo era, sem dúvida, o noivo ideal aos olhos da sociedade. Seu comportamento era exemplar, e após seu primeiro encontro o nobre rapaz passara a lhe enviar correspondências. As suas cartas, embora formais, demonstravam um interesse genuíno em conhecê-la melhor. Cecília se esforçava para retribuir com palavras igualmente polidas e cuidadosas, ainda que, em seu íntimo, sentisse que algo lhe escapava — um certo calor, uma centelha que fizesse seu coração disparar.

Maximiliano, por outro lado…

Pensar nele era um exercício perigoso, e Cecília se censurava toda vez que a memória de seu sorriso arrogante lhe vinha à mente. Havia algo nele que a desestabilizava — uma liberdade em seu olhar, uma ousadia que nada tinha a ver com o homem a quem estava prometida.

Entretanto, não havia espaço para devaneios em uma família como a sua. Os Monteiro de Alcântara eram um dos pilares da aristocracia cafeeira do Vale do Paraíba, e cada membro da família carregava consigo o peso de um nome que significava tradição, riqueza e poder.

Nos salões dourados de sua imponente propriedade, discutia-se mais do que vestidos ou jantares elegantes. O Brasil, em transformação após a Proclamação da República, em 1889, vivia tempos instáveis. O Império havia caído, e com ele as certezas de uma época. Para famílias como a sua, acostumadas ao prestígio sob o regime monárquico, as mudanças políticas geravam um misto de preocupação e desprezo.

O patriarca, Joaquim Monteiro de Alcântara, nunca deixava de expressar seu descontentamento durante as refeições.

— Esta República… — resmungava ele, batendo o talher contra o prato. — Um governo nas mãos de militares e políticos oportunistas. A monarquia trazia ordem, respeitava as famílias que construíram este país com trabalho e suor. Agora, qualquer um se acha no direito de ascender!

— Ainda somos donos das terras, papai — Helena dizia em seu tom sempre diplomático. — E enquanto o café for nossa maior riqueza, nenhum governo ousará nos desafiar.

— Não seja ingênua, minha filha — Joaquim retrucava. — Essas reformas… falam até em abolir os títulos de nobreza. Logo estarão confiscando nossas propriedades em nome do progresso.

Cecília ouvia em silêncio, as palavras de seu pai ecoando em sua mente como uma advertência. Havia uma sensação de que algo escapava por entre os dedos da velha aristocracia — um mundo novo, mais ousado e imprevisível, estava surgindo, e mesmo a grandiosidade dos Monteiro de Alcântara não poderia deter os ventos da mudança.

Nas tardes mais quentes, Cecília costumava se refugiar na biblioteca da casa. Era o único lugar onde conseguia estar sozinha, livre da vigilância constante de sua mãe ou dos olhares curiosos de Amélia. Ali, entre estantes repletas de livros importados da França e da Inglaterra, ela se permitia questionar o caminho traçado para seu futuro.

Casar-se com Eduardo significava estabilidade, segurança e um futuro honrado. Mas e o coração? Teria ela direito a desejar algo mais do que um casamento adequado?

De vez em quando, seu olhar vagueava pela janela, imaginando onde estaria Maximiliano naquele momento — e se, por acaso, ele também pensava nela.

A cada dia que passava, a dúvida se aprofundava em seu peito.

E ela sabia que, mais cedo ou mais tarde, precisaria encarar as consequências desses seus pensamentos.

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App