— Amara! – Terence desce atrás de mim, assim que pulo do banco do motorista e bato a porta do carro com toda a raiva acumulada. O ignoro conforme cambaleio pelo caminho de pedrinhas até os degraus, os subo e entro em casa. O sinto me perseguindo pelas salas e pela cozinha. — Amara, espere! – Agarro um copinho de cristal pequeno e cilíndrico no armário e uma garrafa de tequila aberta na geladeira. Meu braço é envolvido pelos dedos dele e sou forçada a me virar. — Você pode se acalmar, por um minuto? Por favor, pelas quatro Luas!
— Não me diga para me acalmar! – Solto-me bruscamente e a mão que segura o copinho b**e de encontro com a beirada do balcão de pedra polida. Ele se estilhaça e ruído faz meu coração saltar no peito. Encaro os cacos de cristal quebrado no chão por um instante, ouvindo minha respiração acelerada no silêncio do momento. — Ótimo! — Praguejo para o universo, apoio a garrafa no balcão e me abaixo para juntá-los.
— Você se
Abro a garrafa de tequila e encho o copinho com o liquido transparente. O cheiro do álcool entope meu nariz no segundo em que viro o contudo na boca. O gosto é forte e amarra a língua. Fecho os olhos para engolir e Terence aparece detrás das pálpebras.Como ele pôde me machucar daquele modo, sabendo como estou quebrada? Como ele teve coragem de falar essas coisas estando ciente de que são mentiras? Talvez, não sejam. Talvez, ele veja dessa forma, porque eu não me importei muito em esclarecer a verdade. Esclarecer que preciso dele, da ajuda dele e da maldita magia dele para deter Duvessa. Mentira! Disse isso hoje mais cedo...Sou eu. Tudo nos últimos dias se resumiu somente a mim. Não perguntei uma única vez, suas impressões sobre a nossa situação. Fui incapaz de checar se a casa estava aconchegante o bastante, se precisava de comida, ou de
— Nem pense em tocar nele. Meu coração salta no peito e os batimentos aceleram por um instante com a voz de Terence vindo da porta. Ele adentra a sala de braços cruzados, olha para a mesa e depois para mim. — Eu não ia. – Minto tentando manter nosso contato visual. — Sei. – O feérico ironiza e me encolho segurando os cotovelos. — Eu não te dei banho ou troquei sua roupa, se quer saber. – A informação me faz franzir a testa. — Magia é uma benção, apesar de você não acreditar muito nisso. Parte de mim relaxa por saber que ele não me viu nua, ou algo similar e ter escapado dessa humilhação. — Eu acredito que seja uma benção. Nas circunstancias corretas. – Retruco e ele dá de ombros. — Certo. Só a repudia. – Terence replica indiferente e talvez, um tanto grosseiro demais. Mereço isso. A grosseria e a indiferença, então as aceito. Puxo o ar para os pulmões e eles se alegram com o aroma perfumado do ambiente. Dou um passo na direção dele e o
DuvessaAté que as ruas da cidadezinha que minha irmã decidiu se esconder são charmosas e agradáveis para caminhar. Planas, algumas com tijolinhos em tons de cinza e outros de concreto liso e negro, onde grandes caixas metálicas – levei pouco tempo para descobrir que se chamam carros e que transportam os mortais sem precisarem de asas, magia ou das próprias pernas – andam parando quando uma luz vermelha se acede em um poste e voltam a se mover quando se esverdeia. Que coisas mais estranhas e sem graça...Mais dessas luzes, amarelas quentes e brancas frias, iluminam o interior de algumas lojas, bares e cortiços, apesar dos relógios marcarem antes do meio-dia. Elas refletem nas janelas e nos metais das construções que me cercam por todos os lados. Os humanos estão por todos os lugares, comendo, rindo, conversando sobre
Paro por um instante de passar os dedos pelas coisas empoeiradas. Bem aqui! A voz murmura e encaro a caixa retangular entralhada em madeira envelhecida com uma fechadura pequena – uma lua e um sol juntos, se completando, decorando-a e protegendo-a de fadas como eu. Ferro. Frio e cortante que anseia por meu toque, para me ferir. Recuo a mão e me volto para o mortal, ainda detrás do móvel alto com um vaso de flores na ponta e um equipamento em bronze com números e gavetas na outra. Há uma tela fina e mais letras pressionáveis em um estreito retângulo preto debaixo dela. — Acredito que tenha. – Indico a caixa na terceira prateleira na altura dos meus braços. — Pode pegá-la para mim? — Quer mesmo que eu venda isso para alguém como... — Eu? – Completo sua frase e falho em conter outro riso. Me aproximo do balcão em passos pequenos e intimidadores, os saltos estalam pelos tacos do chão e a blusa preta em tecido mousseli
AmaraNunca pisei tanto no acelerador quanto o fiz para chegar ao centro de Nova Orleans. Nem na noite de Dáhlia. Dessa vez, faço o mesmo percurso costumeiro em menos de vinte minutos e talvez, tomo duas ou três multas por ultrapassar sinal vermelho, algumas placas de pare e um retorno proibido virar contramão. Poderia ter pedido a Terence que me levasse voando, mas como já estávamos no meio do caminho quando Freya ligou, o carro foi a melhor opção e abandoná-lo no meio da rodovia não era uma boa ideia.Tento pensar positivo, imagino que a situação seja melhor do que a bruxa deixou explícito em sua ligação. A magia é uma benção, de fato, mas também é uma maldição para cada um que a possua. Sem magia, Freya não teria sentindo algo de errado – anoto mentalmente para pe
Noah ergue os olhos para mim – os cílios loiros molhados – no instante em que dou um passo para ele. Uma mistura de raiva e gratidão ao me ver. Talvez, ele me deteste como Terence – mesmo que o feérico tenha negado tal desapreço por mim uma hora atrás – e talvez, eu mereça ser detestada por todos a minha volta, uma vez que, tudo o que somo a vida deles é caos e destruição.— Ela o levou. – O mortal diz, a voz mal sai por entre os lábios quase imóveis. — Levou o meu pai.Corretes de ódio começam a me percorrem da cabeça aos braços, tronco e pernas e por fim, os pés em um ciclo vicioso de igual raiva dele, agora em mim também. Duvessa não ficará contente em atormentar somente a mim e ao mortal, não. Ela precisa envolver mais pessoas inocentes. Fez para provoca-lo e provocar a mim. De
Noah sai pela porta da frente com uma mochila preta nas costas – roupas, imagino – alguns minutos depois. Ele para de postura curvada e abatida, os lábios entreabertos prestes a dizer algo, mas desiste. Entrego a caixa e o loiro a guarda no primeiro zíper da bolsa, em silêncio e remoendo palavras. Meu estômago ronca com o cheiro de massa doce frita e café e soa tentador devorar qualquer comida com muito açúcar agora. — Quer a verdade? – Indago cruzando os braços. — Está bem, lhe direi a verdade. Mas, vou precisar de café, é uma longa e complicada história para se contar sem cafeína e açúcar no sangue. Me viro, pronta para atravessar a rua para um café francês do lado oposto e seu toque me surpreende, enviando correntes de calor pelos poros despertos. Paro, desvio os olhos dos dedos paro o rosto dele, mais calmo e receoso. — Desculpe. – O loiro diz cabisbaixo e suspira meneando a cabeça negativamente, decepcionado consigo mesmo. — Foi cruel o qu
Estou deslizando o dedo pela borda da xícara desde que terminara meu café, um tique nervoso expressando a necessidade de precisar fazer algo para distrair, mesmo que quase nada, uma mente perturbada quando o assunto é sério e o venho evitando por vários dias. Nos calamos, mas mantemos os olhos fixos um no outro e mesmo com a pressão intensa vindas do mortal, é como se um peso saísse dos meus ombros. Agora ele sabe. Ele sabe e ainda está aqui. Vozes baixas e irritantes se evidenciam pelo ambiente, direto da mesa das garotas jovens, com corpos lindos, cabelos sedosos e roupas de grife. A mesa contém restos de saladas e garrafinhas de água vazias. Uma delas pedira um suco e obviamente mal o está bebendo, já que o nível de bebida – visível pelo vidro do copo – continua o mesmo. Pedir coisas, apenas por pedir, por ser uma adolescente com problemas alimentares é algo óbvio e recorrente nos últimos anos. Às vezes, a humanidade consegue ser mais escr