Eu nunca quis estar aqui.
O altar era frio, um pedaço de mármore preto que refletia o brilho das velas espalhadas pela catedral sombria. Estar ali, parada diante de todos, era como encarar um pesadelo lúcido do qual eu não conseguia despertar. Meu vestido preto gótico, escolhido a dedo pelo próprio monstro à minha frente, parecia pesar toneladas. O corpete apertado sufocava minha respiração, as rendas delicadas roçavam minha pele como teias de aranha, e a longa cauda que se arrastava atrás de mim era uma corrente invisível que me mantinha presa a este destino cruel. O salão estava repleto de vampiros e outras criaturas. Seus olhos carmesim brilhavam com um deleite mórbido. Eu era o espetáculo da noite, a loba transformada em rainha por um casamento forçado. Todos esperavam para assistir o momento em que o Rei Vampiro, o homem que destruiu tudo o que eu amava, me reivindicaria como sua. Minha única companhia era o ódio que queimava em meu peito. Eu odiava aquele homem à minha frente, o Rei Vampiro. Klaus. Apenas ouvir seu nome era como provar veneno. Ele estava ali, vestido de forma impecável, seu manto negro decorado com detalhes em vermelho-sangue que simbolizavam seu poder e crueldade. Seus olhos vermelhos brilhavam com uma satisfação que me deixava nauseada. Ele não se importava com o que eu sentia, com o fato de eu estar ali contra a minha vontade. Para ele, isso era uma vitória. Quando Klaus segurou minha mão, seus dedos gélidos enviaram um arrepio pela minha espinha. Ele sorria. Não um sorriso gentil ou amável, mas um sorriso cheio de soberba, como se dissesse que eu pertencia a ele. — Você está deslumbrante, minha rainha. — Sua voz era um sussurro, mas carregava uma intensidade sombria, como se quisesse me lembrar do que eu havia perdido. Engoli em seco, lutando contra a onda de náusea que ameaçava me dominar. Eu não consegui responder. Minhas palavras estavam presas na garganta, esmagadas pelo peso da situação. O ar ao meu redor parecia mais denso, como se a catedral fosse um túmulo, e eu, a vítima enterrada viva. Minha mente vagou por um instante, buscando qualquer coisa que pudesse aliviar a dor esmagadora. Pensei em Sarah e Ivy. Elas estavam em algum lugar, presas por esse monstro e seus capangas, usadas como moeda de troca para me manter obediente. Tudo o que fiz, todo o sofrimento que suportei até agora, foi para protegê-las. Mas isso não tornava a situação menos insuportável. Cada decisão que tomei foi uma ferida em minha alma, uma cicatriz que nunca iria desaparecer. Eu fechei os olhos por um momento, tentando bloquear o barulho ao meu redor. Os murmúrios dos convidados, os risos discretos, tudo parecia zombar de mim. Não havia aliados ali, nenhuma saída. Eu estava sozinha, uma prisioneira disfarçada de rainha. “Eu odeio isso. Eu odeio você. Eu odeio todos vocês.” Esse mantra repetia-se incessantemente na minha cabeça enquanto o sacerdote, uma figura pálida e de olhos vazios, começava a recitar as palavras que selariam minha nova vida. A voz dele ecoava pelo salão como um sino fúnebre, cada palavra um lembrete de que eu estava enterrando tudo o que eu era. — Violet, aceita Klaus como seu legítimo marido, para honrá-lo e servi-lo até o fim dos seus dias? Meu coração apertou no peito. Olhei para Klaus, e seus olhos vermelhos encontraram os meus. Ele sabia o que eu sentia. Ele sabia que eu o odiava mais do que tudo, e mesmo assim estava aqui, deleitando-se com a minha humilhação. Seus lábios se curvaram em um sorriso que parecia dizer: Eu venci. A sala inteira esperava minha resposta. O silêncio era opressor, como se cada criatura ali estivesse prendendo a respiração, aguardando o momento em que eu me renderia completamente. — Aceito. — A palavra escapou de meus lábios como uma faca sendo arrancada do peito, deixando uma ferida aberta que jamais cicatrizaria. A explosão de aplausos que seguiu me fez querer encolher. Cada palmo daquele lugar vibrava com o som das celebrações, mas para mim, tudo parecia abafado. O único som que realmente ouvia era o eco vazio dentro de mim. Klaus inclinou-se, seus lábios frios roçando minha bochecha enquanto ele sussurrava: — Agora, você é minha, minha pequena loba. Para sempre. Engoli a bile que subia pela minha garganta e forcei meu corpo a permanecer imóvel. Cada fibra do meu ser gritava para afastá-lo, mas eu sabia que qualquer resistência só traria mais sofrimento, não para mim, mas para Sarah e Ivy. Então, fiquei ali, imóvel, enquanto ele se afastava e voltava sua atenção para os convidados, sorrindo como se tivesse acabado de conquistar o mundo. O peso das palavras dele caiu sobre mim como uma montanha. Eu não era mais livre. Não era mais Violet. Não era mais nada. Ele havia me tirado tudo. Enquanto o salão se enchia de vozes e risos, eu senti como se estivesse me afogando. Meu peito apertava, minha visão começava a embaçar, mas não havia lágrimas. Eu já tinha chorado o suficiente. Agora, só restava o vazio. Eu queria desaparecer. Queria que as pedras daquele altar me engolissem, que o teto daquela catedral desabasse sobre todos nós. O vestido, a coroa de pedras negras sobre minha cabeça, as joias que adornavam meu pescoço – tudo parecia um peso insuportável, um lembrete cruel de que eu não era uma rainha, mas uma prisioneira. Enquanto os convidados se reuniam para comemorar, eu permaneci ali, imóvel, como uma estátua. Minhas mãos estavam frias, meu coração, ainda mais. Eu não sabia quanto tempo conseguiria suportar essa vida, mas uma coisa era certa: não havia nada de glorioso ou grandioso naquele casamento. Era apenas um pacto de sangue forçado, um juramento arrancado à força de uma mulher destruída. E enquanto o Rei Vampiro me puxava pela mão para que descêssemos juntos do altar, um único pensamento se repetia em minha mente: “Eu odeio isso. Eu odeio você. Eu odeio a todos vocês.” O som dos aplausos ecoou pela catedral enquanto eu era conduzida para o início do banquete, mas, por dentro, eu sabia que havia algo diferente. Não havia mais Violet ali. Eu me enterrava junto com as promessas que fiz para mim mesma, e tudo o que restava era uma sombra, um fantasma que agora pertencia ao Rei Vampiro.O silêncio na fronteira era opressivo. Cada folha que caía, cada farfalhar dos galhos parecia carregado de uma energia antiga, um sussurro dos espíritos que vagavam por aquelas terras esquecidas. Estava ali porque era o único lugar onde ninguém me procuraria – ou pelo menos era o que eu esperava. Era um lugar onde até mesmo o tempo parecia hesitar, onde as noites eram mais escuras e os dias nunca brilhavam com tanta intensidade. Minha cabana, pequena e isolada, era mais um refúgio do que um lar. As paredes de madeira estavam rachadas em alguns pontos, o teto rangia a cada sopro do vento, e o cheiro de fumaça da lareira impregnava tudo. Não era confortável, mas servia ao seu propósito: manter-me longe dos olhos de Klaus e seus homens. Naquela manhã, o ar estava pesado, carregado de uma umidade densa que parecia grudar na pele. Eu havia saído cedo para buscar lenha e água no riacho próximo. Os galhos secos estalavam sob meus pés enquanto eu me movia com cautela, sentindo cada vibraçã
A luz da manhã parecia mais fria do que o normal, como se carregasse um aviso silencioso. A cabana estava silenciosa, exceto pelo ranger ocasional do teto e pelo farfalhar das folhas lá fora. Acordei com uma sensação incômoda, algo que eu não conseguia identificar. Esfreguei os olhos e me virei na cama, mas meu corpo congelou assim que a vi. Uma caixa. Ela estava no centro da cama, perto dos meus pés. Pequena, preta e perfeitamente posicionada, como se alguém tivesse a colocado ali com cuidado meticuloso. Meu coração disparou, e minha respiração ficou presa na garganta. Sentei-me devagar, os olhos fixos naquele objeto estranho. Como ela chegou ali? — Ivy? Logan? — chamei, tentando manter minha voz firme. Nenhuma resposta. Levantei-me, os pés tocando o chão frio da cabana. Fui até a porta e olhei pela janela. A floresta estava calma, mas não havia sinal de Ivy ou Logan. Claro, eles estavam fora. Sempre saíam ao amanhecer para suas corridas matinais, treinando velocidade e reflexos
A casa era isolada, cercada por uma floresta densa e aparentemente interminável. As montanhas ao longe formavam uma barreira natural, enquanto o vento assobiava pelas árvores, criando uma melodia constante e inquietante. Logan havia escolhido o lugar a dedo: discreto, distante e com proteção suficiente para que ninguém nos encontrasse tão facilmente. Pelo menos era o que ele dizia. Eu, no entanto, não conseguia me sentir segura. O interior da casa era simples, com móveis de madeira escura e janelas pequenas, cobertas por cortinas grossas. Logan havia alugado o local com dinheiro que, segundo ele, vinha das reservas de sua família lupina. Não era luxuoso, mas era funcional. E, mais importante, nos mantinha fora do alcance de Klaus — pelo menos por enquanto. Ivy estava na cozinha, despejando água quente em canecas para preparar chá. Aquele era o jeito dela de lidar com o caos: ocupando-se com tarefas simples e práticas. Logan, por outro lado, estava no andar de cima, inspecionando cad
A luz da lua entrava pela janela, lançando sombras suaves pelo meu quarto. A madeira escura das prateleiras estava repleta de livros antigos de magia, muitos deles já com páginas desgastadas pelo tempo. Sentada na poltrona próxima à cama, eu passava os olhos pelas linhas de um grimório antigo. As palavras pareciam saltar da página, como se carregassem uma energia própria. Porém, mesmo tentando me concentrar, minha mente estava inquieta.Havia uma sensação estranha no ar, algo que eu não conseguia explicar. Era como se um peso invisível pressionasse meus ombros, me deixando inquieta. Passei a mão pela testa, suspirando, e voltei a focar no livro.De repente, tudo ao meu redor se desfez.Era como se eu não estivesse mais no meu quarto. Meus olhos estavam abertos, mas não via mais as páginas do grimório. Em vez disso, uma floresta seca e desolada passava rapidamente diante de mim, como se eu estivesse correndo através dela.Eu não conseguia controlar meus movimentos; era como se estivess
Eu podia sentir meu coração pulsando em meus ouvidos, como se fosse explodir a qualquer momento. O ar ao meu redor parecia rarefeito, e minha mente lutava para processar o que estava acontecendo. Caleb estava ali, a poucos metros de mim, sua silhueta sombria iluminada pela fraca luz da lua que penetrava a copa das árvores.Ele deu um passo à frente, rápido como uma sombra que desliza no escuro. Antes que eu pudesse reagir, senti sua mão fria envolver meu pescoço. Ele me levantou do chão com uma facilidade assustadora, meus pés suspensos, chutando o vazio em uma tentativa desesperada de me soltar.O mundo parecia girar. Minha garganta ardia enquanto tentava puxar o ar que não vinha.— Ah, Violet... — Caleb disse, sua voz gotejando sarcasmo e prazer. — Você realmente acha que pode escapar de tudo isso? É tão divertido ver você assim, tão... frágil.Ele riu, uma risada baixa que fez cada célula do meu corpo gritar em alerta. Eu sentia meu rosto queimar pela falta de oxigênio.— Sabe, eu
Capítulo 6Eu mantinha os olhos fixos em Ivy enquanto o carro deslizava pela estrada deserta, iluminada apenas pelos faróis que cortavam a escuridão. Ela estava ao meu lado, encostada no vidro da janela, mas algo estava errado. Sua respiração era lenta, irregular, e seu peito mal se movia.— O que fizeram com ela? — perguntei, minha voz soando mais firme do que eu me sentia por dentro. Meu coração batia pesado no peito, e a preocupação latejava na minha mente como um tambor.Caleb, que dirigia com uma expressão entediada, riu baixo e revirou os olhos.— Ela está dormindo, Violet. Só isso. Jason a colocou sob hipnose para que não criasse problemas. — Ele lançou um olhar rápido e maldoso para o loiro sentado no banco do carona. — Nosso bom e velho Jason sempre arruma um jeito... delicado de lidar com as coisas.Jason virou-se ligeiramente, os olhos azuis parecendo hesitantes antes de se fixarem em mim. Havia algo em sua expressão que me fez pausar. Vergonha, talvez. Ou arrependimento.—
Jason suspirou ao ver Caleb e Bryan desaparecerem na escuridão da floresta. O som do vento contra o carro era a única coisa que preenchia o silêncio sufocante. Ele estava nervoso; isso era óbvio. Sua mão segurava o painel com força, e eu percebia o tremor nos seus dedos, como se ele estivesse se segurando para não explodir. Minha cabeça latejou de novo. Aquela sensação estranha voltou com força total, como uma onda prestes a me engolir. O formigamento começou atrás dos meus olhos e se espalhou pela minha testa, descendo para o nariz. Eu gemi baixo e, quando toquei o rosto, lá estava: sangue quente escorrendo de novo. — O que... — tentei falar, mas minha voz falhou. O mundo ao meu redor girou. Os assentos do carro pareciam se distorcer, como se fossem feitos de algo líquido e instável. Por um instante, eu vi algo. Era como se uma energia emanasse de Jason, uma névoa azul fraca que pulsava ao seu redor, viva, densa, sufocante. Ele me observava, os olhos arregalados. Não era medo. Era
Antes que eu pudesse dizer mais, o som de passos anunciou a volta de Caleb e Bryan. Jason e eu trocamos um olhar rápido, e ambos fingimos que nada havia acontecido. Caleb entrou no carro, o olhar desconfiado. — O que estava acontecendo aqui? — perguntou, a voz cortante. Eu falei antes que Jason pudesse reagir, fingindo raiva: — Ele é um idiota! Me agrediu porque eu queria fazer xixi nos arbustos! Jason percebeu minha intenção e entrou na onda. — Ela sabe que não pode sair do carro. Se quiser, que faça nas calças. — Ele revirou os olhos com sarcasmo. Caleb riu. — Finalmente, Jason, você está agindo como homem! — Ele empurra com força o ombro de Jason, fazendo-o gemer de dor. — Gostaria de ter visto você bater nessa vagabunda! Bryan surge na janela do carro, seu rosto irritado. — Abre logo, idiota! — gritou furioso. Caleb apenas riu, travando a porta propositalmente. — Eu vou quebrar essa merda! Sabe que tenho força pra arrancar essa porta! Caleb revirou os olhos e