Fuga

A casa era isolada, cercada por uma floresta densa e aparentemente interminável. As montanhas ao longe formavam uma barreira natural, enquanto o vento assobiava pelas árvores, criando uma melodia constante e inquietante. Logan havia escolhido o lugar a dedo: discreto, distante e com proteção suficiente para que ninguém nos encontrasse tão facilmente. Pelo menos era o que ele dizia.

Eu, no entanto, não conseguia me sentir segura.

O interior da casa era simples, com móveis de madeira escura e janelas pequenas, cobertas por cortinas grossas. Logan havia alugado o local com dinheiro que, segundo ele, vinha das reservas de sua família lupina. Não era luxuoso, mas era funcional. E, mais importante, nos mantinha fora do alcance de Klaus — pelo menos por enquanto.

Ivy estava na cozinha, despejando água quente em canecas para preparar chá. Aquele era o jeito dela de lidar com o caos: ocupando-se com tarefas simples e práticas. Logan, por outro lado, estava no andar de cima, inspecionando cada cômodo da casa, certificando-se de que não havia brechas ou sinais de perigo.

Eu estava sentada no sofá, tentando acalmar minha mente. Minhas mãos ainda tremiam, um reflexo do medo que me seguia como uma sombra desde o momento em que abri aquela caixa.

“Ele sabe onde estamos”, pensei. A ameaça de Klaus ainda pairava sobre mim, como uma corda apertada em volta do pescoço. Eu sabia que ele não desistiria até conseguir o que queria. E o pior era a sensação de impotência. Mesmo sendo uma híbrida, com magia correndo em minhas veias, eu estava enfraquecida. Meus poderes de bruxa, que antes eram uma fagulha de esperança, agora eram apenas um eco distante.

Ivy entrou na sala, segurando duas canecas fumegantes. Ela me entregou uma e se sentou ao meu lado, seus olhos verdes me analisando com preocupação.

— Você está muito calada, Violet. — Sua voz era suave, mas havia uma ponta de urgência nela. — Sei que está tentando processar tudo, mas precisamos falar sobre o que aconteceu.

Eu segurei a caneca com força, sentindo o calor do chá contra minhas mãos frias.

— O que há para falar? — perguntei, a voz baixa. — Ele nos encontrou. De novo. E sabemos que ele vai continuar.

Ivy suspirou, desviando o olhar por um momento antes de voltar a encarar-me.

— Logan acredita que esta casa é segura. É uma boa chance para pensarmos no próximo passo, Violet. Não podemos simplesmente continuar fugindo.

Eu sabia que ela estava certa, mas ouvir isso não tornava as coisas mais fáceis.

— Você acha que ele vai parar? — perguntei, minha voz subindo um pouco. — Klaus não vai descansar até me ter, Ivy. Ele gosta de brincar com as pessoas, gosta de fazer com que acreditem que têm uma chance, só para esmagá-las depois.

Ivy mordeu o lábio, claramente lutando para encontrar as palavras certas. Antes que ela pudesse responder, Logan desceu as escadas, os passos dele ecoando pela casa.

— A casa está limpa. Não há sinais de invasão ou vigilância. — Ele parou no pé da escada, cruzando os braços enquanto nos olhava. — Pelo menos por enquanto, estamos seguros aqui.

Eu não consegui evitar o riso seco que escapou dos meus lábios. Seguro. A palavra parecia uma piada cruel.

— Seguro? — repeti, encarando Logan. — Você acha mesmo que uma casa isolada vai nos proteger de Klaus? Ele tem olhos em todos os lugares. Ele me encontrou na cabana, Logan. O que faz você pensar que isso será diferente?

Logan estreitou os olhos, o maxilar travando. Ele não gostava de ser desafiado, mas não parecia disposto a discutir.

— Eu sei o que estou fazendo, Violet — disse ele, a voz firme. — Esta casa tem proteções, e escolhi um território onde a influência de Klaus é limitada. Ele pode ser poderoso, mas até ele tem suas fronteiras.

Ivy interveio, levantando-se e colocando-se entre nós.

— Chega. — Ela olhou para Logan e depois para mim. — Não adianta ficarmos brigando entre nós. Estamos todos no mesmo lado, e precisamos nos concentrar.

Respirei fundo, tentando me acalmar. Não era culpa de Logan. Ele estava tentando ajudar, assim como Ivy. Mas o medo e a raiva dentro de mim eram difíceis de controlar.

— Desculpe. — Murmurei, olhando para minha caneca.

Logan soltou um suspiro e sentou-se em uma poltrona próxima.

— Entendo o que você está sentindo, Violet, mas precisamos ser racionais. Você é o alvo dele, sim, mas isso também significa que temos uma vantagem. Klaus é previsível nesse ponto. Ele subestima você, porque acha que já venceu.

Eu levantei o olhar para ele, surpresa.

— Subestima? Ele tem tudo o que precisa para me pegar, Logan. Ele sabe onde estou, sabe que estou vulnerável. Como isso é uma vantagem?

Logan inclinou-se para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos.

— Porque ele ainda não conseguiu te quebrar. — A voz dele era baixa, quase um sussurro. — Ele está tentando, Violet, mas você ainda está aqui. Ele quer que você desista, que perca toda a esperança. Mas enquanto você resistir, ele não vence.

As palavras dele me pegaram de surpresa. Havia algo em seu tom que parecia genuíno, diferente da arrogância habitual. Talvez, por trás daquela fachada, Logan realmente se importasse.

Ivy colocou uma mão no meu ombro, apertando-o levemente.

— Precisamos de um plano, Violet. Precisamos recuperar sua magia.

O peso das palavras dela me atingiu. Minha magia, o que restava dela, era a única coisa que poderia mudar o jogo. Mas eu havia perdido tanto. Recuperar minha força parecia impossível.

— Não sei por onde começar — admiti, minha voz quase um sussurro.

Logan levantou-se, caminhando até a janela e olhando para a floresta.

— Começamos ficando vivos. Isso já é um bom começo.

As palavras dele, apesar de simples, carregavam uma verdade difícil de ignorar. Eu não sabia o que o futuro reservava, mas, por enquanto, estar viva era o suficiente.

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