Jason suspirou ao ver Caleb e Bryan desaparecerem na escuridão da floresta. O som do vento contra o carro era a única coisa que preenchia o silêncio sufocante. Ele estava nervoso; isso era óbvio. Sua mão segurava o painel com força, e eu percebia o tremor nos seus dedos, como se ele estivesse se segurando para não explodir.
Minha cabeça latejou de novo. Aquela sensação estranha voltou com força total, como uma onda prestes a me engolir. O formigamento começou atrás dos meus olhos e se espalhou pela minha testa, descendo para o nariz. Eu gemi baixo e, quando toquei o rosto, lá estava: sangue quente escorrendo de novo. — O que... — tentei falar, mas minha voz falhou. O mundo ao meu redor girou. Os assentos do carro pareciam se distorcer, como se fossem feitos de algo líquido e instável. Por um instante, eu vi algo. Era como se uma energia emanasse de Jason, uma névoa azul fraca que pulsava ao seu redor, viva, densa, sufocante. Ele me observava, os olhos arregalados. Não era medo. Era surpresa. Não, era mais do que isso: era curiosidade. — O que você está fazendo comigo? — perguntei, minha voz saindo entrecortada. Tossi e senti o gosto metálico de sangue na boca. Passei o dorso da mão pelos lábios, limpando o que havia escapado. Jason desviou o olhar, voltando a encarar o painel do carro. — Não sei do que você está falando — respondeu, com um tom monótono, mas eu via o suor na sua testa. — Não minta para mim — rebati, a raiva se misturando ao medo. — Eu não sou burra. Não sou uma simples bruxa sem poderes, como você imagina. Sei que há algo de sobrenatural em você. E você está me provocando isso. Ele se virou bruscamente. Seus olhos azuis estavam arregalados, quase alarmados. Pela primeira vez, vi uma rachadura na máscara que ele usava para parecer tão indiferente. — Eu já disse que não fiz nada — insistiu, mas o tremor na sua voz o entregava. Olhei para ele, estudando cada detalhe. Algo estava errado. Muito errado. Foi então que notei algo peculiar: a maneira como seus olhos refletiam a luz. Não era como os olhos de Caleb ou Bryan, que brilhavam com as cores vivas de suas habilidades, um tom ameaçador de vampiro. Era diferente. Quase como se... Não fosse real. Sem pensar, me inclinei para frente, ficando a centímetros de seu rosto. Jason corou violentamente devido à timidez causada pela minha aproximação repentina. Analisei seu rosto atentamente, sentindo que algo estava fora do lugar, que algo ali estava errado. "Magia", uma voz distorcida sussurrou em minha mente, fazendo meu coração acelerar. Em um movimento não pensado, enfiei o dedo em seu olho esquerdo, esbarrando em algo pegajoso. Sem pensar duas vezes, puxei o objeto com agilidade, fazendo Jason gritar devido à dor causada por minha brutalidade. Sua mão tentou alcançar a minha, mas fui mais rápida e desviei. — Mas que droga está fazendo?! — gritou Jason, recuando e segurando o rosto com as mãos. — Você está louca? Machucou meu olho! Ignorei sua reação e fui ver o que havia pego: uma lente. Não uma lente comum. Era transparente, mas emitia um leve brilho azulado, parecia ser feita de pura energia mágica. Quando olhei de volta para Jason, sua verdadeira aparência foi revelada. Seus olhos, agora livres da lente, eram um azul tão intenso que pareciam iluminar o carro. E havia algo estranho na parte inferior de sua pupila esquerda: uma falha vertical, como um risco que não deveria estar ali. Ele cobriu o rosto rapidamente, pegando a lente da minha mão e recolocando-a no olho com rapidez. — Você não é um vampiro — murmurei, mais para mim mesma do que para ele. Jason suspirou, os olhos vermelhos por conta da irritação. Ele piscou diversas vezes e abaixou a cabeça. Podia ver que ele se sentia encurralado por ter sido pego em sua mentira. Jason me olhou, levantando a cabeça. Agora seus olhos estavam arregalados, seu rosto pálido. — Não diga isso de novo — sussurrou. Sua voz estava trêmula, quase quebrada. — Não diga isso, Violet. Nunca. Você não tem ideia do que está dizendo. — Então me explique — disse igualmente baixo, temendo que alguém nos ouvisse. — O que você é? Ele abaixou a cabeça novamente, parecendo carregar o peso do mundo nos ombros. — Não importa o que eu sou. O que importa é que, se eles descobrirem, estou morto. E você também pode estar. — Ele ergueu o olhar, os olhos fixos nos meus. — Eles farão comigo o que fazem com todos da minha espécie. Eu me afastei, tentando processar o que acabara de ouvir. Jason respirou fundo e passou a mão pelo rosto. — Eu sinto muito pelo que aconteceu. Pela dor de cabeça. Pelo sangue. — Ele falou com sinceridade, embora ainda parecesse desconfortável. — Eu só... tentei ler seus pensamentos. — Ler meus pensamentos? — repeti, incrédula. Ele assentiu, desviando o olhar. — Queria saber se você era como Caleb. Se era tão terrível quanto Klaus e os outros dizem. — Ele me encarou novamente, agora com um brilho de fascínio nos olhos. — Mas não consegui. Você... você bloqueou meus poderes. Nenhum dos meus poderes funciona em você. Fiquei em silêncio, chocada. — Como isso é possível? — perguntei. Jason balançou a cabeça, claramente tão confuso quanto eu. — Nunca encontrei alguém assim antes. Meu povo... — Ele hesitou. — Meu povo é conhecido por ser imbatível nesse aspecto. Mas você... você é diferente. Eu suspirei, olhando para os meus pés. Outro mistério sobre mim mesma para adicionar à lista. Será que isso tinha a ver com os poderes que eu costumava ter? Mesmo sem minha alma de bruxa, talvez ainda houvesse algo dentro de mim que me tornava... forte. Não forte como antes, mas ainda assim me sentia protegida, como se alguma coisa estivesse em mim. Sabia que o Mago Supremo não estava mais me protegendo, nem mesmo meus poderes existiam... Mas ainda assim, sentia que algo me vigiava e cuidava de mim. Jason olhou pela janela, nervoso. — Eles não vão demorar. Caleb e Bryan vão voltar logo. — Então vamos fugir — sugeri, quase como um reflexo. Jason me encarou, surpreso. — Não podemos. Seríamos pegos. E, se isso acontecer... eles vão descobrir que eu não sou quem dizem que sou. Eu podia sentir sua hesitação, sua vulnerabilidade. — Por que você está aqui, então? — perguntei. — Se não concorda com as práticas deles, por que ainda está com Caleb e Klaus? Ele ficou em silêncio por um momento, o olhar perdido na escuridão além da janela. — Eu não tive escolha — começou, sua voz baixa. — Quando criança, fui encontrado na floresta por Klaus e seus homens. Eles estavam voltando de uma caçada, e Klaus me viu. E após tudo que eu fiz, ele achou que eu era... peculiar. — Peculiar? — Me inclinei para frente. — Como atraiu a atenção do Rei Vampiro? Jason parou, como se reconsiderasse o que estava prestes a dizer. — Eu era mais rápido, mais forte e mais estratégico do que qualquer um que ele já tinha visto. Com apenas oito anos, consegui derrubar o Rei Vampiro do cavalo e ferir gravemente sua cabeça, assim como seu cavalo. Minha mente girou com essa informação. Como uma criança podia ter feito algo assim? — Você derrubou Klaus e o feriu? — perguntei, incrédula. — Nem mesmo soldados experientes conseguem tocar no Rei dos Vampiros e sua guarda real! — Sim... Eu sei disso, Violet. — Ele deu um sorriso amargo. — Mas não foi por bravura. Eu nem sabia quem ele era. Só queria roubar algo para comer e algumas coisas de valor para trocar por roupas e abrigo... — Ele suspira novamente e seus olhos ficam distantes. — Eu era um moleque órfão, sozinho contra o mundo. Só estava tentando sobreviver. — Órfão? Eu... Eu não sabia. — Murmurei, sentindo meu coração se apertar. — Sinto muito por isso. — Tudo bem... Já foi há muito tempo. — Ele sorriu de lado, revelando sua covinha, mas logo seu olhar ficou perdido e sua voz grossa. — Sei que tudo que aconteceu foi por imprudência de minha irmã... Se não fosse por ela, todos da minha vila estariam vivos. — Imprudência? — Perguntei, temerosa. — Nossa vila tinha uma regra, não podíamos sair durante a noite. Sabíamos que era o horário onde os vampiros estavam mais ativos. — Ele olha para os próprios pés. — Mas um dia, minha irmã desobedeceu essa regra, tudo isso por acreditar que estávamos apenas tentando controlar sua vida... Adolescentes são idiotas, independentemente da espécie. — Ele diz com uma leve raiva em seu tom. — Quando minha mãe percebeu sua ausência, já era tarde. Ela a procurou durante horas até achá-la sem vida... Ao seu lado, um dos aliados do Rei Vampiro recolhia seus órgãos vitais para drenar sua mana. Meu coração acelerou ao ouvir isso, não sabia como responder ou reagir. Jason fez uma pausa, parecia encontrar as palavras mais leves para relatar seu passado. — Minha mãe se enfureceu e usou seus poderes. Na hora, o aliado do Rei Vampiro foi morto, ele não teve nenhuma chance... Mas isso alertou a todos os soldados da região, que atacaram na mesma noite nossa vila, um pedido de Klaus, já que esse aliado era muito importante. — Jason parou as próprias mãos e riu baixo, negando com a cabeça. — Por isso, no dia que Klaus me encontrou, não fazia a mínima ideia de quem eram. Eu nunca tinha os visto antes... Eu apenas vi seu aliado. O som de algo se movendo nos arbustos o fez parar de falar. Ambos olhamos ao redor, mas não havia nada. Jason continuou. — Depois de atacar os homens de Klaus e matar um a um, mesmo ferido, o Rei Vampiro conseguiu usar seus poderes para me paralisar e, quando percebi o símbolo no cavalo dele, soube que estava em apuros... Sabia que se ele visse meus olhos, saberia que eu era um dos poucos sobreviventes da minha espécie e iria me torturar até descobrir onde os outros estavam... Mesmo que eu não soubesse a resposta. — Sua voz ficou mais séria. — Então, para evitar ser morto, cortei meus próprios olhos com minha adaga. Os furei de uma forma que não pudesse ser identificado. — Você fez o quê? — Gritei, horrorizada. — Você... realmente fez isso? Jason assentiu, o olhar distante. — Entenda, Violet. Ficar cego era mais fácil do que ser torturado por meses... Eu era uma criança e meus poderes ainda eram fracos, não ia conseguir fugir. — Ele deu de ombros e riu baixo. — Klaus pensou que era uma tentativa de suicídio para evitar me render a ele. Ele... admirou isso. Disse que eu era valente e corajoso, que tinha o espírito de um guerreiro... perguntou quem eram meus pais e, por ali ser uma área de vampiros, disse o nome de um dos seus aliados, o homem que matou minha irmã... Theodoro Kinsley. Meu corpo congelou ao ouvir o nome do lord demoníaco. O Sanguináculum havia me contado sobre Theodoro, ele era conhecido como o lord demoníaco, o único vampiro a drenar a força dos vampiros e a mana dos anjos. Klaus o considerava um filho, confiava incondicionalmente nele, até mesmo o tratava como um herdeiro. — Você... Você disse que era herdeiro do lord demoníaco? — Gaguejei nervosa. — Ele acreditou nisso? — Pela minha habilidade e a forma como o derrubei, ele sequer desconfiou... Além disso, ninguém iria desconfiar. Theodoro e eu temos o mesmo tom de pele e cabelo. As lentes até me deixam com a mesma cor dos olhos! — Ele deu de ombros com um leve sorriso de satisfação. — Os idiotas até dizem que sou idêntico ao Theodoro quando ele tinha minha idade... — Ele riu, sua voz era humorada. — Eu posso ser cego sem essas lentes, mas eles que não enxergam! — Bem... Pelo menos isso deixou você seguro. — Disse, ainda atordoada. — Mas... Como Klaus reagiu depois disso? — Quando disse que era filho de Theodoro, Klaus ficou surpreso e imediatamente me levou ao seu castelo em seu cavalo. Mandou que me limpassem, alimentassem e fizessem de tudo para que minha visão voltasse. Todos souberam do ocorrido na floresta, muitos me temeram... Outros diziam que eu seria melhor que o Theodoro. — Jason sorriu de lado, revirando os olhos. — Acho que é por isso que Klaus me colocou à frente de tantas responsabilidades no exército e por isso que Caleb me odeia. Ele riu baixo, mas não havia humor em seu tom. — Quando cheguei no castelo, Bryan e seu pai foram os únicos a parecerem que realmente me queriam ali e estavam felizes com minha chegada. — Suspirou. — O pai de Bryan estava realmente contente... Me tratava como um pai... Até entendi sua reação, já que ele era irmão de Theodoro e também protegido de Klaus... Ele achava que eu era a única família de sangue que Bryan e ele tinham naquele lugar. — Jason olhou novamente para a janela, temendo que Caleb aparecesse a qualquer momento. — Kent, o pai de Bryan, era um cientista muito importante no reino e médico responsável por grandes casos. Ele imediatamente começou a pesquisar em seu laboratório... meses depois, criou essas lentes para mim. Não sabia como reagir após tantas informações impactantes. Meu estômago estava embrulhado, segurava a vontade de chorar. — E... Como essas lentes funcionam? — Foi a única coisa que consegui dizer sem chorar. — Usam mana de cura. — Riu, dando de ombros. — O irônico é que usam a mana do meu povo. Graças a isso, eu consigo disfarçar a cor dos meus olhos e a marca de nascença na pupila. Mana de cura? Isso não é raro? — Mana de cura? Nenhuma espécie tem mana de cura, normalmente só aprendem feitiços ou formas de se curar rapidamente. — Disse, tentando fingir tranquilidade. — Na verdade, algumas espécies têm essa mana... mas são raras. — Disse, ao me lembrar das minhas pesquisas. — Seres como fadas, demônios poderosos ou... Parei de falar ao ver o olhar em seu rosto. — Não pode ser — sussurrei, arregalando os olhos. Jason desviou o olhar. — Sou um dos últimos da minha espécie... Sequer tenho poder suficiente ou sei usá-lo direito. Se souberem quem sou... usariam meu poder para acordar os magos supremos. E isso... isso seria o fim do mundo.Antes que eu pudesse dizer mais, o som de passos anunciou a volta de Caleb e Bryan. Jason e eu trocamos um olhar rápido, e ambos fingimos que nada havia acontecido. Caleb entrou no carro, o olhar desconfiado. — O que estava acontecendo aqui? — perguntou, a voz cortante. Eu falei antes que Jason pudesse reagir, fingindo raiva: — Ele é um idiota! Me agrediu porque eu queria fazer xixi nos arbustos! Jason percebeu minha intenção e entrou na onda. — Ela sabe que não pode sair do carro. Se quiser, que faça nas calças. — Ele revirou os olhos com sarcasmo. Caleb riu. — Finalmente, Jason, você está agindo como homem! — Ele empurra com força o ombro de Jason, fazendo-o gemer de dor. — Gostaria de ter visto você bater nessa vagabunda! Bryan surge na janela do carro, seu rosto irritado. — Abre logo, idiota! — gritou furioso. Caleb apenas riu, travando a porta propositalmente. — Eu vou quebrar essa merda! Sabe que tenho força pra arrancar essa porta! Caleb revirou os olhos e
Jason me arrastava pelos corredores do castelo, sua mão firme segurando meu braço como se temesse que eu pudesse escapar a qualquer momento. A dor nos meus músculos e o som ecoante de nossos passos me deixavam tensa, mas o que mais me incomodava era a sensação de estar à mercê de Klaus novamente.— Jason, você sabe onde está minha irmã? — perguntei, tentando esconder o desespero na voz.Ele hesitou por um instante, mas finalmente respondeu, sem olhar para mim:— A última vez que vi Sarah, ela estava bem. Mas já faz alguns dias. Fui enviado em uma missão e não tive mais notícias.Apesar de tudo, senti um breve alívio. Se Jason não a havia visto, ao menos significava que Klaus ainda não tinha feito algo com ela. Meu maior temor era que ele tivesse cumprido a ameaça que pairava como uma espada sobre minha cabeça.— Se ele encostar um dedo nela… — murmurei, mais para mim mesma do que para Jason.Ele não respondeu. Continuamos caminhando por um trecho que eu não reconhecia. Era uma parte n
Caminhei até a cama imensa e sentei na beirada, deixando meus dedos deslizarem pelo tecido macio do dossel. Tudo ao meu redor gritava luxo e realeza, mas para mim, não passava de uma fachada. Uma ilusão cuidadosamente criada para me prender em um conforto opressivo.Meus pensamentos foram interrompidos pelo som suave de uma porta se abrindo. Virei-me rapidamente, surpresa ao ver uma jovem entrando. Ela parecia ter a minha idade, com cabelos castanhos ondulados que caíam sobre seus ombros e olhos castanhos que brilhavam de forma tímida. Ela parou na entrada, segurando o vestido simples que vestia com nervosismo.— Peço desculpas por entrar sem bater... — ela começou, a voz baixa e hesitante. — O senhor Jason disse que eu podia entrar assim.Observei-a por um momento, percebendo que ela não tinha a aparência de uma vampira. Parecia humana, tão humana quanto eu.— Está tudo bem — eu disse, tentando aliviar a tensão evidente em seus ombros.Ainda assim, ela permaneceu tensa, como se cada
Olhei-me no espelho, ajustando a barra do vestido gótico que Gwen havia escolhido para mim. O tecido preto de veludo caía elegantemente até o chão, com detalhes em renda nas mangas e no corpete, que deixava meus ombros expostos. O decote acentuava meus seios de uma forma que me incomodava um pouco, dando a ilusão de serem maiores do que realmente eram. Suspirei, puxando o tecido de leve, tentando me acostumar com a visão que o espelho refletia.Meu cabelo estava preso em um coque baixo, alguns fios soltos emolduravam meu rosto. As luvas de renda cobriam meus braços até o cotovelo, completando o visual de uma época que eu nunca imaginei viver, quanto mais encenar. Gwen se aproximou silenciosamente, segurando um frasco de perfume. — Um toque final, senhorita — ela disse suavemente, borrifando uma fragrância leve ao redor de mim. Fechei os olhos ao sentir o aroma familiar. Orquídea negra com toques sutis de baunilha. Meu coração apertou no peito. — Esse perfume... — murmurei, minha
Os convidados começaram a entrar na sala de jantar, e eu finalmente me permiti desviar o olhar de Klaus para observá-los. Uma onda de confusão me envolveu imediatamente. Todos eles usavam máscaras. Máscaras douradas, adornadas com pequenos diamantes que brilhavam à luz das velas. Algumas eram intricadamente trabalhadas para cobrir todo o rosto, enquanto outras deixavam apenas a boca à mostra. Cada máscara tinha a forma de um animal — lobos, corvos, raposas, todos esculpidos com uma precisão assustadora.As roupas que usavam eram igualmente impressionantes. Vestidos longos e sombrios, com cortes que misturavam a elegância vitoriana ao gótico mais refinado. Os ternos dos homens eram de tecidos nobres, com detalhes em renda e veludo, muitos deles com golas altas e abotoaduras reluzentes. As mulheres tinham os cabelos arranjados em coques altos ou tranças elaboradas, decoradas com pequenas joias ou penas negras que completavam o visual quase teatral.Eu me senti deslocada, como se tivesse
O espelho diante de mim era uma obra de arte, imponente e adornado com ouro, destacando-se contra a decoração sombria e gótica do banheiro. As bordas eram esculpidas com intrincados detalhes de flores e folhas, emoldurando o vidro como se fosse um retrato de algum antigo monarca. A luz suave das velas refletia nas superfícies douradas, lançando um brilho cálido que contrastava com a escuridão do ambiente.O banheiro era espaçoso, com paredes de pedra cinza escura e detalhes em ferro forjado. O chão era revestido com ladrilhos de mármore negro, polidos a ponto de refletirem como um espelho. Uma enorme banheira de mármore repousava no centro, com garras de leão esculpidas sustentando-a. A atmosfera era pesada, quase sufocante, com o ar impregnado do aroma suave de lavanda e sândalo.Eu me encarei no espelho, buscando algum vestígio de calma. Estar longe de Klaus, mesmo que temporariamente, me permitia respirar um pouco mais aliviada. Mas o alívio era passageiro, logo substituído pela ur
A manhã seguinte ao jantar foi envolta em um silêncio quase opressivo. O castelo parecia um mausoléu, seus corredores vastos e vazios, como se a própria estrutura estivesse à espera de algo sombrio. Decidi que precisava de respostas, ou ao menos alguma forma de esperança. E a única maneira de conseguir isso seria explorando a biblioteca.A biblioteca era uma catedral de conhecimento. Estantes se erguiam do chão ao teto, repletas de volumes encadernados em couro, seus títulos em línguas antigas e esquecidas. Havia uma sensação de reverência no ar, como se o próprio espaço reconhecesse o poder contido em suas prateleiras. Caminhei devagar, deslizando meus dedos pelas lombadas dos livros, maravilhada com a quantidade de conhecimento que repousava ali. O cheiro de papel envelhecido misturado com o leve odor de cera das velas acesas criava uma atmosfera que parecia me envolver completamente.Por que há tantos livros de magia?Essa pergunta me assombrava enquanto percorria as fileiras inter
A suave luz do entardecer filtrava-se pelas pesadas cortinas de veludo que adornavam as janelas dos meus aposentos. Um brilho âmbar dançava nas paredes de pedra, lançando sombras que se moviam com o crepitar da lareira acesa. Ivy estava finalmente acordada, sentada à minha frente em uma das poltronas de couro negro da sala de estar. Era uma visão confortante, quase como um eco de tempos mais simples, quando o perigo não nos rondava a cada esquina.— Você precisa ser mais cuidadosa, Violet. — Ivy falou, quebrando o silêncio. Ela segurava uma xícara de chá fumegante entre as mãos, o aroma floral misturando-se com o cheiro dos biscoitos recém-saídos do forno. — Não pode continuar batendo de frente com Klaus. Ele é poderoso, implacável. Se ele quiser, pode nos destruir.Seu tom era sério, os olhos cor de âmbar fixos em mim. Senti um aperto no coração. Tinha saudade de Ivy, de sua presença reconfortante, mas suas palavras eram um lembrete cruel da realidade em que vivíamos.— Eu sei, Ivy.