A suave luz do entardecer filtrava-se pelas pesadas cortinas de veludo que adornavam as janelas dos meus aposentos. Um brilho âmbar dançava nas paredes de pedra, lançando sombras que se moviam com o crepitar da lareira acesa. Ivy estava finalmente acordada, sentada à minha frente em uma das poltronas de couro negro da sala de estar. Era uma visão confortante, quase como um eco de tempos mais simples, quando o perigo não nos rondava a cada esquina.— Você precisa ser mais cuidadosa, Violet. — Ivy falou, quebrando o silêncio. Ela segurava uma xícara de chá fumegante entre as mãos, o aroma floral misturando-se com o cheiro dos biscoitos recém-saídos do forno. — Não pode continuar batendo de frente com Klaus. Ele é poderoso, implacável. Se ele quiser, pode nos destruir.Seu tom era sério, os olhos cor de âmbar fixos em mim. Senti um aperto no coração. Tinha saudade de Ivy, de sua presença reconfortante, mas suas palavras eram um lembrete cruel da realidade em que vivíamos.— Eu sei, Ivy.
O castelo parecia interminável. Nós caminhávamos pelos corredores vastos e silenciosos, o som dos nossos passos abafado pela espessura das paredes de pedra. A cada esquina, uma nova sala se abria diante de nós, mas nenhuma parecia esconder o que nossos sentidos procuravam. A sensação de cansaço era quase insuportável, mas não podíamos parar. Ivy e eu já tínhamos andado o dia inteiro, explorando cada canto do castelo, tentando sentir a tal energia mágica que os instintos lupinos de Ivy haviam detectado. Contudo, não havia nenhuma pista, nenhum sinal claro. Só o eco das nossas esperanças que se desfaziam a cada sala vazia que passávamos.Eu podia sentir as bolhas nos meus pés, os sapatos de salto que usávamos como parte da roupa escolhida para nós apertando os dedos. Cada passo era um esforço, e meu corpo já estava se rebelando contra a quantidade de tempo que tínhamos passado na busca sem resultados. O corpete apertado do meu vestido me deixava sem ar, e o calor era insuportável, como
Depois de um longo dia, já me encontrava na cama, os lençóis gelados em volta do meu corpo, tentando forçar meu cérebro a desligar. O banho quente havia feito maravilhas para a minha mente, embora a dor do luto e o peso da situação ainda me assombrassem. Fechei os olhos e tentei deixar os pensamentos se esvaírem, mas um barulho suave de batidas interrompeu meu breve momento de paz.— Entre — murmurei, minha voz carregada de cansaço.A porta se abriu devagar, e a figura esguia de Gwen apareceu na entrada. Ela parecia imperturbável, como sempre, mas havia algo diferente no seu olhar, como se estivesse prestes a me entregar algo que não gostaria de receber.— O Rei deseja vê-la nos aposentos dele — disse ela com uma suavidade que soava quase impessoal.Franzi a testa. Horas atrás, eu estava no salão com Klaus, conversando sobre arquitetura enquanto ele bebia, uma conversa que mais parecia um jogo de poder disfarçado de cordialidade. Agora, ele me chamava, e algo em mim se apertou.— Mas.
As batidas na porta ecoaram pelo quarto, rompendo o silêncio pesado que pairava no ar. Suspirei, ajustando o vestido que Gwen havia me ajudado a vestir, enquanto meu coração acelerava com a antecipação do que estava por vir.— Entre — disse, minha voz soando mais firme do que eu realmente me sentia.A porta se abriu lentamente, revelando Caleb. Ele entrou com passos lentos, mas havia algo predatório em sua postura, como se cada movimento fosse calculado para intimidar. Seus olhos percorriam meu corpo com um olhar faminto, como o de um cão selvagem prestes a atacar sua presa.Ele parou diante de mim, uma expressão de desdém estampada em seu rosto.— Bem, devo admitir — começou ele, com um sorriso cruel nos lábios. — Você pode ser uma vagabunda inútil, mas pelo menos ficou atraente nessa roupa. Quase o suficiente para eu esquecer que você é uma bruxa nojenta e não uma vampira.Revirei os olhos, cruzando os braços sobre o peito, tentando esconder o desconforto crescente. Sua presença me
Ao passar pelos corredores do castelo, os olhares dos guardas me faziam sentir como se fosse um animal em exibição. Eles riam, cochichavam e faziam piadinhas, sem nenhum respeito pela minha presença. Eu sabia o que eles estavam pensando. Eles estavam olhando para mim como se eu fosse uma peça de carne, uma mulher de um valor questionável, vestida daquela forma. As risadas baixas faziam meu estômago se revirar. Eu queria gritar, xingar, mas sabia que isso só pioraria a situação. Não havia como escapar.Com cada passo, meu coração batia mais rápido, e um mal-estar crescente se apoderava de mim. Eu odiava essa sensação, odiava sentir que estavam me desrespeitando, que estavam me reduzindo a algo que não era eu. Aquele vestido leve e transparente, com seu bordado dourado, parecia pesar mais a cada olhar que eu recebia. Eu só queria me esconder, mas sabia que não tinha escolha. Tinha que seguir em frente, para cumprir minha "função". A noite, mais uma vez, seria uma tortura.Chegando aos a
O quarto estava mergulhado em uma penumbra opressiva, iluminado apenas pela luz trêmula das velas que lançavam sombras dançantes nas paredes. A cama enorme, adornada com lençóis de seda escarlate, parecia um altar macabro, e a sensação de claustrofobia crescia em mim a cada segundo. O ar parecia mais pesado, como se o ambiente inteiro conspirasse para me sufocar.Klaus estava ali, me observando como um predador faminto, seus olhos vermelhos brilhando com uma intensidade doentia. Ele sorriu, um sorriso que não continha nenhum traço de afeto ou gentileza. Era um sorriso de posse, de controle, e aquilo fazia minha pele se arrepiar de repulsa. Cada fibra do meu ser gritava para que eu fugisse, mas sabia que não havia escapatória.— Espero que sua história sobre ser virgem seja verdadeira, Violet, — ele disse, a voz grave e carregada de ameaça, enquanto dava um passo mais perto. — Caso contrário, você vai se arrepender amargamente de ter mentido para mim.Minha
Eu fiquei ali, deitada na cama de Klaus, por horas, imóvel, com os olhos abertos, encarando o teto escuro. O calor da cama onde estive com ele ainda queimava minha pele, uma marca que eu não conseguiria tirar de mim, não importa o quanto eu tentasse. Meu corpo estava cansado, minhas energias drenadas, e eu me sentia... morta. Como se parte de mim tivesse sido arrancada, e eu estivesse apenas esperando a morte chegar.Meus dedos se esfregavam contra as marcas em meu pescoço, as mordidas onde ele havia bebido meu sangue, e um nojo profundo me envolvia. Meu vestido estava rasgado, meu cabelo bagunçado, e o batom borrado fazia meu rosto parecer um reflexo do que eu realmente sentia: sujeira, vergonha e dor. Eu estava completamente devastada.O quarto parecia escuro e frio, mesmo com as velas acesas. Era como se o calor da minha raiva e da humilhação me envolvesse de uma forma que eu não conseguisse escapar. O pesadelo ainda estava vivo dentro de mim, o toque dele, o cheiro dele, o som da
Eu não sabia quanto tempo se passou. Minutos? Horas? Dias? O tempo parecia uma coisa vaga, como se tivesse perdido a noção de tudo, exceto da dor e do vazio. Eu não conseguia parar de pensar, mas não conseguia mais falar. O silêncio me envolvia como uma prisão que eu mesma construí, e o mais estranho é que não me importava. Era como se minhas palavras já não tivessem mais valor, como se a minha voz tivesse sido arrancada junto com a minha dignidade naquela noite.O quarto estava em silêncio, exceto pelo som suave de Ivy se movendo atrás de mim. Eu estava sentada na beirada da cama, o olhar perdido na escuridão da janela, enquanto ela, com mãos delicadas, penteava meu cabelo. Ela fazia isso sem pressa, sem palavras, mas com a paciência de quem entendia que eu precisava de algo tão simples para me sentir... um pouco menos quebrada.Ela não falava, mas seu toque era suave, e eu sentia uma estranha sensação de conforto, como se, por um momento, eu estivesse sendo cuidada. Não que eu merec