Capítulo 6
Eu mantinha os olhos fixos em Ivy enquanto o carro deslizava pela estrada deserta, iluminada apenas pelos faróis que cortavam a escuridão. Ela estava ao meu lado, encostada no vidro da janela, mas algo estava errado. Sua respiração era lenta, irregular, e seu peito mal se movia. — O que fizeram com ela? — perguntei, minha voz soando mais firme do que eu me sentia por dentro. Meu coração batia pesado no peito, e a preocupação latejava na minha mente como um tambor. Caleb, que dirigia com uma expressão entediada, riu baixo e revirou os olhos. — Ela está dormindo, Violet. Só isso. Jason a colocou sob hipnose para que não criasse problemas. — Ele lançou um olhar rápido e maldoso para o loiro sentado no banco do carona. — Nosso bom e velho Jason sempre arruma um jeito... delicado de lidar com as coisas. Jason virou-se ligeiramente, os olhos azuis parecendo hesitantes antes de se fixarem em mim. Havia algo em sua expressão que me fez pausar. Vergonha, talvez. Ou arrependimento. — Ela vai ficar bem — ele disse quase em um murmúrio, como se as palavras fossem dirigidas mais a ele mesmo do que a mim. — Foi melhor assim. A outra opção... — Ele balançou a cabeça. — Não seria algo que você gostaria de ver. Minha mente girava, dividida entre a preocupação por Ivy e o homem diante de mim. Jason parecia deslocado, como se não pertencesse ao mesmo mundo cruel de Caleb. Mas por que ele estava aqui, então? Por que andar com alguém como Caleb se ele parecia tão... diferente? Antes que eu pudesse aprofundar meus pensamentos, Caleb estendeu o braço e puxou Jason pelo colarinho, aproximando-o de si. O movimento foi rápido, bruto. — Coração mole — zombou Caleb, rindo alto enquanto encarava Jason de perto. — Você arruína toda a diversão. Sempre com esse moralismo patético. Se não fosse por você, eu poderia usar meus poderes para coisas bem mais... interessantes. Jason desviou o olhar, claramente desconfortável, mas não respondeu. Suas mãos tremiam ligeiramente, e eu percebi o nervosismo em seu rosto. Ele não era como Caleb. Isso era evidente. Mas então, por que ele continuava ao lado dele? Eu estava prestes a questioná-lo quando senti uma sensação estranha na minha cabeça, como se algo estivesse rastejando sob minha pele. Um formigamento intenso seguido por uma onda de calor. Minha visão ficou turva, e a tontura tomou conta de mim. Levei a mão ao rosto, sentindo algo quente escorrer pelo meu nariz. Quando a afastei, vi o líquido escuro manchando meus dedos. Sangue. — Merda... — murmurei, pressionando o nariz enquanto tentava clarear a mente. Olhei para frente, sentindo o mundo girar ao meu redor, e meus olhos encontraram Jason. Ele me observava com uma expressão de surpresa, mas foi tão rápida que quase a perdi. Ele desviou o olhar quase no mesmo instante, voltando a encarar o caminho à frente. Antes que eu pudesse processar o que estava acontecendo, o vampiro ao meu lado se esticou para frente atraindo a atenção de Caleb. — Precisamos parar. Klaus pediu algo, e eu preciso buscar. – Disse com seriedade. Caleb bufou, irritado, os dedos apertando o volante com força suficiente para embranquecer seus nós. — Deixe de idiotices , Bryan. – Caleb riu de pelo nariz tentando disfarçar sua raiva. – Klaus não pediu nada a você. Ele só dá ordens a mim, sabe disso. — Não se trata de você, Caleb. – Bryan revirou os olhos, seu tom carregado de sarcasmo. – Está com ciúmes porque agora Klaus confia em outros para suas missões? A troca entre os dois era tensa, como se uma briga estivesse prestes a explodir a qualquer momento. Caleb freou bruscamente, jogando o carro para o acostamento. O impacto me jogou contra Bryan, minha cabeça batendo com força contra a dele. — Droga! — gemi, levando a mão à testa. O sangue que já escorria do meu nariz agora misturava-se a uma nova dor, latejante e aguda. Bryan também gemeu, segurando a cabeça enquanto se inclinava para longe de mim. — Que porra é essa, Caleb?! Você ficou maluco? — ele gritou, sua voz carregada de irritação e indignação. – Para de ser infantil, seu idiota! Caleb olhou para ele pelo retrovisor, seu sorriso diabólico se alargando. — Apenas atendendo ao seu pedido, querido Bryan. Estou ajudando você na sua missão. – Seu sorriso se alargou ao ver a irritação do outro crescer. – Deveria agradecer por ter alguém tão caridoso como líder dessa missão. Bryan soltou um riso sarcástico, mas sua expressão era de puro desprezo. — Você é um idiota completo. Inútil. – Apontou o dedo para Caleb que dilatou as narinas devido a afronta. – Só porque ninguém tem coragem de enfrentar você, acha que pode fazer o que quiser. Mas comigo não é assim, Caleb! Estou pouco me lixando para o seu ego inflado. A tensão no carro era palpável. Caleb se virou no banco, seus olhos faiscando de ódio. — Cuidado com o que diz, Bryan. Ou eu acabo com você aqui mesmo. – Ele disse entre dentes, seus olhos mudando de cor devido ao seu poder. – Não se esqueça que entre todos nós, sempre serei o vampiro escolhido por Klaus e o campeão de suas batalhas, meus poderes podem esmagar seu maldito corpo em questão de segundos! Bryan riu, desdenhoso, cruzando os braços. — Você sabe que não pode me matar. Toque em mim, e Klaus terá sua cabeça em uma bandeja. – Ele pisca provocando, Caleb o encara furioso. – Sabe que não pode encostar seus dedinhos imundos em mim, Klaus o mataria pessoalmente, não sou a porra de um vampiro qualquer, fedelho desgraçado! O silêncio que se seguiu foi quase pior do que a discussão. Caleb apertou o volante com tanta força que parecia prestes a quebrá-lo. Finalmente, ele gritou, frustrado, um som primal que ecoou pela cabine do carro. Eu observava tudo em silêncio, tentando processar o que estava acontecendo. Era a primeira vez que via Caleb ser desafiado, e isso me fez perceber que, talvez, ele não fosse tão invencível quanto queria aparentar. — Vamos logo buscar isso antes que o sol nasça — Jason disse, sua voz calma, mas com um tom de urgência. Caleb lançou-lhe um olhar de pura irritação. — Cale a boca, Jason! — ele rosnou, passando a mão pelo rosto antes de socar o volante novamente. — Vamos, Bryan. Vamos resolver isso agora antes que eu perca ainda mais tempo com você. Bryan riu de novo, mas abriu a porta do carro. — Claro, Caleb. Mas não pense que vai dividir os créditos comigo. Você não será sequer mencionado quando eu voltar para Klaus. Caleb trincou os dentes, bufando de raiva, mas saiu do carro também. Enquanto eles desapareciam na escuridão, minha mente girava com perguntas. Por que estavam tão preocupados com o nascer do sol? Por que Bryan parecia ter tanta confiança de que Caleb não poderia tocá-lo? E, mais importante, como isso tudo se conectava com o que queriam de mim?Jason suspirou ao ver Caleb e Bryan desaparecerem na escuridão da floresta. O som do vento contra o carro era a única coisa que preenchia o silêncio sufocante. Ele estava nervoso; isso era óbvio. Sua mão segurava o painel com força, e eu percebia o tremor nos seus dedos, como se ele estivesse se segurando para não explodir. Minha cabeça latejou de novo. Aquela sensação estranha voltou com força total, como uma onda prestes a me engolir. O formigamento começou atrás dos meus olhos e se espalhou pela minha testa, descendo para o nariz. Eu gemi baixo e, quando toquei o rosto, lá estava: sangue quente escorrendo de novo. — O que... — tentei falar, mas minha voz falhou. O mundo ao meu redor girou. Os assentos do carro pareciam se distorcer, como se fossem feitos de algo líquido e instável. Por um instante, eu vi algo. Era como se uma energia emanasse de Jason, uma névoa azul fraca que pulsava ao seu redor, viva, densa, sufocante. Ele me observava, os olhos arregalados. Não era medo. Era
Antes que eu pudesse dizer mais, o som de passos anunciou a volta de Caleb e Bryan. Jason e eu trocamos um olhar rápido, e ambos fingimos que nada havia acontecido. Caleb entrou no carro, o olhar desconfiado. — O que estava acontecendo aqui? — perguntou, a voz cortante. Eu falei antes que Jason pudesse reagir, fingindo raiva: — Ele é um idiota! Me agrediu porque eu queria fazer xixi nos arbustos! Jason percebeu minha intenção e entrou na onda. — Ela sabe que não pode sair do carro. Se quiser, que faça nas calças. — Ele revirou os olhos com sarcasmo. Caleb riu. — Finalmente, Jason, você está agindo como homem! — Ele empurra com força o ombro de Jason, fazendo-o gemer de dor. — Gostaria de ter visto você bater nessa vagabunda! Bryan surge na janela do carro, seu rosto irritado. — Abre logo, idiota! — gritou furioso. Caleb apenas riu, travando a porta propositalmente. — Eu vou quebrar essa merda! Sabe que tenho força pra arrancar essa porta! Caleb revirou os olhos e
Jason me arrastava pelos corredores do castelo, sua mão firme segurando meu braço como se temesse que eu pudesse escapar a qualquer momento. A dor nos meus músculos e o som ecoante de nossos passos me deixavam tensa, mas o que mais me incomodava era a sensação de estar à mercê de Klaus novamente.— Jason, você sabe onde está minha irmã? — perguntei, tentando esconder o desespero na voz.Ele hesitou por um instante, mas finalmente respondeu, sem olhar para mim:— A última vez que vi Sarah, ela estava bem. Mas já faz alguns dias. Fui enviado em uma missão e não tive mais notícias.Apesar de tudo, senti um breve alívio. Se Jason não a havia visto, ao menos significava que Klaus ainda não tinha feito algo com ela. Meu maior temor era que ele tivesse cumprido a ameaça que pairava como uma espada sobre minha cabeça.— Se ele encostar um dedo nela… — murmurei, mais para mim mesma do que para Jason.Ele não respondeu. Continuamos caminhando por um trecho que eu não reconhecia. Era uma parte n
Caminhei até a cama imensa e sentei na beirada, deixando meus dedos deslizarem pelo tecido macio do dossel. Tudo ao meu redor gritava luxo e realeza, mas para mim, não passava de uma fachada. Uma ilusão cuidadosamente criada para me prender em um conforto opressivo.Meus pensamentos foram interrompidos pelo som suave de uma porta se abrindo. Virei-me rapidamente, surpresa ao ver uma jovem entrando. Ela parecia ter a minha idade, com cabelos castanhos ondulados que caíam sobre seus ombros e olhos castanhos que brilhavam de forma tímida. Ela parou na entrada, segurando o vestido simples que vestia com nervosismo.— Peço desculpas por entrar sem bater... — ela começou, a voz baixa e hesitante. — O senhor Jason disse que eu podia entrar assim.Observei-a por um momento, percebendo que ela não tinha a aparência de uma vampira. Parecia humana, tão humana quanto eu.— Está tudo bem — eu disse, tentando aliviar a tensão evidente em seus ombros.Ainda assim, ela permaneceu tensa, como se cada
Olhei-me no espelho, ajustando a barra do vestido gótico que Gwen havia escolhido para mim. O tecido preto de veludo caía elegantemente até o chão, com detalhes em renda nas mangas e no corpete, que deixava meus ombros expostos. O decote acentuava meus seios de uma forma que me incomodava um pouco, dando a ilusão de serem maiores do que realmente eram. Suspirei, puxando o tecido de leve, tentando me acostumar com a visão que o espelho refletia.Meu cabelo estava preso em um coque baixo, alguns fios soltos emolduravam meu rosto. As luvas de renda cobriam meus braços até o cotovelo, completando o visual de uma época que eu nunca imaginei viver, quanto mais encenar. Gwen se aproximou silenciosamente, segurando um frasco de perfume. — Um toque final, senhorita — ela disse suavemente, borrifando uma fragrância leve ao redor de mim. Fechei os olhos ao sentir o aroma familiar. Orquídea negra com toques sutis de baunilha. Meu coração apertou no peito. — Esse perfume... — murmurei, minha
O vento rugia como um aviso sombrio, lançando meu cabelo para trás enquanto eu corria por entre as árvores. A respiração vinha em arquejos curtos, queimando meus pulmões, e as sombras pareciam se mover, acompanhando meus passos. Fugir de criaturas havia se tornado parte de quem eu era agora. Mas, dessa vez, algo era diferente. Dessa vez, parecia que fugir não bastaria. A floresta, antes viva com os sons da natureza, mergulhara em um silêncio opressor. Cada folha parecia segurar seu fôlego. O ar estava carregado, pesado, quase impossível de respirar. Era como se até as árvores estivessem esperando, assistindo ao meu desespero. Parei de correr, minhas pernas tremendo. O chão parecia instável sob meus pés. O mundo ao redor girava em um turbilhão de medo e incerteza. Onde ele estava? Será que eu havia conseguido despistá-lo? — Afaste-se, besta! — gritei, a voz tremendo, mas firme. Eu precisava parecer forte, mesmo que estivesse apavorada. — Mesmo sem meus poderes, eu ainda posso des
Semanas antes — Venha viver comigo — digo a Ivy, enxugando suas lágrimas. — Não aguento mais vê-la triste e cansada toda vez que vem me visitar. Desde que deixei a cidade, refugiei-me na fronteira entre os países, num lugar afastado de tudo e de todos. Conseguir uma moradia aqui foi fácil; ninguém em sã consciência escolheria viver num lugar como este. O antigo dono desse casarão ficou incrédulo quando fiz uma oferta de compra. Não houve sequer negociação — ele aceitou na hora, por um valor absurdamente baixo. Após meu braço finalmente se recuperar, passei meses economizando, trabalhando em todo tipo de emprego para reunir o suficiente e me afastar da cidade e das lembranças dolorosas que ela guardava. Ivy, claro, continuou a me visitar, mesmo que isso significasse enfrentar três dias na estrada na moto do amigo dela, Logan. No começo, confesso que a ideia de vê-la ao lado de alguém como ele me incomodava. Mas com o tempo percebi que Logan apenas queria protegê-la. — Violet... as
O quarto estava mergulhado em um silêncio que parecia pesar tanto quanto o livro que eu segurava. A capa de couro preto, lisa e sem adornos, repousava fria contra minhas mãos. Ivy e Logan haviam recuperado este e outros volumes da antiga casa da minha família, resgatados de um cofre que por anos esteve fora do meu alcance. Agora, eu o tinha comigo, mas ao mesmo tempo, parecia que as respostas que buscava estavam tão distantes quanto sempre estiveram. Respirei fundo e abri o livro. O cheiro de papel antigo, mesclado ao couro envelhecido, trouxe uma estranha familiaridade, um eco de algo que nunca conheci de verdade. A caligrafia fluía em latim, um idioma que até pouco tempo eu seria incapaz de decifrar. Mas agora... As palavras não apenas faziam sentido — elas ressoavam em mim. Era como se cada frase despertasse memórias adormecidas, como se aquele conhecimento estivesse gravado em meu DNA. Li devagar, saboreando cada linha, cada conceito. A escrita abordava magia ancestral, feitiç