Visões ou realidade?

A luz da lua entrava pela janela, lançando sombras suaves pelo meu quarto. A madeira escura das prateleiras estava repleta de livros antigos de magia, muitos deles já com páginas desgastadas pelo tempo. Sentada na poltrona próxima à cama, eu passava os olhos pelas linhas de um grimório antigo. As palavras pareciam saltar da página, como se carregassem uma energia própria. Porém, mesmo tentando me concentrar, minha mente estava inquieta.

Havia uma sensação estranha no ar, algo que eu não conseguia explicar. Era como se um peso invisível pressionasse meus ombros, me deixando inquieta. Passei a mão pela testa, suspirando, e voltei a focar no livro.

De repente, tudo ao meu redor se desfez.

Era como se eu não estivesse mais no meu quarto. Meus olhos estavam abertos, mas não via mais as páginas do grimório. Em vez disso, uma floresta seca e desolada passava rapidamente diante de mim, como se eu estivesse correndo através dela.

Eu não conseguia controlar meus movimentos; era como se estivesse presa dentro de outra pessoa. Sentia o vento frio cortando meu rosto, o cheiro de folhas mortas e terra úmida invadindo minhas narinas. Meu coração estava disparado, não por causa da corrida, mas pelo medo avassalador que consumia meu corpo.

— O que está acontecendo? — Minha voz ecoou em minha mente, mas ninguém respondeu.

O medo não era meu, mas parecia me consumir de dentro para fora. Eu podia ouvir o som das folhas sendo esmagadas sob os pés — ou patas? — enquanto eu corria. O cheiro de perigo estava no ar.

E então, como se o fio que me conectava àquela visão tivesse sido cortado, tudo se apagou.

O grimório escorregou das minhas mãos, caindo no chão com um som surdo que me trouxe de volta à realidade. Pisquei algumas vezes, tentando ajustar meus olhos à luz do quarto. Meu coração ainda estava acelerado, e minhas mãos tremiam levemente.

"O que foi isso?" pensei, levando uma mão ao peito para tentar acalmar os batimentos.

Antes que pudesse organizar meus pensamentos, ouvi passos leves pelo corredor. A porta estava entreaberta, e logo Ivy apareceu, sua expressão carregada de preocupação.

— Violet, está tudo bem? — ela perguntou, inclinando a cabeça para me observar melhor.

Balancei a cabeça, tentando sorrir, mas meu rosto parecia preso em um estado de confusão.

— Estou... — pausei, procurando as palavras. — Estou bem, só... senti algo estranho.

Ivy arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços.

— Você não saiu desses livros o dia inteiro e, pelo que vi, nem comeu nada. Talvez seja só isso.

Ela tentou sorrir, mas eu podia ver a dúvida em seus olhos. Forcei um sorriso em resposta, tentando aliviar a tensão.

— Talvez você tenha razão. — Levantei-me, alisando a saia. — Vou preparar o jantar. Que tal?

Ivy sorriu de lado, animada.

— Só se eu puder ajudar.

(...)

Mais tarde, deitada na cama, a escuridão do quarto parecia maior do que de costume. As sombras que antes pareciam inofensivas agora pareciam se mover, como se dançassem à luz da lua. Por mais que eu tentasse, não conseguia dormir. Meus pensamentos estavam presos em Dylan.

As memórias dele me invadiam sem permissão, como fantasmas de um passado que eu ainda não havia superado. Seu sorriso, sua risada, a maneira como ele me fazia sentir protegida... E agora, ele não estava mais aqui.

Rolei na cama, soltando um suspiro frustrado.

"Eu não deveria pensar nele assim," pensei, mas era inútil.

De repente, um movimento perto da janela chamou minha atenção.

Sentei-me na cama, os olhos fixos na figura que estava ali. Um lobo negro, grande e imponente, com olhos cor de mel. Meu coração parou por um instante.

— Dylan...? — sussurrei, incapaz de acreditar no que via.

O lobo me olhou, e seus olhos pareciam carregar uma dor tão profunda que meu peito se apertou. Havia algo nele, uma conexão que eu não conseguia explicar, mas que parecia tão real quanto o ar que eu respirava.

Levantei-me lentamente, tentando não assustá-lo.

— Dylan, é você?

Ele não respondeu, mas seus olhos pareciam gritar algo que eu não podia compreender. E então, em um movimento súbito, ele se virou e correu em direção à floresta.

Sem pensar, pulei pela janela, sentindo o frio da noite envolver minha pele.

— Espere! — gritei, correndo atrás dele.

A floresta estava escura, os galhos das árvores formando silhuetas ameaçadoras sob a luz da lua. Eu chamava por ele, mas minha voz parecia ser engolida pelo vento.

"Foi real ou apenas mais uma visão?" pensei, desacelerando o passo.

Mas então o vi novamente. O lobo estava parado a alguns metros de mim, olhando fixamente em minha direção. Seus olhos brilhavam sob a luz da lua.

— Dylan! — chamei, mas ele se virou e começou a correr novamente.

Ele não corria tão rápido que eu não pudesse alcançá-lo. Era quase como se estivesse me guiando. Finalmente, ele parou diante de uma árvore gigantesca, com o tronco largo e retorcido.

Ofegante, parei ao seu lado, mas quando olhei novamente, ele não estava mais lá.

— Dylan? — Minha voz saiu como um sussurro.

Olhei ao redor, mas ele havia desaparecido. Foi então que notei algo estranho no chão, perto da árvore. Um pequeno monte de terra parecia fora do lugar, como se algo tivesse sido enterrado ali recentemente.

Ajoelhei-me e comecei a cavar com as mãos. Não sabia o que estava procurando, mas algo dentro de mim dizia que eu precisava continuar.

Minhas unhas arranhavam a terra dura até que, finalmente, senti algo frio e metálico. Uma grande caixa de ferro.

Meu coração disparou. O que era aquilo?

Antes que pudesse abrir a caixa, ouvi um som estranho. Passos. Risadas ecoaram pela floresta, trazendo uma onda de calafrios.

— Não... — sussurrei, meu corpo congelando no lugar. Eu conhecia aquelas risadas.

Levantando-me rapidamente, cobri a caixa com terra novamente, tentando escondê-la. Meu coração parecia querer sair pela garganta enquanto me escondia atrás da árvore.

— Não adianta se esconder, Violet. — A voz grave cortou o silêncio, e eu senti todo o sangue fugir do meu rosto.

Virei-me lentamente e lá estava ele. Caleb.

O ar parecia desaparecer dos meus pulmões. Ele estava ali, imponente, com aquele sorriso cruel que fazia cada célula do meu corpo gritar em alerta.

Meu coração disparava, mas minha mente sabia que eu não podia demonstrar medo.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo