Semanas antes
— Venha viver comigo — digo a Ivy, enxugando suas lágrimas. — Não aguento mais vê-la triste e cansada toda vez que vem me visitar. Desde que deixei a cidade, refugiei-me na fronteira entre os países, num lugar afastado de tudo e de todos. Conseguir uma moradia aqui foi fácil; ninguém em sã consciência escolheria viver num lugar como este. O antigo dono desse casarão ficou incrédulo quando fiz uma oferta de compra. Não houve sequer negociação — ele aceitou na hora, por um valor absurdamente baixo. Após meu braço finalmente se recuperar, passei meses economizando, trabalhando em todo tipo de emprego para reunir o suficiente e me afastar da cidade e das lembranças dolorosas que ela guardava. Ivy, claro, continuou a me visitar, mesmo que isso significasse enfrentar três dias na estrada na moto do amigo dela, Logan. No começo, confesso que a ideia de vê-la ao lado de alguém como ele me incomodava. Mas com o tempo percebi que Logan apenas queria protegê-la. — Violet... as coisas não são tão simples assim — ela suspira e baixa o olhar, voltando a se sentar no banco da varanda. — Tenho responsabilidades agora. A família de Logan me acolheu na alcateia, e eles me tratam como parte da família. Isso significa que agora faço parte da família de um dos Reis Alfas... é como ser uma princesa, com uma responsabilidade enorme nas costas. Só então me lembrei. Logan era filho de um Rei lupino. Uma das princesas que participou do ritual naquela noite era sua irmã, e Logan estava lá para protegê-la. O ritual... Faz pouco tempo que minha memória estava confusa, e eu culpava Dylan por um abandono que nunca aconteceu... Quando recuperei minhas lembranças, o impacto foi devastador. Eu me senti a pior das criaturas por ter julgado Dylan, e a realidade desabou sobre mim... Dylan estava morto, e eu jamais voltaria a vê-lo. Ivy respirou fundo antes de falar: — Violet... Eu vim aqui para lhe entregar uma coisa. Ela se inclinou, abrindo a mochila com cuidado, e retirou um pacote envolto em um tecido pesado. Estendeu-o em minha direção, e eu o aceitei, sentindo o peso estranho em minhas mãos. O tecido estava frio ao toque, e uma parte de mim já sabia o que encontraria ali. Minhas mãos hesitaram por um instante antes de abrir o embrulho. Quando finalmente o fiz, o mundo pareceu parar por um segundo. Ali estava ele: o Sanguináculum. O livro ainda exalava a aura sombria e ancestral que eu lembrava, pulsando com uma energia quase imperceptível. Toquei sua capa com os dedos trêmulos, sentindo uma conexão familiar, embora distante. Uma vez, ele fora a chave para todo um universo de poder que percorria minhas veias. Agora, essa lembrança era uma sombra amarga, e eu, uma humana fraca, abandonada pela magia. Meus olhos se encheram de lágrimas, e por um instante, senti a dor de tudo que havia perdido. Segurei o livro junto ao peito, como se ele pudesse me devolver o que fui um dia. — Por favor, pare com o drama, Violet. — A voz de Logan quebrou o silêncio com uma rudeza desconcertante. Ele estava ali, observando tudo de braços cruzados, com uma expressão aborrecida. Ao ver minhas lágrimas, revirou os olhos, como se tudo aquilo não passasse de um espetáculo sem sentido. Ivy e eu o olhamos, chocadas. Ele continuou, implacável. — Sabe, existem muitas criaturas sem poderes naturais que ainda assim aprenderam a manipular a magia. E para isso, passam anos, décadas até, estudando com afinco. — Ele me olhou de cima a baixo, os olhos brilhando com uma impaciência que eu não entendia. — A verdade, Violet, é que você não é especial. Nunca foi. A magia simplesmente aconteceu de cair no seu colo, sem nenhum esforço. Você nunca teve que lutar para dominá-la, para conquistá-la. Agora que a perdeu, age como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Pois saiba que você foi uma exceção – Ele analisa meu rosto com desdém. – Para quase todos os outros, a magia exige disciplina e sacrifício. Eu estava dividida entre a surpresa e uma raiva surda que fervilhava em meu peito. Quem era ele para falar assim comigo? Aquele desprezo arrogante, a insinuação de que eu nunca entendera o que tinha... — Está dizendo que eu poderia... recuperá-la? — Minha voz saiu mais contida do que eu pretendia, traindo minha expectativa. Logan revirou os olhos outra vez, como se a pergunta fosse ridícula. — Obviamente. Nada lhe impede de estudar e trabalhar para isso — ele disse, com um tom de impaciência. — Mas precisará de algo mais do que nostalgia e lágrimas. Senti o peso de suas palavras me atingir, uma verdade incômoda se insinuando. Ele tinha razão. Até então, a magia fora minha por capricho do destino. Mas e se fosse possível reivindicá-la de volta, por mérito e dedicação? Fitei o Sanguináculum em minhas mãos. Talvez, ao contrário do que sempre pensei, ele não representasse um passado perdido, mas uma porta que eu ainda poderia atravessar. Suspirei, sentindo o peso de tudo me esmagar. — Não sei se sou capaz de fazer alguma coisa. — Minha voz soou fraca, quase como se pertencesse a outra pessoa. — Sinto como se estivesse paralisada, presa em um vazio. Nem sequer consigo proteger a alcateia de toda a destruição da guerra causada por Klaus. Sou inútil assim. Ivy segurou minhas mãos, seu toque quente tentando romper o gelo que parecia se formar dentro de mim. — Violet, você precisa se reerguer. Sem você, tudo tem sido tão difícil. — Seus olhos brilharam com uma mistura de esperança e desespero. — Sua magia pode salvar todos nós. Olhei para ela, mas sua voz parecia distante. Na minha mente, o rosto de Dylan se formava com uma clareza dolorosa, e meu coração se apertou. Ele tinha sido o centro de tudo, a razão de muitas das minhas escolhas. Perder Dylan havia deixado um vazio impossível de preencher. Suspirei novamente e me sentei no sofá, sentindo o peso de uma vida que parecia distante e inatingível. — Eu só queria... — minha voz falhou, e fechei os olhos por um momento, tentando conter as lágrimas que ameaçavam vir. — Só queria que as coisas voltassem a ser como antes. Que o Alfa estivesse vivo. O som de Logan suspirando alto me fez abrir os olhos. Ele cruzou os braços e nos observava, a impaciência marcando suas feições. Ivy, notando algo, virou-se para ele. — Você sabe de alguma coisa, Logan — disse ela, com firmeza. Ele hesitou, o maxilar se contraindo. — Não sei se devo dizer. É arriscado... e nem todo mundo é capaz. Meu coração acelerou, um misto de esperança e desespero me consumindo. — O que é? — perguntei, tentando conter o tremor na minha voz. — Logan, você precisa me dizer agora. Ele me lançou um olhar sério, sua expressão endurecida por algo que parecia mais do que relutância. — Existe um jeito... — ele começou, lentamente, como se cada palavra fosse uma decisão pesada. — Um jeito de fazer as coisas voltarem a ser como antes. Pelo menos, para Dylan. O mundo parou ao meu redor. — Você está dizendo... — balbuciei, quase sem voz. — Que existe uma maneira de trazer Dylan de volta? Logan passou a mão pelos cabelos, frustrado, e suspirou profundamente. — Vou me arrepender de dizer isso, mas... sim. Existe. Há bruxas capazes de voltar no tempo, ou até mesmo de trazer criaturas de volta à vida. Em teoria, é possível. Mas, até hoje, ninguém conseguiu fazer algo assim. Fiquei em silêncio, a mente girando com as possibilidades. Poderia mesmo ser verdade? Um fio de esperança começou a se formar, mas ele estava cercado por medo e incerteza. — Se existe essa possibilidade — disse Ivy, quebrando o silêncio com sua determinação —, então ela precisa ser explorada. Logan parecia mais hesitante agora, seu tom mais grave. — Não é tão simples assim. — Ele cruzou os braços, os olhos fixos em mim. — Quando alguém morre, a alma vai para uma área muito diferente da nossa dimensão. Trazer uma alma de lá é incrivelmente difícil. E, mesmo que você consiga, há riscos... enormes. — Que tipo de riscos? — perguntei, minha voz mal saindo. Ele respirou fundo antes de continuar. — A alma pode se corromper durante o processo. Especialmente uma alma lupina, que carrega sua própria força e instinto. Dylan... pode voltar como uma versão que não é mais ele. Sem bondade. Talvez até... maligna. Aquelas palavras eram um golpe cruel. Mas, ao mesmo tempo, elas traziam uma ideia impossível de ignorar. Dylan, de volta. Mesmo com o risco... Levantei-me, escondendo as emoções que fervilhavam dentro de mim, e olhei para Logan e Ivy com um sorriso forçado. — Obrigada, Logan. De verdade. — Minha voz era suave, mas distante. — Vou fazer um café para nós. Sem esperar resposta, fui para a cozinha. Meu coração estava acelerado, dividido entre esperança e medo de falhar. Eu realmente poderia concertar as coisas? Eu realmente poderia ter Dylan novamente? Seus olhos vem em minha mente, aqueles olhos claros e sinceros que tanto me faziam falta. Sabia que nosso tempo juntos foi breve, apenas poucos momentos românticos... Mas ainda assim, eu sentia falta de sua presença cada segundo do meu dia e com todo o meu ser. Entrei na cozinha sentindo meu coração se apertar com as lembranças que invadiam minha mente. Suspirei pegando a chaleira e verificando se a água já estava quente. Ivy entrou na cozinha furtivamente, seus passos leves contrastando com a tensão que pairava no ar. — Por que você pareceu tão calma lá fora? — perguntou, inclinando-se contra a bancada enquanto me observava. Peguei o pote de pó de café e comecei a preparar a bebida, sem olhar para ela. — Eu só queria um café, Ivy — respondi, tentando manter a voz firme. Mas Ivy não se deixou enganar. — Você está aprontando alguma coisa. — Sua voz tinha uma mistura de preocupação e determinação. — Se acha que vai fazer algo arriscado sozinha, saiba que não vou deixar. Parei de mexer o pó e me virei para encará-la, segurando o pote em uma das mãos. Meu olhar encontrou o dela, e as palavras saíram antes que eu pudesse pensar. — Você não pode mandar em mim, Ivy. Eu sou uma adulta agora. E você? Você é só uma adolescente que acha que entende tudo. O choque estampou-se no rosto dela. Ela piscou, surpresa, e depois riu, mas era uma risada amarga, incrédula. — Então é assim agora? — perguntou, com a voz tingida de ironia. — Você vai me tratar como lixo, igual todos me tratavam na alcateia de Dylan? Senti um peso no peito, o remorso me atingindo como um golpe, mas fiquei em silêncio. Ivy deu um passo à frente, sua voz falhando enquanto segurava o choro. — Você foi a primeira pessoa naquela alcateia que me tratou como alguém digno, Violet. A primeira que me viu de verdade. — Sua garganta se apertou, mas ela continuou. — Eu pensei que você fosse minha amiga... minha melhor amiga. Depois que Alaric desapareceu, você foi tudo que me restou. Toda a família que eu tinha. E agora você está me excluindo de novo, como todo mundo fez. Suas palavras cortaram fundo, mas ainda assim eu não consegui responder. Tudo o que podia fazer era desviar o olhar, tentando ignorar o peso crescente da culpa. Suspirei, finalmente quebrando o silêncio: — Não quero que você se envolva nisso. A magia é perigosa, Ivy. E nem sempre eu consigo controlá-la. Ela riu de novo, um som descrente e quase cruel. — Passei por coisas muito piores ao seu lado, Violet. A magia nunca foi um problema antes. Por que seria agora? O que mudou? Virei para ela, sentindo uma onda de emoção me consumir. — Eu mudei! — gritei, minha voz ecoando na cozinha. — O problema é que eu não sou mais a mesma! Não sou mais uma criatura com a alma do mago supremo ou com a energia mágica ancestral da família da minha mãe! Agora eu sou fraca, Ivy! Fraca! Não posso nem me proteger, como vou conseguir proteger você? Meu peito subia e descia enquanto tentava recuperar o fôlego. Ivy ficou quieta, seus olhos avaliando cada detalhe do meu rosto. Quando finalmente falou, sua voz era baixa, quase um sussurro: — Talvez você devesse confiar mais em si mesma. E nas pessoas ao seu redor. Eu não disse nada. Não sabia o que dizer. Ivy suspirou, parecendo cansada. — Vou para o quarto de hóspedes descansar. A viagem de volta à alcateia de Logan é longa. Ela se virou para sair, mas antes de cruzar a porta, murmurei: — Vocês não precisam ir embora agora. Ivy parou e olhou por cima do ombro, seus olhos brilhando com algo que eu não conseguia identificar. — Não vou ficar na casa de alguém que não me considera família. — Sua voz era firme, mas doía. — E que não confia em mim o suficiente para ajudar. Ela saiu da cozinha, deixando-me sozinha. Fiquei ali, em silêncio, sentindo o peso esmagador da culpa crescer dentro de mim.O quarto estava mergulhado em um silêncio que parecia pesar tanto quanto o livro que eu segurava. A capa de couro preto, lisa e sem adornos, repousava fria contra minhas mãos. Ivy e Logan haviam recuperado este e outros volumes da antiga casa da minha família, resgatados de um cofre que por anos esteve fora do meu alcance. Agora, eu o tinha comigo, mas ao mesmo tempo, parecia que as respostas que buscava estavam tão distantes quanto sempre estiveram. Respirei fundo e abri o livro. O cheiro de papel antigo, mesclado ao couro envelhecido, trouxe uma estranha familiaridade, um eco de algo que nunca conheci de verdade. A caligrafia fluía em latim, um idioma que até pouco tempo eu seria incapaz de decifrar. Mas agora... As palavras não apenas faziam sentido — elas ressoavam em mim. Era como se cada frase despertasse memórias adormecidas, como se aquele conhecimento estivesse gravado em meu DNA. Li devagar, saboreando cada linha, cada conceito. A escrita abordava magia ancestral, feitiç
O jardim estava imerso em um silêncio quase confortante enquanto eu e Ivy cuidávamos das flores. As gotas de água brilhavam ao cair das folhas como pequenas jóias líquidas, e o aroma fresco da terra molhada preenchia o ar. Mesmo assim, a tensão pairava entre nós. Ivy estava visivelmente distraída, seu olhar perdido enquanto regava mecanicamente os canteiros. Eu tentei puxar assunto algumas vezes, mas nada parecia quebrar o muro invisível que ela havia erguido desde a nossa conversa mais cedo. A única coisa que interrompeu o incômodo silêncio foi a voz grave de Logan, surgindo atrás de nós como um trovão abafado. — Está na hora de irmos. — Ele falou como quem não admite contestação. Virei-me, encontrando seu olhar penetrante. Ele estava parado ali, com as mãos nos bolsos, como se tivesse todo o tempo do mundo. Ivy olhou para mim, indecisa, mordendo o lábio inferior, como se esperasse que eu dissesse algo. E eu disse. — Acho melhor Ivy ficar aqui. Logan soltou uma risada baixa
A luz da lua entrava pela janela, lançando sombras suaves pelo meu quarto. A madeira escura das prateleiras estava repleta de livros antigos de magia, muitos deles já com páginas desgastadas pelo tempo. Sentada na poltrona próxima à cama, eu passava os olhos pelas linhas de um grimório antigo. As palavras pareciam saltar da página, como se carregassem uma energia própria. Porém, mesmo tentando me concentrar, minha mente estava inquieta.Havia uma sensação estranha no ar, algo que eu não conseguia explicar. Era como se um peso invisível pressionasse meus ombros, me deixando inquieta. Passei a mão pela testa, suspirando, e voltei a focar no livro.De repente, tudo ao meu redor se desfez.Era como se eu não estivesse mais no meu quarto. Meus olhos estavam abertos, mas não via mais as páginas do grimório. Em vez disso, uma floresta seca e desolada passava rapidamente diante de mim, como se eu estivesse correndo através dela.Eu não conseguia controlar meus movimentos; era como se estivess
Eu podia sentir meu coração pulsando em meus ouvidos, como se fosse explodir a qualquer momento. O ar ao meu redor parecia rarefeito, e minha mente lutava para processar o que estava acontecendo. Caleb estava ali, a poucos metros de mim, sua silhueta sombria iluminada pela fraca luz da lua que penetrava a copa das árvores.Ele deu um passo à frente, rápido como uma sombra que desliza no escuro. Antes que eu pudesse reagir, senti sua mão fria envolver meu pescoço. Ele me levantou do chão com uma facilidade assustadora, meus pés suspensos, chutando o vazio em uma tentativa desesperada de me soltar.O mundo parecia girar. Minha garganta ardia enquanto tentava puxar o ar que não vinha.— Ah, Violet... — Caleb disse, sua voz gotejando sarcasmo e prazer. — Você realmente acha que pode escapar de tudo isso? É tão divertido ver você assim, tão... frágil.Ele riu, uma risada baixa que fez cada célula do meu corpo gritar em alerta. Eu sentia meu rosto queimar pela falta de oxigênio.— Sabe, eu
Capítulo 6Eu mantinha os olhos fixos em Ivy enquanto o carro deslizava pela estrada deserta, iluminada apenas pelos faróis que cortavam a escuridão. Ela estava ao meu lado, encostada no vidro da janela, mas algo estava errado. Sua respiração era lenta, irregular, e seu peito mal se movia.— O que fizeram com ela? — perguntei, minha voz soando mais firme do que eu me sentia por dentro. Meu coração batia pesado no peito, e a preocupação latejava na minha mente como um tambor.Caleb, que dirigia com uma expressão entediada, riu baixo e revirou os olhos.— Ela está dormindo, Violet. Só isso. Jason a colocou sob hipnose para que não criasse problemas. — Ele lançou um olhar rápido e maldoso para o loiro sentado no banco do carona. — Nosso bom e velho Jason sempre arruma um jeito... delicado de lidar com as coisas.Jason virou-se ligeiramente, os olhos azuis parecendo hesitantes antes de se fixarem em mim. Havia algo em sua expressão que me fez pausar. Vergonha, talvez. Ou arrependimento.—
Jason suspirou ao ver Caleb e Bryan desaparecerem na escuridão da floresta. O som do vento contra o carro era a única coisa que preenchia o silêncio sufocante. Ele estava nervoso; isso era óbvio. Sua mão segurava o painel com força, e eu percebia o tremor nos seus dedos, como se ele estivesse se segurando para não explodir. Minha cabeça latejou de novo. Aquela sensação estranha voltou com força total, como uma onda prestes a me engolir. O formigamento começou atrás dos meus olhos e se espalhou pela minha testa, descendo para o nariz. Eu gemi baixo e, quando toquei o rosto, lá estava: sangue quente escorrendo de novo. — O que... — tentei falar, mas minha voz falhou. O mundo ao meu redor girou. Os assentos do carro pareciam se distorcer, como se fossem feitos de algo líquido e instável. Por um instante, eu vi algo. Era como se uma energia emanasse de Jason, uma névoa azul fraca que pulsava ao seu redor, viva, densa, sufocante. Ele me observava, os olhos arregalados. Não era medo. Era
Antes que eu pudesse dizer mais, o som de passos anunciou a volta de Caleb e Bryan. Jason e eu trocamos um olhar rápido, e ambos fingimos que nada havia acontecido. Caleb entrou no carro, o olhar desconfiado. — O que estava acontecendo aqui? — perguntou, a voz cortante. Eu falei antes que Jason pudesse reagir, fingindo raiva: — Ele é um idiota! Me agrediu porque eu queria fazer xixi nos arbustos! Jason percebeu minha intenção e entrou na onda. — Ela sabe que não pode sair do carro. Se quiser, que faça nas calças. — Ele revirou os olhos com sarcasmo. Caleb riu. — Finalmente, Jason, você está agindo como homem! — Ele empurra com força o ombro de Jason, fazendo-o gemer de dor. — Gostaria de ter visto você bater nessa vagabunda! Bryan surge na janela do carro, seu rosto irritado. — Abre logo, idiota! — gritou furioso. Caleb apenas riu, travando a porta propositalmente. — Eu vou quebrar essa merda! Sabe que tenho força pra arrancar essa porta! Caleb revirou os olhos e
Jason me arrastava pelos corredores do castelo, sua mão firme segurando meu braço como se temesse que eu pudesse escapar a qualquer momento. A dor nos meus músculos e o som ecoante de nossos passos me deixavam tensa, mas o que mais me incomodava era a sensação de estar à mercê de Klaus novamente.— Jason, você sabe onde está minha irmã? — perguntei, tentando esconder o desespero na voz.Ele hesitou por um instante, mas finalmente respondeu, sem olhar para mim:— A última vez que vi Sarah, ela estava bem. Mas já faz alguns dias. Fui enviado em uma missão e não tive mais notícias.Apesar de tudo, senti um breve alívio. Se Jason não a havia visto, ao menos significava que Klaus ainda não tinha feito algo com ela. Meu maior temor era que ele tivesse cumprido a ameaça que pairava como uma espada sobre minha cabeça.— Se ele encostar um dedo nela… — murmurei, mais para mim mesma do que para Jason.Ele não respondeu. Continuamos caminhando por um trecho que eu não reconhecia. Era uma parte n