Capítulo 2
Alana ouviu a conversa do lado de fora do escritório e abaixou os olhos. Durante todos esses anos como parte da família Arruda, ela sempre se esforçou ao máximo para cuidar de Luana, sua sogra, e de Isadora, a irmã caçula de Diego.

Quando Isadora sofreu aquele acidente de carro e precisou passar por uma cirurgia delicada, foi Alana quem ficou noites inteiras no hospital, cuidando dela. Para Luana, ela sempre teve paciência e respeito, tratando-a com o máximo de atenção. Mas, no fim das contas, tudo isso não fez a menor diferença. Não importava o quanto se dedicasse, o desprezo dos Arruda por ela nunca mudou.

Pouco depois, o celular tocou. Era Luiza Duarte, a voz dela soava um pouco cansada:

— Alana, você realmente não vai? Eu me lembro que você adorava caçar ao ar livre. Sem falar que é sempre uma boa desculpa para dirigir como louca.

Alana ficou um instante em silêncio, surpresa. Algumas lembranças vieram à tona, como se alguém tivesse puxado uma corda esquecida em sua mente.

Antes de se casar com Diego, ela realmente amava caça, carros velozes e bons vinhos. Mas tudo isso mudou quando ela o conheceu na casa da família Bispo. Foi amor à primeira vista.

Depois de se apaixonar por ele, começou a ouvir rumores: Diego gostava de mulheres recatadas, elegantes e delicadas, típicas damas da alta sociedade. Então, pouco a pouco, Alana foi abandonando tudo que fazia parte de sua essência.

Três anos. Três longos anos, e ela quase já não se lembrava mais de quem era antes daquele casamento.

Do outro lado da linha, Luiza continuava tentando convencê-la:

— Alana, se você não quer que Diego saiba, tudo bem, você pode esconder dele. Mas, sério, parar de fazer tudo que gosta só por causa de um homem? Ainda mais o Diego que...

— Nós nos divorciamos. — Respondeu Alana.

Alana interrompeu Luiza com uma voz calma, quase fria.

O silêncio do outro lado foi curto, mas intenso. Luiza parecia estar processando a informação antes de soltar um suspiro audível:

— Você finalmente criou juízo? Ou foi ele que enlouqueceu?

Alana riu baixinho:

— Foi ele quem pediu. E eu concordei.

Luiza ficou boquiaberta do outro lado da linha. Por um momento, não conseguiu evitar pensar em como Diego era cego.

Alana era o tipo de mulher que qualquer homem consideraria um golpe de sorte ter ao lado. E agora o idiota a estava deixando ir?

— Parabéns, querida. — A voz de Luiza ficou mais animada, quase brincalhona. — Vou passar aí para te buscar em um instante. Podemos comemorar sua liberdade com estilo.

Alana riu de verdade dessa vez e desligou o telefone. Seus olhos se voltaram para o quarto principal, onde não havia um único sinal de que ali vivia um casal. Durante os três anos de casamento, aquele quarto era habitado por um homem solteiro e uma mulher solitária. Era mais do que hora de colocar um fim nisso.

Ela caminhou até o quarto de hóspedes para reunir suas coisas. Não havia muito para levar. Desde que se casou, Alana nunca teve tempo ou vontade de se preocupar com roupas ou vaidades. Em pouco tempo, o quarto estava arrumado.

Antes de sair, ela tirou a aliança do dedo e a colocou sobre o criado-mudo. Seu olhar era difícil de decifrar, uma mistura de alívio e tristeza. Puxando a mala, ela caminhou em direção à sala.

Ao passar pela sala de estar, hesitou por um instante. Pensou em informar Luana que estava indo embora. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Isadora falou em um tom carregado de sarcasmo:

— Finalmente alguém tomou vergonha na cara e resolveu ir embora. Passou esses anos todos grudada na nossa família, fingindo ser alguém importante. No fundo, você só estava aqui por dinheiro. Uma coitada sem graça, uma patética...

Alana parou abruptamente. Sem pensar duas vezes, pegou o copo de água que estava sobre a mesa e o jogou diretamente no rosto de Isadora.

A água gelada escorreu, encharcando o cabelo e as roupas dela. Isadora ficou furiosa, gritando escandalosamente:

— Você está louca, Alana? Como ousa me jogar água assim?

Alana, com a calma de quem já esperava por aquilo, pegou um lenço e secou as gotas que haviam respingado em seus próprios dedos. Então, olhou para Isadora e respondeu, com uma voz tranquila, mas carregada de ironia:

— Até o mais patético dos patinhos feios tem bico para se defender.

Isadora ficou boquiaberta, sem acreditar no que acabara de ouvir. Aquela mulher, que por três anos ela humilhou e desprezou, agora estava enfrentando-a de cabeça erguida.

Alana percebeu o choque estampado no rosto dela. Durante todo o casamento, não importava o quanto Luana e Isadora fossem cruéis, ela sempre manteve a compostura. Fez tudo o que podia para agradá-las, sem nunca reclamar.

Ela era a nora e a cunhada perfeita, e sempre gentil, sempre submissa. Aceitava em silêncio as críticas, os insultos e as humilhações. E, com o passar do tempo, elas esqueceram que, antes de ser a Sra. Arruda, Alana era uma mulher que já havia enfrentado o mundo de cabeça erguida, com risadas altas, brigas inesperadas e uma liberdade que não pedia permissão a ninguém.

Agora, depois de três anos de submissão, ela estava cansada. Não precisava mais suportar nada. Um sorriso leve apareceu em seus lábios.
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