Capítulo 6
Dario colocou a xícara de café na mesa com força, o olhar distante e uma ponta de tristeza na voz. Sua expressão era sombria enquanto falava:

— Ela se casou com você, e sua mãe sempre foi fria e dura com ela. Sua mãe ficou doente, e quem foi que chamou os médicos todas as vezes? O que Isadora gosta, o que ela deseja, quem é que compra para ela? Todas as vezes que você chegou tarde em casa, quem foi que ficou te esperando com a comida pronta? Aquele ano, quando você teve gastrite por causa da Telma, quem foi que se machucou enquanto cozinhava para você? Foi a Alana.

Dario suspirou profundamente, carregando no tom uma mistura de decepção e pesar:

— Quando o pai dela morreu, ela foi morar de favor com a família Bispo, mas nunca teve que fazer nada disso. Diego, a Alana fez tudo isso por você. E só porque a Telma te deu uma sopa, você já acha que ela é especial?

Diego ouviu tudo em silêncio, os punhos cerrados com força. Em seus olhos, havia uma tempestade prestes a desabar, como tinta negra se espalhando por um papel branco.

Enquanto isso, Alana não fazia ideia do que Dario tinha dito. Naquela noite, ela conseguiu algo raro: uma boa noite de sono.

Na manhã seguinte, às oito e meia, Alana ligou para Diego para discutir a questão do registro civil:

— Sr. Diego, se for possível, poderia vir ao cartório às nove? Estou te esperando na entrada.

Do outro lado da linha, Diego segurava o celular com desdém. Sua resposta veio fria e cortante:

— Tenho uma reunião daqui a pouco. Não vai dar. Vamos deixar isso para outro dia.

E antes que Alana pudesse dizer mais alguma coisa, ele desligou.

Por um momento, Alana ficou atordoada. Se não estava enganada, ela tinha lembrado Diego sobre isso no dia anterior. Mas, considerando o quanto ele parecia ocupado, decidiu não insistir. “Que homem importante...”, pensou, enquanto resolvia esperar mais alguns dias até que ele tivesse tempo.

No caminho de volta, lembrou-se do que Luiza tinha mencionado sobre o Professor Igor. Resolveu telefonar para ele e planejar uma visita.

Quando chegou à casa da família Castro, foi levada por um dos empregados até o escritório. No entanto, antes mesmo de entrar, ouviu a voz do Igor:

— Sobre a sua irmã, infelizmente não posso ajudar mais. A terapia psicológica exige continuidade, e meu estado de saúde atual pode acabar prejudicando o processo.

Houve uma pausa antes de outra voz, grave e calma, preencher o ambiente:

— Sua saúde é o mais importante. Se o senhor conhecer alguém qualificado, peço que me indique.

Igor assentiu levemente, mas nesse momento o empregado bateu à porta e a abriu:

— Senhor, a Srta. Alana chegou.

O rosto do Igor se iluminou de alegria:

— Alana! Entre, entre!

Ao dar o primeiro passo na sala, Alana finalmente viu o homem que estava conversando com Igor. Ele tinha um rosto marcante: uma beleza equilibrada entre sete partes de elegância e três de serenidade. Era impossível ignorá-lo.

Suas feições eram profundamente esculpidas, os traços tão precisos quanto se fossem obra de um artista. Seus olhos, escuros e misteriosos, pareciam esconder segredos, e, embora emanassem uma frieza distante, havia algo nele que fascina. Encostado à sombra de uma estante, ele parecia tão perigoso quanto encantador como uma obra de arte que provoca tanto temor quanto admiração.

A presença de Alana não o abalou. Ele simplesmente se despediu do Igor com a mesma calma de antes:

— Voltarei outro dia para continuar nossa conversa.

O coração de Alana deu um leve salto. Apesar disso, ela já tinha uma ideia de quem ele era. Suas suspeitas foram confirmadas quando ouviu o comentário pensativo de Igor:

— A família Coelho não tem tido dias fáceis... Se essa menina continuar assim, temo pelo pior.

Era mesmo ele: o famoso Sr. Murilo.

A família Coelho era uma das maiores potências imobiliárias de Cidade Huambo, e, nos últimos anos, seu crescimento parecia imparável. Tudo isso graças ao presidente do Grupo Coelho, Murilo.

Além disso, havia as histórias. Diziam que Murilo era tão bonito quanto implacável nos negócios. Um homem reservado, quase enigmático, cujas aparições públicas eram raras, mas sempre carregavam um ar de mistério. Não era de se estranhar que muitos desejassem vê-lo de perto.

Alana, por outro lado, jamais imaginou que o encontraria ali, na casa de seu antigo professor. De repente, lembrou-se do que Luiza havia mencionado sobre a caçada do dia seguinte. Murilo estaria presente. A curiosidade de Alana cresceu. Vendo-o ali, não parecia o tipo de homem que gostava desse tipo de evento.

Ao ouvir sobre o divórcio de Alana, o Igor ficou tomado por uma onda de emoções.

Nos tempos da universidade, Alana era sua aluna mais brilhante, sua maior fonte de orgulho. Igor se lembrava nitidamente de como Alana se destacava no curso de psicologia, com um talento natural que poucos possuíam. Quando soube que ela havia abandonado a carreira para se casar tão jovem, sentiu uma profunda frustração, quase como se o próprio esforço dele, como professor, tivesse sido em vão.

Agora, vendo-a novamente, divorciada, mas ainda firme, sem sinais de abatimento ou arrependimento, Igor sentia um alívio sincero. Era como se visse uma nova oportunidade para Alana, algo que o deixava verdadeiramente satisfeito.

— Naquela época, você era a melhor aluna do curso de psicologia. Eu tinha certeza de que faria grandes coisas na área, se não tivesse parado. — Igor hesitou por um momento, avaliando-a com o olhar antes de continuar. — Agora que tem mais tempo para si, já pensou em retomar a carreira? Você ainda tem tudo para construir algo extraordinário nesse campo.
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