Embora Roberto trabalhasse há anos para Murilo, sua posição como chef pessoal e o mistério que cercava sua identidade faziam com que Diego e os outros nunca tivessem ouvido falar dele.No entanto, Roberto parecia estar perfeitamente à vontade. Depois de cumprimentar Alana e Luiza com intimidade, lançou um olhar para o grupo e, com um sorriso descontraído, sugeriu:— Está esfriando um pouco. Que tal eu levar as senhoritas para casa?Luiza imediatamente se animou. Para ela, o inimigo do inimigo era sempre um aliado. Qualquer coisa que pudesse irritar Diego e Telma já era motivo suficiente para aceitar. Seus olhos brilharam, e ela respondeu com uma voz afetuosa e ligeiramente exagerada:— Ah, muito obrigada! Que gentileza a sua.Alana não conseguiu segurar um sorriso, mas, no fundo, sabia que Roberto não era alguém tão atencioso ou meticuloso. Era evidente que quem o havia enviado fora Murilo. Sem dizer nada, seguiu Luiza até o carro. Antes de entrar, lançou um último olhar para a mansão
A casa em questão era uma promessa de Diego para Alana. Os trâmites para a transferência de propriedade já estavam em andamento. Mesmo que Diego quisesse hospedar seus futuros sogros ali, deveria, no mínimo, ter pedido a opinião da Alana. Além disso, aquela casa era o único lugar onde Alana e Diego haviam morado juntos antes do casamento.No fundo, era óbvio: Diego simplesmente não considerava Alana.Alana não se importava se Diego a amava ou não. Mas, no mínimo, ele deveria tratá-la como uma pessoa. E não como... um animal de estimação.Enquanto o grupo conversava animadamente sobre os preparativos para o casamento, Luana, com o canto dos olhos, percebeu a presença de Alana. Seu rosto imediatamente se fechou. Os demais também olharam para ela, surpresos, com expressões que variavam entre desconforto e desdém.Isadora foi a primeira a se manifestar, com um tom ácido:— Que azar! O que essa mulher está fazendo aqui?Telma, tentando disfarçar o constrangimento, deu alguns passos à frente
Telma tentou acalmar Luana, assumindo uma postura conciliadora:— Mãe, a Srta. Alana, apesar de tudo, foi esposa do Diego. Não seria muito apropriado fazer isso. Além do mais, temos quartos sobrando. Se não houver outra opção, por que não deixamos que ela fique aqui por enquanto?O tom de Telma era gentil, mas sua intenção, claramente, era desarmar a situação e manter as aparências.O segurança, por outro lado, olhou para Alana, avaliando suas roupas simples com um toque de desprezo. Para ele, era óbvio: uma ex-esposa tentando se agarrar à riqueza de uma família poderosa.Alana, no entanto, ignorou os olhares e os comentários. Com firmeza, recusou:— Não precisa.Ela pegou sua mala e se afastou. Porém, o céu escureceu abruptamente, e logo uma chuva torrencial começou a cair. Parecia que até o clima estava conspirando contra ela naquele dia.Alana olhou para o celular, que marcava apenas 2% de bateria. Suspirou e balançou a cabeça. Ao seu redor, havia apenas árvores e nenhuma cobertura
Murilo ficou em silêncio por um longo tempo. Alana já achava que ele não responderia, quando finalmente ouviu a voz dele:— É uma amiga.O tom dele tinha algo de estranho. Alana, sem intenção de se aprofundar na história de outra pessoa, rapidamente mudou o assunto:— Sr. Murilo, com licença, posso perguntar quais são os sintomas específicos da sua irmã?— Ela não pode ver sangue, às vezes sofre de amnésia, e tem reações como náuseas e gritos ao entrar em contato com homens desconhecidos. Em certas situações, ela não consegue controlar o medo e começa a gritar.A postura de Murilo era indiferente, quase fria.Alana ouviu atentamente, refletindo sobre o que ele havia dito. Esses sintomas pareciam respostas extremas a algum tipo de trauma. Talvez houvesse algo na memória de Ayla que a aterrorizasse profundamente.Antes que pudesse comentar suas impressões, tia Liz apareceu segurando algumas roupas:— Srta. Alana, a água já está quente. Estas são roupas da Srta. Ayla, que têm um tamanho p
Diego mantinha a expressão fria, mas havia um traço evidente de irritação.— Ainda estou... — Começou ele, mas Alana o interrompeu sem cerimônias.— Ainda está em reunião, não é? — A voz dela, surpreendentemente gelada, cortou o ar. — Sr. Diego, ninguém vai ficar te esperando para sempre. Se já decidiu que vai se divorciar, então para de enrolar e resolve logo isso. Você organiza o casamento com outra e, ao mesmo tempo, fica adiando o divórcio como se fosse algum tipo de demonstração de amor eterno. Mas sabe o que parece? Ridículo. E, sinceramente, estou cansada desse teatrinho.Alana estava exausta das jogadas de Telma e das conexões sem sentido que ainda a prendiam a Diego. Ela não era uma pessoa que gostava de enrolar. Sempre foi direta: quando ama, entrega tudo, sem hesitar. Mas, quando decide partir, não quer laços pendentes ou meias palavras. Não acreditava nem por um segundo que Diego ainda tivesse sentimentos por ela. Na verdade, ele nunca a colocava em primeiro lugar. As escol
Luiza pensou por um momento, cruzou os braços e soltou, sem rodeios:— Você é um grandíssimo cretino.Alana sabia que Luiza estava irritada, mas, em vez de tentar acalmá-la, preferiu se divertir com o desabafo. Ela deixou a amiga falar e acabou rindo, mais leve, ao ouvir a última frase. Diego, por outro lado, franziu o cenho, parecendo incomodado:— Minha mãe te colocou para fora? Você ficou doente?Agora ele vinha querer bancar o preocupado? Era quase cômico.Alana olhou para a entrada do cartório e sentiu uma pontada de sarcasmo. Com o semblante tranquilo, mas claramente impassível, respondeu:— Sim. Então, Sr. Diego, se realmente tem consideração por mim, trate de agilizar o processo e resolver logo isso. Assim, evitamos mais mal-entendidos.Com essas palavras, ela pegou Luiza pelo braço e saiu, sem dar a Diego a menor chance de retrucar.Assim que Alana se afastou, Diego pegou o celular e ligou para Telma. A irritação era evidente em sua voz:— O que aconteceu ontem?Telma, do outr
A reação de Diego assustou alguns dos presentes. Um deles, hesitante, tentou explicar:— Foi logo depois que a Telma saiu, Diego. Você ficou muito tempo abatido por causa dela, e os diretores da empresa começaram a pegar no seu pé. Dizem que foram alguns projetos que apareceram na época que te salvaram de uma possível punição. Meu pai comentou que vários desses projetos foram Alana quem conseguiu, usando o nome de Sra. Arruda para não te irritar. Ela nunca quis te contar, com medo de como você reagiria.Alana, com sua educação limitada e sem entender muito bem do mundo empresarial, sabia que Diego odiava que ela usasse o título de "Sra. Arruda" ou qualquer coisa que remetesse ao status de esposa dele. Mesmo assim, fez tudo às escondidas, temendo que, se ele descobrisse, não aceitasse os projetos. Assim, ela manteve o segredo.E o segredo durou três anos.Diego permaneceu sentado na penumbra, com os olhos fixos, mas a mente longe. Ele se lembrou do olhar de Alana mais cedo naquele dia,
— Mãe, o Diego só quis ajudar ela porque ficou com pena. Ouvi dizer que ela está desempregada, tem pouca escolaridade. Ele só quer acelerar o divórcio, então deu um pouco mais pra ela aceitar sair de vez. — Explicou Telma, tentando acalmar a mãe.Alice, com o olhar carregado de desconfiança, rebateu irritada:— Mesmo assim, não dá pra aceitar! Eu preciso falar com a família dela. Será que o Diego ainda tem algum interesse naquela mulher?Telma soltou uma risadinha, com um ar doce e confiante:— Mãe, pelo amor de Deus! Como você pode pensar uma coisa dessas? O Diego nunca gostou dela! Ele nem mesmo encostou na Alana. Ficou me esperando por três anos.Alice deu um suspiro de alívio, mas logo endureceu novamente o tom:— Assim está melhor. Mas quanto a essa história da casa, deixa comigo. Eu resolvo isso pra você.Depois de despachar Telma, Alice pegou o celular e ligou para Luana.Luana ficou atônita ao ouvir o que a Alice contou. Não podia acreditar que o filho dela tinha dado a casa pa