Dario colocou a xícara de café na mesa com força, o olhar distante e uma ponta de tristeza na voz. Sua expressão era sombria enquanto falava:— Ela se casou com você, e sua mãe sempre foi fria e dura com ela. Sua mãe ficou doente, e quem foi que chamou os médicos todas as vezes? O que Isadora gosta, o que ela deseja, quem é que compra para ela? Todas as vezes que você chegou tarde em casa, quem foi que ficou te esperando com a comida pronta? Aquele ano, quando você teve gastrite por causa da Telma, quem foi que se machucou enquanto cozinhava para você? Foi a Alana.Dario suspirou profundamente, carregando no tom uma mistura de decepção e pesar:— Quando o pai dela morreu, ela foi morar de favor com a família Bispo, mas nunca teve que fazer nada disso. Diego, a Alana fez tudo isso por você. E só porque a Telma te deu uma sopa, você já acha que ela é especial?Diego ouviu tudo em silêncio, os punhos cerrados com força. Em seus olhos, havia uma tempestade prestes a desabar, como tinta neg
Alana piscou os cílios levemente. Se naquela época não tivesse ficado com Diego, certamente teria se tornado uma psicóloga. No entanto, depois de tantos anos, mesmo sem ter perdido o domínio na área, será que conseguiria voltar a exercer sua profissão com a mesma confiança? Igor pareceu perceber a hesitação dela e, com um tom suave, a encorajou:— Não precisa se apressar. Mas, se você estiver interessada, com certeza estarei aqui para te ajudar.— Professor, obrigada. — Alana respondeu.O coração de Alana ficou aquecido. Durante esses anos, ela não teve tempo de visitar Igor, mas não imaginava que ele ainda se preocupava com sua antiga aluna. Tocada, Alana perguntou sobre a saúde dele e os dois conversaram por um bom tempo. Igor, sempre generoso, insistiu para que ela ficasse para almoçar. Foi só no meio da tarde que Alana se despediu da casa do professor.No dia seguinte, ela precisaria ir à caçada. Por isso, preparou com cuidado sua roupa e os equipamentos. De manhã, Luiza passou de
Alana pegou a espingarda, sentindo-se brevemente encantada com o rosto marcante de Murilo.Quando Murilo terminou de trocar de roupa e todos se organizaram, sob a orientação dos instrutores do local, os caçadores entraram no campo de caça. É claro que boa parte dos convidados estava ali apenas por causa de Murilo. Os que não tinham habilidade para caçar ficaram no acampamento, acompanhando de longe, entre eles Diego e Telma.A família Coelho havia providenciado binóculos, bebidas e petiscos de todos os tipos. Além disso, o local estava repleto de pequenos cervos domesticados, garantindo que os convidados que preferissem ficar no acampamento tivessem algo para se entreter. Interagir com os animais era uma boa distração.Entretanto, a maioria das pessoas estava mesmo interessada na caçada. Muitos pegaram binóculos para observar o que acontecia no campo. Diego, ainda com as palavras de Alana ecoando em sua mente, abaixou o olhar antes de pegar um binóculo. O campo de caça tinha, inicialme
Quando Alana ergueu o olhar, encontrou um par de olhos bonitos e brilhantes. O homem à sua frente era charmoso e de uma beleza descontraída, mas sua postura emanava uma suavidade quase juvenil. Quando ele sorria, havia algo de inocente e cativante que o tornava ainda mais atraente.Na memória de Alana, ela não se lembrava de conhecer alguém assim, e Luiza, ao seu lado, também o observava com certa desconfiança.Roberto Serra, no entanto, parecia ser do tipo que fazia amizade com facilidade. Com um sorriso largo, colocou o ganso-negro já preparado ao lado das duas e se apresentou de maneira cordial:— Meu nome é Roberto. Sou o chef do Sr. Murilo. O ganso que a Srta. Alana caçou foi preparado a pedido dele. Ele pediu que eu trouxesse para que a senhorita pudesse provar.Chef?Alana levantou os olhos, surpresa. Sua mente logo notou um detalhe curioso: “nunca havia visto um chef usando um relógio que custava milhões de reais.”Luiza, como sempre, foi mais rápida no comentário:— Roberto, o
O churrasco durou mais de três horas, com os convidados bebendo à vontade, conversando e rindo como se fossem velhos amigos. A atmosfera era tão acolhedora que fazia todos se sentirem em casa.Em um momento, Alana se afastou discretamente. Acompanhada por um funcionário, foi até o local onde poderia escolher seu prêmio de caça. De acordo com as regras de Murilo, ela tinha o direito de levar consigo o animal que quisesse, desde que fosse um dos criados na propriedade. Embora preferisse os cavalos, no final, escolheu um pequeno cervo. Algo em sua mente a fazia pensar que cavalos não deveriam ser tratados como animais de estimação.Quando terminou de fazer sua escolha e saiu, foi parada por um segurança. Ele se aproximou com um ar respeitoso e disse:— Srta. Alana, o Sr. Murilo pediu que a senhorita o acompanhasse.Sem dizer nada, Alana seguiu o segurança até o segundo andar. Lá, encontrou Murilo sentado tranquilamente em uma cadeira perto da janela. Roberto, ao lado, estava ocupado prepa
Embora Roberto trabalhasse há anos para Murilo, sua posição como chef pessoal e o mistério que cercava sua identidade faziam com que Diego e os outros nunca tivessem ouvido falar dele.No entanto, Roberto parecia estar perfeitamente à vontade. Depois de cumprimentar Alana e Luiza com intimidade, lançou um olhar para o grupo e, com um sorriso descontraído, sugeriu:— Está esfriando um pouco. Que tal eu levar as senhoritas para casa?Luiza imediatamente se animou. Para ela, o inimigo do inimigo era sempre um aliado. Qualquer coisa que pudesse irritar Diego e Telma já era motivo suficiente para aceitar. Seus olhos brilharam, e ela respondeu com uma voz afetuosa e ligeiramente exagerada:— Ah, muito obrigada! Que gentileza a sua.Alana não conseguiu segurar um sorriso, mas, no fundo, sabia que Roberto não era alguém tão atencioso ou meticuloso. Era evidente que quem o havia enviado fora Murilo. Sem dizer nada, seguiu Luiza até o carro. Antes de entrar, lançou um último olhar para a mansão
A casa em questão era uma promessa de Diego para Alana. Os trâmites para a transferência de propriedade já estavam em andamento. Mesmo que Diego quisesse hospedar seus futuros sogros ali, deveria, no mínimo, ter pedido a opinião da Alana. Além disso, aquela casa era o único lugar onde Alana e Diego haviam morado juntos antes do casamento.No fundo, era óbvio: Diego simplesmente não considerava Alana.Alana não se importava se Diego a amava ou não. Mas, no mínimo, ele deveria tratá-la como uma pessoa. E não como... um animal de estimação.Enquanto o grupo conversava animadamente sobre os preparativos para o casamento, Luana, com o canto dos olhos, percebeu a presença de Alana. Seu rosto imediatamente se fechou. Os demais também olharam para ela, surpresos, com expressões que variavam entre desconforto e desdém.Isadora foi a primeira a se manifestar, com um tom ácido:— Que azar! O que essa mulher está fazendo aqui?Telma, tentando disfarçar o constrangimento, deu alguns passos à frente
Telma tentou acalmar Luana, assumindo uma postura conciliadora:— Mãe, a Srta. Alana, apesar de tudo, foi esposa do Diego. Não seria muito apropriado fazer isso. Além do mais, temos quartos sobrando. Se não houver outra opção, por que não deixamos que ela fique aqui por enquanto?O tom de Telma era gentil, mas sua intenção, claramente, era desarmar a situação e manter as aparências.O segurança, por outro lado, olhou para Alana, avaliando suas roupas simples com um toque de desprezo. Para ele, era óbvio: uma ex-esposa tentando se agarrar à riqueza de uma família poderosa.Alana, no entanto, ignorou os olhares e os comentários. Com firmeza, recusou:— Não precisa.Ela pegou sua mala e se afastou. Porém, o céu escureceu abruptamente, e logo uma chuva torrencial começou a cair. Parecia que até o clima estava conspirando contra ela naquele dia.Alana olhou para o celular, que marcava apenas 2% de bateria. Suspirou e balançou a cabeça. Ao seu redor, havia apenas árvores e nenhuma cobertura