Theodora Revelt não apenas fugiu de casa, ela fugiu de si mesma. Após um acontecimento traumático e embaraçoso no último ano do ensino médio, Theo não conseguiu encarar seus amigos e seus pais negligentes, que a culparam quando deveriam tê-la acolhido. Muito menos, escolher uma das faculdades nas quais foi aceita. A avó contou histórias sobre uma pequena e pacata cidade litorânea de um país vizinho, onde passou o melhor verão de sua vida e é para lá que ela decide se esconder pelos próximos três meses, ou, até o verão terminar e todos se esquecerem dela e do suposto vídeo comprometedor, onde todos decidiram ignorar o verdadeiro crime cometido por Nicolas Calore, o ex-namorado babaca, que saiu impune. Penza é uma cidadezinha romântica e acolhedora com praias calorosas e pessoas com uma vida muito mais simples do que Theo tem em Florença, na Itália, e simples é tudo o que ela quer agora. Tudo teria sido simples se o aeroporto não tivesse perdido suas malas, o taxista não a tivesse deixado no meio da estrada sob chuva e se o charmoso Lionel Alvord não tivesse aparecido para ajudá-la. Porém, nada nunca é simples com os Revelt e os segredos queimam mais do que o sol.
Ler maisCaioPuta merda. Essa noite vai ser uma puta merda das grandes. Ela está aqui, porque eu permiti que viesse, porque eu fui fraco e não pude negar. Trazê-la aqui foi um erro e meu irmão vai arrancar a minha cabeça se descobrir.Os últimos dias tem sido horrível entre nós dois, francamente os últimos meses tem sido desesperador. Perdemos nossa irmãzinha e nossa mãe está sempre tão dopada de remédios e drogas que nem sei se se lembra de que ainda tem dois filhos, enquanto apodrece no sofá da casa dela e Lion ainda pensa que o que eu faço é a pior parte das nossas vidas.É apenas diversão. Uma diversão perigosa que agora não estou metido sozinho. Observo pelo canto do olho Brianna de braços cruzados com a bunda encostada no porta malas aberto, falando sem parar sobre nada em específico com Theo, que troca os saltos altos de solado vermelho por um par de tênis brancos com glitter prata. Eles não combinam com ela, porque são de Bri. Fico imagino o quão caro devem ser aqueles saltos, ou qualq
Lion sequer olhou para trás para conferir se eu o acompanhava. Tudo o que fez foi chegar a passos largos e enraivecidos até o loft, pegar a chave da minha mão e bater à porta assim que entramos. Tentei impedi-lo duas vezes no meio do caminho, mas não havia muito o que eu pudesse ter feito com os meus um metro e cinquenta e cinco sobre saltos altos que machucavam meus pés. Ainda machucam, então me apoio no braço do sofá e os tiro, deixando-os no chão e observando o loiro desaparecer pelo mezanino.Ouço a porta do quarto se fechar, um aviso claro de que ele prefere a solidão agora. Suspiro encarando o interior escuro do loft, a escassa luz vem dos postes do lado de fora e da luz no céu que ultrapassa as enormes janelas ao lado da escada e projeta a sombra dos quadradinhos no piso amadeirado. Pego meu celular checando as horas: Dez da noite, mais trinta e quatro ligações e infinitas mensagens lotando minha caixa de entrada e de voz.Bloqueio a tela do aparelho abandonando-o junto com a b
As pessoas não estavam no jardim. Todos haviam corrido para dentro da casa para vasculhar cada cômodo na esperança do suposto passeio de lancha - uma lancha que nem existe de verdade.Paro na entrada da porta dos fundos da casa e Lion quase esbarra em minhas costas, lançando um olhar confuso que pergunta silenciosamente o por quê de eu ter parado se acabei de desafiar Bernardo a me dar um prêmio de verdade caso eu ache a maldita bolinha dourada.— Por que paramos?— Porque não está na casa.— Como assim não está na casa? - O loiro franze a testa e eu dou meia volta ficando de frente para ele e indicando a piscina. — Tudo bem, eu não entendi.— Ele pulo do segundo andar. - Explico revirando os olhos pelo lento raciocínio dele. Os respindos da água da piscina deixaram a camisa branca grudada aqui e ali, translúcida em alguns pontos e preciso me concentrar em qualquer outro detalhe dele para não ser tão óbvia, mesmo desejando muito admirar o abdomem sutilmente marcado. — Se eu fosse esco
Saio do banheiro depois de respirar fundo três vezes e engolir todo o arrependimento de ter aceitado uma carona no meio da estrada, de ter ido para a maldita praia, de ter vindo para essa festa. O único arrependimento que ainda não me consome é o de ter saído de Florença, pelo simples fato de que meu orgulho é maior.A música soa mais alta conforme desço a escada e chego no jardim, mais lotado do que antes - obviamente com mais de trinta pessoas. Bem mais.Corro os olhos pela multidão e não vejo sinal de Lion na mesinha em que estávamos perto da piscina, apesar da mochila e da polaroide estarem sobre ela, para que ninguém decida ocupá-la. Cadê você?— Baixinha! - Bernado me dá um leve susto ao se espremer entre duas pessoas para chegar até mim. Ele segura dois copos nas mãos e um deles está cheio de um líquido vermelho que reconheço como uma imitação ruim do drink que fiz para eles mais cedo. — Achei você! Tome!— Você viu o Lion? - Pergunto ainda procurando o loiro de camisa branca p
Arrumo minha bagunça reunindo todas as roupas espalhadas nas malas debaixo da escada, aos pés da escrivaninha depois de tirar delas um vestido branco de algodão, rodado com decote em V e mangas largas até os cotovelos, sandálias de saltos altos e bico fino marrom queimado com penduricalhos dourados e opções de colares. Me tranquei no banheiro debaixo por quase uma hora e meia entre uma maquiagem com delineado branco e um batom da cor dos sapatos, um penteado que envolveu apenas duas mechas atrás da cabeça presas por uma presilha com dentes de bronze que a fixaram nos fios castanhos e a difícil decisão entre os colares. Por fim, coloco os três: um mais curto com uma meia lua de ouro e os outros dois com pouca diferença de comprimento, parecidos com medalhões, ou moedas antigas.Quando termino, ouço barulho de vidro contra vidro e algo líquido sobre a bancada entre a cozinha e sala. Lion está enchendo a mochila com uma garrafa de Vodka pela metade, outra cheia de uísque com mel e alguma
Após lotar a sala do loft de roupas e sapatos aqui e ali, e o banheiro com as minhas maquiagens, finalmente me sinto eu mesma de novo. Escolhi uma saia jeans curta, um cropped branco simples de alcinha e uma camisa de linho perolada, que deixei aberta. As sandalhas parecem se adaptar bem aos meus pés que só andaram praticamente descalços desde ontem e o lacinho que dei nas tiras ao redor dos calcanhares ficaram uma graça.Termino de passar o rímel e sorrio para o reflexo no espelho, me reconhecendo novamente. Minhas bochechas estão rosadas, meus lábios corais com gloss e a pontinha do meu nariz, iluminada. Delicada e sexy, outra vez! Guardo tudo na bolsinha e saio para o resto do loft. Vejo o loiro jogado no sofá com o celular nas mãos, entediado de ter que esperar, provavelmente por que demorei mais do que disse que demoraria.— Até que enfim! - Ele se levanta. — Se demorasse mais teria que mudar para um jantar!Lion se cala ao me ver e agradeço por ter blush nas bochechas e disfarça
Demorei mais no banho do que deveria. Primeiro, porque a água quente caindo pelos ombros estava uma delícia e segundo, porque acho que não posso encarar Lion depois do que quase aconteceu alguns minutos mais cedo.Quase nos beijamos. Quase. E isso é o que mantém meus pensamentos a mil e meu coração acelerado. Eu queria aquele maldito beijo e sei que ele também. Mas, não podemos e ele também sabe disso, por inúmeros motivos e todos eles nos magoariam no final. Quando eu voltar para a Itália, quando eu entrar na bolha pesada e obscura que meu sobrenome me obriga a viver e aceitar.Não quero arrastá-lo para esse lado ruim. Não quero que veja o quão fútil, egocêntrico e cruel é além da vida que conhece, além da praia acalorada e do mar azul. Igual, eu estou longe de estar pronta para deixá-lo mergulhar na minha alma quebrada. Por fora posso parecer um diamante, mas por dentro, só há estilhaços cortantes colados por fita adesiva que sempre se solta em uma das pontas.Lion deixou as roupas
— Você está exagerando!Lion desce da moto depois que a estaciona ao lado do loft. De tanto que corremos em alta velocidade, nossas roupas estavam quase secas e meus cabelos úmidos como os dele.— A gente quase caiu lá atrás! - Argumento meu ponto da discussão em que o acuso de ser irresponsável e completamente maluco por fazer um veículo, que mal para em pé sozinho, chegar a cento e vinte por hora. — Se eu morrer por sua causa, meus pais te matam.— Eles vão ter que te encontrar primeiro. - O loiro destranca a porta da frente e eu reviro os olhos. A provocação me incomoda mais do que deve e me lembro de que não respondi nenhuma mensagem deles e de ninguém. Agora, com certeza há mais delas.Me sinto mal por isso. Deveria ter contado, mesmo depois que estivesse longe o suficiente para que eles não pudessem me impedir. Ainda posso contar. Mas, se fizer isso, todo o meu verão será arruinado e eu prefiro ir ao inferno do que voltar para minha própria casa. Tudo nela, tudo na minha maldita
A praia fica a cerca de três quarteirões atrás do loft, e poderíamos ter caminhado até lá facilmente. No entanto, aceitei a moto de bom grado, já que andar de camiseta, quase fina demais e jaqueta não é ideal. Estacionamos em um local aberto cheio de vagas vazias para carros e atravessamos uma avenida em direção ao calçadão.Lion diminui seus passos largos para que eu possa acompanhá-lo com minhas pernas curtas e passos lentos. Alguns carros passam esporadicamente, confirmando que a maioria das pessoas deveria estar desfrutando de outras coisas naquela hora da manhã. Sinto a areia macia e morna sob os pés igual vovó me contou, enquanto o sol acaricia minha pele, trazendo calor e conforto. Nunca é demais aproveitar a vitamina D.O mundo cinza de ontem se transformou em uma paleta de cores pastéis. A brisa fresca balança meus cabelos, envolvendo meu corpo em um carinho que desperta os poros das pernas e dos braços com uma sensação agradável. O céu apresenta tons de azul claro, com nuven