02

Lion para a moto ao lado de um prédio de dois andares, um loft industrial de tijolos, vidro e aço, apesar das palmeiras e cadeiras de praia com guarda-sóis do lado de fora. A cidadezinha litorânea parecia uma cidade fantasma assim que passamos pela placa de boas-vindas. Bairros suburbanos com casinhas familiares, um centro de comércios fechados e a orla da praia vazia. Não muito turística, imagino. Ainda mais sob a tempestade que tinge a paisagem de vários tons de cinza e verde borrados.

Penza é um lugar do qual me lembrei por acaso enquanto pensava para onde iria fugir. Há muitos anos, minha avó me contou aventuras de sua juventude e uma delas envolvia um romance de verão em uma cidade charmosa e esquecida. A coincidência é que ela também veio parar aqui sem querer, quando seu carro alugado ficou sem gasolina durante uma viagem de férias com as amigas. Minha avó sempre foi uma mulher livre antes de conhecer meu falecido avô. Hoje, é velha demais para tais aventuras.

Vovó me contou sobre Penza quando tinha doze anos. Sobre como a areia da praia era macia e as águas calmas e quentes. Sobre o povo acolhedor e simples - naquela época deveriam ser uma população menor e menos moderna, é claro - e sobre como a comida parecia abraçar seu corpo, assim como o vento. É uma pena que eu ainda não pense assim desse lugar.

Entramos correndo para nos proteger da chuva e Lion tranca a fechadura. Arrepios percorrem meu corpo pela troca de temperatura, felizmente mais agradável do lado de dentro.

As paredes são rústicas com os mesmos tijolos de fora e há um sofá de couro preto com almofadas desgastadas sobre um tapete de pelinhos cinzas. Uma televisão na parede e abaixo dela um aparador com videogames e livros, além de dois pufes pretos amassados e recém usados.

Enormes janelas quadriculadas com vista para o oceano cobrem a parede ao lado do que é a sala, do chão ao teto servindo de apoio para uma escada com ripas de madeira e corrimão de ferro. Fotos polaroides e papeizinhos quadrados com anotações pessoais estão grudados entre os quadradinhos abaixo dos degraus, acima de uma escrivaninha bagunçada com um notebook, canetas, uma câmera polaroide e uma garrafa de cerveja vazia.

Roupas, copos vermelhos de plástico e caixas de pizza se encontram pelo chão. Um deles, no primeiro degrau tem uma marca de batom na borda.

— Foi mal. – Lion diz se apressando em ajuntar os copos e o resto que seria lixo. Deve ter notado a minha expressão e confesso que minhas sobrancelhas arqueadas para a marca de batom são um pouco exageradas. — Eu meio que dei uma festa ontem, então...

Concordo com a cabeça com indiferença e volto a analisar o ambiente enquanto ele apenas acumula os restos de ontem em um canto perto da televisão acima do aparador com consoles e fios emaranhados.

Ao lado da escada há um corredor e do outro lado deste, a cozinha minúscula com uma bancada para separá-la da sala de estar. Nenhum sinal de uma mesa de jantar, ou algo do tipo, além das três banquetas com estofado cinza. Armários antigos e uma geladeira retrô preta com desenhos de palitinhos coloridos por uma criança grudados na porta. Um loft um tanto grande para uma pessoa só. A escada junto às janelas leva para um mezanino no andar de cima e por sorte, não consigo ver o estado da bagunça daqui de baixo.

— Acredito que seja bem diferente do que você está acostumada, mas é isso. – Lion fala tirando as chaves do bolso da calça e jogando no aparador ao lado da porta por onde entramos.

— É tão óbvio assim? – Pergunto segurando meus próprios cotovelos.

— A parte em que você é uma princesinha da Itália? Sim, é óbvio. – Respondeu, olhando-me por cima dos ombros largos. O loiro tira a jaqueta e a pendura nos ganchos pregados na porta de entrada. Ignoro o fato de que isso é uma péssima ideia, porque água e madeira do piso não combinam.

— O que me entregou? – Questiono, franzindo a testa e mudando o peso de uma perna para a outra.

— Seu sotaque. – Ele dá de ombros. — E esse seu jeitinho de "vamos fazer compras o dia todo em Milão depois do brunch aos domingos". – Termina com aspas nos dedos, ironizando a frase com um repuxar no canto dos lábios.

— Florença. - O corrijo com certo orgulho, porque não sou de Milão.

— Detalhe. - Lion dispensa minha correção.

Acabo por concordar, pois meu corpo exala Miss Dior e minha bolsa com o logo de uma marca só comprova a afirmação dele. Ser óbvia não me incomodava antes, e agora algo se remexe dentro de mim. Eu não sinto vergonha de quem sou ou do que me tornei, e não sentirei só por conta de um dia ruim e um cara metido a esperto. Jogo minha bolsa no sofá e seguro os quadris. Provavelmente será minha cama naquela noite.

— Está com fome? – Lion passa para a cozinha, e eu me aproximo para ver uma pia lotada de louça suja e vejo melhor o desenho infantil colado na porta da geladeira: três bonecos de palitinho com uma casa sem graça e um cachorro amarelo. Amarelo?

— Na verdade, preciso de um banho, se não for incomodar. – Penso na pergunta no segundo seguinte. Sem roupas secas, minha opção é ficar nua por aí até que as que estou vestindo sequem, e isso nunca acontecerá.

— O banheiro fica na porta à direita do corredor e tem toalhas limpas no armário debaixo da pia. – Ele me lança um olhar com uma panela nas mãos. Deve ser a única coisa limpa de toda a louça dele. Seja o que for que ele cozinhe, certamente não comerei. Talvez eu finja uma dor de estômago ou invente outra coisa. Sua atenção se volta para o fogão e para os armários, como se estivesse sozinho.

— Está bem, obrigada. – Agradeço, partindo em direção ao corredor estreito. Duas portas, uma à direita, outra no final. O banheiro, como fui informada.

— Espere aí! – Lion aparece apressado, secando as mãos em um pano de prato vermelho e branco. Ele sobe as escadas para o mezanino acima e leva alguns instantes para voltar segurando um tecido azul meio desbotado. Ele o atira para mim e eu pego, sentindo a textura de flanela macia. — Use essa. É confortável.

— Obrigada, eu acho. – Encaro a peça de roupa enquanto ele volta para a cozinha. Respiro fundo para entrar no banheiro, desejando muito forte que esteja dentro dos padrões considerados de limpeza básica humana.

Espero encontrar cabelos na pia, marcas de dedo no espelho e talvez algumas manchas aqui e ali no chão e nas paredes, e fico surpresa pelo azulejo marrom limpo, a pia organizada do jeito dele, com produtos masculinos entre perfumes e géis para cabelo, e nenhum preservativo deixado ali por acidente. Até que tem um cheiro bom! O aroma amadeirado dos perfumes torna o banheiro mais habitável do que julguei que seria. Ele deve ter trancado na hora da festa, ou isso aqui estaria um nojo.

Tranco a porta e começo a tirar as roupas molhadas, pendurando-as no cabideiro de forma que sequem sem amassar. Me certifico de que nem os brincos nem os anéis caiam pelo ralo da pia, colocando-os acima de um dos potinhos de gel. Analiso meu rosto no espelho, e a garota que me olha de volta é uma desconhecida para mim. Os fios escuros e compridos caindo pelos ombros, bolsas rochas debaixo dos olhos azuis e o rímel escorrendo pelas bochechas. Que desastre, Theodora!

Por fim, pego em meus ombros, as clavículas aparecendo graciosamente como devem ser. Meus seios pequenos levantados, que deixam os garotos loucos com decotes. Chego em minha cintura e faço uma careta para minha barriga ao me ver de lado. Estou inchada da viagem, é isso. Tem que ser!

A voz da senhora Martini ecoa em minha mente. A orientadora da escola obrigava as alunas – que ela achava que sofriam com distúrbios alimentares – a frequentarem sua sala uma vez por semana, e sempre nos dava o mesmo blábláblá sobre sermos bonitas e que existiam corpos diferentes e todos eram perfeitos. Mentira. Os meninos não olham para todos os corpos, e sim para aqueles como o meu. Magros e firmes, e não gordos e flácidos. Ela dizia que meu diagnóstico é bulimia. Mentira. Eu somente quero estar perfeita para mim e para os outros. Afinal, para as pessoas com quem cresci, a beleza conta muito em todos os aspectos. Eu me livrei dela faz uns meses, depois que terminei o colégio e também me livrei de todas as cobras que ocupavam os corredores. Não sinto falta alguma.

"Um corpo bonito nas revistas te leva a um futuro bonito, minha querida". Diz minha mãe um segundo após eu comer qualquer coisa com açúcar ou carboidratos. Claro, ninguém espera menos da supermodelo aposentada mais requisitada de Florença, que vive mais fora de casa do que dentro dela.

Engulo a vontade de me ajoelhar em frente ao vaso e botar para fora a salada que comi no avião antes de pousar e ligo o chuveiro. Por esses e outros motivos, eu deixei minha vida. Estou farta da perfeição, da hipocrisia, da manipulação e das mentiras. Essa tem sido minha realidade por dezoito anos, e eu quero experimentar algo novo. Um mundo onde não serei julgada por comer um pedaço de bolo, usar roupas da estação passada ou simplesmente não comparecer à m*****a confraternização anual da empresa do meu pai.

O litoral do país vizinho pareceu longe o bastante, assim que me lembrei da história de vovó. Não demorou muito para retirar o dinheiro do banco e comprar as passagens. Comprar com cartão de crédito deixaria rastros e a última coisa que quero é que meus pais venham atrás de mim roubar a minha paz. Esse verão é meu e nada vai estragar ele.

Permito que a água quente leve embora todo o frio da tempestade e as dores que me afligem quando começo a pensar em como minha vida costumava ser péssima. No entanto, eu não estou mais lá. Agora, eu tenho um verão inteiro para desfrutar de uma realidade diferente. Uma em que talvez não seja perseguida por fotógrafos fofoqueiros nas ruas. Uma em que eu posso ser quem eu quiser e não serei julgada. Uma em que meu ex-namorado idiota mentiroso e boçal de primeira linha não me encontre. Bem, talvez seja bom para mim.

Saio do banho e encontro uma toalha no armário, como Lion havia dito. Depois de me secar, visto a camiseta de flanela dele, um pouco surrada e desbotada, mas infinitamente mais confortável do que a roupa que eu estava usando. A camiseta cobre apenas metade das minhas coxas, mas é o que tenho. Penteio os longos cabelos com os dedos e saio do banheiro, acompanhada por uma nuvem de vapor de água quente.

Um cheiro gorduroso e salgado vem da cozinha. Caminho timidamente até o fim do corredor e paro um pouco antes da bancada. Lion parece concentrado em tirar algo do forno e nem me nota. Ele coloca a travessa de macarrão carbonara sobre a superfície de madeira da bancada e fixa os olhos em mim. Sua boca entreaberta provoca vergonha em meu corpo, e minhas bochechas queimam.

— Fica melhor em você do que em mim, sabia? – Seu comentário sobre a camiseta me faz cruzar os braços para me esconder dos olhos amendoados dele. Imagino para quantas garotas ele diz isso e quantas usam essa mesma peça. Não viaja, Theo! Lion sorri, indicando o macarrão carbonara. — Eu só sou bom em um prato. Então, seja legal e sente-se!

Obedeço, temendo a reação dele se eu permanecesse em pé e calada, e me sento na banqueta ao lado da parede. O observo pegar pratos, copos e talheres da louça já limpa no escorredor e nos servir com uma quantidade absurda de massa com queijo. Nitidamente, eu comerei duas garfadas e começarei a enrolar, distraindo-o com alguma conversa boba enquanto remexo a comida como se estivesse comendo de verdade. Estou acostumada a fazer isso sem ser descoberta.

Lion puxa a banqueta por debaixo da bancada para sentar de frente para mim. Ele é o primeiro a atacar o prato com uma garfada cheia. Com certeza, mantive meu olhar nele por tempo demais, pois ele me olha de volta.

— Só estou garantindo que não está envenenado. – Minto forçando um bom humor, e pego o garfo para enfiá-lo no macarrão. A gordura pinga do queijo esticado apimentado, e tenho que me esforçar para evitar uma careta. Recebo uma risada curta e um copo de refrigerante. O cheiro dos pedacinhos de bacon invade meu nariz e fazem meu estômago roncar.

— Não insulte minha inteligência, princesa. Se eu fosse te envenenar, seria de outra maneira. – Ele responde, com os olhos nos meus por cima de outra garfada. — Não que eu vá te envenenar. – Apressa-se em corrigir ao ver a expressão que se forma no meu rosto. — Agora, coma.

Suspiro e levo o garfo à boca, forçando meus dentes a morderem e mastigarem toda aquela gordura que meu organismo absorverá, se eu deixar aquilo dentro de mim, o que é uma aposta ruim. Bebo um gole do refrigerante para ajudar a descer pela garganta, e meu estômago agradece por estar se saciando da fome. Que delícia! Eu quero mais, mas comer mais significa algo que tento impedir a todo custo.

— Não está ruim. – Confesso, e ele comemora com um giro da banqueta e uma risada um pouco exagerada. É então que começo a fingir que como, quando na verdade apenas brinco com o macarrão pra lá e pra cá, ao mesmo tempo em que ele devora o dele.

— Então... – Lion fala novamente, depois de algumas garfadas e goles de refrigerante açucarado. — Vai me contar por que estava sozinha no meio da estrada?

Inspiro uma vez e finjo que levaria o garfo à boca se não precisasse falar.

— O aeroporto perdeu minhas malas e roubaram meu dinheiro e meus documentos. Digamos que o taxista não ficou feliz em saber que não seria pago. – Explico, apoiando o garfo cheio de volta no prato.

— Droga! Eu também não vou ser pago? – Ele diz e sorri em seguida, percebendo que eu quase levo isso a sério. — É brincadeira, princesa.

— Pare de me chamar assim! – Peço, deslizando o indicador pela borda do copo, girando e girando. Lion dá de ombros, desdenhando. — Não sou uma princesa.

— Seu inglês é muito bom. - Lion gesticula com o copo na mão.

— Digamos que minha família é importante o suficiente para que meu pai me obrigue a aprender outras linguas desde os três anos. - Conto brincando com a barra da camiseta na metade das coxas.

— Por que, Penza? – O loiro quer saber em seguida, satisfeito com a resposta anterior, entregando-me um guardanapo para limpar a boca que eu sei não estar suja. — Deixe-me adivinhar! Você está fugindo dos pais negligentes ou de um cara babaca que te traiu?

— Por que sempre são as mulheres que são traídas? – Retruco, com um revirar de olhos.

— Não sei, você foi? – Lion insiste, apontando o garfo com queijo e bacon na minha direção.

— Não. – Respondo, soltando a respiração pesada. — Pais ignorantes, sim. Ex-namorado e amiga babaca, aliás.

— Vai me dizer que ela roubou sua coroa de rainha do baile? Vocês têm baile nos colégios particulares prestigiados?

Cutuco meu prato com o talher para evitar o olhar penetrante e invasivo dele. Lion é o tipo de cara que sabe como obter as respostas que quer, seja pela fala ou pelos movimentos da pessoa, e não é certo expor toda a minha história de vida para um garoto que acabei de conhecer em uma situação deplorável. Contudo, ele não precisa saber a verdade, apenas parte dela, e convenhamos, se há algo melhor para fazer, é desconhecido por mim.

— Não oficialmente, mas a gente faz um mesmo assim. – Enrolo o carbonara no garfo que não pretendo levar a boca.

— Quantos anos você tem? – Lion segue o questionamento, um tanto intrometido. — Eu falei na brincadeira sobre essa coisa de baile. Pensei que você fosse maior de idade. – Continua, e pelo olhar que dou a ele, nega com a cabeça rapidamente. — Não que você pareça, eu só...

— Relaxe, ninguém vai te prender por me ajudar. Fiz dezoito semana passada. – Cruzo os braços, estreitando os olhos para ele. Isso costuma intimidar as pessoas, e está funcionando. – Você não deve ter mais do que vinte!

— Vinte e quatro.

Sinto o clima mudar no instante seguinte, quando minha boca se abre em um "oh!" repentino, tanto quanto as palavras dele. Vinte e quatro. Vinte e quatro anos, Theodora! A vergonha me queima novamente, pelo silêncio que deixei se formar depois da minha reação inapropriada.

— Desculpe, eu... – Digo, com um sorriso sem graça. — É que não parece.

— Tudo bem, eu sei. – O loiro sorri de volta, olhando-me por cima do copo ao beber um gole da bebida escura, doce e gasosa. — Me orgulho disso, sabia? Parecer um adolescente de quinze anos.

— Dezenove. – Corrijo, e ele atira a bolinha que amassou do papel-toalha em minha direção. Eu me esquivo, protegendo-me com a mão.

Noto que Lion termina seu prato e já o coloca na pia. Merda. Cedo demais.

— Gostou mesmo do macarrão? – Me questiona, olhando para o meu prato bagunçado e cheio.

— Eu estou um pouco enjoada da viagem, só isso. – Minto, e a desconfiança em seus olhos me faz acrescentar: — Mas, estava uma delícia!

A desculpa esfarrapada basta e levanto da banqueta com o prato nas mãos. Entrego para ele e foco minha atenção no desenho colado na geladeira, meus dedos entretidos com uma mecha do meu cabelo castanho escuro – uma espécie de mania que tenho sempre que fico muito tempo sem usar as mãos, dando nós na ponta e os soltando para fazê-los novamente.

— Quem é Lara? – Pergunto, ao ver o nome em letras infantis e irregulares no fim da folha.

— Minha irmãzinha.

É aí que reparo que ferrei com o resto daquele dia. Toda a alegria e malícia de Lion desaparecem no momento em que ele se cala e engole algo bem pesado que ficou preso na garganta dele. O olhar fixo no desenho de giz de cera colorido, triste e abalado.

— Eu disse algo errado? – Quero saber, e ele volta os olhos para mim.

— Não, não disse. – Tenta forçar um sorriso que chega a me dar pena, mas decido por ficar de boca fechada, senão piorarei a situação. Tudo dura menos de um segundo, e um outro sorriso completamente diferente ilumina o rosto dele, como se nada tivesse acontecido. — Eu vou tomar um banho. Ainda estou com as roupas da chuva.

— Tudo bem. – O sigo para fora da cozinha, que nesse caso era a sala de estar.

— Mettiti comoda, principessa. – Lion fala, parando no início do corredor, e franzo a testa ao ouvir o italiano, dito em um sotaque aceitável. "Fique à vontade, princesa". Reviro os olhos ao traduzir a frase e não tenho tempo de perguntar como ele sabe tal língua.

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