— Como assim vocês perderam todas as minhas malas?
A atendente atrás do balcão do aeroporto me encara sem saber o que dizer. As bochechas vermelhas dela indicam vergonha e talvez eu a tivesse intimidado com o tom irritado das minhas palavras. Fixo meu olhar no dela, e as pupilas dilataram nas írises acastanhadas enquanto recebe minha indignação. Os cabelos pretos em uma trança extremamente bem feita destacam-se no uniforme vermelho da companhia aérea.
— Sentimos muito, senhorita Revelt! — Diz por fim, os músculos do pescoço magros se ressaltando sobre a pele ao inspirar nervosamente. Um broche dourado e estreito no blazer mostra que posso chamá-la de Candela. — A companhia está ciente da situação, e suas malas, assim como as de outros passageiros estão sendo procuradas nesse momento! Avisaremos assim que forem localizadas, tudo bem?
— Não! Nada bem! — Bato com força a palma da minha mão no balcão duro de madeira, e a dor se irradia pelo punho. — Eram quatro malas! Como uma companhia com inúmeros trabalhadores, que servem para etiquetar as bagagens dos passageiros, conseguem a proeza de perder quatro malas de uma só vez? — Minha voz sai mais exaltada do que deveria, vinda de alguém como eu. Essa passa longe de ser uma atitude aceitável perante a sociedade, e teria sido repreendida se mamãe estivesse aqui. Mas ela não está. Respiro fundo para acalmar os ânimos. — Quer saber? Tudo bem, obrigada!
Dou as costas ao balcão e olho em volta, para as pessoas fazendo check-in, comendo no único café que há dentro desse aeroporto na áerea de desembarque e fugindo dos motoristas desesperados por um passageiro que queira uma corrida até o local que ficarão. Me sento em uma das cadeiras de uma fileira vazia perto do portão de desembarque e deixo minha bolsa ao lado — a única coisa que me sobrou dentre todas as outras que tinham sido deixadas em algum lugar do mundo, considerando que os inúteis, que deveriam se certificar de que todas as bagagens chegassem no destino correto, possivelmente, as embarcaram em qualquer outro avião. Por que infernos eu viajei sem uma mala de mão?
Alcanço meu celular no bolso detrás da calça jeans e preciso criar coragem para desbloquear a tela. Solto o ar no segundo seguinte. Nenhuma mensagem. Nenhuma ligação. Eles ainda não sabem que eu desapareci. Estou bem longe e não está em meus planos voltar tão cedo. Não antes do fim do verão, pelo menos. Muitas coisas aconteceram, e tentar esquecer será o segundo passo. O primeiro foi sair daquela droga de cidade hipócrita e cheia de abutres ansiosos por qualquer deslize que pudessem usar em suas revistas e blogs de fofoca.
Decido que já é hora de chamar um táxi e ir para algum hotel e torcer para que seja um lugar paradisíaco onde eu passarei todo o meu longo e quente verão. Sei que deveria ter reservado antes de viajar, mas isso seria uma pista gigante de onde eu estou e essa não é a intenção. Estico o braço para pegar minha bolsa ao lado e saio pelas portas duplas deslizantes. O barulho torrencial de uma tempestade me atinge com a mesma intensidade que o vento forte j**a meus cabelos em meus olhos, obrigando-me a tirá-los antes que me ceguem. Ótimo! Chuva.
Entro no primeiro táxi que vejo, sentindo meus poros arrepiados com o clima gélido do fim de tarde. Parece que minha sorte me abandonou, porque eu sou a única pessoa do mundo que chegou em uma das cidades mais quentes do país vizinho, com o mundo desabando em água e frio. Explico o endereço para o motorista e partimos, o motor rangendo debaixo de mim enquanto as gotas caem violentamente pelas janelas fechadas do carro. Ele claramente desejou ter escolhido outro passageiro com um destino mais próximo do que os sessenta quilômetros que levaríamos para chegar até a cidadezinha litorânea onde ninguém sabe quem eu sou.
Eu me certifiquei disso, é óbvio. Nenhum jornal relevante, nenhum canal de televisão se preocupando em mostrar nada além do clima, das competições de surfe, novelas e desenhos animados para crianças. Quando pessoas como eu querem se afastar, geralmente vão para o interior. Eu estou indo para o outro lado. Todo e qualquer esforço é válido para o completo isolamento.
A cidade parece ser muito bonita, mas com toda essa chuva eu quase não vejo nada além de um mar furioso e nuvens cobrindo a imensidão do céu. Encosto minha testa na superfície gelada e embaçada do vidro e a limpo para enxergar a estrada, a encosta de montanhas e as palmeiras altas. Quando solto o ar dos pulmões com pesar, o mesmo torna a embaçar a janela e desisto de assistir ao percurso. Vasculho minha bolsa procurando pela carteira com notas que pagarão a viagem. Engulo em seco e meu coração para por um instante, gelando todas as minhas terminações nervosas. Se eu tivesse algo no estômago, além da salada do avião, certamente teria vomitado. Meu dinheiro sumiu e o aeroporto ficou para trás há alguns longos quilômetros.
— Droga! – Murmuro para mim mesma, derrubando um batom, o celular, fones de ouvido e chicletes no banco traseiro, revirando o mais novo modelo da Prada de cabeça para baixo. Um calafrio me percorre com a impressão de que alguém me roubou nos poucos minutos em que deixei a bolsa na cadeira, antes de sair do aeroporto. Ou, talvez, dentro do próprio avião, ou quando fui ao banheior antes do embarque. Que seja, me ferraram de qualquer jeito.— Ah, com licença? – Me inclino para frente, apoiando as mãos em ambos os bancos dianteiros. O motorista, um homem de meia-idade com cabelos quase brancos, alguns quilos a mais e uma expressão amargurada, olha para mim pelo retrovisor central. — Desculpe, acho que fui roubada e...
— Você não tem como pagar? – Ele é direto e, por mais difícil que seja admitir, aceno com a cabeça em concordância. Eu nunca precisei de dinheiro e essa sensação é horrível e angustiante. Sinto o freio de mão ser puxado e o táxi parar no meio da estrada de mão única, com a encosta da montanha de um lado e um precipício cheio de mato e pedras do outro. — Terei que pedir que saia, senhorita.
— Perdão? – Pisco para o homem, os olhos arregalados pelo choque. Espero até perceber que ele parece irredutível em sua decisão terrível. — Mas, a chuva está muito forte e...
Seus olhos me olham um tanto irritados e inspiro, guardando tudo de volta dentro da bolsa. Sem malas, sem documentos, sem dinheiro e em breve, ensopada. Abro a porta, as gotas já inundando meus Louboutin e minha saia cor creme. O gelo da água penetrando na pele exposta do joelho. Antes de sair, me viro com o nariz empinado.
— Depois dizem que os turistas que são mal educados!
Bato a porta ao sair e o táxi canta pneu ao me abandonar ali. Leva menos de um milésimo de segundo para me tornar uma cachoeira ambulante com tanta água escorrendo de minhas roupas e cabelo. Minha camisa branca gruda no corpo ressaltando o top de renda da mesma cor me deixando agoniada, como se vários pares de dedos estivessem me tocando. Olho para meu celular e a tela pisca antes de apagar completamente. Perfeito! Merda.
Observo os dois lados da estrada, esperançosa por algum outro carro que talvez passe por mim. Não há sequer uma árvore para me proteger desse dilúvio e o que me resta foi a calçada do acostamento. Ninguém, em sã consciência, sairia de casa com esse tempo e posso esquecer minhas esperanças ao me dar conta disso. Me sento no pequeno espaço plano e enfio os dedos nos cabelos, que param logo no início pelas mechas molhadas. Em que droga você se meteu, Theo? Eu tenho zero ideias de como eu sairei daqui ou para onde irei, uma vez que meus documentos ficaram junto com o dinheiro e o nenhum hotal aluga um quarto sem pagamento. Tomara que o infeliz que me roubou morra nesse momento!
Pode ser minha imaginação me pregando uma peça, mas me inclino para frente com o ronco de algum motor se aproximando. Por favor, não seja um trovão! Por favor! Uma moto se aproxima e diminui a velocidade, parando à minha frente, enfrentando o vento que agride meu rosto. Puxo os cabelos para trás das orelhas - não que adiante muita coisa, pois meus cílios estão pesados demais para ver algo além da tempestade contra o asfalto áspero. Sinto o coração subir para a garganta com o pensamento que se segue: Era só o que me faltava! Serei assaltada, sequestrada ou pior!
Analiso a silhueta descendo da moto e meus batimentos disparam com a ansiedade e o medo. Alto e vestindo couro preto. Ele tira o capacete, revelando um rosto que me surpreende. Acredito que tenha criado uma aparência para ele com base em meus pensamentos catastróficos anteriores, o que me faz repreender a mim mesma por seguir os estereótipos.
— Tudo bem por aí? – O desconhecido pergunta, analisando cada centímetro do meu ser com as mãos nos quadris estreitos, a jaqueta de couro pingando água, descendo para a calça e até os coturnos. — Sabe, se quiser pensar na vida, tem lugares melhores onde você não pegaria uma pneumonia. – Zomba, e suas covinhas aparecem com o aumento do sorriso.
Apenas o encaro, sem saber muito o que dizer. Bad-boy, cabelos loiros e motoqueiro com um sorriso cafajeste. Será que é possível ficar pior?
— Se vai me assaltar, saiba que já fizeram isso hoje. Então, deu azar, não é o seu dia. – Respondo de mau humor. Detesto me sentir molhada por tempo demais, e o fato de estar perdida, sozinha e sem roupas apenas piora a situação.
— Nem o seu, ao que parece. – Retruca, mantendo o sorriso idiota nos lábios. — Quer que eu te deixe em algum lugar? – Pergunta, segurando o capacete dentro da jaqueta para evitar que pegue chuva, o que é um ato falho, porque a chuva já molhou segundos antes o estofado interno.
— Eu nunca vou subir nessa coisa! – Cruzo os braços. Agora, meus pés estão escorregadios dentro dos saltos. Torço o nariz para a moto, e ele revira os olhos. — Não ando em veículos que não param em pé sozinhos, e além disso, eu não te conheço!
— Primeiro lugar, ai! – Leva a mão livre ao coração, como se o tivesse machucado de verdade. Talvez, no máximo, o ofendi. Mas sequer ligo para isso. — Segundo, se ficar aqui, vai no mínimo, pegar uma gripe bem feia.
— E por que isso seria da sua conta? – Sou grosseira demais e me arrependo no instante seguinte, porém, me recuso a pedir desculpas. O estresse me domina, e eu pingo em lugares que nem sabia que estavam molhados e não tenho para onde ir.
— Porque eu sou um cavalheiro? – Insiste, com as sobrancelhas arqueadas, e o sorriso ganha um tom de brincadeira e ironia sem sentido naquela hora. Sua mão vem para mim, aguardando ser pega, e suspiro, aceitando a ajuda para me levantar do acostamento depois de concluir que esse cara, infelizmente, é minha única opção se quiser sair do meio da estrada.
— Um cavalheiro sem nome? – Provoco, enquanto o assisto passar o capacete pela minha cabeça e prender o fecho debaixo do meu queixo, sua boca propositalmente próxima da minha. Resolvo ignorar o detalhe de que só temos um capacete para proteger um de nós.
— Lion, ao seu dispor, princesa...?
— Theodora. – Respondo, olhando tempo demais para os olhos castanhos dele. — E eu não sou princesa! – Ressalto aceitando, outra vez, a mão dele para subir na garupa da moto.
— Tem certeza? – Fala soltando o apoio do asfalto e o prendendo na lateral esquerda, testando o equilíbrio com o próprio corpo. — Acho que foi engano o príncipe ter aparecido em um cavalo preto e motorizado para salvá-la dessa terrível tempestade!
— Engraçadinho! – Devolvo, afiada, e o vejo sorrir pelo retrovisor. O motor range, e agarro sua cintura com o susto e a incerteza se apoderando de mim. Suas costelas se expandem em um riso convencido, que fica preso lá dentro, e minhas bochechas queimam.
Voamos pela estrada com os pingos da chuva parecendo beliscões gélidos contra minha pele. Eu não sei onde estou me metendo e espero que não seja em algo tão ruim quanto parece ser. Conheço Lion há apenas dois minutos insuficientes para confiar nele, mas preciso, se pretendo dormir sob um teto hoje. Jamais ligarei para meus pais e pedirei ajuda, isso mostraria a eles que ainda dependo deles. Tenho dezoito anos e posso cuidar de mim mesma.
Lion para a moto ao lado de um prédio de dois andares, um loft industrial de tijolos, vidro e aço, apesar das palmeiras e cadeiras de praia com guarda-sóis do lado de fora. A cidadezinha litorânea parecia uma cidade fantasma assim que passamos pela placa de boas-vindas. Bairros suburbanos com casinhas familiares, um centro de comércios fechados e a orla da praia vazia. Não muito turística, imagino. Ainda mais sob a tempestade que tinge a paisagem de vários tons de cinza e verde borrados.Penza é um lugar do qual me lembrei por acaso enquanto pensava para onde iria fugir. Há muitos anos, minha avó me contou aventuras de sua juventude e uma delas envolvia um romance de verão em uma cidade charmosa e esquecida. A coincidência é que ela também veio parar aqui sem querer, quando seu carro alugado ficou sem gasolina durante uma viagem de férias com as amigas. Minha avó sempre foi uma mulher livre antes de conhecer meu falecido avô. Hoje, é velha demais para tais aventuras.Vovó me contou so
Decido subir a escada do lado das janelas enormes, assim que ouço o chuveiro ligado. Lion levará algum tempo no banho e detesto ficar sem nada para fazer, então observo o mezanino do último degrau. Um parapeito feito com três cordas de ferro preto, combinando com a escadaria, um amplo espaço lotado de mais bagunça masculina e janelas. Dois pufes, um tapete torto no chão igual ao da sala abaixo e acima dele uma mesa de sinuca antiga e surrada. Nas paredes, pôsteres e mais fotografias polaroides de pessoas diferentes com sorrisos bêbados e divertidos – provavelmente tiradas nas inúmeras festas que ele deve oferecer no loft.Mas o que me chama a atenção são as guitarras penduradas ao lado dos tacos de bilhar e um teclado debaixo delas – sem falar nas três caixas de som no canto, perto do parapeito. Espio lá embaixo, as mãos apoiadas nas grades de ferro finas e Lion ainda continua no banheiro. Aproveito e me aproximo dos instrumentos, passeando os dedos sutilmente pelas teclas do teclado
Abrir os olhos é difícil depois de um bom tempo dormindo. Para ser sincera, eu não tenho a menor ideia de quantas horas dormi e me levanto ainda cambaleando. É estranho acordar sem os barulhos incômodos de Florença, dos carros apressados no trânsito, meu pai ao telefone gritando com algum funcionário da empresa, ou minha mãe - quando estava em casa - ditando regras e mais regras para a governanta sobre meus estudos e rotina.— Bom dia, Bela Adormecida! – Diz Lion quando me vê descer o último degrau da escada e cobrir os olhos com a mão devido à imensa quantidade de luz solar matinal que entra pelas altas janelas de vidro. O som das ondas do mar ecoa em meus ouvidos, e os passarinhos cantam nos galhos dos coqueiros e nos fios elétricos. – Eu comprei café para nós.Ele balança um saquinho engordurado em uma mão, segura um suporte de isopor com dois cafés na outra e fecha a porta com o pé. Seria rude perguntar se ele também tinha comprado iogurte ou frutas? Comer açúcar de manhã não é um
A praia fica a cerca de três quarteirões atrás do loft, e poderíamos ter caminhado até lá facilmente. No entanto, aceitei a moto de bom grado, já que andar de camiseta, quase fina demais e jaqueta não é ideal. Estacionamos em um local aberto cheio de vagas vazias para carros e atravessamos uma avenida em direção ao calçadão.Lion diminui seus passos largos para que eu possa acompanhá-lo com minhas pernas curtas e passos lentos. Alguns carros passam esporadicamente, confirmando que a maioria das pessoas deveria estar desfrutando de outras coisas naquela hora da manhã. Sinto a areia macia e morna sob os pés igual vovó me contou, enquanto o sol acaricia minha pele, trazendo calor e conforto. Nunca é demais aproveitar a vitamina D.O mundo cinza de ontem se transformou em uma paleta de cores pastéis. A brisa fresca balança meus cabelos, envolvendo meu corpo em um carinho que desperta os poros das pernas e dos braços com uma sensação agradável. O céu apresenta tons de azul claro, com nuven
— Você está exagerando!Lion desce da moto depois que a estaciona ao lado do loft. De tanto que corremos em alta velocidade, nossas roupas estavam quase secas e meus cabelos úmidos como os dele.— A gente quase caiu lá atrás! - Argumento meu ponto da discussão em que o acuso de ser irresponsável e completamente maluco por fazer um veículo, que mal para em pé sozinho, chegar a cento e vinte por hora. — Se eu morrer por sua causa, meus pais te matam.— Eles vão ter que te encontrar primeiro. - O loiro destranca a porta da frente e eu reviro os olhos. A provocação me incomoda mais do que deve e me lembro de que não respondi nenhuma mensagem deles e de ninguém. Agora, com certeza há mais delas.Me sinto mal por isso. Deveria ter contado, mesmo depois que estivesse longe o suficiente para que eles não pudessem me impedir. Ainda posso contar. Mas, se fizer isso, todo o meu verão será arruinado e eu prefiro ir ao inferno do que voltar para minha própria casa. Tudo nela, tudo na minha maldita
Demorei mais no banho do que deveria. Primeiro, porque a água quente caindo pelos ombros estava uma delícia e segundo, porque acho que não posso encarar Lion depois do que quase aconteceu alguns minutos mais cedo.Quase nos beijamos. Quase. E isso é o que mantém meus pensamentos a mil e meu coração acelerado. Eu queria aquele maldito beijo e sei que ele também. Mas, não podemos e ele também sabe disso, por inúmeros motivos e todos eles nos magoariam no final. Quando eu voltar para a Itália, quando eu entrar na bolha pesada e obscura que meu sobrenome me obriga a viver e aceitar.Não quero arrastá-lo para esse lado ruim. Não quero que veja o quão fútil, egocêntrico e cruel é além da vida que conhece, além da praia acalorada e do mar azul. Igual, eu estou longe de estar pronta para deixá-lo mergulhar na minha alma quebrada. Por fora posso parecer um diamante, mas por dentro, só há estilhaços cortantes colados por fita adesiva que sempre se solta em uma das pontas.Lion deixou as roupas
Após lotar a sala do loft de roupas e sapatos aqui e ali, e o banheiro com as minhas maquiagens, finalmente me sinto eu mesma de novo. Escolhi uma saia jeans curta, um cropped branco simples de alcinha e uma camisa de linho perolada, que deixei aberta. As sandalhas parecem se adaptar bem aos meus pés que só andaram praticamente descalços desde ontem e o lacinho que dei nas tiras ao redor dos calcanhares ficaram uma graça.Termino de passar o rímel e sorrio para o reflexo no espelho, me reconhecendo novamente. Minhas bochechas estão rosadas, meus lábios corais com gloss e a pontinha do meu nariz, iluminada. Delicada e sexy, outra vez! Guardo tudo na bolsinha e saio para o resto do loft. Vejo o loiro jogado no sofá com o celular nas mãos, entediado de ter que esperar, provavelmente por que demorei mais do que disse que demoraria.— Até que enfim! - Ele se levanta. — Se demorasse mais teria que mudar para um jantar!Lion se cala ao me ver e agradeço por ter blush nas bochechas e disfarça
Arrumo minha bagunça reunindo todas as roupas espalhadas nas malas debaixo da escada, aos pés da escrivaninha depois de tirar delas um vestido branco de algodão, rodado com decote em V e mangas largas até os cotovelos, sandálias de saltos altos e bico fino marrom queimado com penduricalhos dourados e opções de colares. Me tranquei no banheiro debaixo por quase uma hora e meia entre uma maquiagem com delineado branco e um batom da cor dos sapatos, um penteado que envolveu apenas duas mechas atrás da cabeça presas por uma presilha com dentes de bronze que a fixaram nos fios castanhos e a difícil decisão entre os colares. Por fim, coloco os três: um mais curto com uma meia lua de ouro e os outros dois com pouca diferença de comprimento, parecidos com medalhões, ou moedas antigas.Quando termino, ouço barulho de vidro contra vidro e algo líquido sobre a bancada entre a cozinha e sala. Lion está enchendo a mochila com uma garrafa de Vodka pela metade, outra cheia de uísque com mel e alguma