Abrir os olhos é difícil depois de um bom tempo dormindo. Para ser sincera, eu não tenho a menor ideia de quantas horas dormi e me levanto ainda cambaleando. É estranho acordar sem os barulhos incômodos de Florença, dos carros apressados no trânsito, meu pai ao telefone gritando com algum funcionário da empresa, ou minha mãe - quando estava em casa - ditando regras e mais regras para a governanta sobre meus estudos e rotina.
— Bom dia, Bela Adormecida! – Diz Lion quando me vê descer o último degrau da escada e cobrir os olhos com a mão devido à imensa quantidade de luz solar matinal que entra pelas altas janelas de vidro. O som das ondas do mar ecoa em meus ouvidos, e os passarinhos cantam nos galhos dos coqueiros e nos fios elétricos. – Eu comprei café para nós.
Ele balança um saquinho engordurado em uma mão, segura um suporte de isopor com dois cafés na outra e fecha a porta com o pé. Seria rude perguntar se ele também tinha comprado iogurte ou frutas? Comer açúcar de manhã não é uma das coisas que minha mãe aprovaria, mas ela estava na Itália, então que mal fará? Ganhar alguns quilos a mais na balança e ter dois dedos na garganta, Theo. A consciência pesada responde à pergunta.
— Bom dia. – Sorrio sentindo-me envergonhada por ter ido para a sala como primeira opção. Teria sido melhor ir ao banheiro; ainda assim, estaria sem maquiagem ou cabelo decente, mas pelo menos ficaria ciente do desastre que Lion está vendo agora. Os poros das minhas coxas se arrepiam com a brisa fresca que entra pela fresta aberta da janela no andar de cima, despertando meu corpo quente das cobertas da cama dele.
O sigo até a cozinha e apoio os cotovelos no balcão, observando seus gestos desastrados ao colocar as compras sobre ele. Lion pega um dos copos de café e o abre, rasgando um pacotinho de açúcar e despejando-o completamente na bebida preta fumegante. Em seguida, enfia a mão no saquinho e tira de lá uma rosquinha com cobertura rosa e granulados coloridos. Por último, três pães com cheiro de queijo, o vapor saindo deles.
— Eu trouxe uma para você também. – Ele percebe que o olho por muito tempo. – Tomei o cuidado de comprar as de cobertura rosa. Deve ser a sua cor favorita? – Ele ergue a sobrancelha com um pouco de açúcar acima dos lábios.
— Por que você acha isso? – Questiono, apoiando o queixo na mão e estreitando os olhos, curvando-me sobre o balcão. – Porque eu sou uma princesinha mimada?
— Foi você quem disse, não eu. – Ele retruca, caçoando de mim e dando outra mordida na rosquinha, com os dedos engordurados e cheios de açúcar.
— Branco. – Sento na banqueta livre e pego o copo de café que é para mim. – Prefiro branco e a propósito, sim você me chamou de mimada ontém.
Provo o café, que desce quente e amargo, aquecendo-me por dentro e despertando o resto do meu corpo que ainda dorme. Não toco nas rosquinhas – por mais que meu estômago clame por elas – e quando Lion me pergunta se pode comer a minha, eu digo que sim. Afinal, eu não a quero e, obviamente, deve existir um buraco negro dentro dele para conseguir engolir todas elas. Pego um dos pães quentinhos e começo a tirar pedacinhos com gosto de queijo, que como bem devagar para evitar engolir tudo de uma só vez e querer mais um.
O loiro me observa então sou obrigada a engolir, porque seus olhos castanhos se fixam nos meus e aguardam. Até que é gostoso e pego mais um pedacinho, deixando o que resta na bancada e mastigo, forçando para baixo o que está em minha boca.
— É bom. - Confesso e ganho um sorriso. Pego meu café e tomo um gole para ajudar descer a comida.
— Eu coloquei seu celular no arroz há algumas horas. Li na internet que as pessoas fazem isso sempre que perdem o aparelho na água. – Ele fala engolindo a outra metade do seu pão com queijo e lambendo os dedos.
O olho por cima do copo de café e bebo mais um pouco, sentindo o calor fluir pelas palmas das mãos. Lion se levanta, pega um pote de arroz nos armários e procura meu celular, entregando-o a mim. Pressiono o botão lateral para ligá-lo e a tela se ilumina. Nunca fiquei tão feliz em ver a m*****a maçã brilhando. Acende, maçãzinha, acende! Por fim, a tela bloqueada surge, pedindo meu rosto ou o código de seis dígitos que, francamente, esqueci desde que o criei.
Então, as notificações começam a chegar em sequência, desesperadas. A maioria delas de redes sociais, com comentários ridículos de pessoas me chamando de palavras ofensivas sobre os acontecimentos recentes. O restante é composto por mensagens privadas dos meus pais, me procurando como se estivessem loucos, cinquenta ligações perdidas e a caixa de correio de voz lotada.
— Deveria ter quebrado de vez! – Abandono o aparelho na bancada com certa violência e recebo um olhar indignado de Lion.
— Se fosse para você quebrar, eu nem teria gastado meu arroz com isso. Sabe quanto custa um desses? – Ele pega o celular, verificando se a tela está intacta. Está. — Exatamente, mais do que eu posso gastar em um mês sem zerar minha conta bancária!
— Eu compro seu arroz assim que pegar minhas malas! – Reviro os olhos e sinto culpa pela expressão ofendida dele. Merda. — Desculpe, é que... — Suspiro, acalmando os ânimos. — Não é como se as pessoas que estão me procurando se importassem de verdade. Aposto que só querem saber todos os detalhes da minha vida perfeita. – Faço aspas irônicas com os dedos.
— E seus pais? Você deveria ligar para eles, pelo menos. – Ele devolve o celular para a bancada, com uma expressão preocupada. Dou de ombros e brinco com a borda do copo de café, circulando a tampa com o indicador, deixando implícito que não continuarei esse assunto. Lion não insiste, seja pela minha expressão emburrada ou pelo clima estranho e pesado que se instala na cozinha. — Por que você não usou os infinitos cartões de crédito ilimitados para pagar o táxi?
— Porque se eu usasse, eles saberiam onde estou, não quero que saibam.
— Por que não? – O loiro abre a geladeira e pega duas garrafas de água gelada. Ele desliza uma delas pela bancada, seus olhos castanhos fixos nos meus, provocativos. — Por que, Penza, Theo?
— Minha avó veio para cá uma vez quando era jovem e me contou sobre esse lugar. Só sei que foi o último verão antes de ela se casar. – Suspiro, pegando a garrafinha e girando na banqueta giratória como uma criança faz. — Por que insiste tanto nessa pergunta? – Pergunto, decidindo parar de girar, caso contrário todo o café que bebi deixará meu estômago vazio. Bebo um pouco da água.
— Curiosidade. – Lion fica em pé e se aproxima da beirada da bancada, apoiando-se com o cotovelo perto de mim. Finge distrair-se com os dedos e evita me olhar por algum motivo. Talvez seja por causa da minha aparência descuidada nessa manhã. Será que eu estou tão ridícula a ponto de ele sequer querer olhar para mim?
— O dia está lindo, e eu pensei... – Encontro seus olhos castanhos, prendendo-os com tamanha intensidade que suas bochechas coram. — Gostaria de dar um passeio? – Pendo a cabeça para o lado, analisando seu nervosismo ao falar comigo. Geralmente, eu intimido as pessoas porque quero, e isso se tornou um gesto instintivo: um olhar profundo de julgamento ou um sorriso sedutor. — Para esquecer um pouco de ontem? – Ele acrescenta, passando os dedos pelos cabelos bagunçados a caminho do sofá.
— Eu adoraria. – Sorrio, corando um pouco, e agradeço por meus cabelos cobrirem a maior parte do rosto. Contudo, respiro fundo. — Mas, infelizmente, não posso. O aeroporto vai me ligar, e se tiver sorte, terei minhas coisas ainda hoje, e você vai poder se livrar de mim. – Observo sua reação e juro ter visto uma gota de decepção em seus olhos. — Acredita que perderam quatro malas?
— Quatro? Para que tantas malas? – Lion franze as sobrancelhas e se move inquieto no braço do sofá, seus músculos ressaltados capturam minha atenção por um segundo.
— Vou passar o verão inteiro nessa cidade. – Explico dando mais uma volta na banqueta, minhas pernas balançando sem tocar o chão. — Ainda assim, devo ter esquecido algum sapato ou brinco.
— Quase esqueci com quem estou falando! — Ele sorri, exibindo suas covinhas, e isso me fisga enquanto a cadeira faz sua última volta, sendo detida por minhas mãos segurando a borda do balcão. Salto do acento revirando os olhos e dou um tapinha no ombro dele, com a incrível força de uma joaninha. Lion ri do meu tapinha insignificante e me olha por um tempo que parece durar mais do que o necessário. Com ele sentado, agora estamos da mesma altura. — Vamos lá, vai! Se eles ligarem, eu te levo para o aeroporto, e ninguém recusa uma praia! – O loiro fica em pé se afasta em direção às escadas.
— Não tenho roupa de banho. – Insisto.
— Quem disse que precisa de biquíni? Aprecio a arte do nudismo nas praias! – Ele brinca, subindo para o mezanino, com sarcasmo na voz.
— Com certeza você adoraria! – Retruco, cruzando os braços, vendo-o aparecer no mezanino com a câmera fotográfica e uma jaqueta. Ele j**a a peça jeans e despojada para mim. — Jeans e camiseta? É isso que os vocês usam na praia?
— Vista isso logo! – Ele manda e eu a pego, vestindo-a enquanto Lion corre de volta para o quarto. Em menos de dois minuto, ele desce com uma calça preta e uma camisa amassada aberta em um tom desbotado de cinza, revelando seu abdômen levemente definido. Ele me analisa por um instante, a jaqueta serve em duas – talvez, três – de mim, assim como a camiseta. Duas peças de roupa dele, gigantes o suficiente para eu me sentir envergonhada na frente da primeira pessoa que me ver na praia.
— Pareço uma criança usando as roupas dos pais! – Reclam olhando para o meu pequeno corpo desaparecendo na imensidão de tecido confortável, no limite da transparência. Será que pareço gorda com elas?
— Minha irmã de seis anos era mais alta que você. – Ele diz, arrumando a câmera e algumas outras coisas dentro de uma mochila preta.
— Muito engraçado! – Decido usar o sarcasmo em vez de perguntar sobre Lara, de novo. Percebo que ele falou no passado ao se referir a ela, e acredito que ele se corrigiria se eu questionasse. Não tenho nada a ver com a vida dele, e me intrometer será prejudicial para ambos, apenas dois estranhos que logo não se virão mais depois que eu for para o hotel com minhas malas. De propósito, esbarro em seu ombro e sorrio. — Palhaço.
— Brincadeira, principessa. Quase mais alta. – Ele completa e abre a porta, esperando que eu passe primeiro. Eu hesito. — Não tem ninguém na praia a essa hora. É tarde para pescadores e ninguém visita a praia que pretendo te levar. Nenhuma alma viva vai ver a sua calcinha de renda.
Uma sensação gélida percorre minha espinha e ergo a cabeça para encontrar seu sorriso malicioso. Minha calcinha de quê? Percebo minhas bochechas corando e olho para baixo, a camiseta pendendo suavemente até as coxas, nada transparente naquele momento.
— Não está transparente! – Puxo a jaqueta ao redor do corpo, envolvendo minha cintura com os braços.
— Contra a luz, tudo fica transparente. – Lion aponta com um breve aceno de cabeça para a luz solar invadindo a sala e projetando-se no chão de madeira perto do balcão, onde passamos minutos conversando enquanto minha calcinha aparecia por baixo do tecido fino da blusa e sabe-se la o que mais deveria estar aparente. — Desculpe, seria constrangedor te dizer antes.
— Claro! – Concordo com ironia diante do sorriso safado dele. — Porque agora, eu não estou nada constrangida!
Passo pela porta sentindo sua presença atrás de mim ao fechá-la.
— Achei sexy. – Ele zomba, segurando o riso.
— Meu Deus! – Reviro os olhos e desço os degraus, seguindo-o até o térreo. Saímos do loft, e a brisa fresca e salgada balança meus cabelos, enquanto o cheiro de sal, areia e mato invade meu nariz a cada respiração. Estamos descalços, e os grãos de areia carregados pelo vento e grudados na calçada de tijolos me incomodam mais do que a ele.
— Você confia em mim? – Lion pergunta, entregando-me o capacete. A moto está estacionada ao nosso lado, seca da chuva de ontem.
— Estou começando a achar que não devo. - Aceito o capacete e subimos na moto.
O motor range, e a estrada voa rapidamente por nós, a paisagem se movendo mais rápido do que meus olhos conseguem acompanhar. Aperto os braços em volta da cintura dele, contendo o medo que se acumula na garganta com a aceleração da moto. É uma boa pergunta. Eu confio? Será que devo? Confiar em um estranho com intenções desconhecidas é uma decisão terrível.
Talvez eu esteja à beira do precipício e agarrei a única mão estendida para me salvar da queda infinita para a perdição. Sozinha e desesperada, perdida em uma cidade que mal conheço. E Lion me segurou. Ele me deu firmeza e apoio quando pessoas inúteis e desprezíveis arruinaram meu dia. Ele foi a sorte que nunca tive e desejo ao universo que essa sorte demore para ir embora.
A praia fica a cerca de três quarteirões atrás do loft, e poderíamos ter caminhado até lá facilmente. No entanto, aceitei a moto de bom grado, já que andar de camiseta, quase fina demais e jaqueta não é ideal. Estacionamos em um local aberto cheio de vagas vazias para carros e atravessamos uma avenida em direção ao calçadão.Lion diminui seus passos largos para que eu possa acompanhá-lo com minhas pernas curtas e passos lentos. Alguns carros passam esporadicamente, confirmando que a maioria das pessoas deveria estar desfrutando de outras coisas naquela hora da manhã. Sinto a areia macia e morna sob os pés igual vovó me contou, enquanto o sol acaricia minha pele, trazendo calor e conforto. Nunca é demais aproveitar a vitamina D.O mundo cinza de ontem se transformou em uma paleta de cores pastéis. A brisa fresca balança meus cabelos, envolvendo meu corpo em um carinho que desperta os poros das pernas e dos braços com uma sensação agradável. O céu apresenta tons de azul claro, com nuven
— Você está exagerando!Lion desce da moto depois que a estaciona ao lado do loft. De tanto que corremos em alta velocidade, nossas roupas estavam quase secas e meus cabelos úmidos como os dele.— A gente quase caiu lá atrás! - Argumento meu ponto da discussão em que o acuso de ser irresponsável e completamente maluco por fazer um veículo, que mal para em pé sozinho, chegar a cento e vinte por hora. — Se eu morrer por sua causa, meus pais te matam.— Eles vão ter que te encontrar primeiro. - O loiro destranca a porta da frente e eu reviro os olhos. A provocação me incomoda mais do que deve e me lembro de que não respondi nenhuma mensagem deles e de ninguém. Agora, com certeza há mais delas.Me sinto mal por isso. Deveria ter contado, mesmo depois que estivesse longe o suficiente para que eles não pudessem me impedir. Ainda posso contar. Mas, se fizer isso, todo o meu verão será arruinado e eu prefiro ir ao inferno do que voltar para minha própria casa. Tudo nela, tudo na minha maldita
Demorei mais no banho do que deveria. Primeiro, porque a água quente caindo pelos ombros estava uma delícia e segundo, porque acho que não posso encarar Lion depois do que quase aconteceu alguns minutos mais cedo.Quase nos beijamos. Quase. E isso é o que mantém meus pensamentos a mil e meu coração acelerado. Eu queria aquele maldito beijo e sei que ele também. Mas, não podemos e ele também sabe disso, por inúmeros motivos e todos eles nos magoariam no final. Quando eu voltar para a Itália, quando eu entrar na bolha pesada e obscura que meu sobrenome me obriga a viver e aceitar.Não quero arrastá-lo para esse lado ruim. Não quero que veja o quão fútil, egocêntrico e cruel é além da vida que conhece, além da praia acalorada e do mar azul. Igual, eu estou longe de estar pronta para deixá-lo mergulhar na minha alma quebrada. Por fora posso parecer um diamante, mas por dentro, só há estilhaços cortantes colados por fita adesiva que sempre se solta em uma das pontas.Lion deixou as roupas
Após lotar a sala do loft de roupas e sapatos aqui e ali, e o banheiro com as minhas maquiagens, finalmente me sinto eu mesma de novo. Escolhi uma saia jeans curta, um cropped branco simples de alcinha e uma camisa de linho perolada, que deixei aberta. As sandalhas parecem se adaptar bem aos meus pés que só andaram praticamente descalços desde ontem e o lacinho que dei nas tiras ao redor dos calcanhares ficaram uma graça.Termino de passar o rímel e sorrio para o reflexo no espelho, me reconhecendo novamente. Minhas bochechas estão rosadas, meus lábios corais com gloss e a pontinha do meu nariz, iluminada. Delicada e sexy, outra vez! Guardo tudo na bolsinha e saio para o resto do loft. Vejo o loiro jogado no sofá com o celular nas mãos, entediado de ter que esperar, provavelmente por que demorei mais do que disse que demoraria.— Até que enfim! - Ele se levanta. — Se demorasse mais teria que mudar para um jantar!Lion se cala ao me ver e agradeço por ter blush nas bochechas e disfarça
Arrumo minha bagunça reunindo todas as roupas espalhadas nas malas debaixo da escada, aos pés da escrivaninha depois de tirar delas um vestido branco de algodão, rodado com decote em V e mangas largas até os cotovelos, sandálias de saltos altos e bico fino marrom queimado com penduricalhos dourados e opções de colares. Me tranquei no banheiro debaixo por quase uma hora e meia entre uma maquiagem com delineado branco e um batom da cor dos sapatos, um penteado que envolveu apenas duas mechas atrás da cabeça presas por uma presilha com dentes de bronze que a fixaram nos fios castanhos e a difícil decisão entre os colares. Por fim, coloco os três: um mais curto com uma meia lua de ouro e os outros dois com pouca diferença de comprimento, parecidos com medalhões, ou moedas antigas.Quando termino, ouço barulho de vidro contra vidro e algo líquido sobre a bancada entre a cozinha e sala. Lion está enchendo a mochila com uma garrafa de Vodka pela metade, outra cheia de uísque com mel e alguma
Saio do banheiro depois de respirar fundo três vezes e engolir todo o arrependimento de ter aceitado uma carona no meio da estrada, de ter ido para a maldita praia, de ter vindo para essa festa. O único arrependimento que ainda não me consome é o de ter saído de Florença, pelo simples fato de que meu orgulho é maior.A música soa mais alta conforme desço a escada e chego no jardim, mais lotado do que antes - obviamente com mais de trinta pessoas. Bem mais.Corro os olhos pela multidão e não vejo sinal de Lion na mesinha em que estávamos perto da piscina, apesar da mochila e da polaroide estarem sobre ela, para que ninguém decida ocupá-la. Cadê você?— Baixinha! - Bernado me dá um leve susto ao se espremer entre duas pessoas para chegar até mim. Ele segura dois copos nas mãos e um deles está cheio de um líquido vermelho que reconheço como uma imitação ruim do drink que fiz para eles mais cedo. — Achei você! Tome!— Você viu o Lion? - Pergunto ainda procurando o loiro de camisa branca p
As pessoas não estavam no jardim. Todos haviam corrido para dentro da casa para vasculhar cada cômodo na esperança do suposto passeio de lancha - uma lancha que nem existe de verdade.Paro na entrada da porta dos fundos da casa e Lion quase esbarra em minhas costas, lançando um olhar confuso que pergunta silenciosamente o por quê de eu ter parado se acabei de desafiar Bernardo a me dar um prêmio de verdade caso eu ache a maldita bolinha dourada.— Por que paramos?— Porque não está na casa.— Como assim não está na casa? - O loiro franze a testa e eu dou meia volta ficando de frente para ele e indicando a piscina. — Tudo bem, eu não entendi.— Ele pulo do segundo andar. - Explico revirando os olhos pelo lento raciocínio dele. Os respindos da água da piscina deixaram a camisa branca grudada aqui e ali, translúcida em alguns pontos e preciso me concentrar em qualquer outro detalhe dele para não ser tão óbvia, mesmo desejando muito admirar o abdomem sutilmente marcado. — Se eu fosse esco
Lion sequer olhou para trás para conferir se eu o acompanhava. Tudo o que fez foi chegar a passos largos e enraivecidos até o loft, pegar a chave da minha mão e bater à porta assim que entramos. Tentei impedi-lo duas vezes no meio do caminho, mas não havia muito o que eu pudesse ter feito com os meus um metro e cinquenta e cinco sobre saltos altos que machucavam meus pés. Ainda machucam, então me apoio no braço do sofá e os tiro, deixando-os no chão e observando o loiro desaparecer pelo mezanino.Ouço a porta do quarto se fechar, um aviso claro de que ele prefere a solidão agora. Suspiro encarando o interior escuro do loft, a escassa luz vem dos postes do lado de fora e da luz no céu que ultrapassa as enormes janelas ao lado da escada e projeta a sombra dos quadradinhos no piso amadeirado. Pego meu celular checando as horas: Dez da noite, mais trinta e quatro ligações e infinitas mensagens lotando minha caixa de entrada e de voz.Bloqueio a tela do aparelho abandonando-o junto com a b