Capítulo 2
Minha visão caiu sobre a calça de Bruno, que estava jogada ao lado da cama, com o cós frouxo e distorcido formando um rosto choroso, e um canto de seu celular preto deslizando para fora, parecendo mais triste com as lágrimas.

Na vida matrimonial, acreditava que tanto o amor quanto a privacidade eram importantes. Sempre demos espaço um ao outro e nunca mexemos no celular do parceiro.

Mas hoje, depois de vasculhar até o escritório, pensei que também deveria olhar o celular dele.

Peguei o celular e com pressa, mergulhei debaixo das cobertas até cobrir minha cabeça.

Eu estava muito nervosa.

Diziam que ninguém conseguia manter um sorriso no rosto após verificar o celular do parceiro. Eu tinha medo de encontrar provas de sua traição com Gisele ou de não encontrar nada e parecer que não confiava nele.

Ao pensar no bracelete que ele gostava de usar todos os dias, meus dentes começaram a tremer.

“Bruno, o que você está escondendo de mim? O que realmente importa para você?”

Errei a senha várias vezes, talvez fosse por causa do tremor ou do nervosismo.

Até que uma mensagem apareceu na tela: “Senha incorreta, tente novamente em 30 segundos.”

Eu fui ingênua. Consegui abrir o cofre dele, mas não o celular.

Acompanhei o som estrondoso do meu próprio coração enquanto revisava todas as senhas possíveis em minha mente. Minha boca estava seca, engolindo saliva inexistente, enquanto os segundos passavam lentamente.

5, 4, 3, 2...

De repente, o cobertor foi arrancado da minha cabeça.

— O que você está fazendo?

Bruno, com o torso nu ainda pingando água pelos músculos abdominais perfeitamente alinhados, usava uma toalha cinza enrolada na cintura. As linhas misteriosas de seus músculos se estendiam até lugares que minha imaginação alcançava...

Pela primeira vez, eu não estava com disposição para admirar aquele homem bonito. Toda a minha atenção estava no movimento dele ao arrancar o cobertor.

Ele claramente não esperava que eu segurasse seu celular com as duas mãos. Franziu a testa ao olhar para mim, seus movimentos também pararam de súbito.

— Querido. — Chamei suavemente, me sentindo como uma ladra pega em flagrante, sem saber o que dizer para quebrar o constrangimento.

Sua garganta mexeu, e seus olhos mostraram uma raiva fervente ao chamar meu nome completo:

— Ana Oliveira!

Quando ele estendeu a mão para pegar o celular, pensei que ele ia me bater e, instintivamente, esquivei-me. Não sabia se fui eu ou ele quem apertou o botão da câmera, mas o som do obturador ecoou de forma inoportuna no quarto.

Na tela, apareci com o cabelo despenteado, os olhos cheios de lágrimas e o rosto pálido como se estivesse à beira da morte.

Era essa a pessoa que ontem à noite se achava bonita em frente ao espelho, convencida de que podia seduzi-lo facilmente?

Bruno pegou o celular e deu uma olhada, seu rosto suavizou um pouco e sua voz soou com um tom de zombaria:

— O que é isso? Registra sua primeira vez usando lingerie para mim?

Só então percebi que meu corpo estava quase totalmente exposto e, envergonhada, joguei-me em seus braços.

— Desculpa. — De joelhos na cama, abracei sua cintura com força e, olhando para cima, quase implorei: — Querido, faça amor comigo.

Em vinte e seis anos, Bruno esteve presente em vinte deles.

Desde a primeira vez que o vi de longe, meus olhos nunca mais se desviaram. Com o coração delicado de uma adolescente, mergulhei em uma fantasia de amor unilateral do qual não conseguia me libertar.

Não queria que minha fé na vida desmoronasse. Amava esse homem com devoção e esperava que ele me amasse da mesma forma.

Bruno levantou a mão e acariciou minha cabeça, a linha dura de seu maxilar se suavizou um pouco.

— Preciso ficar com Gisele por um tempo. Depois disso, podemos considerar sair para nos divertirmos.

— Como Gisele se machucou? — Perguntei hesitante. — Por que foi para o hospital tão tarde?

— Nada demais, é o problema de sempre.

Bruno sempre teve um olhar frio e determinado, mas desta vez, ele surpreendeu quando mostrou um breve lampejo de hesitação.

Fiquei um pouco desapontada, percebendo que ele não queria me contar a verdade.

— Então, sairemos para passear só nós dois? — Perguntei com extrema cautela.

Até na viagem de lua de mel, Bruno e eu sempre levávamos Gisele conosco.

Depois que me casei com Bruno, Gisele pareceu ter ficado gravemente doente. Naquela época, toda a família estava muito preocupada, mas não me disseram a causa específica da doença.

Para mostrar minha generosidade como cunhada e ganhar a simpatia da família Henriques, concordei com a decisão deles de levar Gisele conosco para o exterior para se recuperar.

Na época, Gisele ainda não era maior de idade e desconfiava muito de mim, querendo apenas a companhia de Bruno.

Ao pensar em Gisele doente, não disse nada, mas desde então Bruno e eu nunca mais viajamos sozinhos.

Apenas naquele momento, eu percebi o quão doentio era nosso casamento, sempre com uma terceira pessoa entre nós.

Bruno estava hesitante.

— Vamos viajar novamente só nós dois, precisamos ter um filho, sua mãe está muito ansiosa. — Adicionei a proposta.

Talvez Bruno tenha se lembrado de suas dívidas comigo, ou talvez dos tônicos que sua mãe comprou para ele. Ele franziu a testa, depois relaxou e finalmente assentiu.

— Para qual país você quer ir?

Ele afastou os fios de cabelo do meu pescoço, fazendo meu coração doer e palpitar ao mesmo tempo. Talvez fosse isso amar e odiar alguém.

Esforcei-me para manter um sorriso, imitando a expressão alegre e bajuladora de Gisele:

— A primeira parada, claro, deve ser no nosso próprio país, na cama da mansão à beira-mar da cidade J. Num salto, enrosquei meus braços em torno de seu pescoço e o beijei com força, minhas pernas se enroscaram em sua cintura.

Ele me retribuiu o beijo, suas mãos segurando cuidadosamente meus quadris enquanto caíamos na grande cama.

Seu desejo finalmente foi aceso pela minha paixão.

Ele veio com fervor, e nossas roupas leves se espalharam pelo ar como borboletas.

Ele segurou meus tornozelos com firmeza, prestes a dar o próximo passo, quando seu celular tocou.

"Irmão!"

Uma mensagem apareceu na barra de notificações.

A força em meus tornozelos aumentou, me causando um pouco de dor; ele obviamente tinha visto a mensagem também.

Em seguida, mais algumas fotos chegaram.

"Irmão, estou bonita? Elogie-me rápido!"

"Você ainda não terminou o banho? Quando voltará?"

Gisele, sempre tão animada e extrovertida, enviava mensagens como uma metralhadora, sem parar.

Bruno me soltou, mas eu não deixei ele se afastar, enroscando minhas pernas em sua cintura.

— Não vá, vamos continuar, por favor? — Minha voz era extremamente suave, fazendo todo o possível para seduzi-lo.

Sua voz saiu rouca quando ele apertou minha coxa.

— Não estou mais a fim.

A dor me fez soltar minhas pernas, e eu o observei amarrar a toalha em volta da cintura antes de descer para o closet.

Nesta casa, a diferença entre Gisele e eu era evidente. Ela era a criança mimada da família, adorada por todos, enquanto eu, como esposa de Bruno, precisava ser sempre correta, gentil e atenciosa, cuidando de tudo com delicadeza.

Antes, se ele dissesse algo assim, eu obedientemente ficaria deitada, sozinha, saboreando o vazio e a solidão.

Depois que a semente da dúvida fosse plantada, seria impossível impedir o seu crescimento se não encontrasse provas concretas.

Desesperada, saí correndo descalça, mas não esperava ver tal cena ao chegar no closet...
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