Capítulo 5
Eu esfreguei a testa, as lágrimas surgiram, e ao levantar a cabeça percebi que não tinha batido na parede, mas sim no peito sólido de Bruno.

— Nem com um bilhão de dona Rose, eu iria à falência.

Bruno não gostava de demonstrar suas emoções, mas por um instante, peguei uma expressão de desprezo em seu rosto. Do que ele tinha para se orgulhar? Por mais rico que ele fosse, era eu quem pagava o salário da dona Rose.

Agarrei a alça da mala e, sem erguer os olhos, passei por ele.

Com uma expressão impassível, Bruno me impediu, chutando a base da minha mala. — Coloque as coisas da Sra. Henriques de volta. — Ele ordenou a dona Rose, que estava a poucos metros de distância.

Dona Rose correu atrás da mala que deslizava rapidamente.

Eu não culpei a dona Rose pela falta de solidariedade, nem senti vergonha por ser descoberta por Bruno naquele momento. A pessoa que deveria sentir vergonha naquela casa não era eu.

— Não bloqueie meu caminho. — Essa foi a frase mais firme que eu já tinha dito a Bruno desde que o conheci.

Ele não me respondeu, de repente se agachou e, antes que eu pudesse entender a situação, meus pés saíram do chão. Ele me pegou pelos ombros!

Eu lutei e chutei, e então levei um tapa forte no traseiro. Fiquei paralisada por um instante, abri a boca e mordi seu ombro em protesto.

A dor nos dentes, junto com um sentimento de amargura indescritível, espalhou-se instantaneamente. Eu chorei ainda mais.

Ele não queria me deixar ir. Estava aproveitando a sensação de estar à beira da moralidade, com a esposa e a amante ao mesmo tempo, ou estava apaixonado pela emoção e tensão do caso extraconjugal?

Tentei aliviar a minha dor com esses pensamentos maldosos, mas sem sucesso.

Ele me jogou na cama, logo depois se deitou sobre mim, beijando meu rosto desordenadamente, mas só encontrou lágrimas amargas.

— Não me toque!

Ele já tinha resolvido suas necessidades físicas hoje, não tinha medo de se cansar fazendo amor comigo de novo?

Eu nunca tinha feito amor com ele duas vezes seguidas. Para ser honesta, quase tinha esquecido como era fazer amor.

Ele parecia surpreso e me encarou, dizendo:

— Chorou porque não fizemos amor de manhã?

— Não! — Retruquei. — Eu não quero mais viver com você. Quero o divórcio.

Quando pronunciei a palavra "divórcio", pensei que me sentiria dolorosamente triste, mas não foi assim.

Em vez disso, senti uma sensação de alívio. Esses anos tentando agradar ele me esgotaram e eu estava cansada. Parecia que, no fundo, eu também estava esperando por esse momento.

Eu me perguntava por que, apesar de tratar ele tão bem, ele sempre me tratava com frieza. Descobri que ele já estava apaixonado por outra pessoa em segredo.

O rosto de Bruno perdeu a ternura, e uma expressão de profunda frieza tomou seu lugar.

— Só porque passei mais tempo com Gisele após ela se machucar, você quer se divorciar de mim? Ana, se você quer fazer escândalo, então mantenha-se dentro de um limite que eu possa tolerar.

Eu o olhei calmamente e em silêncio, soltando um suspiro.

— Bruno, você é um homem casado. Sabe o que significa ter senso de limite?

— Você quer falar de senso de limite comigo? Quando nos conhecemos, você se declarou para mim sem reservas. Isso foi senso de limite de uma mulher? Além disso, Gisele é minha irmã. Sempre fomos próximos. Se você acha que há um problema nisso, talvez deva refletir se a culpa não é sua.

Fiquei boquiaberta, sem conseguir acreditar que Bruno estava usando o fato de eu ter tomado a iniciativa de me declarar para ele contra mim.

Quando o vi pela primeira vez, ele estava se apresentando em um evento, como um dos filhos prodígios da família.

Em nossa cidade, todos no círculo social conheciam o nome Bruno Henriques como sinônimo de excelência.

Foi naquele momento que entendi o que significava se apaixonar à primeira vista.

Ainda lembrava-me de ter postado algo na minha rede social, visível apenas para mim: "Bruno, me apaixonei por ele no primeiro olhar".

Como alguém se contentaria em ser apenas amigo depois de se apaixonar à primeira vista.

A partir de então, cada encontro casual entre nós dois era meticulosamente planejado por mim. Em público, eu brincava ao dizer que nossa união era apenas um casamento arranjado, mas só eu sabia o quanto me esforcei para que nos casássemos...

— Já que você me acha tão ruim, nossa separação será perfeita. — Sorri friamente. — Toque para mim a música do nosso casamento e eu aceito o divórcio sem pedir nada em troca, o que acha?

Quatro anos se passaram e ouvir de novo "Saudações de Amor" trouxe uma nova perspectiva.

Bruno estava sentado ao piano no centro da sala. Com um leve movimento dos dedos, a melodia romântica de uma serenata encheu a mansão.

Quando Bruno tocou para mim durante o casamento, senti uma felicidade genuína. Ao tocar mais uma vez naquela ocasião, ele buscava tanto a felicidade dele quanto a minha, sem futuro mútuo.

Por um momento, fiquei desorientada, sem saber se era o brilho do sol que o iluminava ou se ele próprio era deslumbrante o suficiente para me fazer lacrimejar.

Eu precisava sair!

Dei dois passos para trás, não podia mais me permitir cair nessa armadilha.

Assim que me virei, caí em um abraço ardente, tão ardente que quase me fez acreditar que ele realmente precisava de mim.

Recusei duas vezes, mas um homem obstinado podia ser implacável em certas coisas. Em um momento de descuido, ele me pegou e me colocou sentada sobre o piano.

O estrondo alto fez dona Rose fechar rapidamente as cortinas da sala antes de sair.

Fazer isso na sala de estar tinha um ar de estímulo público, mas também de privacidade. Ele me guiava sobre as teclas, mas as notas que tocávamos não eram harmoniosas.

A música apenas começava, mas minha tristeza não me permitia acompanhar. As notas variavam entre leves e pesadas, curtas e longas...

Ele, no entanto, estava muito animado, me beijando da cabeceira à cauda do piano sem parar.

Quando estávamos prestes a ir mais longe, o telefone da sala tocou.

Somente alguém da Antiga Mansão da família Henriques ligaria para o telefone da casa. Bruno teve que parar.

Eu estava deitada sobre o piano, respirando pesadamente. Qualquer movimento produzia um som, então não me atrevi a me mover até Bruno terminar a ligação.

Ele me tirou do piano e beijou minha bochecha suavemente.

— Minha mãe pediu para voltarmos.

— Acho melhor eu não ir. Afinal, estamos nos divorciando.

— Quer se divorciar e ainda quer fazer amor comigo?

— Eu também não quero me rebaixar. Pelo menos você é mais limpo que os homens lá fora e é de graça. — Falei intencionalmente, contrariando meus verdadeiros sentimentos.

Eu não me esforcei mais para agradar ele, e Bruno riu friamente.

— Você mencionou a música do nosso casamento apenas para me lembrar do nosso casamento, não foi? Eu permito que você faça isso comigo e você ainda tem a coragem de me provocar?

— Pensei que você estivesse tocando piano porque não queria me dar dinheiro.

Ele me olhou de soslaio, dizendo palavras cruéis com um tom carinhoso.

— Boba, mesmo que nos divorciemos, se eu não quiser, você não receberá nenhum dinheiro. — Sua paciência comigo era pouca, e logo ele voltou à sua expressão fria habitual. — Você sabe muito bem como meus pais te tratam. Meu pai está doente, então, não importa o que você esteja passando, não deixe que eles percebam!

— Então, é o momento perfeito para contar a eles sobre nosso divórcio.

Admito que estava agindo por birra. Os pais de Bruno sempre me trataram muito bem. Mesmo quando nós dois estávamos brigados, eu nunca permitiria que os afetasse.

Mas a mãe de Bruno morreu quando ele era criança e foi seu pai quem o criou. Ele era extremamente dedicado ao pai, e eu disse isso apenas para irritar ele.

Bruno pensou que eu estava falando sério e levantou a mão, pressionando meu couro cabeludo com o dedo indicador.

— Tente mencionar isso uma vez, se você ousar...
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