Capítulo 4
Eu costumava gostar de assistir a novelas com enredos exagerados e, por isso, entendia bem quais tipos de mulheres podiam causar grande impacto nos homens.

Algumas mulheres, quanto mais os homens não conseguiam ter elas, mais as desejavam.

Os dois estavam destinados a não ficar juntos por razões mundanas; a família Henriques era um clã de grande prestígio e, mesmo que não tivessem laços de sangue, não ousariam desonrar o nome da família.

Se Bruno realmente gostasse de Gisele, provavelmente acharia até o excremento dela cheiroso. Como eu poderia competir com ela?

A cirurgia prosseguiu em silêncio e sem problemas. Após sair, sentei-me no segundo andar, aguardando ser chamada para pegar os remédios.

O cheiro do desinfetante do hospital parecia limpar minha mente, e então, completamente lúcida, mandei uma mensagem para Bruno.

"Se você tivesse que escolher entre mim e Gisele, quem você escolheria?"

Se ele dissesse que escolheria Gisele, eu recuaria e desejaria a felicidade deles.

Eu sabia que enviar aquela mensagem era um ato impulsivo, mas se eu não tomasse uma decisão num momento de impulso, como convenceria a mim mesma a deixar o homem, que amei por tantos anos, para outra pessoa?

Aguardei ansiosamente, segurando o celular, mas a mensagem parecia ter caído no vazio, não houve qualquer resposta.

Observando o silêncio do celular, não resisti e voltei para o quarto de Gisele.

No quarto, Bruno estava oferecendo um pedaço de maçã cortada a Gisele com um garfo, um olhar de ternura nos olhos que eu nunca tinha visto antes.

Eu tinha chegado na hora errada; se tivesse chegado um pouco mais tarde, talvez tivesse presenciado uma prova de traição, e minha decisão teria sido mais fácil.

Chamei Bruno para fora, e ele apareceu com uma expressão de frieza que parecia sempre estar contra mim.

— O que é tão urgente que precisa ser dito aqui no hospital?

— Estou esperando sua resposta. — Falei com firmeza.

Bruno enfiou a mão no bolso da calça, pegou o celular e, após ler a mensagem, um pequeno sorriso se formou em seu rosto.

— O que você quer dizer com isso?

Ele não demonstrou nem um pouco nervoso ou irritado por ter sido confrontado, e sob seu olhar tranquilo, eu me senti culpada.

— Por que eu teria que escolher? — Ele perguntou em um tom despreocupado. — Que loucura é essa?

Ele até teve a audácia de tirar uma caixa de cigarros do bolso da calça. Só lembrou-se de que estava no hospital quando estava a ponto de acender um cigarro. Logo, ele guardou de novo.

Com um olhar indiferente, ele me observava, brincando com a pulseira enquanto esperava minha resposta. A iluminação do hospital provavelmente deixava meu rosto pálido, e meu semblante abatido se refletia em seus olhos, sem qualquer disfarce para minha vergonha.

Minha certeza de que ele já estava emocionalmente envolvido com outra começava a vacilar. Até comecei a pensar que talvez eu estivesse sendo sensível demais. Por que ele não mostrava nenhum sinal de culpa?

Ele semicerrou os olhos, observando-me por um momento, antes de pegar meu pulso e o colocar entre nós.

— Não há necessidade de machucar a si mesma de propósito. Seu corpo foi um presente de seus pais. Ela está doente, e eu estou aqui para a apoiar. Qual é o problema?

O quê? Ele de fato pensava que eu havia machucado minha mão de propósito?

A injustiça quase me fez chorar. Naquele momento, o efeito do anestésico parecia ter desaparecido, e a dor em meus dedos se intensificava, forçando-me a respirar fundo.

Sem me dar chance de falar, ele continuou com um tom cada vez mais áspero:

— Pare de fingir. Acha que não percebo que está fazendo drama? Ela é só minha irmã. Pare de imaginar coisas!

Fiquei sem palavras diante de suas acusações. Ele ainda tinha aquela aparência encantadora, mas parecia que eu nunca o havia conhecido de verdade.

Com sua atitude habitual, ele me deu uma ordem:

— Vá embora. Não venha ao hospital sem necessidade.

— Tudo bem, estou indo! — Para mim, Bruno já havia feito sua escolha. Dei dois passos para trás antes de sair correndo. — De agora em diante, cuide dela o quanto quiser.

Bruno não veio atrás de mim. Ouvi a porta do quarto abrir e fechar de novo.

— Irmão, vocês brigaram...?

Ao chegar em casa, abri a porta e a dona Rose veio imediatamente ao meu encontro, trazendo meus chinelos e pegando a bolsa em minha mão.

Ela notou minha mão enfaixada e perguntou preocupada:

— Sra. Henriques, você se machucou? Quer que eu chame um médico?

Senti uma onda de emoção subir e meus olhos se encheram de lágrimas no segundo em que percebi a preocupação repentina de Rose. Meu marido, com quem estava casada há quatro anos, não demonstrava a mesma preocupação que uma empregada contratada por quinze mil reais ao mês.

Diziam que o amor era a coisa mais barata deste mundo, e agora eu sabia que era verdade.

— Dona Rose, acabei de sair do hospital. Hoje não precisa cozinhar, pode ir para casa.

As empregadas da casa não moravam conosco; vinham e iam em horários fixos. Além das tarefas essenciais como limpeza e cozinhar, eu não gostava de muitas pessoas em casa. Agora, eu estava exausta e precisava de um tempo sozinha.

Dona Rose ficou aflita.

— Isso não está certo. Pelo menos me deixe arrumar a casa antes de ir. Não posso receber meu salário sem trabalhar.

Na verdade, havia outra pessoa responsável pela limpeza da casa, mas ao lembrar da dedicação e diligência de dona Rose, concordei.

Meu olhar vago se fixou nela enquanto ela trabalhava, e logo notei que ela estava reunindo várias coisas que não me pertenciam. Pequenos bonecos, presilhas de cabelo coloridas, espelhos fofos e muitas cartas de personagens de desenhos animados que eu não reconhecia.

Percebi lentamente como minha casa, onde vivi por quatro anos, estava dividida. Eu gostava de tons quentes, de limpeza e da luz do sol entrando sem barreiras em cada canto. Mas todos esses cantos já estavam impregnados com a presença de Gisele.

Eu não gostava que alguém invadisse meu espaço privado, mas Gisele morava lá há quatro anos.

— Deixe isso aí, dona Rose.

— O quê?

Dona Rose estava confusa, segurando uma carta brilhante e olhando para mim sem saber o que fazer.

Sorri e expliquei:

— Vá até o quartinho da bagunça, pegue minha mala e me ajude a arrumar minhas coisas.

A pessoa que deveria ir embora não era Gisele, mas eu.

Ela me olhou com cuidado.

— Sra. Henriques, você e o Sr. Bruno brigaram? É normal que casais briguem, mas não é motivo para você sair de casa. Se alguém tem que sair, deveria ser o Sr. Bruno.

O meu humor melhorou um pouco quando ouvi aquelas palavras.

— Se eu sair, quem te pagará é o Bruno. Você ainda o tratará desse jeito?

— Então me leve com você.

Dona Rose foi escolhida a dedo por mim no mercado de trabalho, e eu não estava surpresa com sua lealdade.

— Assim que eu me estabilizar, vou te buscar. Estou acostumada com a sua comida e não sei se conseguirei comer o que outra pessoa faz.

No final, a dona Rose precisou sentar em cima da minha mala para conseguir fechar o zíper. Quando estendi a mão para pegar a bagagem, ela não soltou, resistindo teimosamente.

— Solte, dona Rose. Não pense que eu não percebi que você ligou para o Bruno.

Eu tinha ido atrás dela para pedir que pegasse minha mala maior, mas acabei presenciando uma cena inesperada. Ela ligou para Bruno dizendo que a Sra. Henriques não iria jantar e que estava fazendo as malas para sair. Em menos de três segundos, ele desligou.

Imaginei que Bruno só tivesse dito: “Deixe ela fazer o que quiser.”

Dona Rose finalmente soltou a mala, confirmando minha suspeita.

— Dona Rose, continue trabalhando aqui. Não precisa fazer nada especial na cozinha. Apenas ganhe o máximo de dinheiro que puder do Bruno e, quem sabe, faça ele falir.

Dei minhas melhores intenções a dona Rose como uma despedida.

Ela de repente piscou para mim, como se quisesse forçar algumas lágrimas. Isso não era necessário.

Acenei com a mão e virei para sair, mas tão apressada que acabei colidindo com uma parede...
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