Capítulo 6
"Ele não me ama."

Eu disse a mim mesma em silêncio depois de ouvi-lo dizer essas palavras.

Parecia que, depois de ver certas coisas com clareza, eu conseguia encontrar provas de que ele não me amava em todos os lugares. Ele já não tinha mais nenhuma paciência comigo.

Eu olhava fixamente em seus olhos, tentando enxergar ele por completo. Depois de um tempo, desviei o olhar, não querendo investigar mais. Eu também já não tinha mais expectativas.

Vendo que eu não me movia, Bruno agarrou meu pulso e me puxou para andar. Quando percebi que ele queria me levar para o closet, resisti de imediato.

Pensar que ele fez aquelas coisas ali de manhã me fazia nunca mais querer entrar naquele lugar.

O rosto de Bruno ficou sombrio e ele disse friamente:

— Ana, como posso levar você para casa se você está assim?

Eu olhei para mim mesma e vi que as roupas originalmente passadas e impecáveis agora estavam amassadas, tudo por causa dele. Realmente não dava para usar mais.

As coisas entre Bruno e eu ainda não estavam resolvidas, então não era o momento de seus pais descobrirem. Eu ainda precisava ir, de qualquer forma.

Acabei cedendo.

— Escolha qualquer coisa para mim.

— Agora você quer me dar ordens? — Ele respondeu, irritado.

Eu o olhei calmamente e perguntei:

— Você não pode nem me ajudar a escolher uma roupa?

Eu nunca tinha usufruído de seus cuidados. Durante a vida de casados, fui eu quem mantive a vida dele em ordem. Agora que estávamos nos separando, eu precisava encontrar uma maneira de compensar a mim mesma.

Logo, um vestido branco cobriu minha cabeça, seguido por suas palavras quase desumanas:

— Não vai ter próxima vez. Outras esposas não têm esse privilégio.

Outras esposas não tinham esse privilégio, mas Gisele, sim.

Ele cuidava de sua meia-irmã em pessoa, mas para mim, isso parecia uma dádiva.

No entanto, nas famílias comuns, os maridos até lavavam os pés das esposas. Escolher uma roupa, então, o que seria?

Eu puxei o vestido da minha cabeça e subi de volta para o quarto. Bruno não me seguiu; ele claramente preferia o closet.

O tecido do vestido era muito macio, com delicadas ilustrações de luas e flores. Usar aquele tecido leve e esvoaçante trazia uma sensação de estar caminhando num campo de flores.

Fiquei diante do espelho, admirando as curvas do meu corpo. Não era magra e infantil como Gisele; aos 26 anos, estava na fase mais bela de uma mulher. Esse tipo de roupa, que ressaltava a feminilidade, realmente me caía bem.

Prendi meu cabelo longo em um penteado simples, combinei com uma bolsa da mesma cor e desci as escadas.

Vestindo um terno, Bruno estava sentado no sofá com uma expressão indiferente. Ao ouvir o som dos meus passos, ele se levantou e olhou para mim.

Seus traços eram impecáveis, realçando ainda mais sua nobreza natural. Mesmo parado, ele já atraía toda a minha atenção.

Diferente de mim, seus olhos não mostravam nenhuma admiração. Ele brincava casualmente com uma pulseira na mão.

— Você nem usa uma joia. Minha mãe vai pensar que a família Henriques está à beira da falência! — Disse ele, antes de me deixar ali e ir para o carro.

Os pais de Bruno sempre foram muito gentis comigo. Pensar que ele poderia ser criticado por algo assim me fez achar a situação um pouco engraçada.

Na verdade, eu só não queria entrar no closet.

Segui ele em silêncio. Ao abrir a porta do carro, ele me impediu.

— Sente atrás.

— Por quê?

— Primeiro vou ao hospital. Gisele não está se sentindo bem, então ela vai na frente.

Meus dedos se apertaram contra a porta do carro com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos, e o sorriso no meu rosto desapareceu em um instante.

Em questão de segundos, meu mundo parecia ter passado por um terremoto. Eu me senti despedaçada, jogada no banco de trás.

Enquanto alguns morreram sob os escombros, outros pisaram nas pedras e nos cacos, comemorando livremente.

Gisele estava se recuperando bem, embora sua maneira de andar ainda fosse um pouco estranha. No entanto, Bruno a apoiava o tempo todo, e quem não soubesse do que havia acontecido não perceberia nada de anormal.

O ambiente, que antes estava pesado, ficou mais animado de repente.

Mesmo quando eu fechava os olhos para descansar, Gisele não me deixava em paz, puxando Bruno e a mim para conversar com ela sem parar.

— Irmão, estou tão feliz que você e Ana vieram me buscar. Espero que sempre me levem junto quando forem passear ou comer algo gostoso. Somos uma família e devemos ser sempre tão felizes como hoje.

Eu não respondi, e Bruno também não disse nada.

— Irmão, está bem? — Gisele perguntou de novo.

— Estou!

Satisfeita com a resposta de Bruno, ela se virou para mim, cheia de caprichos:

— Ana, Ana, Ana, Ana...

— Estou bem. — Eu não pude fazer outra coisa senão responder.

— Assim eu fico tranquila. Por favor, não briguem mais.

Antes, eu brincava dizendo que ela era adorável quando queria ser irritante, mas naquele minuto, só conseguia ver sua habilidade de manipulação.

Com Bruno como seu centro, eu como raio, e seu jeito mimado como ferramenta, ela deixava clara a interação entre eles para mim.

Ela conseguiu.

Quando chegamos à Antiga Mansão da Família Henriques, a Sra. Karina me deu um abraço caloroso e me puxou para a cozinha.

Ao ver minha mão machucada, ela a segurou e soprou gentilmente, perguntando com preocupação:

— Como você se machucou? Está doendo?

Eu retirei minha mão, e só de pensar, já sentia dor no meu peito.

Não queria falar sobre o que aconteceu no hospital, então respondi de forma evasiva, enquanto ela trazia com cuidado uma tigela de Medicina Chinesa.

— Fui passear na Cidade B há alguns dias. Lá, há um famoso Hospital de Medicina Chinesa. Trouxe remédios especialmente para você fortalecer o corpo. — Ela empurrou a tigela na minha direção, olhando ansiosamente para a minha barriga. — Beba enquanto está quente.

De vez em quando, a Sra. Karina nos trazia remédios, deixando claro que queria muito que tivéssemos um filho. Mas como alguém podia ter um filho sozinha? Eu não podia me reproduzir assexuadamente.

Embora pensasse assim, ainda apertei o nariz e tomei a Medicina Chinesa. Uma ameixa foi habilmente colocada em minha boca pela Sra. Karina.

— Muito bem. — A Sra. Karina sorriu, encorajando-me. — Leve esta tigela de remédio para o Bruno. Quando eu tento dar a ele, ele não aceita.

Se um dia realmente chegássemos ao ponto irreversível no meu casamento com Bruno, talvez a única coisa que me prenderia seria esse laço familiar.

— Querido, a sogra pediu para você tomar este remédio enquanto está quente. — Com a bandeja nas mãos, ajoelhei-me ao lado de Bruno, fingindo timidez e falando baixinho. — Talvez seus pais queiram que a gente tenha filhos.

Todos na sala ficaram surpresos com minhas palavras. Afinal, uma mulher geralmente mantinha uma certa timidez na frente do homem que amava e nunca seria tão direta.

Pietro Henriques sorriu feliz:

— Não, não, ter filhos deve seguir o ritmo de vocês. Mas aquele Rodrigo Sampaio, sempre compartilhando fotos do neto no nosso grupo de pesca, Ana, você não acha ele irritante?

Ele continuou falando e logo começou a tossir violentamente.

Na primeira metade de sua vida, ele se dedicou tanto ao Grupo Henriques que sua saúde foi arruinada. Por isso, aposentou-se cedo para levar uma vida de pesca e descanso.

Todavia, com a deterioração de sua saúde, toda sua energia estava voltada para os tratamentos médicos. Sem hobbies, ele se concentrou mais na continuidade da família.

Eu bati levemente nas costas dele, tentando confortá-lo, enquanto Bruno, satisfeito por eu não ter mencionado o divórcio, esboçou um leve sorriso e tomou o remédio de uma vez. Aproximei-me e depositei um beijo em seus lábios.

— Agora não está mais amargo.

Pelo canto do olho, vi o sorriso de Gisele congelar no rosto.

Diante de quem não sabia, eu nunca revelaria o que se passava entre eles. Se alguém decidisse expor a situação, a culpa não seria minha.

Quanto mais me aproximava da verdade, mais medo sentia. No entanto, não conseguia controlar o desejo de explorar...
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