Capítulo 3
O celular de Bruno estava sobre o armário de relógios, preso entre duas caixas de relógio. A mão dele estava apoiada na superfície do armário, enquanto a outra se movia rapidamente abaixo dele.

No chão, não muito longe dele, estava a toalha cinza que ele havia chutado. Mesmo que seu corpo estivesse parcialmente escondido, não era difícil adivinhar o que ele estava fazendo.

Sons de intimidade logo preencheram o closet, carregados de sensualidade.

Meus dedos dos pés se cravaram no chão de madeira, e uma sensação de frio percorreu meu corpo. Meu corpo inteiro ficou paralisado como se eu estivesse enfeitiçada.

Ele logo pegou algumas folhas de papel toalha. Achei que ele tinha terminado, mas, para minha surpresa, ele começou tudo de novo.

Só agora a dor real tomou conta de mim. Cada movimento do braço dele parecia cortar meu coração profundamente.

Algumas fotos de Gisele eram suficientes para tirar meu marido da nossa cama. Ele preferia resolver suas necessidades sozinho, olhando suas fotos, do que estar comigo, uma pessoa viva deitada ao lado dele?

Nesse momento, uma voz ecoou na minha mente, deixando-me entorpecida.

“Bruno está me traindo!”

Suas ações destruíram todo o meu mundo. A traição da pessoa que eu mais amava e o pisoteio da minha dignidade foram confirmados naquele instante.

Não entendia por que, mesmo sorrindo, as lágrimas continuavam a cair.

Não o interrompi. Voltei sozinha para o quarto, fechei bem a porta, chorei por alguns momentos e depois, lavei o rosto e me maquiei, apressada. Eu precisava chegar ao hospital antes dele para encontrar Gisele.

O tribunal não me daria mais bens só porque meu marido satisfazia suas necessidades com fotos. Eu precisava encontrar mais evidências concretas.

No quarto do hospital, Gisele estava mexendo no celular. O seu rosto passou por uma variedade de expressões, mais rápida do que um semáforo, quando ela me viu entrar.

— Ana, por que você veio aqui?

Ela nunca me chamava de cunhada. Antes, eu achava que era um sinal de proximidade, mas naquele momento, senti uma sensação indescritível.

Caminhei até a cama dela com um sorriso leve e sentei-me ao seu lado, estendendo a mão para acariciar sua bochecha enquanto falava devagar:

— Ouvi meu marido dizer que você estava internada, então vim ver como você está. O que há de errado? Conte para mim.

De propósito, enfatizei a palavra “marido”. Se Bruno fosse como um cofre impenetrável, Gisele seria uma brecha.

O rosto de Gisele ficou vermelho. Eu imaginei que ela ficaria constrangida por mencionar algo tão íntimo para mim. Sua bochecha roçou em minha mão enquanto ela começava a fazer manha.

— Meu irmão é mesmo chato. Pedi para não contar à família porque não queria que vocês se preocupassem. — Ela sorriu, continuando com seu jeito manhoso, com as pequenas mãos sobre o peito. — Ana, estou com dor aqui. Quero comer uma maçã.

Eu fui ao hospital para encontrar provas da traição de Bruno e, quanto a Gisele, eu realmente não queria mostrar simpatia. Mas o meu coração doeu ao ouvi-la falando daquela maneira, relembrando dos bons momentos em que passamos juntas.

Afinal, convivemos por quatro anos e eu sempre tive um carinho especial por Gisele. Eu a considerava uma irmã verdadeira e tudo o que eu tinha, ela também recebia.

Quando ela visitava meu quarto, eu dava a ela sem hesitar qualquer coisa que quisesse. Em relação a cuidados e alimentação, nunca a tratei com dureza.

Todavia, eu dei meu coração para as duas que me traíram.

Eu fui cega por tantos anos.

Se eu tivesse segurando uma maçã em uma mão e uma faca na outra, e tivesse que escolher entre ferir a maçã ou a Gisele, escolheria a mim mesma. Eu fui muito ingênua.

— Ana é a melhor para mim! — Ela disse, encorajando-me enquanto eu começava a descascar a maçã. Em seguida, levantou o celular para me mostrar. — Olha, essa foto que acabei de tirar, ficou bonita?

Na foto, sob o filtro de beleza, ela parecia radiante. Vestida com a roupa do hospital, não parecia estar doente, mas sim como uma jovem participando de uma moda ao encenar a vida de uma paciente.

— Linda. Você fica bonita em qualquer foto, Gisele. — Respondi sem pensar muito.

Ela deslizava os dedos sobre a tela, mostrando todas as fotos que tinha tirado, enquanto continuava a falar:

— O irmão é um grande malvado, só sabe me enrolar. Olha só, mando as fotos para ele e ele só me deu um “sim” de volta.

Bruno sempre foi reservado, mas ele era incrivelmente paciente com Gisele, respondendo a cada frase dela.

“Estou bonita?”

“Sim.”

“Irmão, por que você ainda não chegou?”

“Estou a caminho.”

“Qual foto você acha a mais bonita?”

“A segunda.”

Pensei na minha própria conversa com Bruno. Talvez todas as respostas que ele já me deu não somassem nem um décimo das que dava para Gisele.

— Seu irmão está ocupado. — Respondi, meio distraída.

— Ana, o que você está fazendo aqui?

— Irmão! Você chegou!

Nunca imaginei que um quarto de hospital fechado pudesse ecoar com tantas vozes ao mesmo tempo.

Bruno parou na luz e sombra quando se aproximou, minhas lágrimas caíram no chão, fazendo-me sentir que o som delas era tão alto que parecia ensurdecedor.

Meu pulso foi agarrado de repente, e Bruno me puxou para fora do quarto.

Meu ombro bateu contra a parede, ao lado da porta, mas eu cerrei os dentes e suportei a dor.

Ele abaixou a cabeça, ajeitando as mangas, e falou devagar, mas com muita seriedade:

— Diga, o que houve com você hoje?

— Vim visitar a Gisele. Fico preocupada se não venho. Agora que você está aqui, eu vou embora...

— Não há nada para visitar. Já disse que é um problema de sempre, ela se recuperará em alguns dias.

Ele não queria que eu visitasse Gisele, mas ele mesmo ficava aqui dia e noite. Não era suspeito?

— Por que tem tanto medo que eu venha? Está escondendo algo...

— Irmão! — Um grande grito de choro veio de dentro do quarto.

Vi Bruno se contorcer como se tivesse levado um choque e, por reflexo, ele correu para dentro do quarto. Gisele havia cortado a mão por acaso enquanto tentava terminar de descascar a maçã que eu não tinha terminado.

Eu agarrei a manga dele com pressa.

— Bruno, então eu vou indo...

Bruno me interrompeu:

— Falaremos sobre isso mais tarde. Você não viu que Gisele se machucou?

A expressão ansiosa dele me deixou atordoada por um momento, e, assim, esqueci de soltar. Com um puxão forte, o botão da manga dele arrancou a unha do meu polegar. A dor foi tão intensa que caí no chão, sem conseguir me equilibrar.

Mas o olhar dele estava fixo apenas em Gisele.

Ao ver ele se esforçando por outra mulher, percebi que minha devoção por ele, ao longo desses vinte anos, estava se desfazendo. Com as mãos ensanguentadas, afastei-me e fechei a porta com força, isolando suas vozes do meu mundo.

Fui até a recepção e marquei uma consulta. A enfermeira disse que todos os cirurgiões estavam ocupados enquanto cuidavam do quarto VIP na ala superior, e pediu que eu esperasse. Assenti e agradeci.

Depois de aguardar tantos anos, eu ainda precisava continuar esperando?

Mais tarde, o médico disse que a unha estava presa à matriz ungueal e precisaria ser removida.

— É um procedimento pequeno, chame um familiar para acompanhá-la.

Olhei para a unha presa à carne, seu aspecto sanguinolento realmente parecia justificar uma cirurgia. Será que Bruno sentiria minha dor e sofreria se visse isso?

Ele estava no hospital, mas não atendia minhas ligações.

— Tudo bem, doutor, posso fazer isso sozinha.

Entrei na sala de cirurgia sozinha e observei o médico aplicar uma série de anestesias em volta do meu dedo com uma agulha grande. Eu segurei a dor e não disse uma palavra.

Ele me olhou, admirado.

— Isso dói muito, muitos homens não aguentam. Mais cedo, eu enfaixei um pequeno corte em uma moça que chorava muito e se agarrava desesperadamente ao namorado. Mas ele era realmente atencioso, cuidando muito bem dela.

Respondi calmamente:

— Se meu marido estivesse aqui, eu também choraria.

O médico, tentando me distrair, brincou:

— Então, vamos esperar ele chegar.

Balancei a cabeça e disse:

— Meu marido provavelmente é esse namorado atencioso de outra pessoa que você mencionou.
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