“Martim Monterrey”
Depois que saímos da casa da Mônica eu decidi ir para o meu apartamento e pedi ao Emiliano que me deixasse sozinho. Ele relutou, mas recebeu a ligação de uma amiga que estava na cidade e precisou ir encontrá-la.
- Eu vou te mandar o nome do restaurante onde vou estar, se você mudar de idéia, me encontra lá. – O Emiliano insistiu antes de sair.
- Não se preocupe, meu amigo, eu vou ficar bem! – Tentei manter a calma para que ele não se preocupasse, pois ele era bem capaz de mandar a amiga vir para o apartamento e me incluir nesse jantar, só para não me deixar sozinho.
Depois que ele saiu, eu olhei em volta e comecei a ficar agitado novamente. Esse apartamento seria onde eu iria morar com a minha esposa, a noiva fujona. Eu tinha um ótimo apartamento não muito longe dali, mas como me casaria e depois da lua de mel moraria nesse, eu havia esvaziado o meu antigo apartamento e entregado as chaves para o corretor no dia anterior.
Mas olhando agora, eu não gostava desse lugar, nunca gostei. Eu queria ter comprado uma casa, mas a Alice insistiu que queria a cobertura, que era mais moderna e perto da agitação da cidade. Mas esse lugar era sufocante! A Alice havia decorado e era tudo muito branco, cheio de vidro, sem cor, sem calor, sem nenhuma curva interessante, sem personalidade. Eu me sentia como se estivesse dentro de um caixote. E eu fui ficando cada vez mais claustrofóbico. Eu precisava sair dali.
Fui até o quarto e fiz uma mala, diferente da que já estava pronta, pois eu não sairia em lua de mel, de modo que precisava de roupas de trabalho na mala. Peguei a chave do carro e saí dali.
Escolhi o melhor hotel da cidade e me registrei, ficaria lá temporariamente. Dispensei o carregador, eu mesmo poderia levar a minha bagagem. Mas quando me virei do balcão para ir em direção aos elevadores eu colidi com uma mulher distraída que vinha chegando com sua atenção totalmente voltada para o celular. O celular dela se espatifou no chão e o enorme copo de plástico que ela segurava, com uma bebida roxa e gelada, se desfez no meu peito e impregnou a minha camisa branca com aquele líquido.
- Aaaiii! MEU CELULAR! – Ela gritou desesperada vendo o celular quebrado no chão de mármore do hotel.
- MAS QUE INFERNO! VOCÊ NÃO OLHA POR ONDE ANDA? – Gritei com ela e estremeci, sentindo todo o gelo daquela bebida estranha se espalhar pelo meu torso.
O que mais faltava acontecer nesse dia? Fui abandonado no altar, traído pela minha noiva e por dois funcionários, uma de extrema confiança, não tenho casa, afinal não aguento ficar naquele maldito apartamento e agora encontro uma louca que tenta me congelar com essa coisa roxa!
- Eu não olho por onde ando? Foi você quem se virou de repente! – Ela não se intimidou. Era bem mais baixa que eu e me olhou com a cabeça totalmente virada para cima, as mãos na cintura, o nariz arrebitado e aqueles olhos cor de mel escrutinadores.
- Eu? Você é louca? Eu estava aqui no balcão, minha filha, não tenho olhos atrás da cabeça! – Repliquei sentindo a raiva crescer dentro de mim e todo aquele gelo no meu peito escorrer para a minha calça.
- Mas foi você quem se virou num solavanco! Quem se vira assim, num solavanco, como se fosse começar a correr? Agora você vai ter que me pagar o celular! – Ela reclamou e eu quis esganar aquela coisinha atrevida que gesticulava à minha frente.
- Eu não vou pagar nada, sua doida! A culpa foi sua. Você é uma sem noção, já deu para perceber. Você é quem estava com os olhos grudados na tela do celular e não prestou atenção por onde ia! Estragou a minha camisa. – Eu não estava nem aí para a camisa, mas aquela doida não precisava saber.
- Senhor, por favor! Senhorita! Por favor, se acalmem. – O funcionário do hotel veio depressa para intervir e se abaixou para recolher o celular do chão. – Senhor, nós temos uma excelente lavanderia, podemos cuidar das suas roupas...
- Ih, não sei não, dizem que mirtilo mancha! – Aquela coisinha atrevida cruzou os braços na frente do corpo e falou em tom de deboche.
Olhei para aquela criatura e eu quis fazê-la engolir suas palavras debochadas. Ela usava um vestidinho imaculadamente branco que, para a sorte dela, não tinha mais do que uns poucos respingos quase imperceptíveis daquela bebida estranha, pois ela colidiu comigo meio de lado e toda a bebida ficou na minha roupa. E eu tive uma idéia para tirar aquele sorrisinho do rosto daquela diabinha insuportável. Eu a abracei e esfreguei o meu corpo nela, tentando transferir o máximo possível do líquido em minha roupa para ela.
- Mas, o... o que é isso? Me solta sua besta! Você está me sujando, me solta! – Ela reclamava enquanto eu a segurava.
Quando a soltei, ela olhou para o vestido aturdida, a expressão dela era algo como não acreditar e querer me matar. Eu fiquei satisfeito com isso e devolvi pra ela um sorriso debochado. Aquele vestidinho branco estava acabado, com uma grande mancha em toda a sua extensão.
- Seu... seu... SEU DEMÔNIO! – Ela gritou novamente. – Você acabou com o meu vestido! Agora eu vou me atrasar. – Ela se virou para o funcionário do hotel quase em lágrimas. – Em quanto tempo você acha que a lavanderia consegue me entregar esse vestido limpo?
- Ops, ouvi dizer que mirtilo mancha! – Respondi com o mesmo sarcasmo que ela falou comigo e sorri.
Me virei e saí dali rumo aos elevadores e deixei aquela doida gritando na recepção. O funcionário do hotel que se entendesse com ela. Cheguei à minha suíte e fui direto para o banheiro, comecei a tirar aquela roupa molhada e manchada e enquanto tirava a camisa ainda sentia o cheiro do perfume daquela coisinha atrevida, ela era louca, mas cheirava bem. E pela primeira vez hoje, depois que fui abandonado no altar, eu dei um pequeno sorriso, genuíno e divertido.
“Abigail Zapata”Estava tudo correndo tão perfeitamente bem! Até eu encontrar aquela besta no saguão do hotel. O que eu ia fazer? Aquele brutamontes arruinou o meu vestido e meu celular estava quebrado. Eu precisava de um celular novo e precisava de um banho. Eu estava prontinha para ir para o meu compromisso, comprei esse vestido especialmente para isso e agora ele estava destruído.- O que eu faço agora? – Eu olhava para o funcionário do hotel e estava quase chorando.- Senhorita, tem uma loja de celulares aqui perto, posso mandar o seu aparelho para o conserto, mas não deve ficar pronto hoje. Quanto ao vestido, podemos entregá-lo amanhã. Eu lamento por não conseguir ser mais rápido. – O funcionário me olhava até constrangido.- Tudo bem. – Suspirei. Não tinha jeito, eu teria que improvisar. – Eu não posso ficar sem o celular, você acha que eles podem trazer um novo aqui pra mim?- Com certeza, eu conheço o gerente de lá. Vou ligar imediatamente para ele. – O funcionário era prestat
“Martim Monterrey”Já havia se passado um mês desde que a Alice me deixou plantado no altar e desde então eu me tornei outra pessoa. Eu não vejo graça em mais nada, me tornei impaciente e irritado. Não confio mais nas pessoas, apenas na minha família e no meu amigo Emiliano. Mas, principalmente, eu agora não era mais o mesmo em relação às mulheres, eu apenas as usava para o meu prazer, mas nenhuma, nunca mais, teria o meu coração ou a minha gentileza, nunca mais! Eu fui traído de muitas maneiras, fui apunhalado pelas costas e esse tipo de coisa muda as pessoas. E me mudou!Pelo menos eu já tinha vendido aquele apartamento que eu odiava. Uma detestável cobertura triplex no prédio mais nobre da cidade que eu só comprei porque era o que a minha ex noiva queria. Eu não poderia morar lá, tanto porque eu achava o lugar horrível, quanto porque era o lugar onde eu moraria depois de me casar. Mas eu não me casei, então me livrei do apartamento. Passei uma semana no hotel, o mesmo hotel onde eu
“Emiliano Quintana”O nome que brilhava na tela do meu celular era o da minha amiga Abigail. Ela era uma grande amiga e foi muito importante em uma fase difícil da minha vida. Abigail e eu nos falávamos com frequência e havíamos nos falado na noite anterior. Então estranhei sua ligação tão cedo.- Oi, Abi! Já está com saudade de mim? – Brinquei com ela, mas a voz que eu ouvi era de uma Abigail chorosa.- Emi, o meu pai morreu! – Ela falou e soluçou no fim da frase.Abigail era filha de um magnata que possuía vários negócios ao redor do mundo. Era um homem influente e acostumado a ter as coisas à sua maneira. Ela era a única filha, perdeu a mãe quando tinha apenas dez anos e por um tempo foram só ela e o pai, mas uns cinco anos depois o pai se casou com uma mulher muito bonita, mas que já estava no quarto marido e tinha um filho da idade da Abi. A Abi odiava o garoto, mas foi obrigada a conviver com ele e logo a madrasta já tinha o novo marido sob seu completo domínio e a Abi sofreu ba
“Abigail Zapata”Com a morte do meu pai eu não tinha mais nenhum parente vivo no mundo. Mas eu tinha o Tony, um bom amigo do meu pai e homem de confiança dele, que assim como eu nunca suportou a minha madrasta, e tinha o Emiliano, meu amigo e amor da minha vida. Mas o Emiliano não sabia que ele era o amor da minha vida, porém, ele era a minha rocha, estava sempre pronto a me ajudar.Eu sabia que quando ligasse para ele eu não precisaria pedir, ele viria depressa e se colocaria ao meu lado. Ele era assim, generoso e bom. E foi o que ele fez. Eu estava descendo as escadas daquela mansão horrorosa que eu odiava, quando o Emiliano entrou e eu corri até ele.- Minha querida, eu sinto muito! – Ele falou ao me abraçar, com carinho e gentileza.- Emiliano? Você aqui? – A minha madrasta Magda se aproximou. Ela não gostava do Emiliano, ela não gostava de nada do que me fazia feliz, e ela nos afastou o máximo que pôde.- Sim, Sra. Zapata. É claro que eu viria apoiar a Abigail. Eu sinto muito pel
“Abigail Zapata”A Magda estava de pé, com as faces vermelhas de raiva e o dedo em riste. Mas o testamenteiro não se deixou intimidar e se colocou de pé, dando um tapa seco na mesa que assustou a todos nós.- Eu não terminei senhora. – O testamenteiro a encarou de forma severa e ela se calou. – Se a Abigail não se casar, todo o patrimônio será destinado a senhora. – Com isso aquela vaca riu, com certeza pensou que eu ficaria solteirona. E o testamenteiro continuou: – A senhora vai receber uma mesada mensal, assim como a Abigail, a quantia paga será a mesma para as duas, a diferença é que a sua será vitalícia se a senhora permanecer viúva, sem colocar outro homem em sua vida, seja como marido, amante, namorado ou amásio, caso isso ocorra a senhora perde a pensão imediatamente. Já a da Abigail cessa em um ano.- Mas esse testamento é uma piada! – A cobra se manifestou outra vez. E eu era obrigada a concordar. Se eu não me casasse o meu pai cumpriria o prometido e me deixaria sem nada.-
“Abigail Zapata”Eu pretendia ficar na casa do Emiliano, mas a mãe dele, ao saber que eu estava indo para a cidade, fez questão de me receber. Seriam só uns poucos dias, pois eu logo arrumaria um lugar para morar e procuraria um emprego. Eu poderia ter pedido um emprego para o Emiliano, mas eu não queria ser a amiga chata que vive pedindo favores, além do mais, ele tinha um sócio e me impor para o sócio seria meio chato, talvez eles nem tivessem uma vaga para me encaixar, então achei melhor procurar um emprego. Eu trabalhei por um bom tempo em uma empresa de arquitetura de um amigo do meu pai, poderia conseguir algo facilmente.E foi assim, uma semana depois eu aluguei um apartamentinho simpático e me mudei. Mas fiquei muito grata a D. Branca por ter me recebido. Eu estava preparando o meu currículo, sentada na sala do meu novo lar, quando o meu celular tocou. Era o Emiliano, ele havia passado o fim de semana fora, visitando um cliente.- Oi, Emi! Já chegou de viagem? – Perguntei logo
“Martim Monterrey”Eu estava em minha sala revendo um projeto quando ouvi uma batida na porta e mandei entrar.- Oi, Martim! Eu estava aqui por perto e resolvi vir te dar um oi. – Levantei os olhos e via Suzana, uma conhecida de uma das minhas irmãs, com quem eu não tinha intimidade nenhuma, mas tinha cruzado em um bar um dia desses.- Suzana. Aqui é o meu local de trabalho, não a minha sala de visitas. – Respondi, mas a mulher nem se intimidou, entrou e fechou a porta atrás de si.- Mas você não tem tempo para um cafezinho? – Ela apoiou as mãos sobre a minha mesa e se debruçou, me dando uma boa visão dos seus peitos no decote da blusa.- Você não veio aqui pra tomar um cafezinho, não é mesmo, Suzana? – Me recostei na cadeira e observei aquela mulher dar a volta na mesa e parar em minha frente.Ela era uma mulher bonita, magra, alta e, pelo que eu vi no bar, não tinha muitos pudores.- É, não vim. Mas aquele dia no bar, não tivemos muito tempo pra conversar, você logo saiu com aquela
“Abigail Zapata”Eu amava o Emiliano, mas nesse momento eu estava bastante irritada com ele. Eu mal suportava aquela besta do amiguinho dele e o Emiliano me obrigaria a receber o insuportável do Martim em minha casa. Ah, mas isso era demais!Mas, por outro lado, sendo a besta do Martim amigo do meu Emiliano, e sócio, eu teria mesmo que aprender a suportá-lo. Mesmo achando isso bem difícil. Só que não tinha jeito, eu teria que conviver com aquela criatura.Depois que eu acertei os detalhes do meu novo trabalho com o Emiliano e ele me apresentou para toda a equipe, eu fui pra casa, precisava preparar o jantar. Minha vontade era colocar um laxante na comida daquela besta do Martim, mas como eu poderia fazer isso? Até a hora em que tirei a lasanha do forno eu ainda não tinha pensado em como eu poderia envenenar o insuportável do Martim sem que o Emiliano percebesse. E foi nesse momento que a campainha tocou.Eu sabia que era o Emiliano, pois já havia deixado a entrada dele liberada na por