Capítulo 3: Coisinha atrevida

“Martim Monterrey”

Depois que saímos da casa da Mônica eu decidi ir para o meu apartamento e pedi ao Emiliano que me deixasse sozinho. Ele relutou, mas recebeu a ligação de uma amiga que estava na cidade e precisou ir encontrá-la.

- Eu vou te mandar o nome do restaurante onde vou estar, se você mudar de idéia, me encontra lá. – O Emiliano insistiu antes de sair.

- Não se preocupe, meu amigo, eu vou ficar bem! – Tentei manter a calma para que ele não se preocupasse, pois ele era bem capaz de mandar a amiga vir para o apartamento e me incluir nesse jantar, só para não me deixar sozinho.

Depois que ele saiu, eu olhei em volta e comecei a ficar agitado novamente. Esse apartamento seria onde eu iria morar com a minha esposa, a noiva fujona. Eu tinha um ótimo apartamento não muito longe dali, mas como me casaria e depois da lua de mel moraria nesse, eu havia esvaziado o meu antigo apartamento e entregado as chaves para o corretor no dia anterior.

Mas olhando agora, eu não gostava desse lugar, nunca gostei. Eu queria ter comprado uma casa, mas a Alice insistiu que queria a cobertura, que era mais moderna e perto da agitação da cidade. Mas esse lugar era sufocante! A Alice havia decorado e era tudo muito branco, cheio de vidro, sem cor, sem calor, sem nenhuma curva interessante, sem personalidade. Eu me sentia como se estivesse dentro de um caixote. E eu fui ficando cada vez mais claustrofóbico. Eu precisava sair dali.

Fui até o quarto e fiz uma mala, diferente da que já estava pronta, pois eu não sairia em lua de mel, de modo que precisava de roupas de trabalho na mala. Peguei a chave do carro e saí dali.

Escolhi o melhor hotel da cidade e me registrei, ficaria lá temporariamente. Dispensei o carregador, eu mesmo poderia levar a minha bagagem. Mas quando me virei do balcão para ir em direção aos elevadores eu colidi com uma mulher distraída que vinha chegando com sua atenção totalmente voltada para o celular. O celular dela se espatifou no chão e o enorme copo de plástico que ela segurava, com uma bebida roxa e gelada, se desfez no meu peito e impregnou a minha camisa branca com aquele líquido.

- Aaaiii! MEU CELULAR! – Ela gritou desesperada vendo o celular quebrado no chão de mármore do hotel.

- MAS QUE INFERNO! VOCÊ NÃO OLHA POR ONDE ANDA? – Gritei com ela e estremeci, sentindo todo o gelo daquela bebida estranha se espalhar pelo meu torso.

O que mais faltava acontecer nesse dia? Fui abandonado no altar, traído pela minha noiva e por dois funcionários, uma de extrema confiança, não tenho casa, afinal não aguento ficar naquele maldito apartamento e agora encontro uma louca que tenta me congelar com essa coisa roxa!

- Eu não olho por onde ando? Foi você quem se virou de repente! – Ela não se intimidou. Era bem mais baixa que eu e me olhou com a cabeça totalmente virada para cima, as mãos na cintura, o nariz arrebitado e aqueles olhos cor de mel escrutinadores.

- Eu? Você é louca? Eu estava aqui no balcão, minha filha, não tenho olhos atrás da cabeça! – Repliquei sentindo a raiva crescer dentro de mim e todo aquele gelo no meu peito escorrer para a minha calça.

- Mas foi você quem se virou num solavanco! Quem se vira assim, num solavanco, como se fosse começar a correr? Agora você vai ter que me pagar o celular! – Ela reclamou e eu quis esganar aquela coisinha atrevida que gesticulava à minha frente.

- Eu não vou pagar nada, sua doida! A culpa foi sua. Você é uma sem noção, já deu para perceber. Você é quem estava com os olhos grudados na tela do celular e não prestou atenção por onde ia! Estragou a minha camisa. – Eu não estava nem aí para a camisa, mas aquela doida não precisava saber.

- Senhor, por favor! Senhorita! Por favor, se acalmem. – O funcionário do hotel veio depressa para intervir e se abaixou para recolher o celular do chão. – Senhor, nós temos uma excelente lavanderia, podemos cuidar das suas roupas...

- Ih, não sei não, dizem que mirtilo mancha! – Aquela coisinha atrevida cruzou os braços na frente do corpo e falou em tom de deboche.

Olhei para aquela criatura e eu quis fazê-la engolir suas palavras debochadas. Ela usava um vestidinho imaculadamente branco que, para a sorte dela, não tinha mais do que uns poucos respingos quase imperceptíveis daquela bebida estranha, pois ela colidiu comigo meio de lado e toda a bebida ficou na minha roupa. E eu tive uma idéia para tirar aquele sorrisinho do rosto daquela diabinha insuportável. Eu a abracei e esfreguei o meu corpo nela, tentando transferir o máximo possível do líquido em minha roupa para ela.

- Mas, o... o que é isso? Me solta sua besta! Você está me sujando, me solta! – Ela reclamava enquanto eu a segurava.

Quando a soltei, ela olhou para o vestido aturdida, a expressão dela era algo como não acreditar e querer me matar. Eu fiquei satisfeito com isso e devolvi pra ela um sorriso debochado. Aquele vestidinho branco estava acabado, com uma grande mancha em toda a sua extensão.

- Seu... seu... SEU DEMÔNIO! – Ela gritou novamente. – Você acabou com o meu vestido! Agora eu vou me atrasar. – Ela se virou para o funcionário do hotel quase em lágrimas. – Em quanto tempo você acha que a lavanderia consegue me entregar esse vestido limpo?

- Ops, ouvi dizer que mirtilo mancha! – Respondi com o mesmo sarcasmo que ela falou comigo e sorri.

Me virei e saí dali rumo aos elevadores e deixei aquela doida gritando na recepção. O funcionário do hotel que se entendesse com ela. Cheguei à minha suíte e fui direto para o banheiro, comecei a tirar aquela roupa molhada e manchada e enquanto tirava a camisa ainda sentia o cheiro do perfume daquela coisinha atrevida, ela era louca, mas cheirava bem. E pela primeira vez hoje, depois que fui abandonado no altar, eu dei um pequeno sorriso, genuíno e divertido.

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