“Abigail Zapata”
Eu pretendia ficar na casa do Emiliano, mas a mãe dele, ao saber que eu estava indo para a cidade, fez questão de me receber. Seriam só uns poucos dias, pois eu logo arrumaria um lugar para morar e procuraria um emprego. Eu poderia ter pedido um emprego para o Emiliano, mas eu não queria ser a amiga chata que vive pedindo favores, além do mais, ele tinha um sócio e me impor para o sócio seria meio chato, talvez eles nem tivessem uma vaga para me encaixar, então achei melhor procurar um emprego. Eu trabalhei por um bom tempo em uma empresa de arquitetura de um amigo do meu pai, poderia conseguir algo facilmente.
E foi assim, uma semana depois eu aluguei um apartamentinho simpático e me mudei. Mas fiquei muito grata a D. Branca por ter me recebido. Eu estava preparando o meu currículo, sentada na sala do meu novo lar, quando o meu celular tocou. Era o Emiliano, ele havia passado o fim de semana fora, visitando um cliente.
- Oi, Emi! Já chegou de viagem? – Perguntei logo.
- Cheguei sim, Abi. E você, soube que já se mudou? – Ele parecia bem humorado como sempre.
- Sim, ontem. E hoje você vem jantar comigo! – Eu já estava com tudo organizado e não aceitaria um não.
- Tá, mas antes eu preciso de você. Você quer trabalhar mesmo? – A pergunta dele me interessou.
- Muito, Emi, eu não sei ficar parada.
- Eu tenho uma proposta pra você. Uma função na minha empresa. – Mas isso era perfeito demais.
- Aceito! – Respondi imediatamente.
- Mas eu nem falei ainda o que é!
- Nem precisa, eu vou aceitar de qualquer jeito. – Ele riu, uma gargalhada divertida que eu adorava ouvir.
- Então vem pra cá, vem começar a trabalhar.
- Chego em uma hora. – Desliguei o telefone, tomei um banho e me vesti, caprichei na roupa e na maquiagem e peguei um taxi. Eu lamentei ter deixado o meu carro pra trás, mas estava registrada na empresa do meu pai e eu não poderia levá-lo.
Cheguei ao escritório do Emiliano e fiquei surpresa, era a primeira vez que eu ia lá. Era uma linda casa, enorme, com muitos funcionários e uma decoração acolhedora. Era tudo lindo, claro e fresco. Me apresentei à recepcionista e ela me indicou o caminho, no final do corredor, a última porta à direita, disse que ele estava me esperando.
Eu fui, confiante e animada, passaria muito mais tempo com o Emiliano vindo trabalhar para ele. Quando cheguei à última porta à minha direita eu dei uma batidinha leve e a abri.
Eu fiquei em choque com o que vi ali! Não era o Emiliano. Era um outro homem, enorme e musculoso, com os cabelos castanhos claros bem curtinhos. Havia uma mulher debruçada sobre a mesa dele e ele estava transando com ela ali, como se estivesse na casa dele. De repente os seus olhos me viram e ele vociferou um xingamento. E então eu me lembrei dele, era a besta do hotel, o mesmo homem com o qual eu trombei no hotel um mês atrás!
- Mas que porra é essa? – Ele se afastou da mulher e arrumou a própria calça. – Quem diabos é você?
- Quem diabos é você? – Gritei com ele. Ele parecia não ter me reconhecido, então eu fiz a sonsa também. – Usando o escritório dos outros como motel. Não tem vergonha na sua cara não?
- Ora, sua... – Ele não falou o que pensou, mas eu bem podia imaginar.
Enquanto a mulher sobre a mesa se arrumava sem sequer estar constrangida, ele caminhou até a porta e me empurrou pra fora, de repente ele estreitou os olhos e me observou. Não demorou para que a mulher passasse por nós e desaparecesse saindo pela porta da recepção.
- Ah, mas é claro, você é a doida do hotel! Está me seguindo por acaso, sua doida? – Ele se lembrou, para minha tristeza ele se elmbrou.
- Eu te seguir? O doido aqui é você! Eu tenho coisa melhor pra fazer da vida, meu filho! – Respondi.
- Sendo assim, já que não está me seguindo, sua intrusa, saia por onde você entrou antes que eu chame a segurança para tirar você! – Ele continuava com as grosserias.
- Eu não vou sair, se eu estou aqui é porque tenho motivo, já você, deveria ser colocado no meio da rua por estar fazendo o que eu vi aqui no horário de trabalho.
- Ah, é? E quem me demitiria, sua atrevida? – Ele cruzou os braços na frente do peito e eu vi o quanto ele era grande.
- O seu chefe! – Coloquei o dedo bem no nariz dele. – Mas eu vou contar pra ele, pode ter certeza de que eu vou contar tudo pra ele.
- Pelo amor de deus, mas você é louca é? De qual hospício você fugiu? Ô, Maria Luíza, vem aqui agora e me explica como você deixa uma louca dessas entrar? – Ele gritava comigo e de repente pareceu começar a gritar com a mulher que estava lá na recepção. Era um grosso!
A mulher da recepção veio correndo e quando se aproximou parecia estar até tremendo.
- Moça, você entrou na porta errada! – A mulher falou com um fio de voz. – Era na porta à esquerda.
- Mas você disse à direita! – Protestei.
- Não eu disse a esquerda! – Ela insistiu como se eu fosse idiota.
- Não disse, não! – Insisti.
- Não me interessa quem disse o quê! Maria Luiza, tira essa louca daqui agora! – O ogro voltou a gritar.
- Eu não vou a lugar nenhum! – Eu o encarei. – E você pode ir juntando as suas coisinhas, porque quando o dono da empresa ficar sabendo você vai pra rua, meu filho!
- Você é uma sem noção! Escuta aqui, insuportável, você pode ir dando meia volta e voltando para o hospício de onde saiu. Quer saber, eu mesmo te jogo na rua. – Ele pegou o meu braço e saiu me puxando enquanto eu me debatia, mas nós não demos mais que dois passos.
- Pelo amor de deus, o que está acontecendo aqui? – O Emiliano parou em nossa frente.
- Ai, Emi, graças a deus! Esse seu funcionário grosso que está sendo um idiota. – Falei apontando para o outro.
- Você conhece essa louca, Emiliano? – O grosseirão perguntou.
- Minha nossa! Pra minha sala, os dois. Malu, você pode voltar para a recepção, por favor. – O Emiliano elevou a voz para dispersar a platéia que havia parado para apreciar o espetáculo. – Todo mundo de volta ao trabalho!
O Emiliano passou por nós e abriu a porta da sala à esquerda, que ficava logo em frente a sala na qual eu entrei. Eu olhei confusa pra ele e a coisa ficou pior quando eu descobri o nome do sujeito grosseiro com quem eu bati boca.
- Anda, Martim, você e a Abigail, pra minha sala! – O Emiliano tornou a dizer.
Naquele momento eu tinha certeza que a minha vaga de trabalho tinha descido pelo ralo! Eu abaixei a cabeça e entrei na sala que o Emiliano indicava.
“Martim Monterrey”Eu estava em minha sala revendo um projeto quando ouvi uma batida na porta e mandei entrar.- Oi, Martim! Eu estava aqui por perto e resolvi vir te dar um oi. – Levantei os olhos e via Suzana, uma conhecida de uma das minhas irmãs, com quem eu não tinha intimidade nenhuma, mas tinha cruzado em um bar um dia desses.- Suzana. Aqui é o meu local de trabalho, não a minha sala de visitas. – Respondi, mas a mulher nem se intimidou, entrou e fechou a porta atrás de si.- Mas você não tem tempo para um cafezinho? – Ela apoiou as mãos sobre a minha mesa e se debruçou, me dando uma boa visão dos seus peitos no decote da blusa.- Você não veio aqui pra tomar um cafezinho, não é mesmo, Suzana? – Me recostei na cadeira e observei aquela mulher dar a volta na mesa e parar em minha frente.Ela era uma mulher bonita, magra, alta e, pelo que eu vi no bar, não tinha muitos pudores.- É, não vim. Mas aquele dia no bar, não tivemos muito tempo pra conversar, você logo saiu com aquela
“Abigail Zapata”Eu amava o Emiliano, mas nesse momento eu estava bastante irritada com ele. Eu mal suportava aquela besta do amiguinho dele e o Emiliano me obrigaria a receber o insuportável do Martim em minha casa. Ah, mas isso era demais!Mas, por outro lado, sendo a besta do Martim amigo do meu Emiliano, e sócio, eu teria mesmo que aprender a suportá-lo. Mesmo achando isso bem difícil. Só que não tinha jeito, eu teria que conviver com aquela criatura.Depois que eu acertei os detalhes do meu novo trabalho com o Emiliano e ele me apresentou para toda a equipe, eu fui pra casa, precisava preparar o jantar. Minha vontade era colocar um laxante na comida daquela besta do Martim, mas como eu poderia fazer isso? Até a hora em que tirei a lasanha do forno eu ainda não tinha pensado em como eu poderia envenenar o insuportável do Martim sem que o Emiliano percebesse. E foi nesse momento que a campainha tocou.Eu sabia que era o Emiliano, pois já havia deixado a entrada dele liberada na por
“Abigail Zapata”Eu cheguei cedo para o trabalho, o Emiliano já tinha me mostrado tudo no dia anterior, inclusive qual seria a minha sala, bem ao lado da dele. Eu tive até tempo de passar em uma lanchonete simpática perto do escritório e comprar um copo grande de suco verde. Eu só esperava que aquela recepcionista distraída e mentirosa não me aprontasse mais nenhuma, mas era querer demais, ela aprontou. Ela me barrou na entrada e disse que eu teria que aguardar sentada na recepção.- Maria Luiza, eu fui apresentada ontem, você sabe que eu vou trabalhar aqui e eu já sei qual é a minha sala. – Tentei explicar para a recepcionista, mas ela me olhou com desinteresse, enquanto lixava as unhas.- Temos que esperar o Emiliano ou o Martim chegar. – Ela repetiu com aquela voz insossa. – Eu não posso deixá-la ir entrando assim. Principalmente depois daquele escândalo que você armou ontem.- Você me mandou para a sala errada! – Eu estava a ponto de perder a paciência.- Não mandei não. É a minha
“Abigail Zapata”Já haviam se passado onze meses desde que o meu pai morreu. Como o tempo passava depressa! E em onze meses eu não fiz nenhum progresso.Os onze meses que se seguiram desde que eu cheguei aqui na empresa do Emiliano não foram fáceis, várias vezes eu quis me demitir, mas as coisas não iam bem e o Emiliano me pedia para ficar, que precisava da minha ajuda. Eles haviam perdido vários clientes ao longo dos meses para outra construtora concorrente, eu não entendia muito bem, mas parecia que uma antiga funcionária estava trabalhando para essa concorrente e estava roubando os clientes. Essa situação acabava deixando o Martim ainda mais insuportável e eu acabei me tornando o bode expiatório dele.É claro que a minha relação com o Martim ia de mal a pior, cada vez nos suportávamos menos e as brigas e confusões entre nós eram constantes. E como se não bastasse eu ter que suportar o Martim, a sonsa da Maria Luiza continuava aprontando comigo sempre que podia e vivia fazendo fofoc
“Martim Monterrey”Um ano! Esse era o tempo que havia se passado desde que eu fui abandonado no altar. Um ano e parecia que a minha ex noiva havia sido tragada pela terra. O investigador particular que eu contratei não a havia encontrado ainda, nem ao amante dela. Eu já havia gastado um bom dinheiro com isso e começava a desconfiar que eles estivessem usando nomes falsos. E à medida que o tempo passava o meu ódio pela Alice só aumentava.Mas eu tinha problemas ainda mais sérios para tratar. Aquela mal caráter da Mônica já havia nos levado vários clientes e, eu não sei como, ela sempre sabia com qual cliente estávamos negociando e, de algum modo, ela nos passava a perna e roubava o cliente. Eu só podia pensar que ela tinha um informante aqui na minha empresa. Essa idéia estava martelando em minha cabeça há um bom tempo já, mas eu não conseguia imaginar quem. Embora tivéssemos novos estagiários e um engenheiro novo, nós havíamos investigado, nenhum deles tinha nenhuma relação com a Môni
“Martim Monterrey”Eu me segurei para não rir, é como dizem, o golpe está aí, cai quem quer. A Abigail estava numa situação complicada, mas ela resolveu tirar proveito disso e eu até achei que poderia ter dado certo, se o Emiliano não estivesse tão apaixonado pela namorada. Eu observava a interação dos dois e me perguntava como era possível que o Emiliano não se desse conta que essa doida gostava dele.- Minha querida, você sabe que eu não posso me casar com você. Eu estou namorando a Camila. E além do mais, ninguém nunca acreditaria que nós nos apaixonamos e ainda seríamos processados por fraude. Somos amigos desde sempre, Abi, você é como uma irmã pra mim. – O Emiliano falou e eu vi os olhos da Abigail brilharem com as lágrimas. Era assim sempre que ele dizia que ela era como uma irmã para ele.- Emi... – Ela soluçou e eu quase tive pena dela.- Tem que haver uma saída. Talvez você deva contestar o testamento. – O Emiliano sugeriu e isso me parecia mais inteligente.- Se eu fizer is
“Abigail Zapata”Eu voltei para a minha sala e fechei a porta. Não era possível que o Emiliano estivesse falando sério. Mas também me custava a acreditar que ele estivesse fazendo piada com a minha situação, ele sabia o que aquilo significava pra mim. Eu me joguei na cadeira e comecei a chorar. Eu não encontrava um único motivo racional para o meu pai me impor isso. Ouvi o batido na porta e limpei o rosto antes de mandar entrar.- Abigail, eu vim em paz! – O estúpido do Martim entrou com as mãos erguidas.- Veio debochar de mim mais um pouco? – Reclamei.- Na verdade, a idéia do Emiliano é estapafúrdia, mas pode funcionar. – Ele se sentou em frente a mim. – Você precisa de um marido e nós precisamos das ações da Lanoy. Eu cumpriria todas as condições e seria o melhor dos maridos que você poderia encontrar, por um ano. Pense bem, eu não sou um marido tão desprezível assim.Ele abriu os braços e eu olhei para aquele convencido com ódio. Se ele não tivesse se metido, insistido, incentiva
“Abigail Zapata”Eu estava furiosa! Entrei na sala do Emiliano sem me importar se ele estava ocupado ou não.- Emiliano, não sei como você pode ser amigo daquele demônio do Martim. – Me joguei sobre o sofá da sala do meu melhor amigo.O Emiliano levantou os olhos pra mim e esboçou um sorriso, quase me distraindo. Ele era tão lindo, com aquele cabelo preto que caia na sua testa e que ele tinha que jogar pra trás e os olhos castanhos muito doces. O Emiliano era gentil e educado, enquanto o seu sócio era um ogro desagradável, sempre mal humorado e muito arrogante. Tudo bem que ele era lindíssimo, mas de nada adiantava, era uma beleza desperdiçada e que não enchia os meus olhos.Nós éramos amigos há muitos anos. Na verdade, ele era mais do que meu amigo, ele era o amor da minha vida! Eu o amava desesperadamente, mas ele parecia não notar isso. Inclusive foi por causa dele que eu fiz a faculdade de arquitetura, só para continuar perto dele, mas depois da faculdade ele se mudou e a minha ma