“Abigail Zapata”
A Magda estava de pé, com as faces vermelhas de raiva e o dedo em riste. Mas o testamenteiro não se deixou intimidar e se colocou de pé, dando um tapa seco na mesa que assustou a todos nós.
- Eu não terminei senhora. – O testamenteiro a encarou de forma severa e ela se calou. – Se a Abigail não se casar, todo o patrimônio será destinado a senhora. – Com isso aquela vaca riu, com certeza pensou que eu ficaria solteirona. E o testamenteiro continuou: – A senhora vai receber uma mesada mensal, assim como a Abigail, a quantia paga será a mesma para as duas, a diferença é que a sua será vitalícia se a senhora permanecer viúva, sem colocar outro homem em sua vida, seja como marido, amante, namorado ou amásio, caso isso ocorra a senhora perde a pensão imediatamente. Já a da Abigail cessa em um ano.
- Mas esse testamento é uma piada! – A cobra se manifestou outra vez. E eu era obrigada a concordar. Se eu não me casasse o meu pai cumpriria o prometido e me deixaria sem nada.
- Ainda não terminei, senhora! – Me pareceu que o testamenteiro já estivesse meio impaciente. – O Sr. Zapata determinou que vocês todos devem deixar a casa e os funcionários devem ser dispensados, sendo mantidos apenas os essenciais para a manutenção da casa em ordem. Nenhum dos imóveis pode ser ocupado ou visitado por nenhum de vocês, pois o patrimônio deverá ser preservado para quem o herdará.
- Aquele imbecil está me tirando da minha casa? – Ela estava roxa de raiva.
- Senhora, chega! Contenha-se! O testamento é muito claro. O Sr. Zapata deixou uma mesada generosa para a senhora, assim como para a filha, mas o restante do espólio não pode ser tocado e deverá ser administrado por mim e pelo Antônio Guerreiro. Ao final de um ano, se a Srta. Abigail não se casar, a senhora poderá tomar posse de tudo. Mas se ela se casar a senhora fica apenas coma mesada, desde que cumpra as condições. E para que a senhora e a senhorita não passem por nenhum sufoco, o Antônio providenciará de imediato o pagamento da mesada. – O testamenteiro falou em um só fôlego.
- Eu vou aos tribunais! Eu vou contestar esse testamento. – A minha madrasta gritou.
- Pode ir, mas ele é perfeitamente legal! Vocês não são obrigadas a nada, mas se quiserem colocar as mãos no dinheiro têm condições a cumprir. – O testamenteiro falou mais alto, fazendo a minha madrasta desabar na cadeira e agora sim ela estava chorando inconsolável.
- Bem, eu acabei de fazer a transferência dos valores das mesadas para as contas de vocês duas, podem conferir, por favor? – O Tony informou e eu olhei o meu celular. Era uma quantia bem generosa, eu certamente não precisava daquilo tudo.
- Quando nós temos que deixar a casa? – Perguntei sentindo a minha cabeça girar.
- Em até vinte e quatro horas após a leitura do testamento. Ou seja, até amanhã a essa hora. – O testamenteiro informou.
- Eu não vou deixar a minha casa! – A Magda gritou.
- Terá que deixar, senhora, pois qualquer uma das duas que descumpra qualquer condição do testamento perde o direito a herança, indo o patrimônio automaticamente para a outra. – O testamenteiro avisou.
- Aquele imbecil! Eu suportei por anos, suportei essa garota tola e mimada e agora ele me tira da minha casa? – A Magda estava completamente fora de si e revelou a sua verdadeira face, aquela que eu sempre conheci, mas o meu pai não.
- Testamenteiro? – O Enrico, filho da Magda, chamou a atenção do testamenteiro. – E para mim, o velho não deixou nada?
- Não, meu jovem, para você, que não tem nenhum parentesco com ele, ele não deixou nada. – O testamenteiro falou sem paciência e eu tive vontade de rir no meio daquele caos.
- Vamos, Enrico, vamos arrumar as nossas coisas! – A Magda estava furiosa.
- Senhora, por favor, assine aqui. Ah, e outra coisa, a senhora somente pode levar itens e documentos pessoais, não pode mexer no cofre e tampouco levar qualquer objeto da casa. O mesmo para você, senhorita. – O testamenteiro avisou e a Magda bufou e assinou o documento. – Meus dois funcionários vão acompanhá-los, para que possam atestar que as disposições testamentárias foram cumpridas.
Depois que a Magda e o Enrico saíram da biblioteca eu me virei para o testamenteiro e para o Tony.
- Eu posso ir para qualquer lugar? – Foi a minha primeira pergunta.
- Sim, desde que nós tenhamos o seu contato. – O testamenteiro respondeu.
- E eu não posso mesmo contestar o testamento? Olha, eu não ligaria se o meu pai tivesse mandado distribuir o dinheiro dele aos pobres, mas eu certamente não acho justo essa megera ficar com tudo.
- Numa remota possibilidade de você ter êxito na contestação, Abigail, você teria que dividir tudo com ela. – O Tony me informou. – Sinto muito filha, mas você tem um ano para se casar, se realmente não quer que sua madrasta fique com o que é seu por direito.
- Eu amava o meu pai, mas ele era um tirano! – Bufei.
- É, ele gostava que cumprissem a vontade dele. E ele já teria te casado com o Enrico se esse rapaz não tivesse se mostrado o inútil que é. – O Tony falou e me olhou com suavidade.
- Pelo menos ele não me obrigou a casar com ele. – Respondi.
- E o que você está pensando em fazer. Sabe que pode ir lá pra casa, Celina e eu te receberemos de braços abertos. – O Tony ofereceu e eu sei que seria bem vinda na casa dele, mas eu precisava conquistar o meu noivo, então teria que ir para outro lugar.
- Obrigada, Tony, mas eu vou embora. – Então olhei para o Emiliano ao meu lado. – Acho que vamos ser vizinhos! – Ele abriu um lindo sorriso pra mim.
- De novo! – Ele me respondeu, se lembrando de quando nos conhecemos.
Minha mãe tinha acabado de falecer quando eu conheci o Emiliano e os pais dele haviam se separado. Ele e a mãe foram morar ao lado da minha antiga casa, onde eu vivi até o meu pai se casar com a Magda. Eu me lembro de ter tentado fazer o meu pai se interessar pela mãe dele, mas foi em vão, meu pai não se interessava por mulheres comuns, e como ele mesmo me disse, a mão do Emiliano era uma mulher comum, mas era uma boa mulher, foi isso o que o meu pai não viu, o caráter, nem na mãe do Emiliano e nem na Magda.
Três horas depois eu estava de malas prontas para me mudar para outra cidade e finalmente tentar conquistar o amor da minha vida. Só tinha que ir até o meu atual emprego e pedir demissão. Então liguei para o meu chefe e expliquei a situação, e como ele era um velho amigo do meu pai, compreendeu que eu precisava de novos ares e me liberou do trabalho, concordando em resolver todo o resto com o Tony.
“Abigail Zapata”Eu pretendia ficar na casa do Emiliano, mas a mãe dele, ao saber que eu estava indo para a cidade, fez questão de me receber. Seriam só uns poucos dias, pois eu logo arrumaria um lugar para morar e procuraria um emprego. Eu poderia ter pedido um emprego para o Emiliano, mas eu não queria ser a amiga chata que vive pedindo favores, além do mais, ele tinha um sócio e me impor para o sócio seria meio chato, talvez eles nem tivessem uma vaga para me encaixar, então achei melhor procurar um emprego. Eu trabalhei por um bom tempo em uma empresa de arquitetura de um amigo do meu pai, poderia conseguir algo facilmente.E foi assim, uma semana depois eu aluguei um apartamentinho simpático e me mudei. Mas fiquei muito grata a D. Branca por ter me recebido. Eu estava preparando o meu currículo, sentada na sala do meu novo lar, quando o meu celular tocou. Era o Emiliano, ele havia passado o fim de semana fora, visitando um cliente.- Oi, Emi! Já chegou de viagem? – Perguntei logo
“Martim Monterrey”Eu estava em minha sala revendo um projeto quando ouvi uma batida na porta e mandei entrar.- Oi, Martim! Eu estava aqui por perto e resolvi vir te dar um oi. – Levantei os olhos e via Suzana, uma conhecida de uma das minhas irmãs, com quem eu não tinha intimidade nenhuma, mas tinha cruzado em um bar um dia desses.- Suzana. Aqui é o meu local de trabalho, não a minha sala de visitas. – Respondi, mas a mulher nem se intimidou, entrou e fechou a porta atrás de si.- Mas você não tem tempo para um cafezinho? – Ela apoiou as mãos sobre a minha mesa e se debruçou, me dando uma boa visão dos seus peitos no decote da blusa.- Você não veio aqui pra tomar um cafezinho, não é mesmo, Suzana? – Me recostei na cadeira e observei aquela mulher dar a volta na mesa e parar em minha frente.Ela era uma mulher bonita, magra, alta e, pelo que eu vi no bar, não tinha muitos pudores.- É, não vim. Mas aquele dia no bar, não tivemos muito tempo pra conversar, você logo saiu com aquela
“Abigail Zapata”Eu amava o Emiliano, mas nesse momento eu estava bastante irritada com ele. Eu mal suportava aquela besta do amiguinho dele e o Emiliano me obrigaria a receber o insuportável do Martim em minha casa. Ah, mas isso era demais!Mas, por outro lado, sendo a besta do Martim amigo do meu Emiliano, e sócio, eu teria mesmo que aprender a suportá-lo. Mesmo achando isso bem difícil. Só que não tinha jeito, eu teria que conviver com aquela criatura.Depois que eu acertei os detalhes do meu novo trabalho com o Emiliano e ele me apresentou para toda a equipe, eu fui pra casa, precisava preparar o jantar. Minha vontade era colocar um laxante na comida daquela besta do Martim, mas como eu poderia fazer isso? Até a hora em que tirei a lasanha do forno eu ainda não tinha pensado em como eu poderia envenenar o insuportável do Martim sem que o Emiliano percebesse. E foi nesse momento que a campainha tocou.Eu sabia que era o Emiliano, pois já havia deixado a entrada dele liberada na por
“Abigail Zapata”Eu cheguei cedo para o trabalho, o Emiliano já tinha me mostrado tudo no dia anterior, inclusive qual seria a minha sala, bem ao lado da dele. Eu tive até tempo de passar em uma lanchonete simpática perto do escritório e comprar um copo grande de suco verde. Eu só esperava que aquela recepcionista distraída e mentirosa não me aprontasse mais nenhuma, mas era querer demais, ela aprontou. Ela me barrou na entrada e disse que eu teria que aguardar sentada na recepção.- Maria Luiza, eu fui apresentada ontem, você sabe que eu vou trabalhar aqui e eu já sei qual é a minha sala. – Tentei explicar para a recepcionista, mas ela me olhou com desinteresse, enquanto lixava as unhas.- Temos que esperar o Emiliano ou o Martim chegar. – Ela repetiu com aquela voz insossa. – Eu não posso deixá-la ir entrando assim. Principalmente depois daquele escândalo que você armou ontem.- Você me mandou para a sala errada! – Eu estava a ponto de perder a paciência.- Não mandei não. É a minha
“Abigail Zapata”Já haviam se passado onze meses desde que o meu pai morreu. Como o tempo passava depressa! E em onze meses eu não fiz nenhum progresso.Os onze meses que se seguiram desde que eu cheguei aqui na empresa do Emiliano não foram fáceis, várias vezes eu quis me demitir, mas as coisas não iam bem e o Emiliano me pedia para ficar, que precisava da minha ajuda. Eles haviam perdido vários clientes ao longo dos meses para outra construtora concorrente, eu não entendia muito bem, mas parecia que uma antiga funcionária estava trabalhando para essa concorrente e estava roubando os clientes. Essa situação acabava deixando o Martim ainda mais insuportável e eu acabei me tornando o bode expiatório dele.É claro que a minha relação com o Martim ia de mal a pior, cada vez nos suportávamos menos e as brigas e confusões entre nós eram constantes. E como se não bastasse eu ter que suportar o Martim, a sonsa da Maria Luiza continuava aprontando comigo sempre que podia e vivia fazendo fofoc
“Martim Monterrey”Um ano! Esse era o tempo que havia se passado desde que eu fui abandonado no altar. Um ano e parecia que a minha ex noiva havia sido tragada pela terra. O investigador particular que eu contratei não a havia encontrado ainda, nem ao amante dela. Eu já havia gastado um bom dinheiro com isso e começava a desconfiar que eles estivessem usando nomes falsos. E à medida que o tempo passava o meu ódio pela Alice só aumentava.Mas eu tinha problemas ainda mais sérios para tratar. Aquela mal caráter da Mônica já havia nos levado vários clientes e, eu não sei como, ela sempre sabia com qual cliente estávamos negociando e, de algum modo, ela nos passava a perna e roubava o cliente. Eu só podia pensar que ela tinha um informante aqui na minha empresa. Essa idéia estava martelando em minha cabeça há um bom tempo já, mas eu não conseguia imaginar quem. Embora tivéssemos novos estagiários e um engenheiro novo, nós havíamos investigado, nenhum deles tinha nenhuma relação com a Môni
“Martim Monterrey”Eu me segurei para não rir, é como dizem, o golpe está aí, cai quem quer. A Abigail estava numa situação complicada, mas ela resolveu tirar proveito disso e eu até achei que poderia ter dado certo, se o Emiliano não estivesse tão apaixonado pela namorada. Eu observava a interação dos dois e me perguntava como era possível que o Emiliano não se desse conta que essa doida gostava dele.- Minha querida, você sabe que eu não posso me casar com você. Eu estou namorando a Camila. E além do mais, ninguém nunca acreditaria que nós nos apaixonamos e ainda seríamos processados por fraude. Somos amigos desde sempre, Abi, você é como uma irmã pra mim. – O Emiliano falou e eu vi os olhos da Abigail brilharem com as lágrimas. Era assim sempre que ele dizia que ela era como uma irmã para ele.- Emi... – Ela soluçou e eu quase tive pena dela.- Tem que haver uma saída. Talvez você deva contestar o testamento. – O Emiliano sugeriu e isso me parecia mais inteligente.- Se eu fizer is
“Abigail Zapata”Eu voltei para a minha sala e fechei a porta. Não era possível que o Emiliano estivesse falando sério. Mas também me custava a acreditar que ele estivesse fazendo piada com a minha situação, ele sabia o que aquilo significava pra mim. Eu me joguei na cadeira e comecei a chorar. Eu não encontrava um único motivo racional para o meu pai me impor isso. Ouvi o batido na porta e limpei o rosto antes de mandar entrar.- Abigail, eu vim em paz! – O estúpido do Martim entrou com as mãos erguidas.- Veio debochar de mim mais um pouco? – Reclamei.- Na verdade, a idéia do Emiliano é estapafúrdia, mas pode funcionar. – Ele se sentou em frente a mim. – Você precisa de um marido e nós precisamos das ações da Lanoy. Eu cumpriria todas as condições e seria o melhor dos maridos que você poderia encontrar, por um ano. Pense bem, eu não sou um marido tão desprezível assim.Ele abriu os braços e eu olhei para aquele convencido com ódio. Se ele não tivesse se metido, insistido, incentiva