“Abigail Zapata”
Com a morte do meu pai eu não tinha mais nenhum parente vivo no mundo. Mas eu tinha o Tony, um bom amigo do meu pai e homem de confiança dele, que assim como eu nunca suportou a minha madrasta, e tinha o Emiliano, meu amigo e amor da minha vida. Mas o Emiliano não sabia que ele era o amor da minha vida, porém, ele era a minha rocha, estava sempre pronto a me ajudar.
Eu sabia que quando ligasse para ele eu não precisaria pedir, ele viria depressa e se colocaria ao meu lado. Ele era assim, generoso e bom. E foi o que ele fez. Eu estava descendo as escadas daquela mansão horrorosa que eu odiava, quando o Emiliano entrou e eu corri até ele.
- Minha querida, eu sinto muito! – Ele falou ao me abraçar, com carinho e gentileza.
- Emiliano? Você aqui? – A minha madrasta Magda se aproximou. Ela não gostava do Emiliano, ela não gostava de nada do que me fazia feliz, e ela nos afastou o máximo que pôde.
- Sim, Sra. Zapata. É claro que eu viria apoiar a Abigail. Eu sinto muito pela sua perda. – Emiliano estendeu a mão para cumprimentá-la sem me soltar.
- Obrigada! Mas não era necessário você ter feito essa viagem tão longa... – O Emiliano com gentileza a interrompeu.
- Claro que era, ela é minha amiga, se eu não pudesse estar com ela agora, eu não seria um bom amigo! – E com isso eu puxei o Emiliano para sairmos da sala.
- Ela é uma bruxa! – Eu falei quando entramos na biblioteca. – Eu não vejo a hora de me livrar desse lugar.
- Seu pai fez você ficar esse tempo todo, não é mesmo? – O Emiliano sabia que meu pai me controlou o máximo que pôde.
- Sinceramente, se ele não tivesse dito que deixaria tudo para essa bruxa e aquele filhinho idiota dela, eu não me importaria em ser deserdada! – E não me importaria, nunca me importei com o dinheiro.
- E o que você pretende fazer agora? Imagino que você já tenha algo em mente.
- Eu preciso esperar a leitura do testamento, mas depois disso eu vou sair daqui e vou viver a minha vida. Talvez eu vá morar perto de você! – Eu sorri, era exatamente isso que eu pretendia fazer.
- Eu adoraria isso! – O Emiliano sorriu.
E ele permaneceu ao meu lado durante todo o velório e o sepultamento. Não me deixou nem por um segundo e não permitiu que a minha madrasta tentasse me importunar. Ele a conhecia bem e lidava com ela com graça e simpatia, mas com a mesma falsidade que ela o tratava. Os dois também não se suportavam.
- Vamos sair daqui, Emi. Não suporto ver aquela bruxa posando de viúva sofrida! – Falei com o Emiliano depois que o meu pai foi sepultado e vendo a minha madrasta recebendo os pêsames com aquele idiota do filho dela ao lado.
- Vamos sim, querida. – O Emiliano e eu saímos caminhando de braços dados.
- Eu odeio cemitérios, principalmente esses com essas esculturas altas e todas essas construções em granito. Tenho a impressão de que as almas ficam perambulando atrás da gente. – Eu realmente era um pouco medrosa.
- Abi, que bobagem! Os mortos estão em paz! Não vão ficar perambulando atrás de quem sequer conheceram na vida. – O Emiliano estava controlando o riso e eu sabia, ele era um cético.
- Ah, eu não gosto, Emi! – Frisei e ele sorriu pra mim.
- Abigail? – Uma voz ofegante me chamou e eu quase tive um treco de tanto susto, o que fez o Emiliano rir. Me virei e vi o Tony vindo às pressas. – Filha, já vai?
- Sim, Tony, vou dar uma volta com o Emi. – Respondi olhando o pobre homem à minha frente tentando acalmar a respiração.
- Querida, você precisa ir para casa, o testamento do seu pai será aberto. – Aquela informação me pegou desprevenida.
- Agora? – Perguntei e o Tony fez que sim. – Mas por que tão rápido?
- Porque sua madrasta decidiu. Convenceu o testamenteiro de que não há necessidade de esperar e, nas palavras dela, “prolongar essa dor”. – O Tony fez uma careta, ele sabia tão bem quanto eu que o que ela não queria prolongar era o tempo que levaria para ela colocar a mão no dinheiro do meu pai.
- Vem comigo, Emi? – Pedi e é claro que ele estava pronto para me acompanhar.
- Claro! – O Emiliano me respondeu.
Quando chegamos em minha casa, a minha madrasta não perdeu a oportunidade de me provocar.
- Abigail, continua fazendo o pobre Emiliano perder tempo? – Aquela criatura detestável falou.
- Senhora, não se incomode com o meu tempo. – O Emiliano sorriu.
- Ah, mas que bom, que temos duas pessoas que não são da família aqui. – O testamenteiro se aproximou. – Nós vamos mesmo precisar de duas testemunhas, pensei que poderíamos pedir aos empregados, mas já que temos dois amigos da família é um tanto melhor.
- Será um prazer. – O Emiliano respondeu educadamente.
- Bom, então vamos à biblioteca acabar logo com isso. – A minha madrasta estava mais para viúva alegre que qualquer outra coisa. Não me impressionaria se ela resolvesse dar uma festa para comemorar a morte do meu pai.
Nos acomodamos na biblioteca e um café foi servido, depois o testamenteiro começou a leitura do testamento.
- Vamos logo ao que interessa, por favor, não precisamos perder tempo com a formalidade de partes e qualificações. – Minha madrasta ordenou, estava aflita mesmo pelo dinheiro.
- Está bem, senhora. – O testamenteiro concordou. – Bem, pelo que foi disposto pelo Sr. Zapata, to o seu patrimônio deve ser entregue a sua filha Abigail, se, e somente se, ela se casar em um prazo de até um ano e ficar pelo menos um ano casada.
- Mas que absurdo! – A cobra venenosa gritou. Mas eu tinha que concordar, aquilo era um absurdo.
Minha cabeça estava girando, como o meu pai pôde fazer aquilo comigo? Ele estava me colocando contra a parede mais uma vez! Não bastava que ele tivesse me mantido presa a essa casa durante todos esses anos, ameaçando me deserdar e deixar tudo para a Magda se eu saísse, não, ele tinha que continuar me mantendo amarrada àquilo tudo mesmo depois de morto. E agora, o que eu faria? Como eu poderia conquistar o Emiliano em um ano?
“Abigail Zapata”A Magda estava de pé, com as faces vermelhas de raiva e o dedo em riste. Mas o testamenteiro não se deixou intimidar e se colocou de pé, dando um tapa seco na mesa que assustou a todos nós.- Eu não terminei senhora. – O testamenteiro a encarou de forma severa e ela se calou. – Se a Abigail não se casar, todo o patrimônio será destinado a senhora. – Com isso aquela vaca riu, com certeza pensou que eu ficaria solteirona. E o testamenteiro continuou: – A senhora vai receber uma mesada mensal, assim como a Abigail, a quantia paga será a mesma para as duas, a diferença é que a sua será vitalícia se a senhora permanecer viúva, sem colocar outro homem em sua vida, seja como marido, amante, namorado ou amásio, caso isso ocorra a senhora perde a pensão imediatamente. Já a da Abigail cessa em um ano.- Mas esse testamento é uma piada! – A cobra se manifestou outra vez. E eu era obrigada a concordar. Se eu não me casasse o meu pai cumpriria o prometido e me deixaria sem nada.-
“Abigail Zapata”Eu pretendia ficar na casa do Emiliano, mas a mãe dele, ao saber que eu estava indo para a cidade, fez questão de me receber. Seriam só uns poucos dias, pois eu logo arrumaria um lugar para morar e procuraria um emprego. Eu poderia ter pedido um emprego para o Emiliano, mas eu não queria ser a amiga chata que vive pedindo favores, além do mais, ele tinha um sócio e me impor para o sócio seria meio chato, talvez eles nem tivessem uma vaga para me encaixar, então achei melhor procurar um emprego. Eu trabalhei por um bom tempo em uma empresa de arquitetura de um amigo do meu pai, poderia conseguir algo facilmente.E foi assim, uma semana depois eu aluguei um apartamentinho simpático e me mudei. Mas fiquei muito grata a D. Branca por ter me recebido. Eu estava preparando o meu currículo, sentada na sala do meu novo lar, quando o meu celular tocou. Era o Emiliano, ele havia passado o fim de semana fora, visitando um cliente.- Oi, Emi! Já chegou de viagem? – Perguntei logo
“Martim Monterrey”Eu estava em minha sala revendo um projeto quando ouvi uma batida na porta e mandei entrar.- Oi, Martim! Eu estava aqui por perto e resolvi vir te dar um oi. – Levantei os olhos e via Suzana, uma conhecida de uma das minhas irmãs, com quem eu não tinha intimidade nenhuma, mas tinha cruzado em um bar um dia desses.- Suzana. Aqui é o meu local de trabalho, não a minha sala de visitas. – Respondi, mas a mulher nem se intimidou, entrou e fechou a porta atrás de si.- Mas você não tem tempo para um cafezinho? – Ela apoiou as mãos sobre a minha mesa e se debruçou, me dando uma boa visão dos seus peitos no decote da blusa.- Você não veio aqui pra tomar um cafezinho, não é mesmo, Suzana? – Me recostei na cadeira e observei aquela mulher dar a volta na mesa e parar em minha frente.Ela era uma mulher bonita, magra, alta e, pelo que eu vi no bar, não tinha muitos pudores.- É, não vim. Mas aquele dia no bar, não tivemos muito tempo pra conversar, você logo saiu com aquela
“Abigail Zapata”Eu amava o Emiliano, mas nesse momento eu estava bastante irritada com ele. Eu mal suportava aquela besta do amiguinho dele e o Emiliano me obrigaria a receber o insuportável do Martim em minha casa. Ah, mas isso era demais!Mas, por outro lado, sendo a besta do Martim amigo do meu Emiliano, e sócio, eu teria mesmo que aprender a suportá-lo. Mesmo achando isso bem difícil. Só que não tinha jeito, eu teria que conviver com aquela criatura.Depois que eu acertei os detalhes do meu novo trabalho com o Emiliano e ele me apresentou para toda a equipe, eu fui pra casa, precisava preparar o jantar. Minha vontade era colocar um laxante na comida daquela besta do Martim, mas como eu poderia fazer isso? Até a hora em que tirei a lasanha do forno eu ainda não tinha pensado em como eu poderia envenenar o insuportável do Martim sem que o Emiliano percebesse. E foi nesse momento que a campainha tocou.Eu sabia que era o Emiliano, pois já havia deixado a entrada dele liberada na por
“Abigail Zapata”Eu cheguei cedo para o trabalho, o Emiliano já tinha me mostrado tudo no dia anterior, inclusive qual seria a minha sala, bem ao lado da dele. Eu tive até tempo de passar em uma lanchonete simpática perto do escritório e comprar um copo grande de suco verde. Eu só esperava que aquela recepcionista distraída e mentirosa não me aprontasse mais nenhuma, mas era querer demais, ela aprontou. Ela me barrou na entrada e disse que eu teria que aguardar sentada na recepção.- Maria Luiza, eu fui apresentada ontem, você sabe que eu vou trabalhar aqui e eu já sei qual é a minha sala. – Tentei explicar para a recepcionista, mas ela me olhou com desinteresse, enquanto lixava as unhas.- Temos que esperar o Emiliano ou o Martim chegar. – Ela repetiu com aquela voz insossa. – Eu não posso deixá-la ir entrando assim. Principalmente depois daquele escândalo que você armou ontem.- Você me mandou para a sala errada! – Eu estava a ponto de perder a paciência.- Não mandei não. É a minha
“Abigail Zapata”Já haviam se passado onze meses desde que o meu pai morreu. Como o tempo passava depressa! E em onze meses eu não fiz nenhum progresso.Os onze meses que se seguiram desde que eu cheguei aqui na empresa do Emiliano não foram fáceis, várias vezes eu quis me demitir, mas as coisas não iam bem e o Emiliano me pedia para ficar, que precisava da minha ajuda. Eles haviam perdido vários clientes ao longo dos meses para outra construtora concorrente, eu não entendia muito bem, mas parecia que uma antiga funcionária estava trabalhando para essa concorrente e estava roubando os clientes. Essa situação acabava deixando o Martim ainda mais insuportável e eu acabei me tornando o bode expiatório dele.É claro que a minha relação com o Martim ia de mal a pior, cada vez nos suportávamos menos e as brigas e confusões entre nós eram constantes. E como se não bastasse eu ter que suportar o Martim, a sonsa da Maria Luiza continuava aprontando comigo sempre que podia e vivia fazendo fofoc
“Martim Monterrey”Um ano! Esse era o tempo que havia se passado desde que eu fui abandonado no altar. Um ano e parecia que a minha ex noiva havia sido tragada pela terra. O investigador particular que eu contratei não a havia encontrado ainda, nem ao amante dela. Eu já havia gastado um bom dinheiro com isso e começava a desconfiar que eles estivessem usando nomes falsos. E à medida que o tempo passava o meu ódio pela Alice só aumentava.Mas eu tinha problemas ainda mais sérios para tratar. Aquela mal caráter da Mônica já havia nos levado vários clientes e, eu não sei como, ela sempre sabia com qual cliente estávamos negociando e, de algum modo, ela nos passava a perna e roubava o cliente. Eu só podia pensar que ela tinha um informante aqui na minha empresa. Essa idéia estava martelando em minha cabeça há um bom tempo já, mas eu não conseguia imaginar quem. Embora tivéssemos novos estagiários e um engenheiro novo, nós havíamos investigado, nenhum deles tinha nenhuma relação com a Môni
“Martim Monterrey”Eu me segurei para não rir, é como dizem, o golpe está aí, cai quem quer. A Abigail estava numa situação complicada, mas ela resolveu tirar proveito disso e eu até achei que poderia ter dado certo, se o Emiliano não estivesse tão apaixonado pela namorada. Eu observava a interação dos dois e me perguntava como era possível que o Emiliano não se desse conta que essa doida gostava dele.- Minha querida, você sabe que eu não posso me casar com você. Eu estou namorando a Camila. E além do mais, ninguém nunca acreditaria que nós nos apaixonamos e ainda seríamos processados por fraude. Somos amigos desde sempre, Abi, você é como uma irmã pra mim. – O Emiliano falou e eu vi os olhos da Abigail brilharem com as lágrimas. Era assim sempre que ele dizia que ela era como uma irmã para ele.- Emi... – Ela soluçou e eu quase tive pena dela.- Tem que haver uma saída. Talvez você deva contestar o testamento. – O Emiliano sugeriu e isso me parecia mais inteligente.- Se eu fizer is