“Emiliano Quintana”
O nome que brilhava na tela do meu celular era o da minha amiga Abigail. Ela era uma grande amiga e foi muito importante em uma fase difícil da minha vida. Abigail e eu nos falávamos com frequência e havíamos nos falado na noite anterior. Então estranhei sua ligação tão cedo.
- Oi, Abi! Já está com saudade de mim? – Brinquei com ela, mas a voz que eu ouvi era de uma Abigail chorosa.
- Emi, o meu pai morreu! – Ela falou e soluçou no fim da frase.
Abigail era filha de um magnata que possuía vários negócios ao redor do mundo. Era um homem influente e acostumado a ter as coisas à sua maneira. Ela era a única filha, perdeu a mãe quando tinha apenas dez anos e por um tempo foram só ela e o pai, mas uns cinco anos depois o pai se casou com uma mulher muito bonita, mas que já estava no quarto marido e tinha um filho da idade da Abi. A Abi odiava o garoto, mas foi obrigada a conviver com ele e logo a madrasta já tinha o novo marido sob seu completo domínio e a Abi sofreu bastante, mas ela era louca pelo pai.
- Abi, mas o que aconteceu? Seu pai era forte como um touro. – Fiquei surpreso com a notícia, pois o Sr. Zapata era um homem ainda jovem, com pouco mais de sessenta anos, era vaidoso, se cuidava bastante e era muito ativo.
- Não sei, Emi, parece que foi um infarto, mas os médicos não tem certeza, os resultados da necropsia ainda vão demorar. – A Abi estava soluçando ao telefone. – Eu fiquei sozinha, Emi!
- Minha querida, você nunca vai estar sozinha, você sempre terá a mim, você sabe disso! – A Abi era como uma irmã pra mim e eu sempre a apoiaria, sempre deixei isso claro pra ela. – Abi, eu estou indo até você, é só o tempo do vôo, por favor fica calma.
- Obrigada, Emi! Você pode mesmo vir? – Ela fungou. A Abi era uma pessoa generosa e sempre e preocupava com os outros e foi por isso que nos tornamos amigos, porque ela me viu logo que cheguei na cidade, depois do divórcio dos meus pais e ela se preocupou comigo.
- É claro que eu posso, querida. Sempre poderei estar com você! Me espera, tá bom. – Me despedi da minha amiga e voltei para a sala do Martim.
O Martim estava animado com a compra da casa que ele tanto queria, mas eu estava preocupado com a Abi e confesso que fiquei um pouco chateado com a morte do pai dela. Era um bom homem, embora se deixasse controlar pela esposa. Então informei ao Martim que eu teria que viajar.
- O que aconteceu, Emiliano? Parece que você recebeu uma má notícia. – Martim observou.
- Sim, foi realmente péssima. A Abigail, minha amiga, o pai dela faleceu, um infarto de repente. – Contei.
- Sinto muito, meu amigo. Agora entendi porque da viagem, vai apoiar a sua amiga. Você é um bom amigo, Emiliano! Mas parece que seus dois amigos estão cheios de problemas. – Martim se referiu a própria situação.
- Vocês fariam o mesmo por mim! – Eu sorri convicto e sabia tinha razão, meus dois amigos estariam prontos para me ajudar se eu precisasse. – É engraçado, eu te conheço a vida inteira e conheço a Abi há muito tempo também, vocês dois são pessoas muito importantes pra mim, mas vocês não se conhecem.
- É verdade! – O Martim concordou.
Eu havia me dado conta, de repente, de algo que eu nunca dei importância. A Abigail era minha amiga, assim como o Martim, mas eu nunca havia manifestado nenhuma intenção de os aproximar, sequer havia pensado nisso.
- Mas nunca coincidiu de nos encontrarmos nas vezes em que te visitei e na única vez em que ela esteve na cidade, calhou de ser naquele maldito dia. – O Martim arrematou.
- É mesmo! Engraçado isso. Você não quer vir comigo? – Eu o convidei e ele riu.
- Não, Emiliano, você vai para um velório, eu não quero ir, nem conheço o morto. Além do mais, sua amiga deve estar precisando de apoio, não quero que você se preocupe comigo enquanto ela precisa de você. – O Martim respondeu com um sorriso e eu não pude deixar de pensar que seus sorrisos haviam se tornado muito raros desde que a Alice o deixou.
- Está bem, mas pensando agora, eu preciso apresentar vocês dois, ou vão se conhecer no meu velório como duas viúvas chorando sobre o meu caixão! – Eu ri do meu próprio pensamento.
- Duas viúvas? – Martim perguntou sem entender.
- Sim, você e a Abi vão chorar como duas viúvas quando eu morrer. Vocês me adoram e não sabem o que fariam sem mim. – Eu gargalhei. Eu era assim, de bem com a vida, fazia piadas das coisas mais bizarras, mas procurava sempre estar de bom humor.
- Seu idiota! – O Martim riu mais uma vez. – Talvez eu console a sua verdadeira viúva no seu velório. – Eu ri e atirei nele um bloco de papel que estava sobre a mesa.
- Palhaço! Não se deve mexer nas gavetas dos amigos. – Brinquei.
- Que diferença vai fazer? Você vai estar morto! – O Martim estava rindo e isso me deixou contente.
- Do jeito que você anda ultimamente, eu não duvido que você faça isso e ainda tente consolar a Abi. – Eu ri, mas pensei em algo que talvez desse certo e eu sorri com o meu pensamento de que talvez a Abi e o Martim se interessassem um pelo outro. – Bom, eu tenho que ir, é um longo vôo.
- Faça uma boa viagem, meu amigo!
Me despedi do Martim e saí do escritório. Passei em casa e preparei uma mala rapidamente, talvez eu precisasse ficar uns três dias com a Abi. Então eu fui para o aeroporto e peguei o primeiro vôo.
Já era meio da tarde quando o avião pousou na cidade da Abi, eu saí do aeroporto em direção ao hotel, mas apenas deixei a minha mala e fui até a casa da Abigail. Quando entrei ela estava descendo a escada, vestindo um vestido preto até os joelhos e segurando um lenço branco nas mãos. Ao me ver ela correu em minha direção e pulou no meu pescoço.
- Minha querida, eu sinto muito! – Falei em seu ouvido e ela desabou em lágrimas.
“Abigail Zapata”Com a morte do meu pai eu não tinha mais nenhum parente vivo no mundo. Mas eu tinha o Tony, um bom amigo do meu pai e homem de confiança dele, que assim como eu nunca suportou a minha madrasta, e tinha o Emiliano, meu amigo e amor da minha vida. Mas o Emiliano não sabia que ele era o amor da minha vida, porém, ele era a minha rocha, estava sempre pronto a me ajudar.Eu sabia que quando ligasse para ele eu não precisaria pedir, ele viria depressa e se colocaria ao meu lado. Ele era assim, generoso e bom. E foi o que ele fez. Eu estava descendo as escadas daquela mansão horrorosa que eu odiava, quando o Emiliano entrou e eu corri até ele.- Minha querida, eu sinto muito! – Ele falou ao me abraçar, com carinho e gentileza.- Emiliano? Você aqui? – A minha madrasta Magda se aproximou. Ela não gostava do Emiliano, ela não gostava de nada do que me fazia feliz, e ela nos afastou o máximo que pôde.- Sim, Sra. Zapata. É claro que eu viria apoiar a Abigail. Eu sinto muito pel
“Abigail Zapata”A Magda estava de pé, com as faces vermelhas de raiva e o dedo em riste. Mas o testamenteiro não se deixou intimidar e se colocou de pé, dando um tapa seco na mesa que assustou a todos nós.- Eu não terminei senhora. – O testamenteiro a encarou de forma severa e ela se calou. – Se a Abigail não se casar, todo o patrimônio será destinado a senhora. – Com isso aquela vaca riu, com certeza pensou que eu ficaria solteirona. E o testamenteiro continuou: – A senhora vai receber uma mesada mensal, assim como a Abigail, a quantia paga será a mesma para as duas, a diferença é que a sua será vitalícia se a senhora permanecer viúva, sem colocar outro homem em sua vida, seja como marido, amante, namorado ou amásio, caso isso ocorra a senhora perde a pensão imediatamente. Já a da Abigail cessa em um ano.- Mas esse testamento é uma piada! – A cobra se manifestou outra vez. E eu era obrigada a concordar. Se eu não me casasse o meu pai cumpriria o prometido e me deixaria sem nada.-
“Abigail Zapata”Eu pretendia ficar na casa do Emiliano, mas a mãe dele, ao saber que eu estava indo para a cidade, fez questão de me receber. Seriam só uns poucos dias, pois eu logo arrumaria um lugar para morar e procuraria um emprego. Eu poderia ter pedido um emprego para o Emiliano, mas eu não queria ser a amiga chata que vive pedindo favores, além do mais, ele tinha um sócio e me impor para o sócio seria meio chato, talvez eles nem tivessem uma vaga para me encaixar, então achei melhor procurar um emprego. Eu trabalhei por um bom tempo em uma empresa de arquitetura de um amigo do meu pai, poderia conseguir algo facilmente.E foi assim, uma semana depois eu aluguei um apartamentinho simpático e me mudei. Mas fiquei muito grata a D. Branca por ter me recebido. Eu estava preparando o meu currículo, sentada na sala do meu novo lar, quando o meu celular tocou. Era o Emiliano, ele havia passado o fim de semana fora, visitando um cliente.- Oi, Emi! Já chegou de viagem? – Perguntei logo
“Martim Monterrey”Eu estava em minha sala revendo um projeto quando ouvi uma batida na porta e mandei entrar.- Oi, Martim! Eu estava aqui por perto e resolvi vir te dar um oi. – Levantei os olhos e via Suzana, uma conhecida de uma das minhas irmãs, com quem eu não tinha intimidade nenhuma, mas tinha cruzado em um bar um dia desses.- Suzana. Aqui é o meu local de trabalho, não a minha sala de visitas. – Respondi, mas a mulher nem se intimidou, entrou e fechou a porta atrás de si.- Mas você não tem tempo para um cafezinho? – Ela apoiou as mãos sobre a minha mesa e se debruçou, me dando uma boa visão dos seus peitos no decote da blusa.- Você não veio aqui pra tomar um cafezinho, não é mesmo, Suzana? – Me recostei na cadeira e observei aquela mulher dar a volta na mesa e parar em minha frente.Ela era uma mulher bonita, magra, alta e, pelo que eu vi no bar, não tinha muitos pudores.- É, não vim. Mas aquele dia no bar, não tivemos muito tempo pra conversar, você logo saiu com aquela
“Abigail Zapata”Eu amava o Emiliano, mas nesse momento eu estava bastante irritada com ele. Eu mal suportava aquela besta do amiguinho dele e o Emiliano me obrigaria a receber o insuportável do Martim em minha casa. Ah, mas isso era demais!Mas, por outro lado, sendo a besta do Martim amigo do meu Emiliano, e sócio, eu teria mesmo que aprender a suportá-lo. Mesmo achando isso bem difícil. Só que não tinha jeito, eu teria que conviver com aquela criatura.Depois que eu acertei os detalhes do meu novo trabalho com o Emiliano e ele me apresentou para toda a equipe, eu fui pra casa, precisava preparar o jantar. Minha vontade era colocar um laxante na comida daquela besta do Martim, mas como eu poderia fazer isso? Até a hora em que tirei a lasanha do forno eu ainda não tinha pensado em como eu poderia envenenar o insuportável do Martim sem que o Emiliano percebesse. E foi nesse momento que a campainha tocou.Eu sabia que era o Emiliano, pois já havia deixado a entrada dele liberada na por
“Abigail Zapata”Eu cheguei cedo para o trabalho, o Emiliano já tinha me mostrado tudo no dia anterior, inclusive qual seria a minha sala, bem ao lado da dele. Eu tive até tempo de passar em uma lanchonete simpática perto do escritório e comprar um copo grande de suco verde. Eu só esperava que aquela recepcionista distraída e mentirosa não me aprontasse mais nenhuma, mas era querer demais, ela aprontou. Ela me barrou na entrada e disse que eu teria que aguardar sentada na recepção.- Maria Luiza, eu fui apresentada ontem, você sabe que eu vou trabalhar aqui e eu já sei qual é a minha sala. – Tentei explicar para a recepcionista, mas ela me olhou com desinteresse, enquanto lixava as unhas.- Temos que esperar o Emiliano ou o Martim chegar. – Ela repetiu com aquela voz insossa. – Eu não posso deixá-la ir entrando assim. Principalmente depois daquele escândalo que você armou ontem.- Você me mandou para a sala errada! – Eu estava a ponto de perder a paciência.- Não mandei não. É a minha
“Abigail Zapata”Já haviam se passado onze meses desde que o meu pai morreu. Como o tempo passava depressa! E em onze meses eu não fiz nenhum progresso.Os onze meses que se seguiram desde que eu cheguei aqui na empresa do Emiliano não foram fáceis, várias vezes eu quis me demitir, mas as coisas não iam bem e o Emiliano me pedia para ficar, que precisava da minha ajuda. Eles haviam perdido vários clientes ao longo dos meses para outra construtora concorrente, eu não entendia muito bem, mas parecia que uma antiga funcionária estava trabalhando para essa concorrente e estava roubando os clientes. Essa situação acabava deixando o Martim ainda mais insuportável e eu acabei me tornando o bode expiatório dele.É claro que a minha relação com o Martim ia de mal a pior, cada vez nos suportávamos menos e as brigas e confusões entre nós eram constantes. E como se não bastasse eu ter que suportar o Martim, a sonsa da Maria Luiza continuava aprontando comigo sempre que podia e vivia fazendo fofoc
“Martim Monterrey”Um ano! Esse era o tempo que havia se passado desde que eu fui abandonado no altar. Um ano e parecia que a minha ex noiva havia sido tragada pela terra. O investigador particular que eu contratei não a havia encontrado ainda, nem ao amante dela. Eu já havia gastado um bom dinheiro com isso e começava a desconfiar que eles estivessem usando nomes falsos. E à medida que o tempo passava o meu ódio pela Alice só aumentava.Mas eu tinha problemas ainda mais sérios para tratar. Aquela mal caráter da Mônica já havia nos levado vários clientes e, eu não sei como, ela sempre sabia com qual cliente estávamos negociando e, de algum modo, ela nos passava a perna e roubava o cliente. Eu só podia pensar que ela tinha um informante aqui na minha empresa. Essa idéia estava martelando em minha cabeça há um bom tempo já, mas eu não conseguia imaginar quem. Embora tivéssemos novos estagiários e um engenheiro novo, nós havíamos investigado, nenhum deles tinha nenhuma relação com a Môni