“Martim Monterrey”
Já havia se passado um mês desde que a Alice me deixou plantado no altar e desde então eu me tornei outra pessoa. Eu não vejo graça em mais nada, me tornei impaciente e irritado. Não confio mais nas pessoas, apenas na minha família e no meu amigo Emiliano. Mas, principalmente, eu agora não era mais o mesmo em relação às mulheres, eu apenas as usava para o meu prazer, mas nenhuma, nunca mais, teria o meu coração ou a minha gentileza, nunca mais! Eu fui traído de muitas maneiras, fui apunhalado pelas costas e esse tipo de coisa muda as pessoas. E me mudou!
Pelo menos eu já tinha vendido aquele apartamento que eu odiava. Uma detestável cobertura triplex no prédio mais nobre da cidade que eu só comprei porque era o que a minha ex noiva queria. Eu não poderia morar lá, tanto porque eu achava o lugar horrível, quanto porque era o lugar onde eu moraria depois de me casar. Mas eu não me casei, então me livrei do apartamento. Passei uma semana no hotel, o mesmo hotel onde eu encontrei aquela doida da bebida gelada, mas isso eu até me esqueci de contar ao Emiliano, e depois eu me mudei para um sobrado charmoso perto da construtora.
No final de semana que se seguiu ao dia em que fui abandonado no altar, eu me permiti sofrer e chorar por causa daquela mulher ordinária. Mas somente por dois dias, porque o novo Martim não demonstraria mais fraqueza e não seria feito de idiota nunca mais.
Na segunda de manhã eu já sabia o que ia fazer. Eu ia me vingar, ah, mas eu ia! Às sete da manhã eu estava pronto para enfrentar o dia, os comentários maldosos, as fofocas, os olhares curiosos e toda a porcaria do casamento que não aconteceu. Encontrei o Emiliano no estacionamento e entrei na empresa pronto para a guerra!
- Tem certeza disso, meu amigo? – O Emiliano me perguntou mais uma vez, ele havia insistido para que eu fosse viajar por um tempo, mas eu tinha coisas a fazer.
- Mais do que tudo na vida! – Respondi e marchei pelos corredores da empresa. Foi tudo o que eu imaginei, olhares, comentários sussurrados, pena. Eu apenas ignorei tudo e fui para a sala de reuniões, os advogados já nos esperavam lá.
Nos trinta dias que se seguiram eu coloquei em prática o meu plano de vingança, mas eu ainda não havia encontrado a Alice e o Estevão e nem havia conseguido acabar com a Mônica ainda, essa foi esperta, ela foi trabalhar para o Maurice Lannoy, dono da Lannoy Engenharia, um concorrente que tinha uma briga antiga comigo, de modo que não seria fácil atingir a Mônica. E para piorar, ela já tinha me levado três bons clientes.
Mas a empresa da família da minha ex noiva eu consegui destruir. Eu minei todos os contratos da empresa deles, rompi os contratos que a Monterrey Quintana tinha com ele e conversei com cada cliente e cada fornecedor, e todos eles ficaram mais do que felizes em romper seus contratos em troca de uma parceria comigo. Sem clientes, tiveram que fechar a empresa, estavam falidos e não poderiam socorrer a filhinha quando ela precisasse.
E agora, o detetive que eu contratei para encontrar a Alice e o Estevão estava sentado em minha frente.
- Como eu disse, Sr. Monterrey, as pessoas que o senhor procura não estão no México. – O detetive afirmou categoricamente.
- E em que buraco essas malditas cobras se meteram? – Eu estava irritado, mas ainda que levasse a vida inteira eu encontraria aqueles dois, eu queria olhar nos olhos da Alice uma última vez e dizer tudo o que estava engasgado.
- Martim, esquece isso! Pra quê encontrar essa mulher? – O Emiliano vinha há dias tentando me dissuadir da idéia de encontrar a Alice.
- Eu preciso, Emiliano. – Falei simplesmente.
- Olha, eu concordo que nós temos que dar um jeito na Mônica. Ela já levou três clientes e está causando um rebuliço entre os outros, nós temos que lidar com essa crise e eu já não sei o que fazer. Mas esquece a Alice, meu amigo, para o seu próprio bem, segue a sua vida. Não se prenda a essa amargura. – O Emiliano parecia a minha mãe falando, mas ele não iria me convencer.
- Não posso, Emiliano! – Eu o encarei e ele pareceu se convencer de que não me dissuadiria da minha idéia.
- Bom, então, Sr. Monterrey, como eu disse, os dois parecem estar em Portugal. Vou continuar as minhas investigações. Se o senhor não precisar de mais nada? – O detetive se pôs de pé e eu o dispensei.
- Martim, precisamos pensar numa estratégia para que a Mônica não consiga mais atingir os nossos clientes. – O Emiliano se sentou em minha frente e ele tinha toda razão.
- Eu sei, mas não vejo outra saída, precisamos conseguir comprar a Lannoy, só assim poderemos acabar com aquela cadela. – Eu estava há semanas pensando em uma forma de me tornar acionista da Lannoy Engenharia, isso seria como acertar dois coelhos com uma cajadada, eu daria uma lição no Maurice e acabaria com a Mônica.
- É uma boa idéia, mas é um negócio arriscado. Precisaríamos mobilizar um capital enorme para isso e não poderíamos fazer em nosso nome, o Maurice não venderia as ações para nós. – Emiliano se sentou em minha frente.
Ele tinha razão e eu estava prestes a dizer isso a ele, mas o celular dele tocou e ele pediu um minuto para atender. E nesse momento a secretária anunciou que o corretor queria falar comigo.
- Sr. Monterrey, tenho boas notícias. Consegui a casa! – Ele anunciou empolgado.
- Isso é ótimo! Quando os papéis ficam prontos? – Isso me animou, era mais uma coisa que eu estava resolvendo.
- O senhor pediu agilidade, então ficam prontos esta tarde. Mas, custou mais do que pensamos. – Ele colocou a pasta em minha frente e eu avaliei. Ele era o melhor corretor da minha empresa e fez um trabalho que parecia impossível, contudo realmente custou bem mais.
- Muito bem, que seja! Me avise quando os papéis estiverem prontos para assinar.
- Sim, senhor, com licença! – Ele se retirou no momento em que o Emiliano voltava para a sala.
- Consegui a casa, Emiliano! – Contei com empolgação, aquela casa era especial.
A casa em questão era a casa dos meus sonhos, onde eu idealizei construir uma família desde muito jovem. Eu admirava aquela casa desde sempre, era uma construção centenária, sólida, resistente às intempéries do tempo. Eu a observava sempre que passava por ela com especial encanto. Por uma coincidência da vida, quando a Alice e eu estávamos procurando um lugar, aquela casa foi posta a venda, o proprietário havia falecido e os herdeiros queriam se livrar dela a um preço muito inferior ao que realmente valia. Eu quis comprá-la, mas a Alice já havia se interessado pela maldita cobertura e bateu o pé, então eu fiz a vontade dela. Mas, como não houve casamento, eu vendi a cobertura rapidamente e coloquei o meu melhor corretor atrás da casa.
- Que bom, meu amigo! – Mas o Emiliano não parecia muito feliz.
- Aconteceu alguma coisa? – Perguntei vendo a cara meio assombrada do meu amigo.
- Eu vou ter que viajar. – Ele respondeu e se sentou. Certamente isso tinha a ver com a ligação que recebeu, mas o que seria assim tão importante e que deixou o meu amigo com cara de enterro?
“Emiliano Quintana”O nome que brilhava na tela do meu celular era o da minha amiga Abigail. Ela era uma grande amiga e foi muito importante em uma fase difícil da minha vida. Abigail e eu nos falávamos com frequência e havíamos nos falado na noite anterior. Então estranhei sua ligação tão cedo.- Oi, Abi! Já está com saudade de mim? – Brinquei com ela, mas a voz que eu ouvi era de uma Abigail chorosa.- Emi, o meu pai morreu! – Ela falou e soluçou no fim da frase.Abigail era filha de um magnata que possuía vários negócios ao redor do mundo. Era um homem influente e acostumado a ter as coisas à sua maneira. Ela era a única filha, perdeu a mãe quando tinha apenas dez anos e por um tempo foram só ela e o pai, mas uns cinco anos depois o pai se casou com uma mulher muito bonita, mas que já estava no quarto marido e tinha um filho da idade da Abi. A Abi odiava o garoto, mas foi obrigada a conviver com ele e logo a madrasta já tinha o novo marido sob seu completo domínio e a Abi sofreu ba
“Abigail Zapata”Com a morte do meu pai eu não tinha mais nenhum parente vivo no mundo. Mas eu tinha o Tony, um bom amigo do meu pai e homem de confiança dele, que assim como eu nunca suportou a minha madrasta, e tinha o Emiliano, meu amigo e amor da minha vida. Mas o Emiliano não sabia que ele era o amor da minha vida, porém, ele era a minha rocha, estava sempre pronto a me ajudar.Eu sabia que quando ligasse para ele eu não precisaria pedir, ele viria depressa e se colocaria ao meu lado. Ele era assim, generoso e bom. E foi o que ele fez. Eu estava descendo as escadas daquela mansão horrorosa que eu odiava, quando o Emiliano entrou e eu corri até ele.- Minha querida, eu sinto muito! – Ele falou ao me abraçar, com carinho e gentileza.- Emiliano? Você aqui? – A minha madrasta Magda se aproximou. Ela não gostava do Emiliano, ela não gostava de nada do que me fazia feliz, e ela nos afastou o máximo que pôde.- Sim, Sra. Zapata. É claro que eu viria apoiar a Abigail. Eu sinto muito pel
“Abigail Zapata”A Magda estava de pé, com as faces vermelhas de raiva e o dedo em riste. Mas o testamenteiro não se deixou intimidar e se colocou de pé, dando um tapa seco na mesa que assustou a todos nós.- Eu não terminei senhora. – O testamenteiro a encarou de forma severa e ela se calou. – Se a Abigail não se casar, todo o patrimônio será destinado a senhora. – Com isso aquela vaca riu, com certeza pensou que eu ficaria solteirona. E o testamenteiro continuou: – A senhora vai receber uma mesada mensal, assim como a Abigail, a quantia paga será a mesma para as duas, a diferença é que a sua será vitalícia se a senhora permanecer viúva, sem colocar outro homem em sua vida, seja como marido, amante, namorado ou amásio, caso isso ocorra a senhora perde a pensão imediatamente. Já a da Abigail cessa em um ano.- Mas esse testamento é uma piada! – A cobra se manifestou outra vez. E eu era obrigada a concordar. Se eu não me casasse o meu pai cumpriria o prometido e me deixaria sem nada.-
“Abigail Zapata”Eu pretendia ficar na casa do Emiliano, mas a mãe dele, ao saber que eu estava indo para a cidade, fez questão de me receber. Seriam só uns poucos dias, pois eu logo arrumaria um lugar para morar e procuraria um emprego. Eu poderia ter pedido um emprego para o Emiliano, mas eu não queria ser a amiga chata que vive pedindo favores, além do mais, ele tinha um sócio e me impor para o sócio seria meio chato, talvez eles nem tivessem uma vaga para me encaixar, então achei melhor procurar um emprego. Eu trabalhei por um bom tempo em uma empresa de arquitetura de um amigo do meu pai, poderia conseguir algo facilmente.E foi assim, uma semana depois eu aluguei um apartamentinho simpático e me mudei. Mas fiquei muito grata a D. Branca por ter me recebido. Eu estava preparando o meu currículo, sentada na sala do meu novo lar, quando o meu celular tocou. Era o Emiliano, ele havia passado o fim de semana fora, visitando um cliente.- Oi, Emi! Já chegou de viagem? – Perguntei logo
“Martim Monterrey”Eu estava em minha sala revendo um projeto quando ouvi uma batida na porta e mandei entrar.- Oi, Martim! Eu estava aqui por perto e resolvi vir te dar um oi. – Levantei os olhos e via Suzana, uma conhecida de uma das minhas irmãs, com quem eu não tinha intimidade nenhuma, mas tinha cruzado em um bar um dia desses.- Suzana. Aqui é o meu local de trabalho, não a minha sala de visitas. – Respondi, mas a mulher nem se intimidou, entrou e fechou a porta atrás de si.- Mas você não tem tempo para um cafezinho? – Ela apoiou as mãos sobre a minha mesa e se debruçou, me dando uma boa visão dos seus peitos no decote da blusa.- Você não veio aqui pra tomar um cafezinho, não é mesmo, Suzana? – Me recostei na cadeira e observei aquela mulher dar a volta na mesa e parar em minha frente.Ela era uma mulher bonita, magra, alta e, pelo que eu vi no bar, não tinha muitos pudores.- É, não vim. Mas aquele dia no bar, não tivemos muito tempo pra conversar, você logo saiu com aquela
“Abigail Zapata”Eu amava o Emiliano, mas nesse momento eu estava bastante irritada com ele. Eu mal suportava aquela besta do amiguinho dele e o Emiliano me obrigaria a receber o insuportável do Martim em minha casa. Ah, mas isso era demais!Mas, por outro lado, sendo a besta do Martim amigo do meu Emiliano, e sócio, eu teria mesmo que aprender a suportá-lo. Mesmo achando isso bem difícil. Só que não tinha jeito, eu teria que conviver com aquela criatura.Depois que eu acertei os detalhes do meu novo trabalho com o Emiliano e ele me apresentou para toda a equipe, eu fui pra casa, precisava preparar o jantar. Minha vontade era colocar um laxante na comida daquela besta do Martim, mas como eu poderia fazer isso? Até a hora em que tirei a lasanha do forno eu ainda não tinha pensado em como eu poderia envenenar o insuportável do Martim sem que o Emiliano percebesse. E foi nesse momento que a campainha tocou.Eu sabia que era o Emiliano, pois já havia deixado a entrada dele liberada na por
“Abigail Zapata”Eu cheguei cedo para o trabalho, o Emiliano já tinha me mostrado tudo no dia anterior, inclusive qual seria a minha sala, bem ao lado da dele. Eu tive até tempo de passar em uma lanchonete simpática perto do escritório e comprar um copo grande de suco verde. Eu só esperava que aquela recepcionista distraída e mentirosa não me aprontasse mais nenhuma, mas era querer demais, ela aprontou. Ela me barrou na entrada e disse que eu teria que aguardar sentada na recepção.- Maria Luiza, eu fui apresentada ontem, você sabe que eu vou trabalhar aqui e eu já sei qual é a minha sala. – Tentei explicar para a recepcionista, mas ela me olhou com desinteresse, enquanto lixava as unhas.- Temos que esperar o Emiliano ou o Martim chegar. – Ela repetiu com aquela voz insossa. – Eu não posso deixá-la ir entrando assim. Principalmente depois daquele escândalo que você armou ontem.- Você me mandou para a sala errada! – Eu estava a ponto de perder a paciência.- Não mandei não. É a minha
“Abigail Zapata”Já haviam se passado onze meses desde que o meu pai morreu. Como o tempo passava depressa! E em onze meses eu não fiz nenhum progresso.Os onze meses que se seguiram desde que eu cheguei aqui na empresa do Emiliano não foram fáceis, várias vezes eu quis me demitir, mas as coisas não iam bem e o Emiliano me pedia para ficar, que precisava da minha ajuda. Eles haviam perdido vários clientes ao longo dos meses para outra construtora concorrente, eu não entendia muito bem, mas parecia que uma antiga funcionária estava trabalhando para essa concorrente e estava roubando os clientes. Essa situação acabava deixando o Martim ainda mais insuportável e eu acabei me tornando o bode expiatório dele.É claro que a minha relação com o Martim ia de mal a pior, cada vez nos suportávamos menos e as brigas e confusões entre nós eram constantes. E como se não bastasse eu ter que suportar o Martim, a sonsa da Maria Luiza continuava aprontando comigo sempre que podia e vivia fazendo fofoc