“Abigail Zapata”
Estava tudo correndo tão perfeitamente bem! Até eu encontrar aquela besta no saguão do hotel. O que eu ia fazer? Aquele brutamontes arruinou o meu vestido e meu celular estava quebrado. Eu precisava de um celular novo e precisava de um banho. Eu estava prontinha para ir para o meu compromisso, comprei esse vestido especialmente para isso e agora ele estava destruído.
- O que eu faço agora? – Eu olhava para o funcionário do hotel e estava quase chorando.
- Senhorita, tem uma loja de celulares aqui perto, posso mandar o seu aparelho para o conserto, mas não deve ficar pronto hoje. Quanto ao vestido, podemos entregá-lo amanhã. Eu lamento por não conseguir ser mais rápido. – O funcionário me olhava até constrangido.
- Tudo bem. – Suspirei. Não tinha jeito, eu teria que improvisar. – Eu não posso ficar sem o celular, você acha que eles podem trazer um novo aqui pra mim?
- Com certeza, eu conheço o gerente de lá. Vou ligar imediatamente para ele. – O funcionário era prestativo e tinha uma voz tranqüilizadora.
- Eu vou tomar um banho e trocar de roupa. Quando chegar você pode me avisar que eu desço. Obrigada. – Me virei e saí dali.
Uma hora depois eu estava pronta de novo, mas nem de longe a roupa que eu usava era boa o suficiente. Eu vim à cidade apenas por um dia, eu encontrei um cliente à tarde, jantaria com o Emiliano à noite e no dia seguinte voltaria pra casa, então tinha apenas três mudas de roupa, a que eu usei durante o dia, o vestido que estava arrasado e a roupa que eu usaria no dia seguinte. O que me deixava como única opção a roupa do dia seguinte que era apenas uma calça preta e uma camisa branca sem graça e que não fariam o Emiliano finalmente reparar em mim.
Mandei uma mensagem do meu novo celular para o meu amigo e saí do hotel para encontrá-lo.
- Abi! Que bom te ver! Confesso que é uma grande novidade ver você aqui. Você nunca veio me visitar. – O Emiliano me abraçou e eu aproveitei para me demorar um pouco mais no seu abraço.
- Você decidiu morar muito longe de mim e o meu pai, bem, você sabe, faz milhares de exigências e está sempre ameaçando me deserdar. – Reclamei antes de me sentar.
- E desde quando você liga pra dinheiro? – O Emiliano sorriu.
- Não ligo! Mas a minha madrasta liga e de jeito nenhum que eu vou deixá-la ficar com tudo. Eu odeio aquela mulher!
- É, não tiro a sua razão, a Magda é uma mulher detestável. – O Emiliano e a minha madrasta se tratavam como em uma guerra fria e ela fazia o possível e o impossível para me afastar dele. – Agora me conta as novidades.
- Ai, Emi, me aconteceu uma coisa. – Contei para o Emiliano em riqueza de detalhes o desastre que me aconteceu no hotel. Meu amigo ria como se fosse tudo uma piada.
- Abi, já pensou se você e esse estranho se apaixonam? Já vi isso em filmes. – O Emiliano estava fazendo piada comigo, ele era sempre assim, fazia piada de tudo e estava sempre de bom humor.
- Deus me livre, Emi! Aquele homem é um grosso, mal educado, ignorante. – Mas mal sabia o Emiliana que o meu coração já tinha dono.
- Olha, quanto apelidinho carinhoso! – O Emiliano riu e eu joguei o meu guardanapo nele. – Mas a culpa foi sua mesmo, Abi, distraída no celular.
- Eu estava lendo a sua mensagem! – Eu protestei divertida.
No fim do jantar, o Emiliano e eu havíamos bebido duas garrafas de vinho e eu estava bem alegrinha. Ele me colocou em um taxi, se desculpando por não me levar, mas como sabia que iríamos beber ele não estava de carro. E eu me despedi do meu amigo com tristeza, pois não sabia quando o veria de novo.
Cheguei ao hotel, peguei a minha chave na recepção e fui para o meu quarto, pensando em cair na cama e dormir o sono dos justos. Mas, enquanto eu tentava colocar a chave na fechadura ela caiu da minha mão e eu me curvei para apanhá-la, foi aí que senti algo bater em mim e eu quase caí, fui salva por um braço em minha cintura que me segurou fortemente presa a um corpo masculino. Endireitei o meu corpo e me virei para ver o homem que estava com o braço preso em minha cintura.
- Você de novo, sua doida? – Era aquele homem grosso de novo, mas ele parecia mais manso, com a voz levemente pastosa e o hálito de quem andou bebendo.
- Você realmente não olha por onde anda! – Minha própria voz estava meio arrastada pelo efeito do vinho e eu espalmei as mãos naquele peito largo e firme. Aquele homem tinha músculos, muitos músculos.
- Você é quem estava aí abaixada, como se estivesse planejando me derrubar. – Ele retrucou. – Pelo menos não derramou nada em mim.
Ele abriu um sorriso de dentes perfeitos e brancos que faziam um belo conjunto com aqueles olhos verdes que pareciam ter um halo dourado em torno da pupila. Eu amava o Emiliano e esse homem era uma besta, mas eu não era cega, ele era lindíssimo. Aquele gigante mal educado se aproximou perigosamente de mim, quase como se fosse me beijar, fechou os olhos e aspirou.
- Sabe de uma coisa, sua doida, seu perfume é muito bom. – Ele falou e voltou a abrir os olhos, havia uma luz diferente neles, como se tivessem mudado de cor e o dourado ao redor da pupila foi quase totalmente engolido por um verde mais intenso. – Pena que é doida! – Ele falou e me soltou.
Eu precisei me apoiar na parede para não me desequilibrar. Ele me deu as costas e abriu a porta ao lado da minha e entrou. Mas era muita falta de sorte a minha, estar hospedada justamente no quarto ao lado do daquela besta! Mas era um homem lindo! Mas continuava sendo uma besta e eu ficaria feliz em não vê-lo de novo. Acabei me lembrando da piadinha do Emiliano e as suas palavras bateram em minha mente: “já pensou se você e esse estranho se apaixonam?”. Mas isso seria impossível, o meu coração já pertencia ao Emiliano, mesmo que ele não soubesse.
“Martim Monterrey”Já havia se passado um mês desde que a Alice me deixou plantado no altar e desde então eu me tornei outra pessoa. Eu não vejo graça em mais nada, me tornei impaciente e irritado. Não confio mais nas pessoas, apenas na minha família e no meu amigo Emiliano. Mas, principalmente, eu agora não era mais o mesmo em relação às mulheres, eu apenas as usava para o meu prazer, mas nenhuma, nunca mais, teria o meu coração ou a minha gentileza, nunca mais! Eu fui traído de muitas maneiras, fui apunhalado pelas costas e esse tipo de coisa muda as pessoas. E me mudou!Pelo menos eu já tinha vendido aquele apartamento que eu odiava. Uma detestável cobertura triplex no prédio mais nobre da cidade que eu só comprei porque era o que a minha ex noiva queria. Eu não poderia morar lá, tanto porque eu achava o lugar horrível, quanto porque era o lugar onde eu moraria depois de me casar. Mas eu não me casei, então me livrei do apartamento. Passei uma semana no hotel, o mesmo hotel onde eu
“Emiliano Quintana”O nome que brilhava na tela do meu celular era o da minha amiga Abigail. Ela era uma grande amiga e foi muito importante em uma fase difícil da minha vida. Abigail e eu nos falávamos com frequência e havíamos nos falado na noite anterior. Então estranhei sua ligação tão cedo.- Oi, Abi! Já está com saudade de mim? – Brinquei com ela, mas a voz que eu ouvi era de uma Abigail chorosa.- Emi, o meu pai morreu! – Ela falou e soluçou no fim da frase.Abigail era filha de um magnata que possuía vários negócios ao redor do mundo. Era um homem influente e acostumado a ter as coisas à sua maneira. Ela era a única filha, perdeu a mãe quando tinha apenas dez anos e por um tempo foram só ela e o pai, mas uns cinco anos depois o pai se casou com uma mulher muito bonita, mas que já estava no quarto marido e tinha um filho da idade da Abi. A Abi odiava o garoto, mas foi obrigada a conviver com ele e logo a madrasta já tinha o novo marido sob seu completo domínio e a Abi sofreu ba
“Abigail Zapata”Com a morte do meu pai eu não tinha mais nenhum parente vivo no mundo. Mas eu tinha o Tony, um bom amigo do meu pai e homem de confiança dele, que assim como eu nunca suportou a minha madrasta, e tinha o Emiliano, meu amigo e amor da minha vida. Mas o Emiliano não sabia que ele era o amor da minha vida, porém, ele era a minha rocha, estava sempre pronto a me ajudar.Eu sabia que quando ligasse para ele eu não precisaria pedir, ele viria depressa e se colocaria ao meu lado. Ele era assim, generoso e bom. E foi o que ele fez. Eu estava descendo as escadas daquela mansão horrorosa que eu odiava, quando o Emiliano entrou e eu corri até ele.- Minha querida, eu sinto muito! – Ele falou ao me abraçar, com carinho e gentileza.- Emiliano? Você aqui? – A minha madrasta Magda se aproximou. Ela não gostava do Emiliano, ela não gostava de nada do que me fazia feliz, e ela nos afastou o máximo que pôde.- Sim, Sra. Zapata. É claro que eu viria apoiar a Abigail. Eu sinto muito pel
“Abigail Zapata”A Magda estava de pé, com as faces vermelhas de raiva e o dedo em riste. Mas o testamenteiro não se deixou intimidar e se colocou de pé, dando um tapa seco na mesa que assustou a todos nós.- Eu não terminei senhora. – O testamenteiro a encarou de forma severa e ela se calou. – Se a Abigail não se casar, todo o patrimônio será destinado a senhora. – Com isso aquela vaca riu, com certeza pensou que eu ficaria solteirona. E o testamenteiro continuou: – A senhora vai receber uma mesada mensal, assim como a Abigail, a quantia paga será a mesma para as duas, a diferença é que a sua será vitalícia se a senhora permanecer viúva, sem colocar outro homem em sua vida, seja como marido, amante, namorado ou amásio, caso isso ocorra a senhora perde a pensão imediatamente. Já a da Abigail cessa em um ano.- Mas esse testamento é uma piada! – A cobra se manifestou outra vez. E eu era obrigada a concordar. Se eu não me casasse o meu pai cumpriria o prometido e me deixaria sem nada.-
“Abigail Zapata”Eu pretendia ficar na casa do Emiliano, mas a mãe dele, ao saber que eu estava indo para a cidade, fez questão de me receber. Seriam só uns poucos dias, pois eu logo arrumaria um lugar para morar e procuraria um emprego. Eu poderia ter pedido um emprego para o Emiliano, mas eu não queria ser a amiga chata que vive pedindo favores, além do mais, ele tinha um sócio e me impor para o sócio seria meio chato, talvez eles nem tivessem uma vaga para me encaixar, então achei melhor procurar um emprego. Eu trabalhei por um bom tempo em uma empresa de arquitetura de um amigo do meu pai, poderia conseguir algo facilmente.E foi assim, uma semana depois eu aluguei um apartamentinho simpático e me mudei. Mas fiquei muito grata a D. Branca por ter me recebido. Eu estava preparando o meu currículo, sentada na sala do meu novo lar, quando o meu celular tocou. Era o Emiliano, ele havia passado o fim de semana fora, visitando um cliente.- Oi, Emi! Já chegou de viagem? – Perguntei logo
“Martim Monterrey”Eu estava em minha sala revendo um projeto quando ouvi uma batida na porta e mandei entrar.- Oi, Martim! Eu estava aqui por perto e resolvi vir te dar um oi. – Levantei os olhos e via Suzana, uma conhecida de uma das minhas irmãs, com quem eu não tinha intimidade nenhuma, mas tinha cruzado em um bar um dia desses.- Suzana. Aqui é o meu local de trabalho, não a minha sala de visitas. – Respondi, mas a mulher nem se intimidou, entrou e fechou a porta atrás de si.- Mas você não tem tempo para um cafezinho? – Ela apoiou as mãos sobre a minha mesa e se debruçou, me dando uma boa visão dos seus peitos no decote da blusa.- Você não veio aqui pra tomar um cafezinho, não é mesmo, Suzana? – Me recostei na cadeira e observei aquela mulher dar a volta na mesa e parar em minha frente.Ela era uma mulher bonita, magra, alta e, pelo que eu vi no bar, não tinha muitos pudores.- É, não vim. Mas aquele dia no bar, não tivemos muito tempo pra conversar, você logo saiu com aquela
“Abigail Zapata”Eu amava o Emiliano, mas nesse momento eu estava bastante irritada com ele. Eu mal suportava aquela besta do amiguinho dele e o Emiliano me obrigaria a receber o insuportável do Martim em minha casa. Ah, mas isso era demais!Mas, por outro lado, sendo a besta do Martim amigo do meu Emiliano, e sócio, eu teria mesmo que aprender a suportá-lo. Mesmo achando isso bem difícil. Só que não tinha jeito, eu teria que conviver com aquela criatura.Depois que eu acertei os detalhes do meu novo trabalho com o Emiliano e ele me apresentou para toda a equipe, eu fui pra casa, precisava preparar o jantar. Minha vontade era colocar um laxante na comida daquela besta do Martim, mas como eu poderia fazer isso? Até a hora em que tirei a lasanha do forno eu ainda não tinha pensado em como eu poderia envenenar o insuportável do Martim sem que o Emiliano percebesse. E foi nesse momento que a campainha tocou.Eu sabia que era o Emiliano, pois já havia deixado a entrada dele liberada na por
“Abigail Zapata”Eu cheguei cedo para o trabalho, o Emiliano já tinha me mostrado tudo no dia anterior, inclusive qual seria a minha sala, bem ao lado da dele. Eu tive até tempo de passar em uma lanchonete simpática perto do escritório e comprar um copo grande de suco verde. Eu só esperava que aquela recepcionista distraída e mentirosa não me aprontasse mais nenhuma, mas era querer demais, ela aprontou. Ela me barrou na entrada e disse que eu teria que aguardar sentada na recepção.- Maria Luiza, eu fui apresentada ontem, você sabe que eu vou trabalhar aqui e eu já sei qual é a minha sala. – Tentei explicar para a recepcionista, mas ela me olhou com desinteresse, enquanto lixava as unhas.- Temos que esperar o Emiliano ou o Martim chegar. – Ela repetiu com aquela voz insossa. – Eu não posso deixá-la ir entrando assim. Principalmente depois daquele escândalo que você armou ontem.- Você me mandou para a sala errada! – Eu estava a ponto de perder a paciência.- Não mandei não. É a minha