Capitulo 3

Irina Greco 

 Cresci em uma bela fazenda com vários hectares de terras férteis cultivando belo café, cacau, algodão, maçãs e uvas. É uma mistura enorme passada de geração em geração através da família do meu pai. Minha infância foi tranquila com minha irmã Daniele, éramos filhas únicas. Não tínhamos do que reclamar, nossas vidas eram boas e refinadas até ouvirmos falar do sobrenome Mortalla e o envolvimento de nosso pai em seus negócios. Julian parecia um inseto venenoso em nossa terra que desejava mais do que qualquer a possuir as terras da minha família, mas meu pai não queria vendê-la, ele escolheu negociar. Lucio, meu pai sempre foi um homem fraco quando se tratava de riqueza e poder, afinal quem não gostaria? Mas como Sandra é uma boa mãe e esposa, ela tentava avisá-lo de onde estava se metendo, porém ele não se importou tanto, aceitou o mundo do crime e apodrecer nossas terras com drogas ilegais. 

 Aminha liberdade, junto com a de minha irmã Daniele, já não fazia parte da nossa escolha. Nosso pai tinha planos para nós, como por exemplo nos prometer a casamentos com homens envolvidos na grande corporação mafiosa, mas nós não queríamos isso, desejávamos ser livre daquela vida onde nossas vontades eram ignoradas. Porém, mesmo odiando todo aquele idêntico filme de terror, a única quem teve coragem de fugir, melhor, forjar a sua morte foi Daniele, foi preferível de sua escolha a ser alguém oculto na sociedade do que ter um status e casada com um homem sem escrúpulos. 

  Hoje, pode-se dizer que sua vida está melhor do que antes, conseguiu criar uma nova identidade e atualmente vive na Califórnia. Por me lembrar da oportunidade que tive a segui-la me causa grandes arrependimentos, no qual hoje não vejo necessidade de lamentar, eu fui fraca, temerosa, talvez a minha escolha me assombre para sempre. Nunca quis ser tratada como uma mulher troféu, embora isso tenha se tornado habito, eu jamais me acostumei, apenas aprendi a lidar. Há cada ano eu vejo mulheres jovens serem forçadas a casar com homens da organização, criadas apenas para isto, eu jamais quis uma vida desta para minha menina, minha Alice. 

   Mesmo na esperança de que minha filha não tivesse o mesmo destino que o meu, meu marido, Marco, se envolveu em um grande problema na organização, onde foi condenado por traição. Para salvar a sua vida a minha filha teve que ser prometida como um simples negócio, como um objeto. Foi necessário fazer aquilo, afinal, se Marco fosse condenado e porto por traição, Alice e eu acabaríamos mortas por consequência. Desde aquele momento ele não escondeu a sua falta de satisfação ao ser ajudado por uma mulher, pior ainda, ver que sua filha estava comprometida a uma família que ele odiava com todas as suas forças. Seu ódio quase nos custou a vida, por isso, para que isso não voltasse acontecer eu resolvi preparar Alice desde os seus cinco anos. Planejei seus estudos e suas aulas de luta, tiro ao alvo, até de sobrevivência, eu não queria que minha filha fosse iguais as demais garotas da Cosa Nostra, dóceis e submissas. 

  Não precisei de muito esforço, ela já era uma leoazinha indomável, tem a mesma perseverança e ousadia do pai, é frívola e sabe esconder muito bem seus sentimentos, mais sei que em alguns aspectos ela se parece comigo. Alice corria para o nosso grande jardim com o cachorro que ela ganhou de aniversário sempre que tinha a chance, e eu observava pela janela da mansão enquanto  fazia a lindos lalaus no pelo do cachorro, assim como eu fazia quando tinha sua idade. Também já presenciei seu grande interesse na cozinha, embora não fosse apropriado para ela, quando havia possibilidades ela observava as empregadas preparando alguma refeição, eu jamais intervi na sua curiosidade ou nos seus interesses, ela estava conhecendo o mundo como podia, já que não saia tanto de casa.

   Alice não tinha amizades com outras crianças, foi difícil no inicio para explicá-la, ela não entendia mas também nunca questionou sobre. Foi complicado quando me preparei para falar sobre seu compromisso com alguém que nunca viu, eu já sabia que sua reação seria negativa, não sabia se ficava orgulhosa ou com medo, pois eu não queria que nada acontecesse com ela. Depois que conheceu seu noivo eu pude ver a revolta e a tristeza em seus olhos, me partiu o coração vê-la daquele jeito.  

— Papai arruinou minha vida! — Alice disse com ódio, e eu apenas segurei, me sentindo impotente. 

— Sei que seu pai errou, mas não se desespere. — Ela ergueu os olhos e soluçou: 

—  Como não, mãe? Papai me prometeu casar com aquele homem! — Coloquei seu rosto manchado de lágrimas em minhas mãos e fiz com que ela me encarasse, e disse com firmeza:

 — Eu vou fazer tudo ao meu alcance para impedir esse casamento, você me ouviu? 

— Não seja boba, você sabe que se envolver em negócios pode custar muito caro. — Alice ficou longe do meu contato. Ela ficou tão chateada que não saiu do quarto por três dias inteiros, quando uma das empregadas levava sua refeição, tratava de enviá-la de volta intacta. Em um jantar com Marco, chamei sua atenção e contei sobre o estado de sua filha:

— Alice não sai do quarto há três dias. 

— Ok, então eu não tenho que lidar com seu temperamento. — Eu olhei para ele com nojo.

— Como você pode sentar e relaxar na situação atual dela? 

—O que você quer que eu faça?! — ele perguntou com raiva. 

— Seu papel de pai. A nossa filha vai se casar com aquele homem por sua culpa! 

— Deveria aceitar verdades, Marco. Já que sua inveja pelo poder dos Mortalla custou a nossa família! — Ele bateu as mãos sobre a mesa furioso, soube tocar onde mais doía, seu ego. Marco sempre desejou ter o total poder de Cosa Nostra, mas sabia que jamais teria. Marco se levantou da mesa e se aproximou de mim, seu olhar mortal já não me assustava, apenas indiferença. Sua mão pesada acertou em cheio o meu rosto, eu apenas segurei as lágrimas momentâneas de dor, e eu queria salvar o destino da minha filha mais do que nunca.

  Alice estava tentando viver sua vida depois de saber sobre o casamento, ela praticava luta e tiro como nunca antes, e enquanto eu estava preocupado que ela estava ficando cada vez mais obsessiva, eu sabia que ela precisava estar pronta para quando ela fugisse do lugar. Os anos se passaram e ela se tornou uma bela nova adulta. Eu a vi tão chateada no dia do casamento, mas ela era uma verdadeira princesa em seu vestido de noiva. Me entristece saber que esta será a última vez que a vejo, mas vejo algo bonito nela, e se nunca mais a verei novamente é porque tudo ocorreu muito bem.

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