Capitulo 10

Alice Greco 

  Mamãe percebeu que sua vida seria um martírio assim que se casou com Marco, meu pai, ainda mais quando ele tentou roubar a própria organização que era capo, braço direito de um Mortalla. Depois desse perigoso conflito, Irina tratou de planejar todas minhas aulas. Enquanto as moças da máfia aprendiam a se portar antes e depois de casar-se, eu estava aprendendo a lutar, a  ser fria quando chegasse o momento oportuno. O problema é que no início eu não entendia o quão importante é necessário eram as minhas aulas. As vezes era impedida de brincar com meu antigo cão e manter minhas obrigações em dia, agora eu consigo entender o porquê.

  Parecia que eu estava em um filme de terror. Minha cabeça começara a doer e meu coração a palpitar forte em meu peito. Meu raciocínio estava completamente lento, sem conseguir acreditar no acontecimento de minutos atrás. A que ponto os ensinamentos da máfia podem chegar? Isso nos muda, por mais que tenhamos ainda um pouco de bondade ou inocência dentro de nós.

  Com os pulsos algemados eu sou colocada dentro da viatura e conduzida para a delegacia mais próxima. Chegando lá, sou deixada em uma sala para me interrogarem. Naquele cômodo havia uma mesa e três cadeiras envolta do móvel. Os policiais me forçaram a sentar-se em uma das cadeiras e me deixaram sozinha por alguns minutos.

  Eu permaneci alí parada, olhando fixamente para o vidro que havia na parede na minha frente, eu sabia que havia alguém ali, policiais, talvez. Mas ao invés de pensar sobre o que dizer para salvar a minha pele eu estava perdida em meus próprios pensamentos, ouvindo em minha cabeça as últimas palavras daquele garoto, eu sei que isso me marcará para sempre. A cena em que corpo seu pescoço com a lâmina se repetem em minha cabeça, onde ela me acusa de assassina e desumana, eu tento conter esses pensamentos, mas a minha consciência estava me matando lentamente.

  Um tempo depois um homem aparentemente sério passou pela porta com um envelope em mãos, ele olhou para mim com um semblante nada amigável, parecia estar repudiando a minha presença. Ele sentou-se na minha frente e abriu o envelope, retirando dali as imagens da cena do crime. Ele deixou em uma organização única para deixar mais claro a situação. 

— Eu sou o delegado Jones, estou com seu caso em minhas mãos. E devo dizer que a situação atual é complicada para o seu lado. 

  Olhei para a primeira fotografia, era o homem que estava tentando me roubar o que me é mais valioso. Ver sua situação pós morte não me trouxe remorso algum. A segunda fotografia continha a arma que fora usada, ignorei sem demora. Já a terceira e última fotografia me fez inevitavelmente prender a respiração, contive o suspiro pesado e aflito preso em minha garganta. O garoto no ar de sua juventude estava de olhos abertos com o pescoço cortado.

— Esse corte foi limpo, creio que não seja sua primeira vítima, senhorita Liana. — Continuei olhando firme em seus olhos, sem demonstrar qualquer sentimento. — Não vai dizer nada? — perguntou indignado. — Olhe para este garoto, tinha apenas treze anos!

— Quero fazer meu telefonema. — foi a única coisa que eu tive forças para falar. 

  O delegado respirou fundo e confirmou meu pedido, porém eu sabia que sua verdadeira vontade era de me esmagar feito um inseto. Depois de alguns minutos eu liguei para Tia Daniele que ao ouvir meu pedido, desesperou-se e veio as pressas para a delegacia. Enquanto ela não chegava eu permaneci paciente sobre aquela cadeira dura tentando lidar com o turbilhão de emoções que estava crescendo dentro de mim. Após esse incidente talvez eu tenha que me mudar, pois agora eu corro riscos de sair em jornais ou noticiários de TV, isso pode chamar atenção dos malditos da Cosa Nostra. De toda a forma na situação em que estou, me encontro com uma corda sobre o pescoço.

  Ainda sentada na cadeira desconfortável eu olhei para a outra janela que mostrava todo o lado de fora daquela sala. Eu vi tia Daniele passar pela entrada acompanhada por dois advogados e se aproximar da recepção, ela pediu informações usando meu nome falso e logo foi conduzida até onde eu estava. Ao passar pela porta, ela encarou meu estado deplorável com uma expressão de espanto. Eu estava com os cabelos molhados pela forte chuva, com os olhos borrados de maquiagem, marcas visíveis sobre o corpo pela luta e com o vestido rasgado e manchado de sangue. 

  Ao se aproximar de mim ela me abraçou forte e me segurou para que eu não desabace em seus braços calorosos e acolhedores. Apertei seu corpo contra o meu como se ela fosse a ninha base, minha força vital, mas de fato ela é.

— Lembre-se do que aprendeu, total frieza. Vamos resolver isso. — lembrou-me em voz baixa. 

— Tia, eu matei uma criança inocente.

— Foi um efeito colateral. — Me respondeu friamente. — O mais importante agora é tirar você daqui.

  A encarei incrédula por suas duras palavras, mas o que posso dizer? Por pouco que sei ela também esteve em pouco tempo dentro da máfia, soube separar suas emoções pela sobrevivência. 

— Como pode dizer isso, tia? O garoto tinha treze anos!

— Me escute, Alice. Nesse momento você precisa ser racional e conter qualquer emoção que esteja sentindo, não importa a idade de quem você matou. Se esse incidente cair nas mídias, sua liberdade estará com dias contados.

  Desfiz do seu abraço e voltei a me sentar na cadeira. Ela tem razão, caso contrário se eu não lidar com essa confusão, terei fugido daquele inferno por nada. 

— O que posso fazer? Presa não conseguirei resolver nada!

— Entrei em contato com a sua mãe, Irina já sabia que algo assim poderia conhecer, ela deixou tudo pronto.

— Falou com mamãe? Retorne para ela, quero falar-lhe. 

— Não é o momento, fomos interrompidas com a chegada de seu pai. 

  Meus ombros estão caídos em derrota, não queria acreditar que tudo está para perder por um colar, talvez as emoções dentro de mim tenham aflorado no pior momento. Tia Daniele sentou em uma cadeira e segurou a minha mão, perguntando:

— O que aconteceu?

— Estava voltando para casa quando fui surpreendida por um assaltante. Ele queria levar o colar de mamãe e... — Ela me interrompeu.

— Espera aí, está me dizendo que todo esse problema foi gerada por causa de um colar? 

— Você não entende, tia. Mamãe o entregou antes de... — Voltou a me interromper. 

— Não importa quando ela entregou! Você quis provar que sabia lidar sozinha, quis usar suas habilidades em um beco escuro, achando que não haveria chances de testemunhas. 

— Isso não é verdade! — tentei me defender de sua acusação. 

— Diga que estou errada olhando nos meus olhos. — Baixei a cabeça de completo arrependimento. Tia Daniele estava certa, eu quis mostrar para mim mesma que era capaz de lidar com um assaltante sozinha. Ela sorriu sem humor e explicou: — Isso só seria possível se ainda estivesse ligada a máfia, haveria grupos de limpeza para que isso não acontecesse. 

— Não importa mais, já está feito.

— Tem razão, mas me diga. Onde está o maldito colar? 

  Pus a mão sobre o cólon do pescoço e não senti a corrente fina e delicada do colar. Olhei para Daniele sem quais quer reação, outra vez voltou a sorrir sem humor, contendo a frustração:

— Depois de toda esta merda perdeu o colar..

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