Alice Greco
Mamãe percebeu que sua vida seria um martírio assim que se casou com Marco, meu pai, ainda mais quando ele tentou roubar a própria organização que era capo, braço direito de um Mortalla. Depois desse perigoso conflito, Irina tratou de planejar todas minhas aulas. Enquanto as moças da máfia aprendiam a se portar antes e depois de casar-se, eu estava aprendendo a lutar, a ser fria quando chegasse o momento oportuno. O problema é que no início eu não entendia o quão importante é necessário eram as minhas aulas. As vezes era impedida de brincar com meu antigo cão e manter minhas obrigações em dia, agora eu consigo entender o porquê.
Parecia que eu estava em um filme de terror. Minha cabeça começara a doer e meu coração a palpitar forte em meu peito. Meu raciocínio estava completamente lento, sem conseguir acreditar no acontecimento de minutos atrás. A que ponto os ensinamentos da máfia podem chegar? Isso nos muda, por mais que tenhamos ainda um pouco de bondade ou inocência dentro de nós.
Com os pulsos algemados eu sou colocada dentro da viatura e conduzida para a delegacia mais próxima. Chegando lá, sou deixada em uma sala para me interrogarem. Naquele cômodo havia uma mesa e três cadeiras envolta do móvel. Os policiais me forçaram a sentar-se em uma das cadeiras e me deixaram sozinha por alguns minutos.
Eu permaneci alí parada, olhando fixamente para o vidro que havia na parede na minha frente, eu sabia que havia alguém ali, policiais, talvez. Mas ao invés de pensar sobre o que dizer para salvar a minha pele eu estava perdida em meus próprios pensamentos, ouvindo em minha cabeça as últimas palavras daquele garoto, eu sei que isso me marcará para sempre. A cena em que corpo seu pescoço com a lâmina se repetem em minha cabeça, onde ela me acusa de assassina e desumana, eu tento conter esses pensamentos, mas a minha consciência estava me matando lentamente.
Um tempo depois um homem aparentemente sério passou pela porta com um envelope em mãos, ele olhou para mim com um semblante nada amigável, parecia estar repudiando a minha presença. Ele sentou-se na minha frente e abriu o envelope, retirando dali as imagens da cena do crime. Ele deixou em uma organização única para deixar mais claro a situação.
— Eu sou o delegado Jones, estou com seu caso em minhas mãos. E devo dizer que a situação atual é complicada para o seu lado.
Olhei para a primeira fotografia, era o homem que estava tentando me roubar o que me é mais valioso. Ver sua situação pós morte não me trouxe remorso algum. A segunda fotografia continha a arma que fora usada, ignorei sem demora. Já a terceira e última fotografia me fez inevitavelmente prender a respiração, contive o suspiro pesado e aflito preso em minha garganta. O garoto no ar de sua juventude estava de olhos abertos com o pescoço cortado.
— Esse corte foi limpo, creio que não seja sua primeira vítima, senhorita Liana. — Continuei olhando firme em seus olhos, sem demonstrar qualquer sentimento. — Não vai dizer nada? — perguntou indignado. — Olhe para este garoto, tinha apenas treze anos!
— Quero fazer meu telefonema. — foi a única coisa que eu tive forças para falar.
O delegado respirou fundo e confirmou meu pedido, porém eu sabia que sua verdadeira vontade era de me esmagar feito um inseto. Depois de alguns minutos eu liguei para Tia Daniele que ao ouvir meu pedido, desesperou-se e veio as pressas para a delegacia. Enquanto ela não chegava eu permaneci paciente sobre aquela cadeira dura tentando lidar com o turbilhão de emoções que estava crescendo dentro de mim. Após esse incidente talvez eu tenha que me mudar, pois agora eu corro riscos de sair em jornais ou noticiários de TV, isso pode chamar atenção dos malditos da Cosa Nostra. De toda a forma na situação em que estou, me encontro com uma corda sobre o pescoço.
Ainda sentada na cadeira desconfortável eu olhei para a outra janela que mostrava todo o lado de fora daquela sala. Eu vi tia Daniele passar pela entrada acompanhada por dois advogados e se aproximar da recepção, ela pediu informações usando meu nome falso e logo foi conduzida até onde eu estava. Ao passar pela porta, ela encarou meu estado deplorável com uma expressão de espanto. Eu estava com os cabelos molhados pela forte chuva, com os olhos borrados de maquiagem, marcas visíveis sobre o corpo pela luta e com o vestido rasgado e manchado de sangue.
Ao se aproximar de mim ela me abraçou forte e me segurou para que eu não desabace em seus braços calorosos e acolhedores. Apertei seu corpo contra o meu como se ela fosse a ninha base, minha força vital, mas de fato ela é.
— Lembre-se do que aprendeu, total frieza. Vamos resolver isso. — lembrou-me em voz baixa.
— Tia, eu matei uma criança inocente.
— Foi um efeito colateral. — Me respondeu friamente. — O mais importante agora é tirar você daqui.
A encarei incrédula por suas duras palavras, mas o que posso dizer? Por pouco que sei ela também esteve em pouco tempo dentro da máfia, soube separar suas emoções pela sobrevivência.
— Como pode dizer isso, tia? O garoto tinha treze anos!
— Me escute, Alice. Nesse momento você precisa ser racional e conter qualquer emoção que esteja sentindo, não importa a idade de quem você matou. Se esse incidente cair nas mídias, sua liberdade estará com dias contados.
Desfiz do seu abraço e voltei a me sentar na cadeira. Ela tem razão, caso contrário se eu não lidar com essa confusão, terei fugido daquele inferno por nada.
— O que posso fazer? Presa não conseguirei resolver nada!
— Entrei em contato com a sua mãe, Irina já sabia que algo assim poderia conhecer, ela deixou tudo pronto.
— Falou com mamãe? Retorne para ela, quero falar-lhe.
— Não é o momento, fomos interrompidas com a chegada de seu pai.
Meus ombros estão caídos em derrota, não queria acreditar que tudo está para perder por um colar, talvez as emoções dentro de mim tenham aflorado no pior momento. Tia Daniele sentou em uma cadeira e segurou a minha mão, perguntando:
— O que aconteceu?
— Estava voltando para casa quando fui surpreendida por um assaltante. Ele queria levar o colar de mamãe e... — Ela me interrompeu.
— Espera aí, está me dizendo que todo esse problema foi gerada por causa de um colar?
— Você não entende, tia. Mamãe o entregou antes de... — Voltou a me interromper.
— Não importa quando ela entregou! Você quis provar que sabia lidar sozinha, quis usar suas habilidades em um beco escuro, achando que não haveria chances de testemunhas.
— Isso não é verdade! — tentei me defender de sua acusação.
— Diga que estou errada olhando nos meus olhos. — Baixei a cabeça de completo arrependimento. Tia Daniele estava certa, eu quis mostrar para mim mesma que era capaz de lidar com um assaltante sozinha. Ela sorriu sem humor e explicou: — Isso só seria possível se ainda estivesse ligada a máfia, haveria grupos de limpeza para que isso não acontecesse.
— Não importa mais, já está feito.
— Tem razão, mas me diga. Onde está o maldito colar?
Pus a mão sobre o cólon do pescoço e não senti a corrente fina e delicada do colar. Olhei para Daniele sem quais quer reação, outra vez voltou a sorrir sem humor, contendo a frustração:
— Depois de toda esta merda perdeu o colar..
Alice GrecoEstava me sentindo estranha com aquela conversa com minha tia, pois eu estava entendendo onde por fim ela queria chegar. Eu demonstrei sentimentos e importância em uma memoria que ligava minha mãe, onde ela com todo seu desejo fez de tudo para que eu separasse as emoções com racionalidade, e eu falhei com ela. Naquele instante a nossa conversa foi interrompida com a entrada dos meus advogados e do delegado Jones. A interrogação do meu caso durou por longas horas, pois assim como os advogados perceberam assim como eu, o delegado queria a todo custo impedir a minha saída e ter a liberdade que eu obviamente não merecia, mas no fim os advogados junto com o superior de Jones mostraram que minha aparição no local não passou de um mal entendido, o que estranhei já que uma evidencia foi deixada no local e não foi encontrada, o colar. Ás
Alice GrecoAs noites de sono se tornaram complicadas pelo excesso de pesadelos voltadas ao garoto, muitas vezes tia Daniele acordava durante a madrugada com meus gritos e corria até o meu quarto para me acordar, sabia que aquilo estava sendo um martírio para nós duas. Já faz um tempo que não recebo ligações de mamãe, perdi qual a última vez que nos comunicamos. Não tínhamos grande frequência, porém eu queria lhe explicar tudo o que aconteceu naquela noite, embora o que eu disser não vá mudar muita coisa.— Vou ao mercado. precisa de alguma coisa?— tia Daniele perguntou enquanto estávamos na cozinha.— Não, obrigada! Com a sua saída eu voltei para o quarto e comecei a estudar. Enquanto lia um importante texto sobre o planejamento de cardápios estratégicos quando fu
Alice GrecoO novo substituto mexe em sua bolsa e retira uma garrafa de água, ele toma goles generosos para lubrificar sua garganta e encara os alunos, as garotas da sala se derretem com a cena. Observo os passos do professor Arthur em volta da sala com ar de simpatia no rosto e quebra o silencio instalado, perguntando a todos quais seus respectivos nomes e idades para criarem um laço com os demais. Nota-se que alguns se sentem estranhos pela apresentação e pela cara nova, já que muitos estavam costumados com o falecido professor Eduardo, porém já algumas garotas como Becca e Liana estavam admiradas pelo homem a nossa frente, sugando cada pedacinho dele e fixando na memoria aquela obra de arte. A cada apresentação o professor cumprimenta os alunos e sorri de forma amigável. O homem possuía uma educação impecável com palavras formuladas e bem pensadas antes de
Alice GrecoO fim das aulas naquele dia haviam se encerrado, me despedi das minhas amigas e resolvi ir até o parque central mais próximo, queria me distrair sem farras depois de um longo horário de aulas. Me sentei em um banco do local publico e desfrutei do vento forte e o silencio da tarde, aquilo era muito satisfatório. Olhando fixamente para o pequeno lago pacifico eu me perdi na dolorosa lembrança de noites atrás, a cena do garoto se repetindo em minha cabeça estava me torturando dia após dia como um castigo desumano que ousei cometer. Estou distraída que não percebo alguém praticando exercícios aquela hora, onde parecia ser frequente. Observo o professor Arthur com shorts e uma camisa regata correndo em volta do parque. De longe tenho o grande deslumbre de seus passos e o admirável braços fortes sem estarem cobertos pelo suéter que até agor
Irina GrecoDepois do meu desentendimento com Marco a minha rotina começou a ser vigiada por alguns empregados. Eu sentia falta do tempo em que levava a minha vida bem antes de ser obrigada a me envolver com a Cosa Nostra, naquela época eu conseguia ter uma liberdade significativa que era hoje me faz muita falta. Eu conseguia andar pela enorme terra de vinhedo e me deliciar do fruto direto do pé, descalça e com meu antigo cachorro ao meu lado, vezes ou outra eu e Daniele íamos para o riacho mais próximo e fazíamos mergulho naquela água cristalina e refrescante. Hoje, quando ouso passar muito tempo no jardim os soldados de Marco seguem meus passos com os olhos e passam todo o relatório para ele, pois eu sei que ele está desconfiado e esperando algum deslize e que eu revele onde Alice está. Sinto que ele sabe das minhas ligações para ela, ou
Já no local do evento, descemos do veículo e entramos no grande estabelecimento. Cumprimentamos vários conhecidos e amigos, sempre felizes e sorridentes, até chegar ao centro do lugar e marcar presença como esperado. Marco se juntou aos seus amigos e eu a grupos de mulheres casadas que conversavam sobre as compras glamorosas que fizeram naquele mês. Não gostava de estar presente naqueles grupinhos , já que muitas mulheres julgaram Alice por ter cometido uma 'tolice' como nenhuma outra ousaria, já que para muitas o Sebastian Mortalla é o mais cobiçado da organização, e até fora dela, porém suas fotos não se encontram em nenhum site ou midia social, tudo para pegar Alice de surpresa quando a encontrar. Eu não estava dando a devida atenção que era necessária, estava aera com a ligação de Daniele e pelo recente problema que Alice causou
Alice GrecoJá faz algumas semanas daquele incidente após a boate, no início foi complicado de aprender a lidar com as novas emoções, a culpa. Desde que me entendo por gente, jamais fui repreendida por ações que cometi, muito pelo contrário, quando lutava para não ter aula de etiqueta na frente de papai, mamãe se alegrava com a cena, pois assim sabia que minhas atitude após a fuga não pesaria a minha consciência, só que ela estava errada. Quando comecei a viver a minha vida após fugir da organização, eu sabia que em alguma momento eu precisaria estar preparada para matar meus inimigos, mas nunca pensei como reagir com um efeito colateral, como foi o garoto. Meus ensinos foram bastante diferentes das outras moças da máfia, isso me custou grande pressão e autocontrole de todos, tia Daniele, mamãe, não era tão fáci
- Você está bem Liana? Ouço sua voz grave e altiva próximo de mim, chamando minha atenção, levantei o olhar e o encarei sem graça, fiquei perdida em pensamentos, sorri para disfarçar.- Estou bem, professor.- Já me ajudou bastante após a aula, quer tomar alguma coisa?- Não se preocupe, não quero nada.- Tudo bem, mas conseguiu separar os trabalhos da sua turma?- Sim, todos estão aqui, em ordem de chamada. Estendi os papéis e esperei que ele pegasse, no entanto, nossos olhares se cruzaram e ficamos preso naquela corrente angustiante e vergonhosa que eu não conseguia esconder a maneira que ele me afeta, pisquei os olhos e depositei os papeis na sua frente. Ele começou a avaliar um por um até o último, quando me encarou de volta, questionou:-