Capitulo 11

Alice Greco

Estava me sentindo estranha com aquela conversa com minha tia, pois eu estava entendendo onde por fim ela queria chegar. Eu demonstrei sentimentos e importância em uma memoria que ligava  minha mãe, onde ela com todo seu desejo fez de tudo para que eu separasse as emoções com racionalidade, e eu falhei com ela. 

  Naquele instante a nossa conversa foi interrompida com a entrada dos meus advogados e do delegado Jones. A interrogação do meu caso durou por longas horas, pois assim como os advogados perceberam assim como eu, o delegado queria a todo custo impedir a minha saída e ter a liberdade que eu obviamente não merecia, mas no fim os advogados junto com o superior de Jones mostraram que minha aparição no local não passou de um mal entendido, o que estranhei já que uma evidencia foi deixada no local e não foi encontrada, o colar.

  Ás 10h da manhã deixamos o departamento de polícia pela porta dos fundos. Por mais que a noticia ainda não tenha caído nas mídias jornalísticas não queríamos correr o risco. Com as roupas já trocadas e com capuz sobre a cabeça eu fui conduzida de volta para casa no carro de tia Daniele, percorremos o caminho em silêncio. Depois de passar pela porta de entrada e sem dizer uma única palavra eu fui direto para o quarto, tomei um banho e passei o resto do dia sobre a cama. 

  Aquele acontecimento se repetia em minha cabeça como uma falha cometida, pois eu sabia desde a minha saída da boate que estava sendo perseguida e já tinha um plano em mente para abordar o infeliz, mas nem tudo foi pensado como uma aparição de uma criança aquela hora da madrugada. Um tempo mais tarde tia Daniele bateu na porta do quarto me oferecendo algo para comer, porém o peso na consciência estava me impedindo de sentir fome. Aquele sentimento de culpa era novo para mim, estava me torturando lentamente pela morte do garoto que agora está em minhas mãos. Mas como minha tia disse, foi um efeito colateral. 

  Tentei entrar em contato com mamãe já ela foi a minha salvadora, queria lhe explicar tudo o que aconteceu e afirmar que isso não voltaria a se repetir, porém minhas chamadas estavam sendo encaminhadas para a caixa de mensagem, constatei que ela não poderia se comunicar comigo. A noite eu recebi uma ligação de Becca, onde ela se desculpou por não ter ligado antes e constatado que eu estava dormindo.

— Você chegou bem em casa?  — Ela perguntou com a voz arrastada pelo sono e a ressaca. 

— Sim, cheguei bem. 

 — Fiquei preocupada, embora eu estivesse bêbada demais para demonstrar. 

— Não se preocupe, eu sei que você e Luana se preocuparam.  

— Poderia ter dormido em minha casa, mas você queria a todo custo voltar para sua.  

— Sei bem, não queria causar nenhum problema. 

— Bobagem, Liana. Você é um amor para causar problemas. 

 — Isso é porque não me conhece tão bem assim. — Murmurei na ligação, ela ignorou.

— A propósito, estamos lotadas de exercícios que foram passados nesta manhã.  

— Mas eu pensei que essa semana estivesse em pausa pela morte do professor. 

 — E estamos, mas sabe como é a faculdade, muito diferente da escola. Lembra-se? 

— Claro! — Respondi sem graça, já que minhas aulas desde muito nova foram todas em casa. 

— Minha casa está uma zona, irei desligar. 

— Até mais.  

  A nossa chamada foi encerrada e resolvi ir até a cozinha preparar algo para comer. Encima da mesa havia uma bandeja com misto quente e suco de uva coberto, sentei-me na cadeira e comecei a comer com gosto, estava uma delicia. Assim que terminei de me alimentar eu fui até a geladeira e tomei goles generosos de água gelada, nesse momento tia Daniele apareceu na cozinha. 

— Pensei que estivesse dormindo. 

 — Minha consciência não me deixa dormir. 

— Conseguiu falar com a sua mãe? 

 — Não, o telefone está indisponível. — Respondi.

  Olhei para sua direção, ela estava encostada em uma coluna da cozinha com os braços cruzados e uma expressão de preocupação, eu sabia que algo havia por trás. 

 — Sente-se na cadeira, Alice. Precisamos conversar. 

   Voltei a me sentar na cadeira que estava antes e esperei que ela também me acompanhasse, depois de segurar a minha mão e olhar nos meus olhos, falou diretamente:

— Você precisa ir embora daqui. 

Olhei para ela ainda sem raciocinar suas palavras, pois eu não esperava que me diria algo tão duro assim e ainda mais esta hora da noite.

— Está me expulsando? 

 — O quê? Não! — Ela respirou fundo e continuou: — Alice, eu sempre tive o desejo de conhecer você depois que Irina te teve, pensei que jamais te conheceria e que teria a mesma criação como muitas da Cosa Nostra, mas você foi diferente de todas, até de sua mãe. Você fugiu igual a mim de um casamento arranjado, a diferença é que eu forjei a minha própria morte. 

— Se tem toda essa admiração por mim, por que quer que eu vá embora? 

 — Não é o correto permanecer no mesmo lugar quando se teve um problema como o seu. Isso pode de alguma maneira ajudar na sua buscas, localizarem você!

— O Mortalla não vai me encontrar!

— Não pague de tola para mim, Alice! Sabemos que você é tudo, mas não é tola e muito menos ingênua. — Ela me encarou com dureza. 

— Antes de chegar na Califórnia eu vivi em diversos lugares tia. Eu aprendi a ser sozinha, a não tem companhias para conversar por semanas e meses. 

  — E por ter duas amigas vai correr o risco? Desde quando deixou de priorizar sua liberdade para priorizar sentimentos de carência? 

— Estou priorizando o que é melhor para mim, tia. Demorei demais para encontrar um lugar que eu me encaixasse, de sentir interesse e formar amizades. Se for para fugir eu farei no momento certo, por agora eu continuarei aqui! 

  Falei a altura com tia Daniele, mantivemos um olhar sério e decisivo em cada opinião que tínhamos, ela deu de ombros. 

— Você que sabe.  — foi a única coisa que disse antes de se levantar da cadeira e voltar para o seu quarto. 

   Os dias foram se passando e eu fui me adaptando aquela nova rotina antes de retornar as aulas presenciais da faculdade. Passava o dia inteiro trancada no quarto estudando para as provas e resolvendo exercícios e resumindo tudo para não me comprometer com atrasos. Becca e Luana me procuraram para sair mais vezes, porém ainda estava traumatizada pelo o que ocorreu na última saída e resolvi ficar ausente de festas por um tempo. Sempre que podia eu pesquisava sobre o caso do beco, próximo a boate que fui na última vez, isso foi parar nas manchetes de jornais. O caso do garoto solucionado onde o assaltante morto foi o culpado pela tragédia, estava livre de qualquer acusação ou evidencia. Por muitas vezes eu pensei em voltar no local e ver se de algum modo encontraria o colar, porém já havia encontrado grandes problemas por causa de um único acessório, resolvi esquecê-lo. 

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