Capitulo 8

Alice Greco

 Estava em frente ao espelho do meu quarto observando meu corpo coberto por um lindo casal e um véu que ia arrastando sobre a calda. Meu cabelo longo estava forrado em uma trança com poucos fios soltos, uma maquiagem simples com rubor sobre a bochecha que me deixava com um ar virginal, saber que aquilo era o propósito me deu náuseas. Estava sozinha no quarto quando a porta foi aberta por mamãe, ela entrou e trancou a porta em seguida, virei-me para ela. 

— Veio ver como estava o objeto de acordo? 

— Não se insinue assim, meu amor.

— Como devo me insinuar daqui por diante? Ah! Como senhora Mortalla. — Sorri sem humor, mas a minha vontade mesmo era de chorar. 

— Depois que descobriu sobre seu arranjo com um Mortalla, viu como é a minha verdadeira vida ao lado do seu pai. Eu cuidei de você como jamais ninguém nunca cuidou, eu escolhi os melhores instrutores de defesa e sobrevivência, tudo para te preparar para a vida, para lutar com unhas e dentes a liberdade que sempre desejou. 

— Do que está falando? 

— Você não vai casar com aquele homem desumano e cruel. Em alguns minutos você deixará essa prisão e irá para outro país, o qual escolher. 

  Escutei seu plano como se ouvisse meu numero sorteado de algum jogo, a esperança cresceu dentro de mim como uma bomba caseira prestes a explodir de felicidade. Porém encarando seu rosto e ouvindo cada passo maluco, percebi que seria de grande risco fugir, ainda mais no dia do casamento, seria suicídio. Meu sorriso morreu no instante que passei a imaginar as consequências, tanto para mim quanto para ela. Irina continuou a falar sobre seu plano:

— Depois que eu tiver informações sobre as buscas você irá para os Estados Unidos e encontrará sua tia, é uma longa história que contarei quando tivermos tempo.

— Eu não vou. — falei em seguida, seu entusiasmo diminuiu. 

— O quê? 

— É muito arriscado. 

— É uma fuga, sempre haverá riscos. Alice, me escute, pense com clareza. 

— Não! É você quem tem que pensar com clareza. Está se alimentando com essa ilusão há anos. O que acha que vai acontecer se eu for pega? Melhor! O que pensa que acontecerá com você?!

  Em resposta ela se aproximou mais de mim e segurou a minha mão, depois deslizou seus dedos em meu rosto fixando minha face na memória. 

— Eu te treinei para ser livre, para ser dona de si e não submissa de um Mortalla. Pense na liberdade que terá, nas memórias boas que fará sem restrições da máfia. Meu amor, se você ficar será o maior erro da sua vida. 

— Mamãe.. — ela me puxou para um abraço forte e acolhedor. — E quanto a você? 

— Eu vou ficar bem aqui, eu vou acompanhar cada passo seu e vou te ajudar como puder. 

— Obrigada.. 

— Agora vamos, não temos tempo. 

   Irina abriu a porta do quarto e demos de cara com Teresa, a empregada que sempre cuidou de mim e de mamãe com tanto amor e carinho. 

— As câmeras desse andar já estão desligadas. 

— E os soldados? 

— Estão todos no hall de entrada e no local da cerimônia, longe do jardim. 

— Ótimo! 

  Mamãe segurou meu pulso com força e me arrastou pelo corredor até a grande escultura de mármore, onde ela e Teresa empurraram para arrastar e surgiu uma passagem secreta. Ela voltou-se para mim:

— Seguirá em frente até encontrar duas direções, vá para a esquerda onde encontrará um lance de escadas, empurre com toda a força e corra pelo jardim até o labirinto. Uma pessoa estará te esperando, vá com ele. 

— O quê? Quem? 

— Saberá quando chegar lá. Tome. — ela me estendeu uma lanterna para me ajudar. — Por mais que escute alguma coisa, não volte, tudo bem?

— S-sim! —Respondi insegura. 

— Vamos senhora, não temos muito tempo. — Teresa avisou.

  Com isso, Irina tirou do seu pescoço o colar que sua mãe lhe deu antes de se casar. Era um lindo colar de diamante azul, ela pôs em meu pescoço e se despediu de mim. 

— Se cuide, te amo filha. 

***

   Segurei o colar em mãos e resolvi usá-los, me aproximei do espelho o admirei em meu colo, estava linda e finalmente pronta. Depois de falar com Becca e Luana pedir o Uber deixei o quarto e desci as escadas, avisei para tia Daniele que já estava de saída, ela veio ao meu encontro as pressas e me admirou uma última vez. 

— Você está linda!

— Obrigada, tia.

— Tome muito cuidado quando voltar para casa.

— Eu sei me cuidar, tia. 

    Assim que saí de casa eu vi o veículo parar logo em frente e entrei em muita demora. Me apresentei e informei o local de destino. Percorri o trajeto escutando o som do rádio e em silêncio com o motorista, quando o carro parou no fim da rota eu agradeci e desci até ir ao encontro de Luana que estava na calçada, ao me ver abriu um lindo sorriso.

— Uau! Está linda. — Me elogiou, enquanto me avaliava da cabeça aos pés.

— E você está perfeita.

— É não é? Eu tento ser. — Sorriu convencida. 

   Caminhamos para a entrada da boate e Luana falou nossos nomes. Becca tratou de colocar nossos nomes na lista sem que houvesse problemas. Quando passamos pelos seguranças direcionamos pelo grande corredor extenso iluminado com uma luz azul, enquanto avançávamos já conseguíamos ouvir melhor a música que tocava. Admiramos o interior do lugar quando passamos pela grande porta, nos aproximamos das escada e antes de descer observamos o movimento da boate, pessoas dançando na pista enquanto o DJ tocava suas músicas e fazia efeitos especiais. Avistamos Becca atrás de um balcão servindo bebidas e nos aproximamos dela.

— Quero Tequila! — Falou Luana, chamando sua atenção. 

— Finalmente! Pensei que não viriam.

— Certo alguém resolveu se arrumar toda.

— Se for para andar desarrumada eu fico em casa! — Nos comunicávamos em voz alta por causa da musica.

— Liana você está um arraso! Gostosa demais com esse vestido. — Becca me elogiou 

  Ela nos forneceu bebida por conta da casa, bebemos, dançamos na pista e envolta do bar, estávamos felizes e contentes pelo inicio da noite. Músicas incríveis foram tocadas, Luana e eu dançamos como nunca, mexíamos todo o nosso corpo, sorríamos e fazíamos apostas para quem bebia mais, o álcool ainda não havia dominado o meu corpo. Eu estava feliz por estar com as primeiras amizades que fiz depois da fuga, minha mente se encontrava tranquila sobre qualquer preocupação, eu não sentia isso há séculos. Eu estava livre e o gosto da liberdade era única, satisfatória, excitante. Enquanto dançava distraída, comecei a sentir uma grande queimação por todo meu corpo, não uma simples queimação, era voluptuosa, uma chama que parecia perfurar até a minha alma, intensa, perigosa. 

  Becca e Luana beijaram várias bocas na boate, eu não tratei de ficar de vela, as vezes eu voltava para o bar ou ia até o banheiro. Parei em frente a enorme pia de mármore e encarei o meu rosto no espelho, sorri ladino e gostei do resultado noturno, estava feliz, estava me sentindo viva. Mamãe tinha razão, se eu não tivesse fugido, nessa altura estaria arrependida por não ter feito.

***

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo