Alice Greco
Com os olhos cansados eu me forço a jogar uma água sobre o rosto, encarei o espelho e sem muito entusiasmo eu vi as olheiras gritantes abaixo dos olhos, sempre os malditos pesadelos. Consigo ouvir sua voz de comando longe, enquanto corria pelo labirinto, também escuto tiros atrás de
mim, aquilo parece ressoar em minha cabeça, espantei meu sonho e me enfiei embaixo do chuveiro. Era uma manhã de terça quando chegava na universidade ás 7h da manhã, logo na entrada eu vi Luana e Rebecca paradas com olhares cansados, me aproximei delas e cumprimentei da maneira de costume.— O que fazem paradas aqui?
— Bom dia para você também, queridinha. — Respondeu Luana.
— Falem baixo por favor, minha cabeça está a ponto de explodir! —Reclamou Rebecca.
— Trabalhou até tarde hoje? — Perguntei, já que ela nos informou que trabalhava numa boate durante as 20h até 02h da manhã.
— Sim, um famosinho alugou o espaço e disse que pagaria muito bem para quem fizesse hora extra.
— Você está um caco, deveria ter ficado em casa dormindo.
— E perder aula? Sem chance, lutei feito uma condenada para conseguir entrar na universidade, e não será um cansaço que vai me impedir.
— Sei que gastronomia é importante tanto quanto é para nós, mas você está muito cansada para digerir qualquer assunto esta manhã. — Falei para ela, não querendo que ela volte para casa e deixe os assuntos de hoje para depois, mas porque está claro sua má noite de sono.
— Liana, eu não tive apoio familiar que pagasse meu curso sem que eu precisasse trabalhar. Tive que me virar para me sustentar e pagar a minha bolsa de estudos.
— Rebecca! — Luana a repreendeu pela sua arrogância.
— Desculpa Liana, eu só estou com sono! — Se desculpou com uma expressão de sofrimento.
Eu entendia o aborrecimento e cansaço de Rebecca, até porque meu curso é pago pela transferência que mamãe me envia sem suspeitas todo mês por uma conta fantasma. Não posso me aborrecer pela grosseria da minha primeira amiga, já que não sei detalhadamente sua condição precária atual. Então, para quebrar aquele clima de manhã, a puxei para um abraço que só conseguia dar a elas, ela se aconchegou em meu peito e bocejou.
— Seu peito para um travesseiro macio.. — Luana e eu sorrimos.
— Talvez você deva dormir na sala, Luana e eu anotamos tudo e depois te ajudamos no dever para não acumular.
— Seria perfeito. Obrigada meu anjinho de óculos. — Ela beijou minha bochecha e a levamos para a sala de aula.
Com o fim de aula, Rebecca havia dormido um bom longo horário até o sinal tocar, logo após ela se espreguiçar e levantar da cadeira fomos para sua casa que também era pouco próximo a faculdade. Já tinha vindo em sua casa para trazê-la quando estava totalmente bêbada para voltar sozinha de uma noite inteira de farra, comigo e com Luana, mas não cheguei a entrar. Assim que passei pela porta principal vi um pequeno e organizado apartamento de prédio bastante movimentado, havia roupas limpas e secas sobre uma cadeira e caixas de suco sobre o balcão da cozinha, constatei que saiu as pressas de casa para a faculdade.
— Por favor, não olhem a bagunça.
— Não se preocupe com isso, sua casa é muito linda. — Falei, me sentando em seu sofá.
— Onde está seu cachorro? — Luana perguntou, mostrou que tinha uma grande ligação de amizade entre elas.
— Você tem um cachorro? — Perguntei curiosa, adoro cachorros.
— Sim, ele se chama Drogo.
— Belo nome, posso vê-lo?
— Acho que não é uma boa ideia, ele está sem coleira e trancado no meu quarto. Não confio nele quando tem visita em casa.
— Que mal tem?
— Ele é raça Pitbull. — Luana explicou.
— Ah!
Eu e Luana começamos a explicar o que havíamos ouvido na aula de hoje, Rebecca demorou para entender do assunto por ainda estar pouco sonolenta, porém ela conseguiu assimilar. Já estamos na fase das provas e por agora, cada assunto pode cair no teste. Enquanto ela anotava e respondia, Luana e eu resolvemos responder as questões de hoje com antecedência. Antes das 16h da tarde havíamos terminado todo o assunto.
— Obrigada, não sei o que seria de mim se não fossem vocês. — Disse Becca, ao sentar em sua poltrona e descansar seus músculos.
— Não precisa agradecer. — Respondeu Luana.
— Bom, acho que já vou. — Me levantei para ir embora, porém Becca insistiu que eu ficasse.
— Por favor, fique mais um pouco. Eu pedi lanche para nós, vá depois que comer, está bem?
— Isso, por que a pressa? — Questionou Luana.
— Tudo bem. — Resolvi ficar.
Quando o lanche chegou tratamos de comer sem demora, ficamos tanto tempo estudando que nem nos demos conta da fome que estávamos sentindo. Enquanto comíamos, as duas começaram a fazer perguntas sobre a minha vida, fiquei receosa em responder cada uma delas. Antes de me aproximar de Rebecca e Luana eu pesquisei sobre suas vidas, as segui até os locais de onde moravam. Luana é uma garota que nasceu aqui mesmo na Califórnia, mora com sua vó desde que seus pais morreram em um acidente de carro. Trabalha em uma loja de marcas e consegue ajudar sua vó com as despesas da casa e pagar sua faculdade; Becca por sua vez mora sozinha após seus pais não aceitarem sua paixão pela gastronomia, já que todos de sua família eram médicos, a expulsaram de casa.
— Eu sei que você é bastante reservada, mas para quê tanto mistério? Somos suas amigas, você sabe tudo sobre nós.
— Talvez ela seja aquelas espiãs que trabalha para a Cia ou Interpol. - Luana começou a criar teorias sobre mim, eu revire os olhos com tamanha imaginação.
— Não sou uma espiã, apenas não gosto de falar sobre mim.
— Onde você morava? Não tem cara de americana.
— Eu não sou americana, sou italiana.
— Uau! Fala algo italiano aí. — Becca pediu com um ar de surpresa no rosto
— Perra con piojo.
— O que você disse?
— Linda como abelha. — Tirei sarro de sua cara.
— Está ouvindo, Luana? Sou uma perra com piojo.
Contive o sorriso e continuamos conversando. Falei para elas que morava com minha tia já havia alguns anos, não exatamente o tempo aproximado, contei que não havia pais e que estavam mortos, respondi a maioria como forma de esquivar de suas questões futuras. Eu sentia vontade de me abrir com elas, contar toda a verdade sobre a minha origem e porque estou na Califórnia, porém eu não desejo correr riscos ou acabar envolvendo as duas nessa vida de fuga que é a minha. Se elas soubessem..
Alice Greco— Não sente falta dos seus pais? — Becca perguntou.— Eu sinto dos meus todos os dias. — Luana revelou, mas faz parte do ciclo da vida.— Os meus fingiram que eu morri, isso também faz parte do ciclo? — Becca perguntou com um olhar triste.— Seus pais não entendem de sua vontade, apenas a vontade deles. Um dia perceberão a loucura que fizeram.— Enquanto isso não acontece, eu vou me virando e trabalhando para me sustentar e bancar a faculdade. — disse com orgulho.— Foi muito bom passar um tempo com vocês, mas eu preciso ir, tenho que passar no mercado para minha vó. — Luana avisou se levantando do sofá, resolvi acompanhá-la na saída.— Antes que vá, voc&eci
Alice GrecoA morte do professor havia chocado grande maioria dos alunos, professores e funcionários da universidade, ele era bastante querido por todos. Fui ao seu enterro junto com parte de membros da faculdade, tudo para se despedir da pessoa incrível que ele era. Lembro-me das vezes que ele me aconselhou sobre assuntos que ele não sabia, nem entendia, mas sabia como acalmar um coração com palavras, ele parecia um anjo. Fiquei afastado da maioria, com roupas pretas e cabeça baixa, observando o caixão descer e aquele buraco ser fechado com monte de terra. Eu já não me encontrava tão entusiasmada para a boate a noite, porém tia Daniele não me deixaria desistir tão fácil, já que com a notícia ficou feliz e pretende me levar ao shopping e escolher um belo vestido para mim. Resolvi deixar o cemitério o quan
Alice GrecoEstava em frente ao espelho do meu quarto observando meu corpo coberto por um lindo casal e um véu que ia arrastando sobre a calda. Meu cabelo longo estava forrado em uma trança com poucos fios soltos, uma maquiagem simples com rubor sobre a bochecha que me deixava com um ar virginal, saber que aquilo era o propósito me deu náuseas. Estava sozinha no quarto quando a porta foi aberta por mamãe, ela entrou e trancou a porta em seguida, virei-me para ela.— Veio ver como estava o objeto de acordo?— Não se insinue assim, meu amor.— Como devo me insinuar daqui por diante? Ah! Como senhora Mortalla. — Sorri sem humor, mas a minha vontade mesmo era de chorar.— Depois que descobriu sobre seu arranjo com um Mortalla, viu como é a minha verdadeira vida ao lado do seu pai. E
Alice GrecoEmpurrei com toda a força a madeira daquele lugar, quando por fim abriu eu olhei ao redor para saber se havia alguém ali, o lugar estava vazio. Fechei a entrada por onde sai e ignorei o excesso de terra que havia feito enquanto corria para o labirinto, lá, eu tive a visão do soldado leal e amigo de meu pai.— Dante? O quê faz aqui?— Acredito que sua mãe tenha te explicado tudo, não é?— Sim! — respondi confiante.— Ótimo! Agora vamos, enquanto ainda não sintam a sua falta. Quando terminou aquelas palavras, ouviram-se uma voz grossa e autoritária passando ordens ao soldado, meu corpo gelou de medo.— Vamos antes que seja tarde! Dante me puxou pelo braço e me
Alice Greco Mamãe percebeu que sua vida seria um martírio assim que se casou com Marco, meu pai, ainda mais quando ele tentou roubar a própria organização que era capo, braço direito de um Mortalla. Depois desse perigoso conflito, Irina tratou de planejar todas minhas aulas. Enquanto as moças da máfia aprendiam a se portar antes e depois de casar-se, eu estava aprendendo a lutar, a ser fria quando chegasse o momento oportuno. O problema é que no início eu não entendia o quão importante é necessário eram as minhas aulas. As vezes era impedida de brincar com meu antigo cão e manter minhas obrigações em dia, agora eu consigo entender o porquê. Parecia que eu estava em um filme de terror. Minha cabeça começara a doer e meu coração a palpitar forte em meu p
Alice GrecoEstava me sentindo estranha com aquela conversa com minha tia, pois eu estava entendendo onde por fim ela queria chegar. Eu demonstrei sentimentos e importância em uma memoria que ligava minha mãe, onde ela com todo seu desejo fez de tudo para que eu separasse as emoções com racionalidade, e eu falhei com ela. Naquele instante a nossa conversa foi interrompida com a entrada dos meus advogados e do delegado Jones. A interrogação do meu caso durou por longas horas, pois assim como os advogados perceberam assim como eu, o delegado queria a todo custo impedir a minha saída e ter a liberdade que eu obviamente não merecia, mas no fim os advogados junto com o superior de Jones mostraram que minha aparição no local não passou de um mal entendido, o que estranhei já que uma evidencia foi deixada no local e não foi encontrada, o colar. Ás
Alice GrecoAs noites de sono se tornaram complicadas pelo excesso de pesadelos voltadas ao garoto, muitas vezes tia Daniele acordava durante a madrugada com meus gritos e corria até o meu quarto para me acordar, sabia que aquilo estava sendo um martírio para nós duas. Já faz um tempo que não recebo ligações de mamãe, perdi qual a última vez que nos comunicamos. Não tínhamos grande frequência, porém eu queria lhe explicar tudo o que aconteceu naquela noite, embora o que eu disser não vá mudar muita coisa.— Vou ao mercado. precisa de alguma coisa?— tia Daniele perguntou enquanto estávamos na cozinha.— Não, obrigada! Com a sua saída eu voltei para o quarto e comecei a estudar. Enquanto lia um importante texto sobre o planejamento de cardápios estratégicos quando fu
Alice GrecoO novo substituto mexe em sua bolsa e retira uma garrafa de água, ele toma goles generosos para lubrificar sua garganta e encara os alunos, as garotas da sala se derretem com a cena. Observo os passos do professor Arthur em volta da sala com ar de simpatia no rosto e quebra o silencio instalado, perguntando a todos quais seus respectivos nomes e idades para criarem um laço com os demais. Nota-se que alguns se sentem estranhos pela apresentação e pela cara nova, já que muitos estavam costumados com o falecido professor Eduardo, porém já algumas garotas como Becca e Liana estavam admiradas pelo homem a nossa frente, sugando cada pedacinho dele e fixando na memoria aquela obra de arte. A cada apresentação o professor cumprimenta os alunos e sorri de forma amigável. O homem possuía uma educação impecável com palavras formuladas e bem pensadas antes de