Capitulo 5

Alice Greco

  Com os olhos cansados eu me forço a jogar uma água sobre o rosto, encarei o espelho e sem muito entusiasmo eu vi as olheiras gritantes abaixo dos olhos, sempre os malditos pesadelos. Consigo ouvir sua voz de comando longe, enquanto corria pelo labirinto, também escuto tiros atrás de

mim, aquilo parece ressoar em minha cabeça, espantei meu sonho e me enfiei embaixo do chuveiro. Era uma manhã de terça quando chegava na universidade ás 7h da manhã, logo na entrada eu vi Luana e Rebecca paradas com olhares cansados, me aproximei delas e cumprimentei da maneira de costume.

— O que fazem paradas aqui? 

— Bom dia para você também, queridinha. — Respondeu Luana.

— Falem baixo por favor, minha cabeça está a ponto de explodir! —Reclamou Rebecca. 

— Trabalhou até tarde hoje? — Perguntei, já que ela nos informou que trabalhava numa boate durante as 20h até 02h da manhã. 

— Sim, um famosinho alugou o espaço e disse que pagaria muito bem para quem fizesse hora extra. 

— Você está um caco, deveria ter ficado em casa dormindo.

— E perder aula? Sem chance, lutei feito uma condenada para conseguir entrar na universidade, e não será um cansaço que vai me impedir. 

— Sei que gastronomia é importante tanto quanto é para nós, mas você está muito cansada para digerir qualquer assunto esta manhã. — Falei para ela, não querendo que ela volte para casa e deixe os assuntos de hoje para depois, mas porque está claro sua má noite de sono. 

— Liana, eu não tive apoio familiar que pagasse meu curso sem que eu precisasse trabalhar. Tive que me virar para me sustentar e pagar a minha bolsa de estudos. 

— Rebecca! — Luana a repreendeu pela sua arrogância. 

— Desculpa Liana, eu só estou com sono! — Se desculpou com uma expressão de sofrimento. 

  Eu entendia o aborrecimento e cansaço de Rebecca, até porque meu curso é pago pela transferência que mamãe me envia sem suspeitas todo mês por uma conta fantasma. Não posso me aborrecer pela grosseria da minha primeira amiga, já que não sei detalhadamente sua condição precária atual. Então, para quebrar aquele clima de manhã, a puxei para um abraço que só conseguia dar a elas, ela se aconchegou em meu peito e bocejou.

— Seu peito para um travesseiro macio.. — Luana e eu sorrimos. 

— Talvez você deva dormir na sala, Luana e eu anotamos tudo e depois te ajudamos no dever para não acumular. 

— Seria perfeito. Obrigada meu anjinho de óculos. — Ela beijou minha bochecha e a levamos para a sala de aula. 

  Com o fim de aula, Rebecca havia dormido um bom longo horário até o sinal tocar, logo após ela se espreguiçar e levantar da cadeira fomos para sua casa que também era pouco próximo a faculdade. Já tinha vindo em sua casa para trazê-la quando estava totalmente bêbada para voltar sozinha de uma noite inteira de farra, comigo e com Luana, mas não cheguei a entrar. Assim que passei pela porta principal vi um pequeno e organizado apartamento de prédio bastante movimentado, havia roupas limpas e secas sobre uma cadeira e caixas de suco sobre o balcão da cozinha, constatei que saiu as pressas de casa para a faculdade. 

— Por favor, não olhem a bagunça.  

— Não se preocupe com isso, sua casa é muito linda. — Falei, me sentando em seu sofá. 

— Onde está seu cachorro? — Luana perguntou, mostrou que tinha uma grande ligação de amizade entre elas.

— Você tem um cachorro? — Perguntei curiosa, adoro cachorros. 

— Sim, ele se chama Drogo. 

— Belo nome, posso vê-lo? 

— Acho que não é uma boa ideia, ele está sem coleira e trancado no meu quarto. Não confio nele quando tem visita em casa.

— Que mal tem?

— Ele é raça Pitbull. — Luana explicou. 

— Ah! 

  Eu e Luana começamos a explicar o que havíamos ouvido na aula de hoje, Rebecca demorou para entender do assunto por ainda estar pouco sonolenta, porém ela conseguiu assimilar. Já estamos na fase das provas e por agora, cada assunto pode cair no teste. Enquanto ela anotava e respondia, Luana e eu resolvemos responder as questões de hoje com antecedência. Antes das 16h da tarde havíamos terminado todo o assunto. 

— Obrigada, não sei o que seria de mim se não fossem vocês. — Disse Becca, ao sentar em sua poltrona e descansar seus músculos. 

— Não precisa agradecer. — Respondeu Luana. 

— Bom, acho que já vou. — Me levantei para ir embora, porém Becca insistiu que eu ficasse. 

— Por favor, fique mais um pouco. Eu pedi lanche para nós, vá depois que comer, está bem? 

— Isso, por que a pressa? — Questionou Luana. 

— Tudo bem. — Resolvi ficar. 

    Quando o lanche chegou tratamos de comer sem demora, ficamos tanto tempo estudando que nem nos demos conta da fome que estávamos sentindo. Enquanto comíamos, as duas começaram a fazer perguntas sobre a minha vida, fiquei receosa em responder cada uma delas. Antes de me aproximar de Rebecca e Luana eu pesquisei sobre suas vidas, as segui até os locais de onde moravam. Luana é uma garota que nasceu aqui mesmo na Califórnia, mora com sua vó desde que seus pais morreram em um acidente de carro. Trabalha em uma loja de marcas e consegue ajudar sua vó com as despesas da casa e pagar sua faculdade; Becca por sua vez mora sozinha após seus pais não aceitarem sua paixão pela gastronomia, já que todos de sua família eram médicos, a expulsaram de casa. 

— Eu sei que você é bastante reservada, mas para quê tanto mistério? Somos suas amigas, você sabe tudo sobre nós. 

— Talvez ela seja aquelas espiãs que trabalha para a Cia ou Interpol. - Luana começou a criar teorias sobre mim, eu revire os olhos com tamanha imaginação.

— Não sou uma espiã, apenas não gosto de falar sobre mim. 

— Onde você morava? Não tem cara de americana.

— Eu não sou americana, sou italiana. 

— Uau! Fala algo italiano aí. — Becca pediu com um ar de surpresa no rosto 

— Perra con piojo. 

O que você disse? 

— Linda como abelha. — Tirei sarro de sua cara.

— Está ouvindo, Luana? Sou uma perra com piojo. 

  Contive o sorriso e continuamos conversando. Falei para elas que morava com minha tia já havia alguns anos, não exatamente o tempo aproximado, contei que não havia pais e que estavam mortos, respondi a maioria como forma de esquivar de suas questões futuras. Eu sentia vontade de me abrir com elas, contar toda a verdade sobre a minha origem e porque estou na Califórnia, porém eu não desejo correr riscos ou acabar envolvendo as duas nessa vida de fuga que é a minha. Se elas soubessem..

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