Capitulo 4

Irina Greco 

3 anos depois... 

  A sensação de terminar a ligação foi entristecedora.  A empregada Teresa que me emprestou o celular para ligar para Alice olhou para mim e viu meu rosto angustiado, ela me lança o mesmo olhar de pena, sempre tentando me animar com a esperança de que Alice um dia deixará de ser caçada como um animal valioso.

— A pequena Alice é forte e sabe se cuidar, senhora. 

— Eu sei, Teresa. Mas temo pela vida da minha filha. 

—  O senhor Mortalla não vai encontrá-la. 

—  Não subestime o inimigo, Teresa. Se Sebastian a encontrar, talvez seja apenas vingança por ter sido deixado no altar. 

— Não vamos pensar no pior, ok? A pequena Alice está em minhas orações. —  Olhei com carinho para Teresa, que sempre cuidou de Alice como se fosse sua própria filha. Eu a puxei para um grande abraço e beijei seu pequeno cabelo grisalho. 

— Obrigado por me ajudar. 

— Eu faço isso com todo o amor do mundo. 

— Mas não se arrisque e não confie no resto dos funcionários, sabemos que existem pessoas leais ao meu marido. 

— Não se preocupe, este é o nosso segredo

  Teresa se afastou e deixou seu telefone em minhas mãos, então liguei para minha irmã Daniele, que estava fingindo estar morta e atualmente cuidando da minha filha. 

— Olá irmã.

— Daniele, como você está? 

— Na medida do possível, e você? 

— Eu sou muito bem. Como está Alice? Ainda tendo pesadelos? 

— Você acha que ela vai me dizer?

— Não, é claro que não. — Sorriu sem humor, lembrando que minha filha não é tão aberta como aparenta ser.

 —Talvez a responsabilidade de criá-la não foi inútil, já que ela sabe se proteger e ser fechada com uma concha.

— Fiz o que era necessário. Eu jamais deixaria minha filha se transformar em uma flor como todas as outras da organização. 

— Ela ainda é uma flor, só que por sua causa criou-se espinhos. 

— Se Sebastian encontrá-la, vai gostar de arrancá-los um por um. 

— Não seja cruel com suas palavras, Daniele, é a sua sobrinha!

— Eu sei e a amo, mas não me impede de falar a verdade com ironias. 

— Vai sair tudo bem, até agora ela não foi encontrada e se sairá bem por mais tempo. 

— Eu gosto da personalidade de Alice, é realista e determinada. Mas ás vezes creio tenha herdado ele lado otimista e ingênuo de você... Agora me responda, você contou a ela? 

— Contar sobre o quê? 

— O que seu marido fez com você. Não me pague de estupida, está usando uma bengala para se locomover. 

  Olho para o meu suporte ao lado, que uso para me movimentar com mais facilidade. Respirei fundo e soltei o ar, e toda vez que falava com Daniele, ela ousava relembrar o que aconteceu comigo. 

— Esquece disso, já faz anos. 

— Alice precisa saber disso, se esconder por mais tempo e ela descobrir, será muito pior. 

— Se ela souber, terá a ideia de me tirar daqui e eu não quero que se arrisque sobre nenhuma hipótese! 

— Você me parece irônica, fez de tudo para livrar a sua filha de um casamento mas não ousou fugir. Como conseguiu ajuda para realizar o plano? 

 — Isso não é da sua conta, Daniele.

— Prefere viver nesse inferno do que fugir daí? Marco ferrou com sua qualidade de vida, parece uma inválida com essa bengala.  

— Eu sabia dos riscos ao impedir que minha filha se casasse, foi um efeito colateral que já me conformei.  

  Desliguei a chamada e saí do jardim, e assim que vi Teresa eu devolvi o telefone e retomei o meu papel habitual nesta casa, esposa troféu. Subi as escadas cautelosamente e andei para o meu quarto, assim que passei pela porta eu me deparei com Marco saindo do banheiro com uma toalha enrolada na sua cintura. 

— Marco, não vi você chegar. O que faz aqui? 

— Este quarto também é meu, não é? 

— Sim, sim.. Mas achei que estivesse na sede da máfia. 

— Estava, mas voltei para tomar banho, estava sujo.

— Hum! 

— Onde estava? 

— Na sala de leitura. — Respondi com a voz firme, tentei a todo custo demonstrar que não estava mentindo. 

— Curiosamente, perguntei a Alfred onde você estava. Ele disse ter visto você no jardim. 

  Fique nervosa com seu questionamento repentino, já que ele nunca se importou com as minhas atividades diárias. Então, eu disfarcei meu tremor e sorri;

— Ah! Eu fui até o jardim ler um livro, estava muito calor aqui dentro. 

 — Tem certeza do que está me dizendo? 

— E isso importa, Marco?

— Mas é claro que importa! — Ele aproximou-se de mim e olhou bem nos meus olhos. — Está escondendo algo de mim?

— Não..

— Tem certeza?

— Absoluta! — Seus olhos estão fixos em mim, me estudando como sempre.

— Está bem.

 Marco foi até o armário e escolheu alguns itens para vestir, um terno impecável e sapatos pretos. Me lembro de Alice me perguntar se eu tinha alguma informação, mas como teria? Não sou informada sobre nada, Marco nunca me revelou nenhuma informação.

— Marco.. Como está indo a investigação de Alice? — A minha pergunta chamou a sua atenção, ele virou-se para mim com suspeita. 

— Por que de repente se interessou sobre as investigações?  

— É da nossa filha que estou perguntando,  eu não sei nada dela há três anos, se conseguir me dizer alguma coisa já é suficiente. 

   Assim que terminou de se vestir, Marco se aproximou de mim com uma expressão fechada, eu não ousei me afastar, permaneci parada no meio do quarto, segurando a bengala com bastante força. Eu sentia que minha alma abandonaria meu corpo a qualquer instantes.

— Não faço parte do grupo de investigações, seu genrinho deixou minha participação de fora, desde o dia em que quase nos matou, se lembra?

— Como não lembrar? Foi no mesmo dia em que ela fugiu. 

— Então não me faça perguntas idiotas, já sabendo da resposta. Aliás, não me convenceu com sua desculpa naquele dia, Alice não teria fugido sozinha, ela recebeu ajuda e sei que foi você. 

— Mas eu já disse, eu não tive nada a ver!

— De todo o modo, se não participou você teve culpa em não vigiá-la. Você prejudicou o acordo, interrompeu o inevitável.  

  Marco encostou sua mão em meu rosto, deslizando com delicadeza. Eu estava nervosa com suas palavras e com o tom que elas saiam de sua boca. Tentei me afastar dele sem demonstrar que estava com medo, foi meu pior erro. Marco levou suas mãos até a raiz do meu cabelo e os agarrou com violência, olhei para o seu rosto apavorada, ele demonstrava a frieza de sempre.

— Como uma adolescente foge de uma fortaleza com soldados espalhados pela propriedade sozinha?

 — Marco, você está me machucando.. — Falei sentindo dificuldade, minha voz estava trêmula.

— Responde, caralho! —  Gritou enfurecido.

 — E-eu não fiz nada, eu juro! 

  A bengala escapou das minhas mãos e não tive forças para me manter em de  pé, minhas costas e pernas desistiam aos poucos de me manter rígida diante dele. Marco me segurou contra o seu peito para que eu não fosse ao chão, então, soltou meus cabelos e me prendeu contra o seu corpo.  

— Sabe, eu acredito em você. É uma inválida por quem me casei, ao menos consegue se manter de pé. 

— Graças a você. 

  Ao me olhar com desprezo, Marco me arrastou até a cama e me jogou nela, contive a dor em minhas costas e caí em um choro intenso, antes de deixar o quarto, avisou:

— Estou de olho em você.  

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