Capitulo 2

Depois do café eu me despedi com um beijo em sua cabeça e fiz carinho no bichano com o sapato. Antes de passar pela porta eu fiz uma prece que minha tia ensinou, embora eu não seja religiosa, sempre me apego ao homem lá de cima que me proteja assim que eu passo por esta porta. Andava pelas ruas com passos largos, sempre olhando para os lados até chegar na faculdade, ainda estou aprendendo a disfarçar a minha desconfiança. A casa da minha tia é pouco distante da universidade, moro com ela desde que deixei Itália. Passei pelos portões e segui direto para a minha sala, a primeira aula seria microbiologia de alimentos, afinal eu escolhi gastronomia, sempre adorei o feitio de cozinhar, para mim era terapêutico, não como aulas de tiro e boxe. 

  Assim que entrei na sala, sentei-me na frente como sempre, gostava de ouvir atentamente os professores nas explicações. Em seguida Rebecca e Luana passaram pela porta e vieram ao meu encontro, sentaram ao meu lado.  

— Bom dia, Liana. — Esse era o nome qual eu havia me nomeado. 

— Bom dia.

—  Faz tempo que chegou? 

— Pouco tempo. Onde estavam? 

— Na cantina, estava comendo um sanduba delicioso. — Respondeu Rebecca.

— Que ótimo!

   A aula havia dado inicio e assim dei a devida atenção, alguns pontos importantes foram anotados em meu caderno. O professor explicou detalhadamente do assunto até bater o final da aula, assim que o sinal tocou eu dei um perdido nas duas e fui até a praça mais próxima da universidade. Já era nova da manhã, o número restrito logo apareceu na tela do meu telefone, atendi e esperei que falasse primeiro. 

— Filha, como está?

— Oi mamãe, saudades. — meu coração se aqueceu ao ouvir sua doce voz.

— Pensei que não falaria com você esta semana.

— Andei ocupada com as provas do semestre.

— Fico feliz que esteja fazendo o que gosta, me alegro muito. - disse sorridente.

— Alguma novidade?

— Nenhuma. Tenho tomado cuidado para falar com você, sempre uso o telefone da empregada quando seu pai não está em casa.

— A propósito, ele está bem?

— Se preocupa com ele, pequena?

— Não! Esqueceu que é por causa dele que vivo como uma fugitiva?  

— Meu anjo, sei que Marco, mas ele é seu pai.

— Não defenda ele!

— Não estou defendendo, meu amor. — Houve um breve silêncio, resolvi quebrá-lo.

— Não vamos discutir, okay? Apenas nos falamos uma vez na semana e não quero esgotar os minutos que restam falando dele. 

— Tudo bem. Mas conte-me, como está a faculdade?

— Indo muito bem.

— Estou orgulhosa de você, meu amor.

— As vezes me pergunto se voltaremos a nos ver.

— Se não voltarmos a nos encontrar, significa que sua fuga deu certo.

— Acha que vai dar certo por muito tempo?

— Eu não sei. Não tenho notícias de como anda as investigações.

— Será que ainda estão me procurando? Já faz tanto tempo.. 

— Você sabe que seu noivo ficou dominado de ódio quando soube da fuga, quase que mata a mim e ao seu pai. 

— Filho da p**a.. — murmurei baixo.

— Mas não se preocupe, por enquanto estamos bem. Talvez seu pai esteja o ajudando na sua procura.

— Esse Mortalla é um idiota, está claro que eu não o quero como marido. Não deixarei que me peguem nunca!

— Pequena, tome muito cuidado.

— Não se preocupe, eu sei me cuidar.

  Encerrei a ligação e admirei o gramado da faculdade pensativa, toda vez que falo com mamãe eu me sinto vazia por dentro. Sei que deve ter sofrido alguma violência por minha causa, saber disso e ainda sim fugir me torna egoísta, mas sei que se tivesse ficado ela não teria me perdoado. O dia da fuga não foi nada comparado a simples, foi uma situação tensa e aflita, havia poucas chances de darem certo, mas eu precisei tentar porque não queria me casar pelo bem do acordo, eu tinha pavor daquele homem desde o dia em que o vi pela primeira vez.

***

 Me olhei no espelho e vi o lindo vestido branco, ele demonstrava a minha pureza para o meu prometido, quando mamãe me explicou, eu senti náuseas. Respirei fundo e deixei o meu quarto, chegando nas escadas eu os vi na sala principal, mamãe sentada no sofá e papai em frente a janela com um copo de bebida na mão, esperando meu prometido. Quando desci as escadas ele me encarou sorridente.

— Meu tesouro, está perfeita. — me elogiou.

— Por que está sorrindo assim? Não precisa ser falso, papai.

— Pequena, não fale assim. Um dia entenderá que foi necessário.

— Me oferecer para salvar seu pescoço não foi necessário, e sim covardia.  

  Marco olhou para mamãe com um olhar mortal, deduzindo que ela havia me explicado detalhadamente o que aconteceu na casa de Julian. Me aproximei dela e esperei o desconhecido com uma expressão de velório. Ver a minha mãe aflita e assustada me fez repensar em desafiá-lo, sei que ele não me machucaria, mas acabaria descontando nela.

 — Graças a mim você tem um teto sobre a cabeça e barriga cheia. Não seja uma mal agradecida. 

  Contive minhas ofensas preso na garganta, ela sabia que iria o enfrentar, então ela segurou a minha mão e me suplicou com os olhos para ficar quieta. 

— Graças a mim você ainda respira, não inverta os papéis, papai. 

  Naquele momento o governante se aproximou de nós e avisou, chamando atenção de papai. 

— Me desculpe a intromissão, mas acaba de chegar o senhor Mortalla. 

  Marco andou para a entrada e o recepcionou com educação como deveria. Ao entrar com dois soldados eu o vi, meio forte e alto, seu rosto mostrava o quão jovem era, não queria acreditar que aquele era o meu marido. 

— Bem vindo, senhor Mortalla. - Papai o cumprimentou amigavelmente. 

— Obrigado, Greco. Vim apenas conhecer a minha futura esposa. 

 O encarei com repúdio, foi evidente reconhecer em sua voz a ironia se tratando de mim.

 — Não sou futura esposa de ninguém! — rebati sem nenhum sentimento de arrependimento.

   Meus pais me olharam com reprovação e temor, talvez achassem que não ousaria ser rebelde na frente daquele homem, mas não deixaria que ele me dirigisse como mercadoria. Era assim que todos estavam me tratando.

— Vejo que a obediência não foi lhe ensinado como de costume. — O homem aproximou-se de mim e me encarou como se pudesse me esmagar como um inseto.

— Foi-me ensinado perfeitamente, embora eu não deva esgotá-lo com todos que apareça.

  Ele sorriu sem humor, até me olhou como um animal selvagem assustador, então, pediu educadamente aos meus pais para que ficasse um minuto a sós comigo. Assim eles aceitaram, fiquei sozinha com aquele desconhecido na minha frente, olhando-me com curiosidade.

— Vejo que é uma garota bastante corajosa, terá de aprender a controlar sua língua. Já que tenho planos para ela e não posso cortá-la. 

— V-você não me assusta. — Disse eu, assustada.

 — Garotinha, eu não sou o seu pai. É bom começar de já como deve se dirigir a mim, ou então seus pais sofrerão por isso. 

   Não precisava ser adulta para saber que aquilo era uma ameaça. Meus olhos se encheram de lágrimas, porém eu as segurei até onde podia.

— Se fizer algo de errado vai lamentar por isso, tudo bem para você? 

— S-sim!

— Que bom! — Ele sorriu e tirou de seu terno impecável um anel, pegou em minha mão sem nenhuma delicadeza e deslizou o objeto no dedo. — Te verei no altar, noivinha!

***

 Sou tirada de pensamentos quando ouço Luana chamar pelo meu suposto nome, a encarei e sorri, ela estava acompanhada por Rebecca:

— O que você quer, meu anjo?

— Esqueceu onde está? Vem logo, a próxima aula já vai começar!

 O observei andar para a universidade em passos largos, eu apenas respirei fundo e apanhei minhas coisas, fui logo atrás sem demora. Mais um lindo dia...

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