Depois do café eu me despedi com um beijo em sua cabeça e fiz carinho no bichano com o sapato. Antes de passar pela porta eu fiz uma prece que minha tia ensinou, embora eu não seja religiosa, sempre me apego ao homem lá de cima que me proteja assim que eu passo por esta porta. Andava pelas ruas com passos largos, sempre olhando para os lados até chegar na faculdade, ainda estou aprendendo a disfarçar a minha desconfiança. A casa da minha tia é pouco distante da universidade, moro com ela desde que deixei Itália. Passei pelos portões e segui direto para a minha sala, a primeira aula seria microbiologia de alimentos, afinal eu escolhi gastronomia, sempre adorei o feitio de cozinhar, para mim era terapêutico, não como aulas de tiro e boxe.
Assim que entrei na sala, sentei-me na frente como sempre, gostava de ouvir atentamente os professores nas explicações. Em seguida Rebecca e Luana passaram pela porta e vieram ao meu encontro, sentaram ao meu lado.
— Bom dia, Liana. — Esse era o nome qual eu havia me nomeado.
— Bom dia.
— Faz tempo que chegou?
— Pouco tempo. Onde estavam?
— Na cantina, estava comendo um sanduba delicioso. — Respondeu Rebecca.
— Que ótimo!
A aula havia dado inicio e assim dei a devida atenção, alguns pontos importantes foram anotados em meu caderno. O professor explicou detalhadamente do assunto até bater o final da aula, assim que o sinal tocou eu dei um perdido nas duas e fui até a praça mais próxima da universidade. Já era nova da manhã, o número restrito logo apareceu na tela do meu telefone, atendi e esperei que falasse primeiro.
— Filha, como está?
— Oi mamãe, saudades. — meu coração se aqueceu ao ouvir sua doce voz.
— Pensei que não falaria com você esta semana.
— Andei ocupada com as provas do semestre.
— Fico feliz que esteja fazendo o que gosta, me alegro muito. - disse sorridente.
— Alguma novidade?
— Nenhuma. Tenho tomado cuidado para falar com você, sempre uso o telefone da empregada quando seu pai não está em casa.
— A propósito, ele está bem?
— Se preocupa com ele, pequena?
— Não! Esqueceu que é por causa dele que vivo como uma fugitiva?
— Meu anjo, sei que Marco, mas ele é seu pai.
— Não defenda ele!
— Não estou defendendo, meu amor. — Houve um breve silêncio, resolvi quebrá-lo.
— Não vamos discutir, okay? Apenas nos falamos uma vez na semana e não quero esgotar os minutos que restam falando dele.
— Tudo bem. Mas conte-me, como está a faculdade?
— Indo muito bem.
— Estou orgulhosa de você, meu amor.
— As vezes me pergunto se voltaremos a nos ver.
— Se não voltarmos a nos encontrar, significa que sua fuga deu certo.
— Acha que vai dar certo por muito tempo?
— Eu não sei. Não tenho notícias de como anda as investigações.
— Será que ainda estão me procurando? Já faz tanto tempo..
— Você sabe que seu noivo ficou dominado de ódio quando soube da fuga, quase que mata a mim e ao seu pai.
— Filho da p**a.. — murmurei baixo.
— Mas não se preocupe, por enquanto estamos bem. Talvez seu pai esteja o ajudando na sua procura.
— Esse Mortalla é um idiota, está claro que eu não o quero como marido. Não deixarei que me peguem nunca!
— Pequena, tome muito cuidado.
— Não se preocupe, eu sei me cuidar.
Encerrei a ligação e admirei o gramado da faculdade pensativa, toda vez que falo com mamãe eu me sinto vazia por dentro. Sei que deve ter sofrido alguma violência por minha causa, saber disso e ainda sim fugir me torna egoísta, mas sei que se tivesse ficado ela não teria me perdoado. O dia da fuga não foi nada comparado a simples, foi uma situação tensa e aflita, havia poucas chances de darem certo, mas eu precisei tentar porque não queria me casar pelo bem do acordo, eu tinha pavor daquele homem desde o dia em que o vi pela primeira vez.
***
Me olhei no espelho e vi o lindo vestido branco, ele demonstrava a minha pureza para o meu prometido, quando mamãe me explicou, eu senti náuseas. Respirei fundo e deixei o meu quarto, chegando nas escadas eu os vi na sala principal, mamãe sentada no sofá e papai em frente a janela com um copo de bebida na mão, esperando meu prometido. Quando desci as escadas ele me encarou sorridente.
— Meu tesouro, está perfeita. — me elogiou.
— Por que está sorrindo assim? Não precisa ser falso, papai.
— Pequena, não fale assim. Um dia entenderá que foi necessário.
— Me oferecer para salvar seu pescoço não foi necessário, e sim covardia.
Marco olhou para mamãe com um olhar mortal, deduzindo que ela havia me explicado detalhadamente o que aconteceu na casa de Julian. Me aproximei dela e esperei o desconhecido com uma expressão de velório. Ver a minha mãe aflita e assustada me fez repensar em desafiá-lo, sei que ele não me machucaria, mas acabaria descontando nela.
— Graças a mim você tem um teto sobre a cabeça e barriga cheia. Não seja uma mal agradecida.
Contive minhas ofensas preso na garganta, ela sabia que iria o enfrentar, então ela segurou a minha mão e me suplicou com os olhos para ficar quieta.
— Graças a mim você ainda respira, não inverta os papéis, papai.
Naquele momento o governante se aproximou de nós e avisou, chamando atenção de papai.
— Me desculpe a intromissão, mas acaba de chegar o senhor Mortalla.
Marco andou para a entrada e o recepcionou com educação como deveria. Ao entrar com dois soldados eu o vi, meio forte e alto, seu rosto mostrava o quão jovem era, não queria acreditar que aquele era o meu marido.
— Bem vindo, senhor Mortalla. - Papai o cumprimentou amigavelmente.
— Obrigado, Greco. Vim apenas conhecer a minha futura esposa.
O encarei com repúdio, foi evidente reconhecer em sua voz a ironia se tratando de mim.
— Não sou futura esposa de ninguém! — rebati sem nenhum sentimento de arrependimento.
Meus pais me olharam com reprovação e temor, talvez achassem que não ousaria ser rebelde na frente daquele homem, mas não deixaria que ele me dirigisse como mercadoria. Era assim que todos estavam me tratando.
— Vejo que a obediência não foi lhe ensinado como de costume. — O homem aproximou-se de mim e me encarou como se pudesse me esmagar como um inseto.
— Foi-me ensinado perfeitamente, embora eu não deva esgotá-lo com todos que apareça.
Ele sorriu sem humor, até me olhou como um animal selvagem assustador, então, pediu educadamente aos meus pais para que ficasse um minuto a sós comigo. Assim eles aceitaram, fiquei sozinha com aquele desconhecido na minha frente, olhando-me com curiosidade.
— Vejo que é uma garota bastante corajosa, terá de aprender a controlar sua língua. Já que tenho planos para ela e não posso cortá-la.
— V-você não me assusta. — Disse eu, assustada.
— Garotinha, eu não sou o seu pai. É bom começar de já como deve se dirigir a mim, ou então seus pais sofrerão por isso.
Não precisava ser adulta para saber que aquilo era uma ameaça. Meus olhos se encheram de lágrimas, porém eu as segurei até onde podia.
— Se fizer algo de errado vai lamentar por isso, tudo bem para você?
— S-sim!
— Que bom! — Ele sorriu e tirou de seu terno impecável um anel, pegou em minha mão sem nenhuma delicadeza e deslizou o objeto no dedo. — Te verei no altar, noivinha!
***
Sou tirada de pensamentos quando ouço Luana chamar pelo meu suposto nome, a encarei e sorri, ela estava acompanhada por Rebecca:
— O que você quer, meu anjo?
— Esqueceu onde está? Vem logo, a próxima aula já vai começar!
O observei andar para a universidade em passos largos, eu apenas respirei fundo e apanhei minhas coisas, fui logo atrás sem demora. Mais um lindo dia...
Irina GrecoCresci em uma bela fazenda com vários hectares de terras férteis cultivando belo café, cacau, algodão, maçãs e uvas. É uma mistura enorme passada de geração em geração através da família do meu pai. Minha infância foi tranquila com minha irmã Daniele, éramos filhas únicas. Não tínhamos do que reclamar, nossas vidas eram boas e refinadas até ouvirmos falar do sobrenome Mortalla e o envolvimento de nosso pai em seus negócios. Julian parecia um inseto venenoso em nossa terra que desejava mais do que qualquer a possuir as terras da minha família, mas meu pai não queria vendê-la, ele escolheu negociar. Lucio, meu pai sempre foi um homem fraco quando se tratava de riqueza e poder, afinal quem não gostaria? Mas como Sandra é uma boa mãe e esposa,
Irina Greco3 anos depois... A sensação de terminar a ligação foi entristecedora. A empregada Teresa que me emprestou o celular para ligar para Alice olhou para mim e viu meu rosto angustiado, ela me lança o mesmo olhar de pena, sempre tentando me animar com a esperança de que Alice um dia deixará de ser caçada como um animal valioso.— A pequena Alice é forte e sabe se cuidar, senhora.— Eu sei, Teresa. Mas temo pela vida da minha filha.— O senhor Mortalla não vai encontrá-la.— Não subestime o inimigo, Teresa. Se Sebastian a encontrar, talvez seja apenas vingança por ter sido deixado no altar.— Não vamos pensar no pior, ok? A pequena Alice est&aacut
Alice Greco Com os olhos cansados eu me forço a jogar uma água sobre o rosto, encarei o espelho e sem muito entusiasmo eu vi as olheiras gritantes abaixo dos olhos, sempre os malditos pesadelos. Consigo ouvir sua voz de comando longe, enquanto corria pelo labirinto, também escuto tiros atrás de mim, aquilo parece ressoar em minha cabeça, espantei meu sonho e me enfiei embaixo do chuveiro. Era uma manhã de terça quando chegava na universidade ás 7h da manhã, logo na entrada eu vi Luana e Rebecca paradas com olhares cansados, me aproximei delas e cumprimentei da maneira de costume.— O que fazem paradas aqui?— Bom dia para você também, queridinha. — Respondeu Luana.
Alice Greco— Não sente falta dos seus pais? — Becca perguntou.— Eu sinto dos meus todos os dias. — Luana revelou, mas faz parte do ciclo da vida.— Os meus fingiram que eu morri, isso também faz parte do ciclo? — Becca perguntou com um olhar triste.— Seus pais não entendem de sua vontade, apenas a vontade deles. Um dia perceberão a loucura que fizeram.— Enquanto isso não acontece, eu vou me virando e trabalhando para me sustentar e bancar a faculdade. — disse com orgulho.— Foi muito bom passar um tempo com vocês, mas eu preciso ir, tenho que passar no mercado para minha vó. — Luana avisou se levantando do sofá, resolvi acompanhá-la na saída.— Antes que vá, voc&eci
Alice GrecoA morte do professor havia chocado grande maioria dos alunos, professores e funcionários da universidade, ele era bastante querido por todos. Fui ao seu enterro junto com parte de membros da faculdade, tudo para se despedir da pessoa incrível que ele era. Lembro-me das vezes que ele me aconselhou sobre assuntos que ele não sabia, nem entendia, mas sabia como acalmar um coração com palavras, ele parecia um anjo. Fiquei afastado da maioria, com roupas pretas e cabeça baixa, observando o caixão descer e aquele buraco ser fechado com monte de terra. Eu já não me encontrava tão entusiasmada para a boate a noite, porém tia Daniele não me deixaria desistir tão fácil, já que com a notícia ficou feliz e pretende me levar ao shopping e escolher um belo vestido para mim. Resolvi deixar o cemitério o quan
Alice GrecoEstava em frente ao espelho do meu quarto observando meu corpo coberto por um lindo casal e um véu que ia arrastando sobre a calda. Meu cabelo longo estava forrado em uma trança com poucos fios soltos, uma maquiagem simples com rubor sobre a bochecha que me deixava com um ar virginal, saber que aquilo era o propósito me deu náuseas. Estava sozinha no quarto quando a porta foi aberta por mamãe, ela entrou e trancou a porta em seguida, virei-me para ela.— Veio ver como estava o objeto de acordo?— Não se insinue assim, meu amor.— Como devo me insinuar daqui por diante? Ah! Como senhora Mortalla. — Sorri sem humor, mas a minha vontade mesmo era de chorar.— Depois que descobriu sobre seu arranjo com um Mortalla, viu como é a minha verdadeira vida ao lado do seu pai. E
Alice GrecoEmpurrei com toda a força a madeira daquele lugar, quando por fim abriu eu olhei ao redor para saber se havia alguém ali, o lugar estava vazio. Fechei a entrada por onde sai e ignorei o excesso de terra que havia feito enquanto corria para o labirinto, lá, eu tive a visão do soldado leal e amigo de meu pai.— Dante? O quê faz aqui?— Acredito que sua mãe tenha te explicado tudo, não é?— Sim! — respondi confiante.— Ótimo! Agora vamos, enquanto ainda não sintam a sua falta. Quando terminou aquelas palavras, ouviram-se uma voz grossa e autoritária passando ordens ao soldado, meu corpo gelou de medo.— Vamos antes que seja tarde! Dante me puxou pelo braço e me
Alice Greco Mamãe percebeu que sua vida seria um martírio assim que se casou com Marco, meu pai, ainda mais quando ele tentou roubar a própria organização que era capo, braço direito de um Mortalla. Depois desse perigoso conflito, Irina tratou de planejar todas minhas aulas. Enquanto as moças da máfia aprendiam a se portar antes e depois de casar-se, eu estava aprendendo a lutar, a ser fria quando chegasse o momento oportuno. O problema é que no início eu não entendia o quão importante é necessário eram as minhas aulas. As vezes era impedida de brincar com meu antigo cão e manter minhas obrigações em dia, agora eu consigo entender o porquê. Parecia que eu estava em um filme de terror. Minha cabeça começara a doer e meu coração a palpitar forte em meu p